|
|
Prefeitura Municipal de Itacambira
Prefeito
José Francisco Ferreira
Vice-prefeito
João Manoel Ribeiro
Secretaria de Turismo e Cultura
Antônio Neto da Silva - Secretário
Suporte Logístico
Vanusa Alves da Costa Ramalho
Joaquim Magno Miranda
Antônio Amaro Bicalho
Ilma Ramalho Ferreira
Suporte Acadêmico
Wanderlino Arruda
Copyright by © 2014
Dário Teixeira Cotrim
Permitida a reprodução total ou parcial deste livro sob qualquer forma ou meio,
para fins escolares, solicitando-se, todavia, a citação da fonte.
Projeto Gráfico
Gráfica Editora Millennium Ltda.
Formatação
José Rodrigues F. Júnior
Design Gráfico da Capa
Dário Teixeira Cotrim
Revisão de Texto e Normatização
Júlia Maria Lima Cotrim
Wanderlino Arruda
Fotos
Sérgio Mourão
Dário Teixeira Cotrim
Wanderlino Arruda
Prefeitura Municipal de Itacambira
Desenhos
Belmonte |
|
Dados Internacionais da Catalogação na Publicação (CIP)
COTRIM. Dário Teixeira
C843e
Ensaios Históricos de Itacambira. Dário Teixeira Cotrim. Montes Claros -
Minas Gerais. Editora Millennium/Cotrim Ltda. Prefácio de Wanderlino
Arruda. 2014.
138p.
ISBN - 978-85-67049-09-0
1. História 2. Itacambira 3. Minas Gerais I. Dário Teixeira Cotrim II. Título
CDD: B869.4
CDU: 994 (81)
|
Elaborada por Dário Teixeira Cotrim, da Editora Cotrim Ltda.
DEDICATÓRIA
“O sertão é do tamanho do mundo”
João Guimarães Rosa
Este livro Ensaios Históricos de Itacambira é dedicado a
todo o povo itacambirense que, direta ou indiretamente, contribuiu
para que ele fosse editado.
A você que tem sede de conhecimento e viaja no mundo
encantado das palavras, espero se deliciar nas páginas deste livro
que traz a história de um povo e de sua cultura.
Antônio Neto da Silva
Secretário Municipal de Cultura e Turismo
|
|
|
DÁRIO TEIXEIRA COTRIM é baiano de Guanambi, nasceu
no ano de 1949, e se radicou em Montes Claros há mais de 46
anos. Filho de Ezequias Manoel Cotrim e de dona Ida Teixeira Cotrim.
Advogado (pela Unimontes), Historiador, Jornalista, Articulista
Político e Professor de Literatura e História. Ele é sócio emérito
do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais (Belo Horizonte),
sócio fundador do Instituto Histórico e Geográfico de Montes
Claros, sócio correspondente do Instituto Geográfico e Histórico da
Bahia (Salvador); sócio fundador da Academia Guanambiense de
Letras, sócio correspondente da Academia Caetiteense de Letras, da
Academia de Letras, Ciências e Artes de Várzea da Palma e da Academia
Nevense de Letras, Ciências e Artes (Anelca). Sócio efetivo
da Academia Montesclarense de Letras. Também é sócio honorário
da Academia de Letras, Ciências e Artes do São Francisco (Aclecia)
e da Academia Maçônica de Letras do Norte de Minas. Recebeu as
Medalhas João Pinheiro e Israel Pinheiro, do IHGMG e a medalha
Catrumano, em Matias Cardoso do governo do estado de Minas Gerais.
Classificou-se em 1º lugar no “Concurso Internacional de Sonetos”,
pela Academia Divinopolitana de Letras, em 2005. Escreve em
vários jornais de Montes Claros e região. É aposentado do Banco do
Brasil. Foi Secretário de Cultura e Turismo da cidade de Rio Pardo
de Minas e ex-diretor da Biblioteca Pública “Dr. Antônio Teixeira de
Carvalho”, de Montes Claros. Ele vem agora dedicando às pesquisas
históricas do Norte de Minas. Publicou pela Universidade Estadual
de Montes Claros - Unimontes o livro História Primitiva de Montes
Claros. Nesta mesma linha publicou o livro História Primitiva
de Guanambi e concluiu o livro Ensaio Histórico de Itacambira,
além de mais de três dezenas de livros com gêneros literários diversificados:
cordel, teatro, crônicas, biografias, bibliografias, genealogia
e a história regional. Em Guanambi recebeu da Câmara Municipal a
Medalha Flávio David e participou de vernissages de artes plásticas
pela Secretaria Municipal de Cultura. É Cidadão Honorário da cidade
de Bocaiúva.
|
|
ÍNDICE PREFÁCIO - WANDERLINO ARRUDA - 11
PROÊMIO - DÁRIO TEIXEIRA COTRIM - 17
CAPÍTULO I
DATA S PERTINENTE S E DADOS ESTAT ÍSTICOS
• Isocronismo - 19
• Informações Preliminares - 20
• O que significa o nome “Itacambira”? - 21
• Os Símbolos do Município - 22
• Hino de Itacambira - 22
• Brasão do Município - 23
• Bandeira do Município - 25
• Mapa da Região de Itacambira - 26
CAPÍTULO II
HISTÓRIA PRIMITIVA DE ITACA MBIRA
• Na Distância do Tempo - 27
• As Entradas - 28
• Os Caminhos dos Bandeirantes - 28
• As Bandeiras - 29 |
|
• Fernão Dias Pais - 32
• O Sertanista Miguel Domingues - 34
• Estrada Real - 36
• Guerra dos Papudos - 37
• O que disse J. O. R. Miliet de Sant-Adolphe - 38
• Cronologia de Fernão Dias Pais - 39
• Os Índios Botocudos - 41
CAPÍTULO III
O POVOAMENTO E A CRIAÇÃO DA VILA
• O Povoamento - 43
• Termos de Minas Gerais e o Regimento dos Dragões - 44
• Criação da Freguesia - 45
CAPÍTULO IV
A MISTERIOSA LA GOA DO VUPABUÇU
• A Lagoa do Vupabuçu - 49
• Carta de Dom João Antônio Pimenta - 50
• Carta Topográfica da Lagoa do Vupabuçu - 55
CAPÍTULO V
A RELIGIOSIDADE DE UM POVO
• Igreja de Santo Antônio de Itacambira - 57
• Os Padres Pioneiros - 60
• Os Padres Progressistas - 62
• 300 Anos de Evangelização - 63
• Relato do Padre José Ozanan - 65
• A Joia de Itacambira - 68 |
|
CAPÍTULO VI
AS MÚMIAS DE ITACA MBIRA
• Um Enigma do Tempo - 69
• Crônicas no Tempo - 72
• Mortos Esquecidos: João Valle Maurício - 74
• O Mistério de Itacambira: Ramiro Lage - 76
CAPÍTULO VII
CULTURA E TURISMO
• Nossa Literatura - 81
• Pequena Antologia Poética - 82
• Artes Plásticas - 92
• Os Artesãos de Itacambira - 93
• Turismo em Itacambira - 93
• Na Rota do Conhecimento - 93
• Mapa do Ecoturismo de Itacambira - 95
CAPÍTULO VIII
A LENDA DO VUPABUÇU
• A mãe d’água Uiara - 97
• A Lenda do Santo Antônio Aparecido - 100
• O Crime da Malacacheta - 101
CAPÍTULO IX
COSTUMES E TRADIÇÕES
• A Festa do Divino Espírito Santo - 103
• Folia de Reis - 105 |
|
CAPÍTULO X
CURIOSIDADES INTERESSANTES
• O Batizado de Diadorim - 107
• Intendente Câmara - 109
• Pedra da Ursa - 110
• A Natureza Caprichosa - 112
• Lapa do Bugre - 113
• Fogo Simbólico - 114
CAPÍTULO XI
REGISTROS POLÍTICOS
• A Iniciação Política - 117
• Instalação do Município de Itacambira - 120
• Galeria dos Prefeitos - 122
• Câmara Municipal de Itacambira - 125
• Formação da Primeira Câmara Municipal de Itacambira - 125
• Formação da Atual Câmara Municipal de Itacambira - 126
• Pequena Biografia de Geraldo Maier Bicalho - 126
CAPÍTULO XII
ANOTA ÇÕES ANTIGAS
• Documentos da Igreja - 127
AGRADECIMENTOS - 132
BIBLIOGRAFIA - 133 |
|
|
PREFÁCIO
“Dentro da pedra já existe uma obra de arte,
eu apenas tiro o excesso de mármore”.
Michelangelo
Como pintor, como fotógrafo, como poeta, olhos e ouvidos
abertos para belezas do mundo, será que tenho uma maneira
especial para descrever Itacambira? A quantas anda a minha
sensibilidade histórica - sempre apaixonada pela mineiridade
do Norte - para sentir de alma e coração, todos os encantos
com que Itacambira vive? Quantas visitas tenho de fazer, quantas
idas e quantas vindas tenho que gastar para sorver tudo de
belo que deve estar lá desde o tempo de criação, das tentativas,
dos sonhos de ver contemplar esmeraldas? Como evocar os
mesmos sentimentos que deve ter tido Fernão Dias ao contemplar
o fulgir de luzes da Serra Resplandecente? Perguntas e mais
perguntas, buscas infinitas de imponderáveis levezas, junção e
colorido do que pôde ou não pôde a Natureza esculpir e detalhar
cores...
Um dos clichês mais produzidos pelo cinema, em antigos
filmes de faroeste, são as pequeninas cidades do interior, todas
quase sempre vivendo mais paz do que guerra, uma espécie de santa inocência. Cachorro “quentando” sol, sino da igreja badalando
amanheceres, fiéis caminhando para os cultos, meninos
jogando bolas de pano e se lavando em repuxos, donos de vendas
vendendo e tomando notas. Ainda mais: cowboys jogando
damas, velhas vitrolas tocando Oh Suzana, as portas dos bares
num abre e fecha de nunca terminar. Que saudades de um passado
bonito e gostoso tão e tão distante do pisca-piscar e dos
barulhos da vida moderna! Comparando passado e presente,
acredito que é por isso que Itacambira é um lugar que vale a
pena, que o ir lá e apreciar tudo tem a maior razão para quem
gosta da vida e do viver. Itacambira é o retrato do passado com
moldura do presente: linda, charmosa, colorida, quase inocente.
Um paraíso para quem sabe ouvir e imaginar, ver e sentir. |
|
Wanderlino Arruda, mineiro
de São João do Paraíso,
reside em Montes Claros
desde 1951. Graduação
em Letras e Direito, pósgraduação em Linguística,
Semântica e Literatura
Brasileira. Algum tempo
de política (presidente da
Câmara Municipal e Secretário
da Cultura), muitos
anos de bancário, muitos na
construção civil, sempre no
magistério. Onze livros, inclusive
dois e-books (poesias
e crônicas). Atividades em
várias instituições: no Instituto
Histórico e Geográfico de Montes Claros: presidente;
na Academia Montesclarense
de Letras: vice-residente;
no Banco do Brasil,
treinamento de pessoal; no
Rotary International, formador
de administradores;
na Fundação Rotária Brasileira,
coordenador regional,
webmaster de vários sites e
blogs.
|
De uma coisa eu sei: lá em Itacambira, Gabriel Garcia
Marquez jamais conseguiria escrever Cem Anos de Solidão. Do
alto dos mais de mil metros acima do nível do mar, não há
restrições de vistas e de pensamentos. É como se fosse o topo
do mundo, lá fora e lá longe toda a beleza de existências, todos
os azuis das serras e dos morros de velho e novo Testamentos.
Itacambira tem figuras interessantíssimas de pedras, tudo desenhado
para uma destinação histórica, sem gênese nem apocalipse.É tudo ou muito mais de um proporcionar de fantástica
experiência no cotidiano e no sempre. Falar de Itacambira - só
Deus sabe - é um modo de saborear frases e dedos de prosa,
repicar vivências mais que verossímeis, longe e perto do quase
normal, do incrível e do mágico. Mil e um, dois e três mil,
muitos momentos de amor!
Se fosse eu em vez de Dário Cotrim, o autor da história
e das estórias de Itacambira - quem sabe muito mais poeta que
historiador - escreveria tudo diferente, tendo e vivendo sonhos
personalíssimos para explicar o mundo de encantos. Por meio de imagens, maior parte delas mais do que poéticas, tentaria
encontrar uma perfeição interiorana ainda maior do que a naturezaé capaz de criar ou construir. Meu trabalho seria produzir
frases, desenhar ideias, sonhar todos os sonhos possíveis e
impossíveis para dar aos leitores a sensação de estar colorindo
pinturas com as cores do próprio tempo. Cotrim - que já alcança
situações de maestria da história - ao contrário, é outro tipo
de pesquisador. Seriamente em cima de documentos, é o escrivão
competente de escrituras do fielmente acontecido. Ele não
tem compromissos com o dia-a-dia político, com as vaidades
dos que governam ou formam opiniões. Escreve dentro do real,
marcado sempre pelo acontecido, sem ferir e sem apresentar
tintas do que não existiu ou não existirá. Sempre real, sempre
justo com os textos que vieram antes dele, observa grafias, realça
destaques. Seus mapas são desenhados por viajantes ávidos
das novidades e das belezas do sertão mineiro e norte-mineiro.
Muitos dos seus textos têm a fé de ofício de amigos nossos da
escrita montes-clarense, entre eles os escritores Artur Jardim de
Castro Gomes, Simeão Ribeiro Pires, João Valle Maurício e o
jornalista Fernando Zuba. Diferente de Cotrim, eu não, tentaria
muito mais do que a verdade, talvez até mais do que muito...
Da sala de jantar de Nana e José Edson, ela pintora, professora,
poeta do bordar e cozinhar, ele ex-prefeito da cidade,
enquanto Dário Cotrim e eles conversam, levanto-me e saio
de câmera em punho, para captar todo um mundo de belezas,
frente a frente com a Serra Resplandecente. Não falo nem
explico nada, isolo-me e só vejo a montanha verde, que está,
ou continua numa beleza de eternidade. Bato uma, bato duas,
bato vinte ou trinta fotos, um clicar de doce emoção. Coisa boaé câmera não ter mais filmes e você ficar à vontade para bater
todas as fotografias do mundo. Ainda do lado de dentro, comose fosse um alpendre, mudo muitas vezes de posição e decido
sobre as imagens que quero ter no agora e no depois. Ganhando
o espaço externo, desço um, desço dois, desço todos os degraus,
até encontrar a maior visão da superfície de verde e de
brilhos. Quase não dá para economizar cliques, porque tudo é
bonito demais numa paisagem que os bandeirantes viram e que
até hoje alumia a história. Nem posso imaginar como tem sido
cada amanhecer e cada boquinha da noite para aquelas almas
sedentas de beleza da imensidão de Brasil, aliás, mais do que
isso, da elegância e da majestade destas inesquecíveis paisagens
mineiras.
Voltando da deliciosa visão que só um gosto de sonhos
pode permitir, Nana, a dona da casa, mesa posta, descobre a
toalha para nos oferecer, como que para marcar nossa visita,
dois presentes de dar muita água na boca: em pratos porcelanados,
eis o mais suave dos requeijões, cremoso, macio, desejável
até para quem não tem fome, e uma quase transparente
marmelada, exatamente do colorido daquelas que minha mãe
fazia em São João do Paraíso, tão tecidamente fina que pode ser
saboreada de garfo ou de colher. Acolhimento nota dez, a que
o baiano mais mineiro que existe, Dário Teixeira Cotrim, e eu
tivemos até que antecipar agradecimentos. Delícia das delícias.
Requeijão e marmelada, casados ou não, formam uma parceria
para a mais requintada sobremesa, coisa de agradar ao mais
exigente dos deuses. Para nós, a visão e o sabor foram mais do
que um iluminar de chuvinhas, busca-pés e rojões numa noite
de São João!
Em Itacambira, bendição da mais fina flor mineiramente
virgem, mágica de onde evolui a terra e começa o céu - a belezaé tricotada com requintes de amor tanto pelo vento como
pelo sol, pela brisa e pela lua. Em termos de história é como se a vidinha interiorana nunca mudasse, bastando o sentimento
de modéstia em cada nesga de tempo. Na praça, o coreto e o
engenho, um bem pertinho do outro, quem sabe temerosos de
jamais encontrar o futuro. Os dois, testemunhas de um passado
não calculável em duração de séculos, conservam a preciosidade
da madeira lavrada a demãos de enxó e em alisamentos de
plainas. Cada foto representa doces liames a unir tantos que
devem ter sido os tempos e os contratempos, beleza de filtros e
peneiras de saudades. Tudo quase genuinamente bíblico. Com
certeza o sempre lembrado Fernando Pessoa - vendo e contemplando
- poderia até dizer que “tudo vale a pena quando a alma
não é pequena”.
No geral um muito admirar, muito a ser levado em consideração.
A paisagem rica de matizes, os horizontes de muita
amplitude, a antiguidade do chegar e do sair dos bandeirantes,
o cuidado de Fernão Dias em organizar a posse e a segurança
das terras, deixando homens e mulheres em situação família.
Admirável a abertura de estradas, a fundação dos garimpos, os
princípios religiosos que até hoje sacralizam as convivências.
Roceiros, lavradores, criadores de gado, faiscadores de ouro,
garimpeiros do verde-azul de preciosas pedras, - toda uma
gama de trabalho honesto - representaram o progresso inicial
e o apetite de beleza do sempre. Para um conhecimento mais
preciso, importante ler e analisar o texto do bispo D. João Antônio
Pimenta, que viveu por lá o bom tempo de um ano, e a
carta de encômios magnificamente escrita pelo Monsenhor José
Ozanan, nos idos de 1980. Poucas vezes, pude ver e sentir uma
religiosidade tão pura como a vivida até hoje em Itacambira.
Pergunte isso a Jorge Ponciano e ao padre Jorge Luís Hugrey.
Tecendo este prefácio para o livro de Dário Cotrim, acredito
com a mais justa modéstia de quem trata a situação com um carinho quase santificante e um entusiasmo que só pode
sentir alguém gerado e nascido no interior de Minas, esta Minas
Gerais, território e nação que nunca faltaram à brasilidade
de tudo que há de melhor no mundo. Cada palavra - sentida e
trabalhada - é, espero, uma contemplação, uma viagem literária,
um fio de poesia pessoal e coletiva. Chego a acreditar que
todos os meus leitores - também leitores do livro de Cotrim
- estarão convictos de que, estando ou vivendo em Itacambira,
poderemos sempre vivenciar um deslumbrar de sonhos, um
alvoroçar de sentimentos, um magnético agradecer a Deus a
permissão para tanta grandeza e tanta majestade. Falando no
sério ou no fantástico, posso afirmar que a felicidade não é propriamente
uma estação à qual chegaremos, mas uma agradabilíssima
forma de ser e viajar.
Mil vezes os mais sinceros agradecimentos, a você, historiador
Dário Teixeira Cotrim, por permitir essa grandiosa visão
do real, do humanamente sensível e da encantadoramente
poética história de Itacambira! Que este álbum histórico seja
o mais legítimo documentário e fonte de pesquisas aqui e alhures,
para alunos e para mestres de todos os graus e degraus do
ensino, da escola primária até a universidade. Que as academias
e institutos históricos vejam o seu trabalho como a mais legítima
prestação de serviços ao Saber e à Cultura!
Deo gratias!
|
|
PROÊMIO “A verdadeira viagem se faz na memória”
Marcel Proust Apresentamos nesta despretensiosa obra, que intitulamos
de Ensaios Históricos de Itacambira, os fatos históricos
mais remotos da cidade. Trata-se, pois, esta meritória
iniciativa somente em preservar a memória dos movimentos
entradistas e exploratórios na Serra Resplandecente que resultaram
na criação do primeiro centro de povoamento: a freguesia
de Santo Antônio do Itacambiruçu da Serra do Grão Mogol.
Nota-se que os fatos históricos foram pesquisados e analisados,
criteriosamente, possibilitando que este resgate sirva de
base para o estudo da história da região do Norte de Minas,
quiçá do Brasil. Por isso, o nosso objetivo é o de disseminar a
história antiga da cidade de Itacambira para estudantes, historiadores
e para todos aqueles que gostam de saber sobre o
passado misterioso da terra e do encantamento de sua gente.
Será assim porque a história estuda o pretérito com o objetivoúnico de explicar o presente, portanto, qualquer achega será
bem-vinda para o complemento do que desejamos construir.
Para a melhor compreensão deste nosso modesto trabalho
de pesquisa, no tempo e no espaço, foram acrescentados |
|
|
aos seus textos, fotografias e várias notas explicativas. Também
crônicas e depoimentos (cartas) sempre no sentido rigoroso dos
fatos e com o intuito apenas de dar notícias extraídas da reduzida
e valiosa bibliografia desde o século XVI até o momento,
aparecendo em posição de relevo as obras dos mais sédulos informantes
da nossa história: do padre Fernão Cardim (Tratado
da Terra e Gente do Brasil) até ilustres historiadores montes-clarenses: Simeão Ribeiro Pires, Hermes de Paula, Urbino
Vianna e tantos outros.
É importante esclarecer, ainda, aos nossos leitores que o nosso desejo de escrever sobre a cidade de Fernão Dias Pais se
prende na gênese e na evolução dos fatos, enigmáticos ou não,
ainda que sem exposição clara e devida da ciência. Portanto,
na trajetória do tempo real, desde os primórdios da colonização
- século XVI - até os dias de hoje, muitos foram os livros
escritos com a finalidade de registrar as mais variadas sinopses
inerentes à história dos municípios brasileiros. Itacambira não
escapou à regra e em razão disso continuamos neste caminho,
de tempo trilhado e sabido, apresentando com subido orgulho
os Ensaios Históricos de Itacambira. |
|
CAPÍTULO I
DATAS PERTINENTES E DADOS ESTATÍSTICOS
ISOCRONISMO
1681. Fernão Dias Pais chega à região de Itacambira e descobre
as pedras verdes na Lagoa do Vupabuçu. Também neste ano ele
morre, a caminho do Sumidouro;
1701. 13 de fevereiro - Baltazar de Morais é nomeado para
explorar a região das esmeraldas;
1702. 15 de março - Antônio Soares Ferreira faz diligências
para descobrir as esmeraldas anunciadas por Fernão Dias Pais;
1707. Provável início da construção da Igreja de Santo Antônio
de Pádua, em Itacambira;
1718. Felisbello Freire anota que o bandeirante paulista
Sebastião Raposo comandou uma expedição que passou em
Itacambira;
|
|
|
1823. 23 de março - Alvará de Criação da Freguesia de
Itacambira;
1840. 03 de maio - Lei Nº 184 - Elevação à paróquia o curato
de Santo Antônio do Gorutuba com o nome de Santo Antônio
do Itacambirussu da Serra do Grão Mogol;
1868. 22 de julho - Lei Nº 1575 - É extinta a sede de Freguesia
de Itacambira;
1911. 30 de agosto - Lei Nº 556 - Data da criação do Distrito
de Itacambira;
1923. 07 de setembro - Lei Nº 843 - É oficializado o nome de
Freguesia de Itacambira;
1962. 30 de dezembro - Lei Nº 2764 - Data da criação do
Município de Itacambira;
1963. Primeiro de março - Data da instalação do Município de
Itacambira;
1998. 30 de julho - A Igreja de Santo Antônio de Pádua, de
Itacambira, teve sua inscrição lançada no Livro II, do Tombo
de Belas Artes.
INFORMAÇÕES PRELIMINARES
Localização: No alto Jequitinhonha, na serra do Espinhaço.
Limites: Ao norte com o município de Grão Mogol, ao sul
com o município de Bocaiúva e Guaraciama, ao leste com o
município de Botumirim e ao oeste com o município de Juramento. Área do Município: 1.788.445 km2 (IBGE)
Latitude e Longitude: 17° 03’ 54” S 43° 18’ 32” O
População: 4.988 hab. (IBGE) |
Densidade populacional: 2,5 hab/km2
Altitude: 1.048 metros
Temperatura média: 18,5°c
Bioma: Cerrado (IBGE)
Principais atividades econômicas: agricultura de subsistência,
pecuária, mineração e reflorestamento.
Distância de Itacambira para Belo Horizonte: 509
quilômetros.
Distância de Itacambira para Montes Claros: 94 quilômetros.
O QUE SIGNIFICA O NOME “ITACAMBIRA”? O historiador Teodoro Fernandes Sampaio, no seu influente
livro Vocabulário Geográfico Brasileiro, anotou o nome
de Itacambira da seguinte forma: corr. Itá-acambira, o forçado
de ferro; o compasso, a tenaz. Pois bem, neste mesmo estudo
ele fez referencia às palavras Itabira com o seu significado: itabira,
c. a pedra levantada ou empinada. Tanto em Teodoro
Sampaio como no livro o Dicionário da Língua Tupi (Chamada
língua geral dos indígenas do Brasil), de Gonçalves Dias, que:
itá = pedra, caá = mato e bira = empinado. Portanto Itacambira
= pedra levantada, ou empinada, no meio do mato, o
que não condiz com a explicação inicial de Teodoro Sampaio.
Itacambira (melhor Tucambira) na opinião de Urbino
Vianna em Bandeiras e Sertanistas Baianos. Página 52. Tucambira
corr. Tucã-mbyra, a pele de tucano. Entretanto, este não
é o caso nosso, pois é sabido da pedra que sai do mato o que dá
origem ao nome de Itacambira. |
______________
OBS: Felisbello Freire, no
seu influente livro História
Territorial do Brazil, escreve Tacambira, conforme
página 158. Vejamos:
“Pela parte do sertão se acha
o mesmo continente povoado
com as minas do rio de
Contas, minas do Tacambira,
Serro Frio e Minas
Gerais, ao redor dos quaes
e por entre ellas se achão
povoados muitos currais de
gado”. |
|
OS SÍMBOLOS DO MUNICÍPIO Os símbolos que representam o município de Itacambira
são: o Hino, a Bandeira e o Brasão do Município. Esses símbolos
retratam a história antiga e, também, as características que
traduzem seus elementos mais expressivos como sua identidade,
suas riquezas, seus costumes e suas tradições.
HINO DE ITACA MBIRA
Cá, no alto, bem distante,
Entre serras, onde nasceu,
Esta cidade pequenina
Que nos deixa perto do céu
A brisa que aqui passa
Nos traz perfumes agradáveis,
De seus campos, de suas flores,
De prados aqui tão saudáveis.
É nosso lar, nosso ninho,
Cheio de amor e bondade.
Onde oferece carinho
Aconchego e fraternidade...
Ó terra encantadora!
Das brilhantes serranias.
Da singeleza de seu povo
Das glórias de Fernão Dias.
Aos benfeitores desta terra
Cantemos louvores mil.
Sejam lembrados para sempre
Na história do meu Brasil.
|
Ó terra encantadora!
Das brilhantes serranias.
Da singeleza de seu povo
Das glórias de Fernão Dias.
Letra de: Nana Leão
Música: Maria Aurita Mendes Bicalho |
|
BRASÃO DO MUNICÍPIO
O Brasão do município de Itacambira é composto das
seguintes representações: na sua parte externa encimada pela
Coroa Mural com seis torres em argente porque é sede do município.
A cor prata do mural das torres significa a paz e a prosperidade.
O escudo no estilo português está emoldurado pelos
lados, dextra e a sinistra, por duas hastes de café, riqueza da
região na sua agricultura. Na sustentação uma faixa vermelha
com os dizeres: 1-03 - ITACAMBIRA - 1963. O nome do município
e a data de sua instalação. |
|
|
O escudo, em estilo português, é dividido em três partes:
Duas partes superiores formando uma cortina de cor vermelha,
que retrata o sangue derramado dos destemidos homens
que aqui chegaram ao final do século XVII. Do lado esquerdo
um tambor, utensilio usado pelos gentios nesses tempos primários.
Na parte direita, no alto, há uma estrela prata de cinco
pontas que é o símbolo de ascendência do município. Abaixo,
uma cruz em amarelo que representa a fé cristã do seu povo. Na
terceira parte do escudo, vemos na parte inferior um debuxo
branco, serpenteada, cortando o escudo de ponta a ponta. Trata-se esse risco do rio Itacambiruçu que revela a hidrografia da
região. No alto veem-se o azul de Nossa Senhora e o verde que
representa a vegetação dos nossos campos, na figura da Serra
Resplandecente. Ao centro a cabeça do boi, numa alusão à pecuária,
atividade rural que faz parte da riqueza do nosso povo. |
BANDEIRA DO MUNICÍPIO
Bandeira do Município de Itacambira é representada
por três cores: o verde que retrata a mata, o azul que simboliza
o céu e a cor branca que representa a paz e a prosperidade. No
centro da Bandeira o Brasão do Município. |
|
|
MAPA DA REGIÃO
DE ITACAMBIRA
Desenho do Historiador Urbino de Sousa Vianna
Encarte do Livro “Montes Claros: Breves Apontamentos Históricos,
Geográphicos e Descriptivos”
|
|
CAPÍTULO II
HISTÓRIA PRIMITIVA DE ITACA MBIRA NA DISTÂNCIA DO TEMPO
Na chegada de Pedro Álvares Cabral e sua numerosíssima
comitiva, em Porto Seguro (hoje Cabrália), o escrivão Pero Vaz
de Caminha já relatava em sua Carta ao Rei o que dissera um
dos dois silvícolas apresentados por Afonso Lopes ao capitão
Cabral. “Um deles pôs olho no colar do capitão, e começou de
acenar com a mão para a terra e depois para o colar, como que,
nos dizendo que ali havia ouro...”. (1) A partir desse momento os
portugueses sabiam que a terra era promissora e certamente que
havia uma quantidade considerável de ouro e prata. Ainda no
primeiro momento sugiram as lendas sobre as pedras verdes: as
esmeraldas que já eram conhecidas dos indígenas brasileiros. |
_____________
|1) Os |Caminhos do |Ouro
|e a Estrada |Real. Antônio
|Gilberto Costa. |Belo Horizonte.
|Editora UFMG.
|2005.
|
(2) Tratado escritivo do
Brasil em 1587. Gabriel
Soares de Sousa (1540-1591). Ed. rasiliana.
1987. Capítulo CXCV
Em que se declara o nascimento
das esmeraldas e afiras.
Página 350.
____________
(3) SAMPAIO. Teodoro
Fernandes. O Tupi na Geografia
Nacional. Páginas
125/391. “Corruptela de
Yupaba-ocu, quer que dizer:
a Lagoa Grande. Alternativa:
Upabuçu, Vupabuçu. |
Também as esmeraldas passaram a ser assunto corriqueiro
no Tratado Descritivo do Brasil em 1587, trabalho de pesquisa
de Gabriel Soares de Souza. “Em algumas partes do sertão da
Bahia se acham esmeraldas mui limpas e de honesto tamanho, as
quais nascem dentro em cristal, e como elas crescem muito, arrebenta
o cristal; e os índios quando as acham dentro nele, põem-lhe
o fogo para fazerem arrebentar, de maneira que lhe possam tirar as
esmeraldas de dentro...”. (2). Nota-se que naquela época todo esse
território pertencia à Província da Bahia e, por isso Itacambira
era considerado sertão da Bahia.
A história de Itacambira começa na distância do tempo,
com um fato inusitado que ocorreu com o bandeirante paulista,
Fernão Dias Pais, contraindo febre às margens da Lagoa do
Vupabuçu, desassossegando os impávidos portugueses que até,
então, andavam em busca de fortuna.
AS ENTRADAS
Outra vez, na distância do tempo, notícias das “Pedras
Verdes”, as esmeraldas cintilantes da Serra Resplandecente,
chegam aos ouvidos dos bandeirantes paulistas e, em poucos
meses, uma legião de aventureiros se forma em grupos para
lançar na selva virgem das minas gerais, ao encontro da Lagoa
do Vupabuçu (3). Assim, iniciava-se o povoamento da região de
Itacambira.
OS CAMINHOS DOS BANDEIRANTES
Diferentemente das Entradas, os Bandeirantes usaram e
abusaram dos leitos dos rios para penetrarem-se na região do
|
hinterland brasileiro. Pelos rios eles chegavam nos lugares mais
distantes, ligando o sul com o norte e o oeste com o leste. O
Rio São Francisco, por exemplo, foi o mais importante caminho
para o sucesso das Entradas e Bandeiras. Aliás, mesmo depois
da febre do ouro, o Rio São Francisco continuava sendo o
mais procurado pelos colonizadores e por isso ele foi batizado
com o nome do Rio da Unidade Nacional pelos estudiosos e
pesquisadores da nossa história. Por outro lado, os morros, as
serras e todos ou quaisquer sinais físicos da terra eram utilizados
pelo homem para a sua orientação. A Serra Resplandecente
e a Lagoa do Vupabuçu indicavam o lugar onde estariam escondidas
as pedras verdes.
Escreve Vicente Tapajós que “assim como o ouro, também a
caça aos índios era uma necessidade, ou antes, imposição do desejo
de obter fortuna”. Em Itacambira viviam os índios botocudos.
Muitos desses nativos foram preados por Matias Cardoso de
Almeida e seu cunhado Antônio Gonçalves Figueira e vendidos
como escravos para os fazendeiros paulistas. Como escreve Capistrano
de Abreu: “Homens munidos de armas de fogo atacavam
selvagens que se defendem com arco e flechas...”.
AS BANDEIRAS
Cala-se a estranha voz. Dorme de novo tudo
Agora, a deslizar pelo arvoredo mudo,
Como um choro de prata algente o luar escorre.
E sereno, feliz, no maternal regaço
Da terra, sob a paz estrelada do espaço,
Fernão Dias Pais Leme os olhos cerra. E morre.
(O Caçador de Esmeraldas - Olavo Bilac)
|
O Garimpeiro |
(4) AS ENTRADAS - tinham
a finalidade de expandir
o território, eram financiadas
pelos cofres públicos
e com o apoio do governo
colonial em nome da coroa,
ou seja, eram expedições organizadas
pelo governo de
Portugal.
_________________
(5) Bandeiras e ertanistas
Baianos. Urbino Vianna.
Página 138.
________________
(6) Revista do Instituto Histórico
Brasileiro, pág. 67.
Parte I, pag. 76, Senhor de
engenho no Caípe, Gabriel
Soares, pág. 37. |
Mas, antes mesmo da chegada de Fernão Dias Pais, outros
bandeirantes passaram por aqui no comando de várias expedições
para o reconhecimento do interior da terra brasílica,
fazendo relatos e informando à Corte, supostas minas de pedras
preciosas ou metais nobres (ouro e prata) nos cascalhos
dos grandes rios. Enquanto isso, a Vila de São Vicente era a
porta de entrada do sertão paulista, onde os bandeirantes fizeram
grandes investidas pelo interior da província, aprisionandoíndios e descobrindo riquezas. Também eles conquistaram o
oeste, ultrapassando o Tratado de Tordesilhas, um acordo político
entre Portugal e Espanha.
Por outro lado, a Vila de Porto Seguro (Cabrália) oferecia
aos aventureiros uma boa acolhida. As grandes caminhadas
pelas selvas virgens, ao longo dos rios, eram desafios constantes
que as Entradas(4) enfrentavam. “Orville Derby assinalou o esforço
baiano nesses movimentos como fator importante da civilização
brasileira, chegou à conclusão de que as minas de Caeté e Itacambira,
ou Tucambira, na região chamada Serro Frio, foram primeiramente,
descobertas pelo lado da Bahia e não de São Paulo”. (5)
Segundo o historiador Luís de Brito, o sertanista Sebastião
Fernandes Tourinho foi o descobridor das esmeraldas na
Serra Resplandecente, na região de Itacambira. Disse-nos que“largou ele em canoas de Porto Seguro, alcançou e subiu o Rio Doce
(que os índios chamavam Mandij), e explorou as margens do sul,
voltando com alvissareiras notícias de pedras verdes”. É a história
das esmeraldas que começa. Na verdade, o sertanista Tourinho
somente trouxe para conhecimento do povo, uma lenda que
incomodou os bandeirantes paulistas.
Ainda, assim, outros sertanistas investiram na conquista
das esmeraldas. É sabido que desde Marcos de Azevedo, cujo
roteiro das esmeraldas os jesuítas já conhecia, em 1611, até
quando apareceu o bandeirante Fernão Dias Pais(6).
|
Diferentemente das Entradas, na Vila de São Paulo
criou-se as Bandeiras. A denominação “Bandeira”, segundo o
historiador Pedro Calmon, veio do nome da unidade militarbatalhão,
ou do grupo armado do exército recomposto por
Carlos V. Em outras palavras, D. Francisco Manuel de Melo
nos ensina que “repartida a gente em partes desiguais, a que ora
chamamos hostes, ora bandeiras”. (7)
A história registra que a primeira Bandeira foi a do capitão-
mor de São Vicente, Jerônimo Leitão, de 1585. Nesta época
importava-se muito mais em aprisionar índios, escravizando-os
para o trabalho braçal, do que mesmo encontrar ouro ou pedras
preciosas. Prear índios - assim como fez o jovem Antônio Gonçalves
Figueira - era uma missão lucrativa e tinha o apoio das
autoridades competentes. Nesta linha de raciocínio, podemos
dizer que foram muitos os temíveis homens que se aventuraram
pelos caminhos sinuosos das matas virgens. É verdade que nos
rastros desses sertanistas plantaram-se vilas e povoados, contribuindo
para o povoamento do grande sertão, haja vista que
entre as províncias de São Paulo e Bahia as terras eram ignotas
e vastas, além do mais o perigo dos animais selvagens, sempre
em exposição, afastavam os viandantes do percurso normal. Os
gentios e as intempéries, outros perigos eminentes que eram
enfrentados com coragem e determinação.
O Brasil já havia passado por várias invasões. Os holandeses
no nordeste e os franceses no Rio de Janeiro. Tudo isso indicava
a necessidade dos brasileiros de se penetrarem pelo interior
para a tomada definitiva da posse. Os paulistas tinham a consciência
dessa conquista. Talvez, o custo alto de uma expedição
fosse uma barreira, mas nunca deixou de ser impedimento para
eles. Nada era incomum a vida dos bandeirantes nas selvas.
|
______________
(7) Epanáforas de Várias
Histórias, pág. 176, Lisboa,
1676, Arcaísmo luso,
tem a palavra a acepção que
lhe dava Antônio Vieira na
Anua da Província do Brasil,
1625: “bandeira nossa
com mechas caladas”; Frei
Vicente do Salvador. História
do Brasil 1500 - 1627.“estâncias, companhia |
NOTA: O ouro sempre foi
uma preocupação dos portugueses
e as esmeraldas,
por sua vez, uma obsessão
constante. Em 1570, Pero
de Magalhães de Gandavo
registrava que “certos índios
davam novas de umas
pedras verdes, que havia
numa serra muitas léguas
pela terra a dentro”. Gabriel
Soares revelava em sua obra
que “alguns homens tinham
ido à serra das Esmeraldas”.
Também o historiador baiano
Frei Vicente do Salvador,
em 1627, informava essa
serra: “Sabemos em certo
haver uma serra na capitania
do Espírito Santo em
que estão metidas muitas esmeraldas”.
___________
(8) Fernão Dias Pais (Leme
- às vezes empregado, mas
não é o correto, isso não obstante
o seu pai chamar-se
Pedro Dias Leme), na posse
da provisão ou carta patente
expedida em 20 de outubro
|
FERNÃO DIAS PAIS (8)
Assinatura do Caçador de Esmeraldas sem o
Leme que às vezes lhe emprestam
Pois bem, de posse da Carta Patente expedida em 20 de
outubro de 1672, põe-se a caminho, no dia 21 de julho de
1674, o destemido bandeirante Fernão Dias Pais com a sua
bandeira, da Capitania de São Vicente de Piratininga para a
mata bruta do imenso sertão mineiro, como logo a mataria o
malsinava. Numa carta-advertência, antes da partida para o sertão
mineiro, Fernão Dias Pais disse: “E para isso deixei em Tucambira
cinquenta aves e doze porcos alavancos e marronis, milho
bastante do ano passado em casa e uma roça para colher com cinco
negros e duas negras e a tenda armada, para com a chegada de dom
Rodrigo e nova ordem que trouxer ter ali mantimentos para ir ter
com o capitão José de Castilho à minha roça onde este ficou com a
obrigação de a plantar de novo”. (Eduardo Canabrava. Roteiro
das Esmeraldas. Rio de Janeiro. José Olympio. 1979. Página 89).
Desta mataria são troncos gigantescos que marcavam as
picadas por onde os silvícolas andavam; são os buritis com os
seus leques abertos num aceno de puro desespero; são os cipós
retorcidos e fracos, e galhos secos dos parasitas horripilantes
que transformam tudo isso num inferno verde. |
Fernão Dias Pais venceu todas essas barreiras naturais até
a região de Itacambira!
Era fato comum, por onde passavam alguma expedição
exploradora que, sempre ficavam pessoas em determinado lugar,
para plantar e colher os mantimentos. Assim, esses lugares
tornaram-se, com o passar do tempo, povoados e vilas. Portanto,
foi uma determinação de Fernão Dias Pais a permanência
do capitão José de Castilho e alguns servos, para guardar as
minas descobertas e cuidar das roças. Assim, o lugar escolhido
para plantar o povoado foi na parte mais alta da serra de Itacambira
com o objetivo claro e sacramentado de fugir dos efeitos
das epidemias que assolavam nas baixadas dos rios e lagoas.
O capitão José de Castilho era um elemento estranho à comitiva
de Fernão Dias Pais. Este já estava na região de Itacambira
há muito tempo e por isso foi chamado por Fernão Dias para
guardar as minas descobertas e cuidar das roças.
Com as supostas esmeraldas em um embornal de couro,
o destemido Fernão Dias Pais parte com a sua comitiva para
o Sumidouro e Sabarabussu. Aos poucos a paisagem da Serra
Resplandecente ia ficando cada vez mais longe, longe até que
desapareceu de uma vez por todas.
Desapareceu também Fernão Dias Pais.
Contava, então, o Governador das Esmeraldas já com setenta
e três anos de idade quando veio a falecer nas margens do
Rio das Velhas.
- “Esmeraldas!... Gritou alucinado o ancião... Esmeraldas!...
E sentiu um calafrio - o primeiro sintoma da febre
que o vitimaria poucas léguas adiante, ás margens do rio das
Velhas...” (9)
|
de 1672, pelo Governador
Geral Afonso Furtado de
Mendonça, pela qual lhe
foram conferidas as prerrogativas
do estilo e o título de
Governador das Esmeraldas,
organizou a bandeira
da qual, entre outros paulistas
de merecimento e importância
faziam parte: Matias
Cardoso, o primeiro da ordem
dos potentados, como
Ajudante e Chefe - sucessor
de Fernão Dias; Manoel de
Borba Gato e Garcia Rodrigues,
este filho e aquele genro
do Governador das Esmeraldas;
e Antônio Gonçalves
Figueira, cuja individualidade
se liga intimamente à nossa narrativa” (Urbino
Vianna).
______________
(9) Hermes Augusto de
Paula. Montes Claros sua
História, sua Gente e seus
Costumes - Parte I. Montes
Claros. Ed. Unimontes.
2007. Página 4.
|
O Bandeirante |
Depois da morte de Fernão Dias Pais, o seu filho Garcia
Rodrigues foi ao encontro de D. Rodrigues Castel Blanco, com
um embornal contendo pedras verdes, dizendo ser as esmeraldas
fruto dos sonhos de seu pai e um recado: “E assim mesmo me
disse mandasse em nome de Sua Alteza tomar posse das pedreiras
e de umas roças de milho e feijão que o defunto seu pai tinha no
Sumidouro e Tucambira e matos e pedrarias, o qual, em nome do
dito Senhor enviou pessoas suficientes a replantar e cuidar das ditas
roças, até quando viesse ordem de Sua Alteza”. (Revista do Arquivo
Público Mineiro. Belo Horizonte. 1924. páginas 161/2).
Na pesquisa feita por João Valle Alves de Souza, no seu artigo ”Luzes e Sombras Sobre a História e a Cultura do Vale do Jequitinhonha”,
publicado no livro “Trabalho, Cultura e Sociedade
no Norte/Nordeste de Minas”, ele disse que “a ocupação inicial
de Minas Novas se deu por volta de 1726, sob a denominação de
Minas Novas do Araçuaí. Em dois de outubro de 1730. Era criada
a Vila de Minas Novas, que foi identificada por Saint-Hilaire pela
denominação de Vila de Nossa Senhora do Bom Sucesso de Minas
Novas do Araçuaí, ou Vila do Fanado. Entretanto, já nos primeiros
anos do século XVIII, algumas expedições desbravam a porção alta
do Espinhaço: Serro, em 1703; Itacambira, em 1704”.
O SERTANI STA MIGUEL DOMINGUES
Na “História Média de Minas Gerais”, do historiador
Diogo de Vasconcelos registra que o capitão Miguel Domingues
e um grupo de garimpeiros paulistas descobriram riquezas
em Itacambira, onde passou a morar na região, iniciando assim
o povoamento do lugar. Ainda conta Mário Leite no seu influente
livro “Paulistas e Mineiros - Plantadores de Cidades” que“... a desenvolvida localidade de Montes Claros tem a sua origem
|
ligada à atuação dos sertanistas Miguel Domingues, que deixara as
suas lavras de Ouro Preto e Antônio Gonçalves Figueira que abriu
um caminho, nessas paragens, desde o ribeirão do Vieira até o São
Francisco...”.
No meu livro “História Primitiva de Montes Claros”, fiz
a seguinte anotação: sabemos por isso mesmo que o ardiloso
sertanista Miguel Domingos estabeleceu-se nas montanhas de
Itacambira em companhia de uma enorme famulagem, toda ela
procedente da província de São Vicente de Piratininga.
Em resumo, notamos que durante a procura do ouro em
Itacambira houve, entre esses fâmulos de Miguel Domingues e
os garimpeiros baianos, moradores daquele local, uma verdadeira
disputa pelo metal amarelo. A arrogância e as desavenças
se tornavam de grandes proporções, tudo isto, com o perigo
iminente para todos ali residentes de se envolverem em constantes
rixas. A tradição, sob a ameaça da justiça, dá-nos um
espelho enigmático do que realmente possa ter acontecido naquele
lugar.
Os pugilatos no meio das ruas do pequeno povoado de
Itacambira eram frequentes e tudo isso acontecia devido à rudeza
de Miguel Domingues, pois todos “... viram nele um usurpador
de glórias e vantagens obtidas à custa de canseiras e sacrifícios
alheios...” pois, ele crava ali a triste figura do truste, fazendo de
Itacambira uma sociedade açambarcadora, onde era suprimida
a concorrência, admitindo à força, os preços convenientes aos
seus interesses pessoais.
Daí a pouco veio a expulsão total dos paulistas (Guerra
dos Papudos(10)).
Isso tudo ocorreu em virtude da cúpida ganância e do
ódio dos forasteiros. Ora, a expulsão dos paulistas aconteceu
com a explosão da Guerra dos Papudos, movimento criado sob
|
Guerra dos Papudos
______________
(10) É verdade que nas minas
a lei dos mais fortes sempre
vigorava com absoluta
precisão. “Manda quem
pode, obedece quem tem juízo”
era esta a maneira dos
mais ricos e poderosos sobre
a camada dos aventureiros
mais fracos. Na Guerra dos
Emboabas, que aconteceu
no de 1709, os portugueses
saíram vitoriosos e expulsaram
os paulistas das terras
do ouro. Foi uma contenda horrível, onde muitos
paulistas morreram no Ca-
|
pão da Traição, no rio das
Mortes. Aqui, em Itacambira,
aconteceu a Guerra dos
Papudos, uma luta sanguinária
entre os paulistas e
os baianos. Novamente os
paulistas foram derrotados
e expulsos da região. Nota-se
que este fato aconteceu por
duas vezes. Em consequência
dessa luta, o sertanista
Miguel Domingues e seus
homens foram para a fazenda
Montes Claros, de José Lopes de Carvalho.
_______________
11) Antologia da Academia
Montesclarense de Letras.
Hermes Augusto de
Paula in Desembargador
Antônio Augusto Veloso. Página
122.
|
as lideranças daqueles que lhe quiseram impedir a mineração
do ouro naquele lugar. Entravam em conflito os interesses de
alguns moradores da vila com os dos homens da tropa de iguel
Domingues. O historiador Diogo de Vasconcelos disse que
as minas de Itacambira foram manifestadas pelos “papudos”.
Por ser um tanto constrangedor e, em parte, ainda pendente
de confirmação, mas o refúgio foi a saída honrosa e imediata
dos impertinentes paulistas “desta sorte foi que alguns daqueles
valentes exploradores, atravessando o rio Verde e a extensão
de terras então inabitadas vieram ter casualmente à Fazenda de
Montes Claros”(11)
Há aqui mais um engano que cumpre desfazer, pois nos
parece que não foi tão casual assim a presença dos homens de
Miguel Domingues aqui na Vila de Montes Claros de Formigas,
como afirma o desembargador, doutor Antônio Augusto
Veloso. É significativo registrar que o atual proprietário da fazenda
dos Montes Claros, na época da chegada do capitão Miguel
Domingues, era o alferes José Lopes de Carvalho, também
oriundo daquele depósito natural de minérios nas vizinhanças
de Itacambira, portanto, um velho conhecido desta corja de
homens selváticos.
ESTRADA REAL
Não obstante a região de Itacambira ter sido visitada pelos
baianos, como afirmou Urbino de Sousa Vianna, no seu
comentário do livro “Bandeiras e Sertanistas Baianos”, como se
segue: “Chegou à conclusão de que as minas de Caeté e Itacambira
(aliás, Tucambira), na região chamado Serro Frio, foram, primeiramente,
descobertas pelo lado da Bahia e não pelo lado de
|
São Paulo”. No viés da questão, podemos afirmar que a Estrada
Real, por onde passava o ouro, não beneficiou Itacambira, tendo
em vista a sua posição geográfica: do lado direito, vinha-se
do Tijuco para Minas Novas, fazenda da Vacaria e o sítio de
São Romão (Salvador Cardoso de Sá) e, finalmente, para o sertão
da Bahia (Tranqueira - na Chapada Diamantina). Pelo lado
esquerdo, do Tijuco havia várias ramificações que dava até a
Barra do Rio das Velhas (Guaicuí) e, também, a vila de Montes
Claros de Formigas. Daí para frente o caminho era o Rio São
Francisco. Portanto, entende-se que a Vila de Itacambira ficava
numa região montanhosa, de difícil penetração e isolada do
acesso da Estrada Real. Nem por isso, permaneceu isenta da
ação devastadora dos garimpeiros de Miguel Domingues.
GUERRA DOS PAPUDOS
O que aconteceu com a Guerra dos papudos, no nosso
modesto entendimento, foi uma estúpida invasão coletiva
e descomedida dos baianos na região de Itacambira, onde os
homens do capitão Miguel Domingues lavravam a terra em um
silêncio absoluto. Essa plausível agitação dos baianos baseia-se,
de algum modo, à própria ansiedade de recuperar a posse perdida
das terras do sertão dos Cataguases. Porque tudo aquilo ali
era território da Bahia.
Os paulistas, sendo efetivamente descobertos, como diz
Diogo de Vasconcelos: “foram assaltados por um bando de mestiços
denominados de papudos, semibárbaros, provenientes do Rio
de Contas, e por estes intimados a darem de mão os serviços, sob o
pretexto de ser aquele distrito pertencente à Bahia e não aos paulistas...”.
|
Fernão Dias Paes Leme
(1608-1681) nasce provavelmente
na vila de São
Paulo do Piratininga, descendente
dos primeiros povoadores
da capitania de
São Vicente. A partir de
1638 desbrava os sertões dos
atuais estados do Paraná,
de Santa Catarina e do Rio
Grande do Sul, chegando ao
Uruguai. Em 1661 fixa-se
nas margens do rio Tietê,
perto da vila de Parnaíba, e
administra uma aldeia com |
cerca de 5 mil índios escravizados.
Em julho de 1674
parte de São Paulo à frente
da bandeira das esmeraldas,
da qual fazem parte o genro
Manuel da Borba Gato e os
filhos Garcia Rodrigues Pais
e José Dias Pais. Este último
conspira contra o pai,
que manda enforcá-lo como
exemplo na região de Esmeraldas.
A expedição alcança
o norte de Minas Gerais
(Serra Resplandecente - Itacambira),
e por mais de sete
anos o bandeirante explora
os vales dos rios das Mortes,
Paraopeba, das Velhas, Araçuaí
e Jequitinhonha. Encontra
as turmalinas, que
pela cor verde confunde com
esmeraldas. Morre de malária
perto do Sumidouro, ao
retornar a São Paulo. |
De principio, ousaram viver em paz aqueles dois grupos
de mineradores, mas os homens do capitão Miguel Domingues,
não acatando as determinações impostas pelos invasores, foram
por eles - os papudos - expulsos daquelas terras. Como quer
que seja, este episódio ficou conhecido pelo nome de Guerra
dos Papudos!
O QUE DISSE J. O. R. MILIET DE SAINT-ADOLPHE
Na excelente obra Diccionário Geográphico Histórico e Descriptivo
do Império do Brazil, de Miliet de Saint-Adolphe, do ano
de 1845, foi registrado nas páginas 505/6 que a Freguesia da Província
de Minas Gerais - Itacambira - (ficava) a 22 léguas ao
noroeste da cidade de Minas-Novas, 90 pouco mais ou menos ao
nordeste da cidade d’Ouro Preto, e 12 ao norte da vila de Formigas.
Teve princípio esta povoação em 1698, tempo em que uma
bandeira de paulistas comandada por Miguel Domingues, entranharam-se nas matas, se estabeleceu entre as montanhas escabrosas
quer fazem ao sul do rio Itacambira. Os companheiros de Miguel
Domingues foram expulsos d’aquele sitio por outros paulistas, a
que os primeiros puseram o nome de Papudos. No cabo de muitos
anos de continuas rixas, ficando os Papudos senhores das minas que
só foram conhecidas no governo em 1707, edificaram uma Igreja
da invocação de Santo Antônio, que não teve título de paróquia
senão passados trinta anos. O termo Freguesia de Itacambira, que
dizem ser de 40 léguas de comprimento e quase outro tanto da
largura, encerra tão somente uma população de 8.000 habitantes
mineiros e criadores de gado. |
CRONOLOGIA DE FERNÃO DIAS PAIS
1608: Nasce em São Paulo, Brasil.
1626: Assume seu primeiro posto de trabalho como fiscal de
vendas da Câmara Municipal.
1638: Participa na Bandeira de Raposo Tavares no Sul do Brasil.
1640: Fernão Dias defende a expulsão dos jesuítas.
1644 a 1646: Parte em nova Bandeira, desta vez no sertão.
1650: Empenha-se na construção do Mosteiro de São Bento,
em São Paulo.
1651: É eleito juiz ordinário.
1653: Promove a reconciliação entre paulistas e jesuítas.
1661: Volta ao sertão em busca de índios, para depois vendê
-los.
1665: Retorna a São Paulo com mais de 4 mil índios; não conseguindo
vendê-los, passa a administrá-los numa aldeia às margens
do Rio Tietê.
1671: Recebe recomendação do governador para descobrir esmeraldas.
1672: Começa os preparativos da sua expedição.
1674:Parte com 674 homens à caça de ouro e esmeraldas.
1681: Entre cascalho descobre o primeiro lote de pedras verdes
no Vupabuçu. Morre de febre no meio da mata rumo ao Sumidouro |
|
Eduardo Bueno, em seu livro“história do Brasil” definiu
muito bem a importância
e a ação desses homens:“Em apenas três décadas - as
primeiras do século XVII -os bandeirantes e seus mamelucos
podem ter matado
ou escravizado cerca de 500
mil índios, destruindo mais
de cinquenta reduções jesuíticas
nas regiões do Guaíra,
do Itatim e do Tape”.
_____________
NOTA: Durante a volta de
expedição de Fernão Dias
Pais, de Itacambira para
o Sumidouro, novamente
houve um princípio de desassossego
contra as ordens
do comandante. Alertado
por uma índia Fernão Dias
faz uma reprimenda aos desordeiros,
jurando-os castigo
idêntico ao imposto ao seu
filho bastardo José Dias: a
forca. Em vista disso, a região
ficou conhecida com o
nome de ‘juramento’ topônimo
que foi emprestado para
denominar a cidade
|
O Mercador
“Desde que saí de Serra Nova, quase não descansei. cheguei em São
Félix, achei logo frete inteirado para Maracá. Ai tampei a tropa de
sal e ia para casa. Mas no Gavião soube que nas Lavras do Mucugê,
sal e toucinho estão bons. Então troquei um bocado de sal por
toucinho e aqui vou eu...” (Maria Dusá – Lindolfo Rocha)
|
OS ÍNDIOS BOTOCUDOS(12)
Os índios da região de Itacambira não foram empecilhos
para o arranchamento dos paulistas em volta da Lagoa do Vupabuçu.
Se eles não ajudavam em nada, também não atrapalhavam.
Viviam sempre à distância dos agrupamentos. Eram,
por assim dizer, de uma rudeza inconfundível, preguiçosos e
vingativos. Matias Cardoso de Almeida e Antônio Gonçalves
Figueira eram sabidamente preadores de índios. Entretanto,
essa prática foi usada em outros lugares - principalmente no
nordeste quando Figueira voltou com 700 índios aprisionados
- mas isso não aconteceu na região de Itacambira, pelo menos
não há registros nesse sentido.
Perlustrando a região de Itacambira, os cientistas Spix
e Martius anotaram, com detalhes, as principais características
dos índios Botocudos, os que habitam a região. Vejamos:“Quando, no dia seguinte, cavalgamos pelo cerrado tabuleiro, no
declive gradual da chapada, em caminho para o principal lugar
do termo de Minas Novas, a Vila de Bom Sucesso ou do Fanado,
fomos subitamente surpreendidos por um bando de índios nus, homens
e mulheres, que vinham em completo silêncio pela estrada.
Eram da tribo dos Botocudos antropófagos. Como todos os índios
que havíamos visto até agora, eram também estes de cor de canela
clara, de altura mediana, estatura baixinha, pescoço curto, olhos
pequenos, nariz curto achatado e lábios grossos. O cabelo negro
brilhante, escorrido, caía em melenas revoltas em alguns; a maioria
deles trazia-o raspado em volta da cabeça, até uma polegada
acima das orelhas”.
Ainda conta Spix e Martius que presenciaram “o mais revoltante
aspecto de uma mulher (índia) a qual tinha os braços,
pernas e seios cobertos de feridas sangrentas e inchados e andava
|
NOTA: Durante o retorno
da expedição de Fernão
Dias Pais, entre Itacambira
e Juramento, há a Serra
do Decamão. Segundo o
historiador Simeão Ribeiro
Pires, esse nome originouse
das dificuldades dela ser
transposta pelos homens da
comitiva. Haja vista que os
elementos que avançavam
tinha que dar a mão aos que
vinham atrás, carregando
suprimentos e armas.
_____________
(12) Botocudo é uma denominação
que os colonizadores
portugueses utilizavam
para identificar o conjunto
de índios que usavam
botoques labiais e auriculares. |
|
|
vacilante atrás da horda. Ela
fora surpreendida pelo marido
no ato de infidelidade; este
no acesso de ciúme, paixão tão
dominante entre os índios,
havia-a marrada a uma árvore, travessando-a de flechadas,
e agora, abandonada,
ela acompanhava, como mal
o podia, o bando, já arrependida
do passo em falso”. |
|
|
|
CAPÍTULO III
O POVOAMENTO E A CRIAÇÃO DA VILA
O POVOAMENTO
Como já dissemos no parágrafo anterior, a cidade de Itacambira
foi encravada no topo da serra do Espinhaço como celeiro
e guarnição para o distrito das Esmeraldas. Notícias advindas
dos registros históricos falam que no ano de 1698, quando
o capitão Miguel Domingues, em companhia de um grupo de
paulistas chegou à região para promover a garimpagem da terra
na esperança de encontrar as famosas pedras verdes de que tanto
falavam os componentes da expedição de Fernão Dias Pais.
Porém, escreve Simeão Ribeiro Pires que a cidade de Itacambira
teve início com a criação de “uma feitoria, um reduto
fortificado e com roças, a fim de manter a sobrevivência. Algo inteiramente
semelhante aos atuais apoios logísticos de sustentação,
nos avanços e retornos de suas incursões exploratórias”.
|
__________
“As terras virgens que se
estendem bem p’ra lá das
serranias de Grão-Mogol,
nunca dantes taládas pelos
aventureiros dos séculos
anteriores à procura das sonhadas
pedras verdes e nem
pelas bandeiras que desceram
das plagas paulistanasà cata de esmeraldas, eram
descritas com as cores mais
dispares e quebradas da terra
portuguesa, como a seara
alcatifada de diamantes e
ouro!”
(Grão Mogol: de Portugal a
Portugal, de Mário Martins
de Freitas. P. 9).
|
______________
(1) Revista do Arquivo Público
Mineiro, volume VII,
páginas 939/40. |
Há documentos no Arquivo Público Mineiro, que datam
de 13 de fevereiro de 1701 sobre a nomeação de Baltazar de
Morais para a provisão da região. Do mesmo modo, em 15 de
março de 1702 lê-se em documento do mesmo Arquivo Público
Mineiro que “o guarda-mor Antônio Soares Ferreira fez exatíssima
diligências por descobrir novas minas e explorando com todo
zelo e cuidado do serviço de S. Majestade, de que Deus guarde,
todo este sertão do Serro Frio e Tucambira, não só pelos lucros (...)
vinha para essas partes tão distantes, a descobrir estas novas minas,
como com efeito descobriu, à sua custa , com grande trabalho e perda
de sua fazenda (...) e o acompanhou seu filho João Soares Ferreira,
e o capitão Manoel Correia Arzão, o que eu escrivão certifico
e sei, por também acompanhar ao dito guarda-mor...” (1)
TERMO DE MINAS NOVAS E O REGIMENTO DOS
DRAGÕES
No ano de 1812 o Termo de Minas Novas tinha a sede na
Vila de Nossa Senhora do Bom Sucesso do Fanado. Faziam parte
deste termo as seguintes freguesias: Santa Cruz da Chapada,
Nossa Senhora da Conceição de Água Suja, Nossa Senhora da
Conceição do Sururiú, São Domingos e Nossa Senhora do Rio
Pardo. Do mesmo modo os arraias de Itacambira, Barreiras,
São João, Araçuaí, Nossa Senhora da Penha e Piedade. Assim,
também, como os povoados de Brejo das Almas, Cabeceiras
do Rio Verde, Serra do Encantado, Serra Branca, Conceição,
Santo Antônio do Gorutuba, Prata, Olhos d’Água e Maravilha.
Neste mesmo termo, o Regimento dos Dragões de Minas,
estavam destacados uns 36 homens no serviço do diamante da
Serra de Santo Antônio, em Simão Vieira, Passagem da Bahia
e Tocaios.
|
Nas anotações de Dona Concórdia Luzia Ribeiro encontramos
a seguinte afirmativa: “Era tão intensa a movimentação
no Arraial de Santo Antônio de Itacambira, que somente o Destacamento
dos Dragões (Reais de Minas - de Portugal), para policiar
o ercado do ouro, era composto de oitocentos soldados”. Consta
também que foi em Itacambira a criação dos primeiros Dragões
de Minas Gerais - hoje chamado Dragões da Independência.
Tanto que até o ano de 1709 não existia nenhuma referência
sobre esse policiamento nas minas. Somente na data de 18 de
janeiro de 1719, é que foram criadas duas Companhias de Dragões
para a guarda das minas, por D. Antônio de Albuquerque
Coelho de Carvalho. Nota constante do livro “Crônica da Polícia
Militar de Minas”, de Geraldo Tito Silveira, (página 35).
CRIAÇÃO DA FREGUESIA
A freguesia foi criada com o nome de Santo Antônio do
Itacambiruçu, por Alvará de 23 de março de 1823. Entretanto,
a regalia deste feito foi tornado sem efeito, voltando tudo a
estaca zero. Em consonância com a Lei nº 184, de três de abril
de 1840, que a elevou curato de Santo Antônio do Gorutuba,
modificou o nome do povoado, passando a se chamar freguesia
de Santo Antônio do Itacambiruçu da Serra do Grão Mogol.
Sabe-se que as dificuldades religiosas ficaram mais presentes na
rotina dos mineradores. Nota-se que essa lei foi modificada,
passando o povoado a chamar-se Santo Antônio do Bom Retiro,
município de Grão Mogol.
Também nesta época os mineradores levantaram uma pequena
capela, tendo como padroeiro o milagroso Santo Antônio.
Na concepção de muitos historiadores, a presença de uma
simples capela já era o bastante para iniciar um núcleo habita
|
____________
A povoação devia servir
para centralizar a administração
das minas de Rio
de Contas e Itacambira e as
que se descobrirem...”. (Felisbello
Freire) |
________________
NOTA: O Pico de Itacambira
teve um papel de um
verdadeiro farol a orientar
bandeirantes e sertanistas,
bem como milhares de
mineradores que para ali
acorreram na fase áurea de
mineração do ouro e dos
diamantes. (Simeão Ribeiro
Pires) |
cional. A cidade de Itacambira nasceu exatamente assim, sob a
proteção de Santo Antônio e se desenvolveu com a mineração.
A Guerra dos Papudos não foi suficiente para atravancar o surgimento
da vila.
A partir da data que a região passou a ser palmilhado por
homens e tropas, com a abertura de estradas e caminhos para
melhor facilitar o comércio dos mineradores e os recebimentos
de mantimentos para o abastecimento da população do povoado.
O caminho mais importante foi aberto por Antônio Gonçalves
Figueira, de sua fazenda Brejo Grande a Tranqueira, na
Chapada Diamantina (Bahia).
Consequentemente outros caminhos foram surgindo naturalmente.
Durante a viagem do sertanista Quaresma Delgado,
em 1730, os caminhos que indicavam o destino ao povoado
de Itacambira (que estava no Roteiro de Quaresma conforme
cópia do manuscrito nº 346, existente no Instituto Histórico
e Geográfico Brasileiro, sob a rubrica Index de Várias Notícias),
foram descritos através dos tempos por vários historiadores. Vejamos:
A Tocambira 3 e ½.
Do Brejinho seguindo a estrada em distância de
meia légoa se mete a estrada em outra, que vem das
Minas Geraes, Rio Verde, e outraz partez. Daqui ao
riaxo do Tamanduá hum legoa e meya, deste a serra
do Tombadouro meya legoa, e daqui abaxo a Tocambira
meya legoa; desde a Vacaria athe este Tomadouro
vem correndo uma corda de serras, que aqui vem fazer
ponta. He esta Tocambira situada nesta baxa, rodeada
com um cordão de serras desde o sueste athé o Norte, e
p.ª o Nordeste, e tudo já são montes de subir, e descer,
nordeste Sudueste, corre o Rio por onde se está mina-
|
rando, e tem este a nascente da serra do sudueste, tem
bastante cazas, couzas de quinze ou vinte. &. (Urbino
Vianna. Bandeira e Sertanistas Baianos. Página
199).
Também o historiador Felisbello Freira registra que, em
1718 um bandeirante paulista - o coronel Sebastião Raposo
- no comando de uma expedição numerosíssima, veio de São
Paulo para as cabeceiras do Rio de Contas passando por Itacambira.
Pois, naquela época, já se utilizava do caminho de Itacambira
para se chegar até a Chapada Diamantina.
“Duas estradas de comunicação já ligava a Bahia
a São Paulo, que se bifurcavão, justamente nessas cabeceiras,
(lugar chamado Tranqueira, na opinião de
Antonil e que localisamos em Criolo) para seguir, uma
pelo S. Francisco e outra pelo Espigão do Espinhaço até
o Rio Verde Grande e suas cabeceiras, Itacambira e Rio
das Velhas”. (Felisbello Freire. História Territorial do
Brazil. Página 156).
É certo que a povoação de Itacambira aconteceu no ano
de 1707. (2) Aliás, muitas coisas aconteceram nesta região durante
o inicio do século XVIII. A criação dos currais de gado
vacum e o início da mineração nas serras e nos rios do Vale do
Jequitinhonha e do Rio Pardo. Nota-se que o ouro foi uma preocupação
constante dos portugueses, mas as esmeraldas foram
uma obsessão sem controle, onde muitos perderam a vida na
esperança de alcançar as pedras verdes.
|
(2) Foi exatamente neste
mesmo ano que o bandeirante
Antônio Gonçalves
Figueira retornou para a
região, solicitando e obtendo
por Alvará de 12 de abril
de 1707, uma sesmaria de
légua e meia de largura por
três léguas de comprimento.
Nessa sesmaria foi criada a
fazenda dos Montes Claros
de Formigas. |
CAPÍTULO IV
A MISTERIOSA LA GOA DO VUPABUÇU
Para o norte inclinando a lombada brumosa
Entre os nateiros jaz a serra misteriosa;
A azul Vupabuçu beija-lhe as verdes faldas,
E águas crespas, galgando abismos e barrancos,
Atulhados de prata, umedecem-lhe os flancos,
Em cujos socavões dormem as esmeraldas.
(Caçador de Esmeraldas - Olavo Bilac)
A LA GOA ENCANTADA
Em verdade, a continuarem os mistérios das pedras verdes
e dos corpos mumificados, a cidade de Itacambira terá a
sorte trágica da impaciência humana sobre os enigmas do seu
|
___________
Olavo Brás Martins dos
Guimarães Bilac (1865-
1918) foi poeta e jornalista
brasileiro. Escreveu a letra
do hino à Bandeira brasileira.É membro fundador da
Academia Brasileira de Le |
tras. Foi um dos principais
representantes do Movimento
Parnasiano que valorizou
o cuidado formal do poema,
em busca de palavras raras,
rimas ricas e rigidez das regras
da composição poética.
morreu Olavo Bilac no Rio
de Janeiro, no dia 28 de dezembro
de 1918. Escreveu o
poema O Caçador de Esmeraldas,
em1902. (Wikipédia)
__________
(1) PIRES. Simeão Ribeiro.
Raízes de Minas. Belo
Horizonte. 1979. Páginas
71/75. |
passado glorioso. Ora, diante desses descalabros, há quem se
engane supondo que a verdadeira razão cabalística dos fatos
reside em narrativas inacabadas.
A lenda das pedras verdes, as esmeraldas descobertas por
Fernão Dias Pais, ainda resiste ao tempo. A Lagoa encantada do
Vupabussu, agora jaz no encantamento dos fatos. Por incrível
que pareça, ela desapareceu do mapa! A proposito, transcrevemos
para cá carta de D. João Antônio Pimenta, onde ele faz
várias revelações sobre a existência da lagoa. Não se sabe ao
certo o quanto de verdade existe no seu texto, mas é sabido do
seu grau de conhecimento sobre a geografia e a história da terra
mineira. Portanto, a Lagoa do Vupabussu foi encontrada, o que
não aconteceu com as pedras verdes.
CARTA DE D. JOÃO ANTÔNIO PIMENTA (1)
Venho dar a V. Excia. uma notícia que será, por certo,
muito agradável: a descoberta da prova real de ser Itacambira.
Como V. Excia afirma como segurança, de perfeito conhecedor
do nosso passado histórico, em sua obra magistral História
Antiga de Minas Gerais, o local da mina de supostas
esmeraldas descobertas por Antônio Dias Adorno ou, talvez,
por Sebastião Fernandes Tourinho, reconhecida e descrita
por Marcos de Azevedo Coutinho e novamente descoberta,
depois de perdida por muitos anos, no deserto pelo super-homem
Fernão Dias Pais, depois de heroicos sacrifícios.
Uma objeção séria se levanta contra essa opinião, aliás,
a mais comum: a não existência, ali, de formosa lagoa Vupabussu
e principal característica do sítio descrito. Conhecedor
do lugar e bem certo de que em toda a bacia de Itacam-
|
bira não há lagoa alguma que mereça, também eu me deixei
dominar pela dúvida, apesar da ocorrência de outros sinais
distintivos do local histórico.
Tendo passado, há mais de um ano, uma temporada
em Itacambira, em tratamento de saúde, nessa ocasião tive
que perlustrar, a cavalo, em passeio higiênico num local denominado
Vargem Grande, situado a cinco quilômetros mais
ou menos, do velho arraial; e impressionou-me a forma de
grande lagoa que tinha a várzea, toda coberta de um lençol
de areia.
Examinando-a com cuidado, pude verificar que, de
fato, era uma lagoa obstruída por enorme quantidade de
areia, derivada de grandes serviços de mineração, que em
tempos remotos se efetuaram nas margens dos córregos que
confluíram para a dita lagoa.
Além do areal, em forma de grande lagoa, de três quilômetros
de comprimentos sobre um de largura, outros sinais
existem da antiga, entre os quais os seguintes:
1º - O alagamento de toda a várzea nas grandes cheias
dos córregos, elevando-se as águas a um metro de altura, com
dois vincos abertos por elas nos barrancos da margem esquerda,
encostados à serra.
2º - O espraiamento das águas de um córrego que por
esta causa tomou o nome de Espraiado. Corria ele antigamente
para a lagoa; tendo-se ela, porém, obstruído pelas
areias das lavras, as águas do córrego ficaram ao nível do arraial,
derramando-se em parte dele em demanda do ribeirão
Sujo, que era o principal tributário, ou melhor, o principal
fator da lagoa.
|
Dom João Antônio Pimenta
nasceu no Arraial de
Capelinha, hoje chamado
simplesmente de Capelinha,
um município de Minas
Gerais. Após os estudos feitos
em Minas Novas e mais
tarde no Colégio do Caraça,
matriculou-se em outubro
de 1879 no curso de Teologia
do Seminário de Diamantina
e foi ordenado sacerdote
no dia 10 de julho de 1883.
Foi nomeado vigário de Capelinha
em 1892 e passou a
residir em Água Boa com o
fim de construir uma igre
|
ja. Em 1897, foi removido
para a Freguesia de Piedade
e, em 1889, foi ocupar a
Freguesia de Teófilo Otoni.
Nessa ocasião, Dom João
foi agraciado com o título
de Camareiro Secretário
Supra-Numerário do Papa
Leão XIII. No dia 21 de
fevereiro de 1906, ele foi
escolhido como Bispo Coadjutor
da Diocese de São Pedro
do Rio Grande do Sul,
com a sede titular da Pentacomia
a 21 de fevereiro
de 1906. Dom João foi
ordenado bispo em Barreias
a 20 de junho de 1906 por
Dom Joaquim Silvério de
Sousa e, no dia 8 de setembro,
fez sua entrada solene
em Porto Alegre. Seu lema
de vida episcopal era SUB
UMBRA ALARUM TUARUM
(Sob a sombra de
tuas asas). Durante os cinco
anos incompletos que passou
no Rio Grande do Sul,
Dom João Antônio Pimenta
fez a visita canônica a
toda a Diocese, cujos limites
eram os mesmos do estado. |
3º O nome deste ribeirão cujas águas são hoje de cor
natural, bem claramente manifesta a grande quantidade de
terra e areia, por que ele foi arrastado nos tempos da exploração
das lavras, no decurso do Século XVIII.
4º - A existência de duas lagoinhas na várzea, uma na
parte superior do arraial e a outra no inferior; como se vê da
carta topográfica respectiva. O areal figura na carta com o
nome de areão.
5º - Por estes fundamentos, fui levado a crer que se
tratava, sem a menor dúvida, da histórica lagoa Vupabussu;
e experimentei (por que não dizê-lo?) uma alegria tanto parecida
com a de Arquimedes, e como ele exclamei: Eureka...
Minha convicção arraigou-se ainda profundamente,
com as seguintes considerações:
1º - A lagoa, como proficientemente afirma V. Excia.,
devia estar além de Itacambira (obra citada 2 ed. Pág. 41)
e a várzea para quem vem de sudeste, da barra do Itamarandiba,
está precisamente um pouco além (uma légua mais
ou menos) do pico de Santana, que se ostenta altaneiro e
majestoso, no meio da bacia do Itacambira, destacando da
cordilheira, cercado de matos, com todos os característicos
manifestados pela palavra Itacambira, segundo a interpretação
de V. Excia., isto é ita, pedra, cão, mato, bir, pontuda:
pedra pontuda que sai do mato.
Os índios, que na denominação de cada lugar e de
cada coisa, como V. Excia bem disse à página 84, se inspiraram
sempre nos seus sinais característicos, não podiam dar
a esta abrupta montanha nome mais apropriado que o de
Itacambira.
|
Convém acrescentar que é junto dela que passa o córrego
que tomou o nome de Itacambira, e na segunda metade do
seu curso o de Itacambirussu - Itacambira grande.
2º - Uma garganta situada na extremidade superior
da várzea tem o nome de Bocaina Encantada, epiteto este
que se comunicou à serra da qual ela faz parte. Como se
sabe, a lagoa Vupabussu era tida também por encantada.
3º - O ribeirão Sujo e os outros córregos que desaguavam
na lagoa, deslizavam-se por entre florestas virgens, arrastando
cada um deles para a lagoa, grande quantidade de
folhas e de detritos vegetais e animais. Isto explica a erupção
de epidemias que sacrificou grande parte da expedição Fernão
Dias Pais e impediu a continuação da exploração.
4º - Em Itacambira é endêmica uma febre de mau
caráter (tifo ou paratifo) que se tem manifestado periodicamente,
e ainda há pouco vitimou toda uma família dentro
do arraial. Revolvido pelos exploradores o grande depósito de
germes existentes na lagoa era natural a explosão de epidemias.
5º - A colocação do arraial a pouca distância e a cavaleiro
da atual Vargem Grande, na extremidade superior
de um espigão, que partindo do sopé da serra vem morrer na
dita várzea, está de perfeito acordo com os ditames da razão
e da grande experiência do chefe da bandeira que lhe devia
aconselhar aquele lugar como mais apropriado para seguro
abrigo das pessoas por ele deixadas para zelarem pelo tesouro
existente nas águas pestilenciais da lagoa. Abrigo seguro, por
estar fora do foco de infecção, em lugar alto o muito arejado
e em ótimas condições de defesa contra ataques de índios.
|
Em 7 de março de 1911,
pela bula Commissum Humilitati
Nostrae, de São Pio
X, Dom Pimenta foi nomeado
bispo da nova diocese
de Montes Claros. Em 7 de
outubro de 1911, Dom João
chegava solenemente à nova
cidade episcopal. Na Diocese
de Montes Claros, Dom
João organizou a Câmara
Eclesiástica com todo o aparelho
necessário, criou quatro
novas freguesias: Santa
Cruz de Morrinhos em 18
de dezembro de 1913, São
Sebastião de Bela Vista,
em 28 de janeiro de 1914,
São João do Paraíso, em 10
de novembro de 1914 e
Nossa Senhora da Extrema,
em 8 de outubro de 1919 e
reorganizou quatro freguesias:
Sant’Ana de Vila Brasília,
Brejo das Almas, Santo
Antônio de Gorutuba e Bocaiúva.
O primeiro bispo da
Diocese de Montes Claros
reforçou o clero diocesano
com a entrada de 13 sacerdotes,
sendo seis portugueses,
três italianos, três belgas e |
leituum
polonês. Em 1914,
mandou construir o Palácio
Diocesano. A instalação de
uma capela episcopal, intitulada
Nossa Senhora de
Lourdes, numa dependência
do palácio, foi outra obra de
Dom João Antônio Pimenta
na região.
Dom João chamou para
atuarem em sua diocese os
padres redentoristas e os
padres lazaristas, instituiu
os retiros espirituais para
o clero na sede da diocese e
projetou e deu início à nova
catedral. Dom João Antônio
Pimenta morreu com
83 anos, e está sepultado
na cripta da Catedral Metropolitana
Nossa Senhora
Aparecida de Montes Claros.
(Wikipédia)
Dom João Pimenta morou
na casa de Dona Claudovina
Noronha Neves Leão,
em Itacambira, durante um
ano. |
6º - Os fácies da zona circunjacentes à Vargem Grande,
principalmente na parte superior do ribeirão Sujo, é precisamente
igual ao descrito por Marcos de Azevedo Coutinho,
citado por Claudio Manoel da Costa, Fundamento Histórico
do seu poema ‘Vila Rica’ e por V. Excia a página 41 de sua
louvada obra, isto é, um terreno de formação aparentemente
vulcânica, fortemente acidentado e revolto, sulcado de profundas
crostas e socavões.
7º - Da Vargem Grande, se avistam, a leste, em distância
aproximadamente de três léguas, as serras da Pedra
Pintada e de São Gil da cordilheira do Espinhaço, mais conhecidas‘in loco’ por cordilheira do Grão Mogol.
Estas duas serras, quando verberadas pelo sol da tarde,
desprendem reflexos de mica. É possível que nos tempos anteriores
fossem ainda maiores estes reflexos, e daí o nome Resplandecente,
dado a esta parte da cordilheira pela expedição.
A imaginação popular, prodigiosamente fértil e amplificadora,
se encarregou de aumentar os resplendores da serra,
e de revesti-la dos encantos da lenda.
NOTA: Estas duas serras são tão unidas que podem ser
consideradas, perfeitamente, como sendo uma só.
De tudo quanto levo dito, ressalta com brilhos mais reais
e mais intensos que os da Serra Resplandecente, com brilhos
de indubitável certeza e evidência que a Vargem Grandeé o local antigamente ocupado pela lagoa Vupabussu.
Com a comunicação desta descoberta feita a V. Excia.
em primeira mão tenho em vista homenagear a um dos mais
profundos, mais conscienciosos e mais verídicos historiadores
da Terra Mineira, a cujo critério histórico se deve em grande
parte, esta descoberta, como para ela fluiu não pouco a leituum
|
ra do Capítulo IV, nº 4, primeira edição da História Antiga
de Minas Gerais.
Cui honore, honore.
Digne-se V. Excia aceitar este tributo de justiça, este
preito de respeito e culto cívico a um dos beneméritos de nossa
terra natal, a querida Minas, este testemunho do mais
alto apreço e estima do seu admirador, João, bispo de Montes
Claros.
CARTA TOPOGRÁFICA DA LA GOA DO VUPABUÇU
A região de Itacambira foi retratada pelo engenheiro Arthur Jardim de Castro Gomes numa Carta Topográfica, mostrando
as suas posições planimétricas e altimétricas do relevo.
O trabalho foi uma solicitação do historiador Simeão Ribeiro
Pires, para compor explicações sobre a Lagoa do Vupabuçu no
seu influente livro “Raízes de Minas”. |
|
Carta Topográfica da região de Itacambira - Serra Resplandecente e dos contornos da antiga
Lagoa do Vupabuçu, de autoria do engenheiro Arthur Jardim de Castro Gomes. |
CAPÍTULO V
A RELIGIOSIDADE DE UM POVO
IGREJA DE SANTO ANTÔNIO DE ITACA MBIRA (1)
“A História da Arte não é apenas uma história
de obras, mas também de homens. As obras de arte
falam de seus autores, dão a conhecer o seu íntimo e
revelam o contributo original que eles oferecem à história
da cultura” (Carta do Papa João Paulo II aos
Artistas - Paulinas - 1999 - pág. 8).
Nós sabemos e não é novidade que a primeira Igreja de
Itacambira foi apenas uma pequena capela, construída no ano
1707. Com a descoberta do ouro na região, nos anos posteriores
- possivelmente no ano de 1813 - facultou-se aos moradores
a oportunidade de se construir um templo maior, para nele
agradecer, pela abundância, em riquezas oferecidas pela nature-
|
(1) A Igreja Matriz de Santo
Antônio foi tombada
pelo Iepha. Com homologação
do ato em 30 de julho
de 1998, a igreja teve sua
inscrição lançada no Livro
II, do Tombo das belas Artes,
no Livro III, do Tombo
Histórico e no Livro IV, das
Artes Aplicadas. |
Tombada pelo Instituto Estadual
do Patrimônio Histórico
e Artístico de Minas
Gerais, a Igreja revela em
seu interior um altar mor
com características icas,
compondo um conjunto não
encontrado em nenhum outro
lugar. Seu estilo é mourisco
com detalhes em treliças
formando um grande
trono. Observa-se também a
presença de aspectos chinesices,
o que tem intrigado os
especialistas, uma vez que,
até hoje não é possível saber
se tal trabalho foi realizado
por um artesão da Bandeira
de Fernão Dias, ou se é de
responsabilidade de alguma
ordem religiosa que se estabeleceu
no local ao longo dos
séculos XVIII e XIX.
_____________
(Revista do Instituto Histórico
e Geográfico de Montes
Claros. Marta Verônica
Vasconcelos Leite. Montes
Claros. Editora Millennium/
Cotrim. 2010. Página
127.)
|
za mãe/terra. Não há registros, mas devia ter sido construído o
novo templo no mesmo lugar de antes, haja vista que assim era
a tradição da época.
“Santo Antônio nasceu em Lisboa (Portugal) em
1192, foi batizado com o nome de Fernando que mais
tarde trocaria por Antônio. Era filho de pais ilustres:
Martinho de Bulhões, cavaleiro do rei Afonso II de
Portugal e Maria, aparentada com Failo I, o quarto
rei das Astúrias”.
É certo que esse novo templo foi dedicado a Santo Antônio.
Em alguns documentos da Igreja encontramos o registro
de Santo Antônio de Pádua, o que poderia ter sido no início da
mineração, pois havia ali somente portugueses e a tradição fazia
colocar-se o nome “de Pádua” (a cidade de Pádua, lugar onde
Fernando, já debilitado pela doença, entregou a alma a Deus
no dia 13 de junho de 1231, quando tinha apenas 39 anos).
Com o passar dos tempos, os brasileiros da gema passaram a
dizer tão somente “Santo Antônio”, sem lhe designar o epiteto“de Pádua”.
“Quanto a matriz de Santo Antônio, alguns historiadores
dão como data o ano de 1707, época em que
foi erguida. Teria os mineiros levantados no plano de
um espigão uma capela, dedicando-a a Santo Antônio
e aí assentaram o seu arraial...” (Panfleto da Paróquia
de Santo Antônio - Itacambira. 2008).
Conforme o Jornal do Brasil, a cidade de Itacambira tem
a única Igreja, em todo país, que possui o altar-mor em forma
de pagode chinês. Em vista disso, é comum àqueles que visitam
o templo acreditarem que ele teria sido construído por um
carpinteiro naval. Sylvio de Vasconcellos escreveu um artigo no
|
jornal Diário de Minas (Belo Horizonte), em 12 de agosto de
1956, “Um Altar Excepcional”, em que defende a posição de
que “se trata de um altar muitíssimo interessante e valioso a atestar
a variedade e a extrema riqueza de nossa arte colonial”.
Foi, certamente, durante a parição de Antônio Francisco
Lisboa, o Aleijadinho - de 29 de agosto de 1730 - que os sertanejos
de Itacambira, entusiasmados com a beleza das Igrejas
do ciclo do ouro, importaram a mão de obra especializada parao refazimento do altar da Igreja, tanto no estilo clássico como
nas formas do engenho e da arte que o escultor absorveu das
influencias do “pagode chinês” tão distante. Pode-se dizer que
se trata de uma obra ímpar, sem similares nas Igrejas de Minas
Gerais. A riqueza de detalhes é impressionante, pois ocorre em
todo conjunto com as minúcias no recorte da madeira e a harmonia
de cores, tanto na nave central como nas colunas laterais.
No centro, no alto, a imagem de Santo Antônio que zela
pela conservação do templo e dos seus peregrinos.
Na avaliação do jornalista Girleno Alencar, o engenheiro
e historiador Geraldo Afonso Gomes é o maior pesquisador
sobre Itacambira e fez questão de buscar informações sobre sua
cidade natal no Museu Ultramarino, em Lisboa. “O altar da
Igreja de Santo Antônio - disse ele - é do estilo Barroco Oriental,
pois como Portugal criou colônias no Oriente, como Macau,
trouxe artistas daquela parte do mundo para construir igrejas em
suas áreas de influência. Isso deixou a matriz de Itacambira com a
prerrogativa de ser a única no Brasil a ter um altar construído com
base na cultura oriental”.
No ano de 1813, acredita-se que esta data se trata da reconstrução
da Igreja, a paróquia de Santo Antônio de Itacambira
pertencia ao bispado da Bahia. Já no século XIX ela passou
a pertencer a Diocese de Diamantina e por algum tempo a
|
|
(2) Frei Clemente de Adorno
visita a paróquia de Nossa
Senhora da Conceição, de
Rio Pardo de Minas, em
1793. Ele foi envenenado
a mando de Maria da Rosária,
de Tremedal (Monte
Azul). Morreu na fazenda
São Bartolomeu, em 1806,
e foi enterrado na Igreja de
Rio Pardo de Minas. (Frei
Clemente de Adorno: o missionário
de Deus. Dário
Teixeira Cotrim. Rio Pardo
de Minas. 1999). |
matriz de Itacambira foi sede das paróquias de Montes Claros
de Formigas, Serra do Gram Mogor (Grão Mogol) e Brejo das
Almas (Francisco Sá).
OS PADRES PIONEIROS
No princípio da colonização do interior brasileiro, os padres
portugueses foram a grande sensação daquele momento.
As missões dos tempos de outrora tinham um caráter evangelizador,
principalmente com relação aos gentios. É sabido que
o Frei Clemente de Adorno(2) - o missionário de Deus - esteve
em Itacambira e região, no período de 1799 a 1803 com a missão
de evangelizar os índios e levar a palavra sagrada aos fiéis
da Igreja Católica. Na prática, os padres pioneiros sabiam das
dificuldades que iriam enfrentar, mas nunca desanimavam da
tarefa de servir ao Senhor.
1752-1772 - O padre Jeronimo Macedo Portugal
1772-1774 - O padre Felipe Santiago Rocha
1775 – O padre José da Costa Guimarães
1776 - O padre Diogo Torres Barbosa
1814-1831 - O padre Euzébio Antônio dos Santos
1836-1837 - Os padres Marcos Matias e João dos Santos Coimbra
1872 - O frei Francisco da Cunha Cabral
1876-1894 - O padre Domingos Moura dos Santos
1886 (11/05) a 1892(02/07) - O padre Domingos Pimenta de
Figueiredo;
1891 - O padre Domingos Pimenta de Figueiredo
1892 - O padre José de Carvalho
|
1894 - O padre Hermógenes Genésio de Almeida
1895 (11/08) - Padre Domingos Moreira dos Santos
1897 (22/08) - José Pimenta de Carvalho
1897 (22/08) - voltou o Pe. Domingos Pimenta de Figueiredo.
1899 - O padre José Francisco de Carvalho, até 07/09/1899.
1899 até 1905 - Volta o Pe. Domingos Pimenta de Figueiredo.
1905 - O padre Carneiro
1905-1911 - Novamente o padre Domingos Pimenta de Figueiredo
até 1911
1911-1912 - O padre Marcos que faleceu em Itacambira.
1912-1913 - O padre Bento para fazer as Festas do Sacramento.
1913-1920 - O padre Manoel Francisco Calado, que passou a
residir em Itacambira, no Sobradão de Joaquim Ferreira Leal,
até 1920.
1920-1921 - O padre Sidônio que ficou por tempos intercalados
até o ano de 1921.
1920 - O padre Manoel Antônio Luiz
1921 - O padre Salustiano Francisco dos Santos, até 1944.
1921-1929 - O padre Augusto Prudêncio da Silva que visitava constantemente a paróquia de Santo Antônio de Pádua.
1944 - O padre Sebastião Geraldo de Queiroz. Depois deste
passou a frequentar a freguesia os padres da ordem premonstratenses:
o padre Alderico e cônego Augustinho.
1950 (15/08) - O cônego Gilberto M. Krauser, que ficou em
Itacambira até 1952.
1952 - O padre Oswaldo Simões, até 1966. |
|
|
OS PADRES PROGRESSISTAS
Era necessário uma transformação radical na Igreja Católica.
Uma renovação nos seus conceitos para que a Igreja pudesse
sobreviver, o que chamamos de “era da tecnologia”, sem
o retrocesso das cicatrizes do passado. Aliás, todo o processo de
desenvolvimento foi benéfico para a população e a Igreja Católica
teve um papel fundamental em todos os sentidos, zelando
de maneira corajosa e firme, o seu rebanho. Assim, os padres
progressistas se empenharam na criatividade e no dinamismo
de suas atividades religiosas. A cidade de Itacambira ainda vive
esse momento com grande furor.
Padre José Gabriel
Padre José Osanan de Almeida Maia
Padre Geraldo Majela de Castro
Padre Domício de Melo Rocha
Padre Antônio Brígido de Lima
Padre Samuel de Jesus Duarte
Padre Honório de Andrade
Padre Ailson Bessa Cavalcante
Padre Gilmar Soares Martins (Padre Mazinho)
Padre Jorge Luís Hugrey |
Altar-mor da Igreja de Itacambira
300 ANOS DE EVANGELIZAÇÃO
Maria da Consolação Leão Ferreira (Nana Leão)
1 - A LENDA DA MÃE D’ÁGUA : IARA
Nas serras gerais, bem no interior do Brasil,
Onde os índios Botocudos habitavam
Existia ali uma lagoa Vupabuçu e uma lenda
Da Iara Mãe d’Água que os gentios tanto amavam.
Conta a lenda que a sereia possuía
Cabelos longos cor de esmeraldas.
Tinha um palácio de pedras preciosas
No fundo da linda lagoa encantada.
|
Claudovina Noronha Neves Leão
__________
PEDIDO DE
SOCORRO
Foram encaminhadas para
as autoridades competentes,
quatro correspondências
solicitando a intervenção
imediata do poder público
na preservação da Igreja
Santo Antônio de Itacambira.
Todas as correspondências
tiveram data de nove
de fevereiro de 2004 e foram
assinadas por Claudovina
Noronha Neves Leão.
|
Na verdade trata-se de um
apelo individual às autoridades
competentes sobre a
recuperação do maior bem
da cidade de Itacambira;
a Igreja Santo Antônio de
Pádua. As correspondências
foram direcionadas ao ministro
da cultura, Gilberto
Gil; ao governador do Estado
de Minas Gerais, Aécio
Neves; ao Instituto Estadual
do Patrimônio Histórico
e Artístico de Minas Gerais
e ao Dr. Fabiano de Paula,
superintendente Regional
de Minas Gerais, no sentido
que fossem tomadas as
devidas providências para a
recuperação do templo. Infelizmente
nada foi feito naquele
momento que pudesse
suavizar o sofrimento dos fiéis
da paróquia. Entretanto
o restaure do imóvel foi feito
no ano (...) sob a supervisão
do Instituto Estadual do Patrimônio
Histórico e Artístico
de Minas Gerais. |
2 - A EXPEDIÇÃO DE FERNÃO DIAS PAIS
No correr do tempo, no século XVII
Pelas pedras verdes os portugueses foram atraídos.
Organizando as expedições das Bandeiras
De São Paulo, para Minas, partem destemidos.
Fernão Dias Pais (Leme), o grande chefe
Da formosa e gloriosa expedição.
Rumo à lagoa, na Serra Resplandecente
Coloca toda sua bravura e ambição.
A bandeira entre a cruz e a Espada
Conduzia também missionários da oração
Para ensinar e transmitir os bons costumes
Aos povos que não tinham o sinal de Cristão.
3 - FERNÃO DIAS PAIS
Tomando posse da terra, Fernão Dias
Regressa a São Paulo, junto ao Governador,
Ao invés de levar as esmeraldas tão sonhadas
Carrega consigo turmalinas sem valor.
Parte deixando as minas sob o comando
De um tal de José de Castilho.
E adiante do milagre da fé
A catequese foi tomando maior brilho.
4 - A IGREJA DE SANTO ANTÔNIO
Em 1707, para maior vivência cristã,
No pé da serra é erguida uma capela.
Em honra de Santo Antônio glorioso
E no trono colocar sua imagem bela!
|
A partir desse tempo, então,
Veio surgindo uma grande devoção.
Festas de Santo Antônio e do Divino
Motivo de grande confraternização.
Por muito tempo a nossa Igreja Matriz
É irmã de muitas outras igrejas.
Grão Mogol, Montes Claros, Francisco Sá
Mostrando com humildade a sua realiza.
Em 1813 a Igreja é elevada a Paróquia
Para mais fé, mais vida e unidade.
Levando o povo a ser Igreja Gente
E as capelas a serem comunidades...
RELATO DO PADRE JOSÉ OZANAN
A Boa Nova proclamei com alegria.
Deus vem a nós, Ele nos salva a nos recria.
E o deserto vai florir e se alegrar
Da terra seca, flores, frutos vão brotar...
A minha passagem pela paróquia de Santo Antônio
em Itacambira, da Semana Santa de 1978 a julho de 1986,
foi uma experiência riquíssima e consoladora na minha vida
de padre.
Quando na Quinta-feira Santa ali cheguei, não imaginava
nem de longe, o que iria acontecer. Tinha uma certeza:
a graça de Deus sempre nos precede. Isto pude experimentar
quando em 1975 ali estive com o Dom Geraldo
Majela de Castro, então padre Geraldo, para iniciarmos o |
AO INSTITUTO
ESTADUAL DO PATRIMÔNIO
HISTÓRICO E
ARTÍSTICO DE MINAS
GERAIS – BELO HORIZONTE/
MG
Prezados Senhores,
Venho por meio desta,
relatar o pedido de ajuda
que fiz ao Ministro da Cultura
sobre a Matriz de Itacambira–MG.
Em anexo vão cartas
que recebi do Ministro da
Cultura que encaminhou
meu pedido de ajuda para
os senhores.
|
Em resumo, trata-se
da Matriz de Santo Antônio
de Itacambira, que é
tombada pelo estado de Minas
gerais e que precisa urgentemente
de atenção, pelo
seu valor histórico como já foi relatado por carta, em
anexo.
Além de todo o valor
histórico e artístico, a Matriz
de Itacambira é destacada
na obra “Grande
Sertão – Veredas”, de João
Guimarães Rosa. O recém
criado “Circuito Turístico
Guimarães Rosa, juntoà Secretária de Turismo do
Estado está propondo um
roteiro para Itacambira.
O estado precário de
conservação da Matriz será
uma vergonha para os habitantes
e para o Brasil, que
não conserva seu patrimônio.
Esperando providência
urgente agradeço a atenção
com esperança de ser
atendida.
Atenciosamente Claudovina
Noronha Neves Leão |
culto dominical e começar um trabalho de organização de
comunidade.
Naquela época pudemos perceber no povo um desejo de
participação e organização.
Devido à situação geográfica, na serra e sem boas vias
de acesso, Itacambira estava isolada, parada no tempo, mas
vivendo um passado mais glorioso que o presente.
Num primeiro momento me vi mais envolvido com os
trabalhos de reforma da Igreja-templo, iniciado pelo padre
José Gabriel, de Carbonita, e os problemas daí derivados.
Numa cidade onde a gente percebia profundas divisões,
tentamos aproximar as pessoas através do Encontro de
Casais com Cristo e seus pequenos grupos. De início alguns
casais fizeram o encontro em Montes Claros, depois montamos
um Encontro em Itacambira, houve frutos, mas infelizmente
não foi possível ir muito longe.
Em 1980 tivemos em Juramento a 1ª Assembleia de
Comunidade de Base, com a participação de Itacambira.
Daí pra frente as coisas foram mudando. Vieram as missões
pregadas pelos Padres Redentoristas, numa linha nova, procurando
fortalecer os grupos de base.
Também a presença na pastoral das Irmãs Carmelitas
da Divina Providência que mais tarde iriam residir por dois
anos em Itacambira, foi outra dádiva de Deus.
Em Itacambira e no interior, a catequese foi se organizando
e grupos de jovens foram criados, os grupos de reflexão
se multiplicando. Aconteciam Encontros das Comunidades,
dos seus líderes, dos coordenadores de grupos, plenários etc.
Na linha das comunidades de base, refletíamos a fé,
mas procurávamos uma interação entre a fé e a vida. Refletí-
|
amos sobre a Igreja, sacramentos, organizamos cursinhos bíblicos,
mas também estudávamos a responsabilidade do cristão
na sua vida social, política profissional. As pessoas foram
então se organizando não só em nível de Igreja, mas também
como comunidade humana. O seu desejo de participação era
trazido em atos participativos e comunitários.
Deus recriava o seu povo! Flores brotavam, frutos amadureciam!
Era uma floração colhida na alegria do anúncio
da Boa Nova.
Hoje o D. Geraldo Majela de Castro, nosso Bispo Diocesanoé quem atende a Paróquia, fazendo às vezes de pároco,
devido a falta de padres na nossa Diocese. Continua ele o
trabalho de comunidades, que se multiplicam cada vez mais.
Assim o Evangelho é anunciado aos pobres do Reino, que se
tornam instrumento e sinal da salvação de Deus!
Deixei em Itacambira muitos e grandes amigos, que
trago sempre presente no meu coração e nas minhas orações.
Deus me é testemunha de quanto amei e amo aquele povo.
Amei a todos, sem exclusão de nenhum. Por todos entreguei
a minha vida por oito anos de trabalho pastoral, até quando
tive que ir para Roma, continuar meus estudos. Aqui deixo
meu agradecimento sincero, que virá a público, a todos os
meus ex-paroquianos e, sobretudo, aos meus irmãos e amigos
de Itacambira. Que Deus os abençoe a todos por tudo que
recebi de vocês, e “Ele que é rico em misericórdia, e de quem
procede todo bem e toda a graça, abençoe a todos com toda a
sorte de bênçãos espirituais”. Assim seja! Padre José Ozanan.
|
|
_________
(3) Juliana Quech e Tatiana
Domingues – restauradoras
da Igreja de Santo Antônio.
(Informativo Paroquial. Ano I – nº 1 – outubro de
2008). |
A JOIA DE ITACA MBIRA(3)
A idade da Igreja Matriz de Santo Antônio (Itacambira –
Minas Gerais) não pode ser definida com exatidão, mas supõese
que sua construção teve início durante a primeira metade do
século XVIII, pois já neste período a paróquia encontrava-se
construída, e pertencente ao bispado da Bahia. Existem alguns
livros remanescentes do arquivo paroquial, entre os quais o
mais antigo – um Registro de Batizado, datado de 1751.
O estilo de sua construção é o colonial português, típico
da época. Suas paredes internas são de taipa de pilão e as externas
são de pau-a-pique. Por dentro, sua estrutura não segue
o padrão normal do período, que contém nave, presbitério e
capela-mor. Aqui encontramos uma nave única e largos corredores.
Mas é no altar que percebemos sua maior riqueza. Ao
entrar na Igreja nos deparamos com a grandiosidade de seu
trono, que não apresenta um estilo especifico, e possui características
da arquitetura oriental, não se tem registro no Brasil de
nada semelhante, o que lhe confere uma exclusividade que se
torna digna de ser chamada “A Joia de Itacambira”. Sua peculiaridade
do tratamento técnico merece atenção especial, pois
se distancia dos modelos eruditos. Trata-se de uma estrutura
arquitetural em três dimensões, que avança sobre o interior da
Igreja, e chega a simular a existência de presbítero e capela-mor.
Por toda sua composição observa-se intensa decoração
por detalhes extremamente bem feitos, de bons encaixes e acabamento
técnico, denunciando a habilidade e a perícia de seu
autor, que infelizmente não se tem registro de quem seja.
|
|
CAPÍTULO VI
AS MÚMIAS DE ITACAMBIRA
UM ENIGMA DO TEMPO As múmias de Itacambira são, até hoje, misteriosas. Não
temos ainda um estudo realizado por técnicos competentes
para explicar a origem dos corpos mumificados que se encontram
no porão da Igreja de Santo Antônio de Itacambira. Várias
foram as tentativas de elucidação dos fatos por historiadores
da região e alhures. Dentre eles podemos citar os engenheiros
Simeão Ribeiro Pires e Arthur Jardim de Castro Gomes. Não
menos importante, também o escritor João Valle Maurício, que
elaborou textos e mais textos tentando justificar a existência
daqueles corpos amontoados debaixo dos assoalhos da Igreja. (1)
Disse o jornalista Fernando Zuba, do jornal Hoje em
Dia, que um mistério imerso na bruma do tempo intriga os |
(1) Defensor da tese de que
os mortos teriam sido vítimas
de um choque armado
entre bandeirantes e garimpeiros
- pois quase todos os
corpos apresentam perfurações
no crânio, talvez provocado
por armas de fogo - admite
que as múmias podem
ter sido enterradas em uma
situação de emergência.
(Jornal do Brasil). |
(2) “Ainda Sem Estudo o
Mistério das Múmias de
Itacambira”. Jornal do Brasil.
Texto dos jornalistas
Maurício Pessoa e Waldemar
Sabino. |
moradores da cidade de Itacambira. Na década de 1950, o
rompimento do piso de madeira da velha e tricentenária Igreja
de Santo Antônio, revelou a existência de um porão onde foi
encontrado mais de uma centena de corpos mumificados de
homens, mulheres e crianças. Disse mais Fernando Zuba que
durante anos, historiadores, pesquisadores, estudantes e habitantes
da própria cidade e de regiões vizinhas, ancorados em
rumores de que os corpos mumificados seriam removidos do
local para pesquisas científicas, acabaram por danificar as peças.
O que sobrou continua sob o assoalho da igreja, mas como um
amontoado de ossos humanos desconexos, incluindo mais de
cem crânios.
Atendendo solicitação dos jornalistas do Jornal do Brasil,
Maurício Pessoa e Waldemar Sabino, o Dr. João Valle Maurício
disse-nos que “as múmias tanto podem ser de bandeirantes
como de antigos habitantes do povoado”. Com relação aos
componentes da expedição de Fernão Dias Pais, descartamos
essa possibilidade, haja vista que nem existia ainda a Igreja onde
pudessem efetuar os sepultamentos dos cadáveres. Entretanto,
com a invasão dos paulistas no início do século XVIII, provocando
a “Guerra dos Papudos” na disputa das minas encontradas,
pode, sim, centenas de cadáveres serem depositados no
porão da Igreja de Santo Antônio, construída provavelmente
no ano de 1707. (2)
Analisando o que disse o Dr. João Valle Maurício: “Consegui
licença do arcebispo de Montes Claros e me deparei com cerca
de trezentos cadáveres. Os corpos apresentavam boas condições de
conservação no tecido facial e os genitais ainda perfeitos e alguns
ainda tinham restos de roupa e de sapatos”.
- “O respeito às coisas da Igreja” - contou o Dr. Maurício.“Impediu-me de tocá-los”. “Eles encontravam amontoados em uma
|
aparente vala como se tivessem sido ali despejados. Indaguei o mais
que pude das pessoas do lugar, procurei os moradores mais antigos
entre os quais o Senhor Neném Bicalho. Disse-me ele que seu avô,
quando ele ainda era criança, já falava sobre a existência dos corpos
o que assegura pelo menos150 anos as múmias”. (3)
A história nos conta que, através do tempo, as Igrejas serviram
para enterrar pessoas. Eram elas cemitérios. A Igreja de
Santo Antônio de Itacambira, a exemplo das outras existentes
no interior do país, certamente que foi utilizada com esse mesmo
objetivo. Não obstante essa nossa firmação, é sabido também
que nas imediações dos templos religiosos a existência de
cemitérios em sua volta era fato comum. Assim aconteceu com
a Catedral Nossa Senhora Aparecida, de Montes Claros, onde
foi demolido o Cemitério Católico que no passado ocupava um
quarteirão inteiro em frente à Praça da Catedral.
Muitas histórias sobre a mumificação dos cadáveres da
Igreja de Santo Antônio de Itacambira foram catalogadas pelo
historiador Simeão Ribeiro Pires. Algumas delas estão transcritas
no seu livro “Serra geral: Diamantes, Garimpeiros e Escravos”
e, que agora façamos ilustrar este nosso trabalho uma
dessas histórias, de um ilustre informante, que assim relatou:
- Era até comum e de mau gosto, há muitos e muitos
anos, serem retirados alguns corpos dos porões, então abertos
por ocasiões das serenatas, de grandes libações alcoólicas, e
colocados de pé, encostados às portas de entrada de algumas
residências.
Na manhã seguinte recebiam os moradores o abraço
das múmias (cadáveres mumificados) que se desequilibravam
para o interior, ao serem abertas as portas bem em cima
dos desprevenidos madrugadores.
|
(3) Entrevista com o doutor
João Valle Maurício. Montes
Claros - MG. |
(4) Serra Geral: Diamantes,
Garimpeiros e Escravos. Simeão
Ribeiro Pires. Página
120.
(5) Serra Geral: Diamantes,
Garimpeiros e Escravos. Simeão
Ribeiro Pires. Página
121.
|
Ao longe, pelas frestas de portas e janelas, os autores
da deplorável brincadeira mortuária não se continham as
risadas. (4)
“Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”. E foi
assim que um dia, o professor Arthur Vale Campos, da cidade
de Grão Mogol, fez a seguinte observação: - “Desde menino, contava
meu velho pai, que um antigo vigário de Itacambira, há mais
de cem anos, objetivando embelezar a porta de entrada do templo,
principalmente para as realizações de festas, resolveu demolir um
velho cemitério ali existente. Em tal ocasião foram encontrados os
corpos mumificados e foram recolhidos ao porão da Igreja de Santo
Antônio de Itacambira”. (5).
Numa conclusão lógica, a Revista Ciência Hoje - número
3, novembro/dezembro de 1982 - registrou que as múmias
retiradas dos porões úmidos e escuros da Igreja de Santo Antônio
de Itacambira estão agora em merecido destaque de cunho
científico, pois elas jazem no Museu da Fundação Oswaldo
Cruz, no Rio de Janeiro. Aliás, lugar melhor não havia de existir
para a conservação e preservação dos cadáveres. Hoje somos
testemunhas oculares do respeito e da conscientização do povo
itacambirense com as suas lendas e tradições. A memória do
grande bandeirante Fernão Dias Pais é cultuada como sendo
o fundador da cidade de Itacambira, o que a isso somente faz
justiça por perlustrar o brilho do horizonte outrora perdido.
CRÔNICAS NO TEMPO
Para ilustrar e, ao mesmo tempo, enriquecer esse nosso
trabalho sobre a história primitiva de Itacambira, vamos reproduzir
neste Capítulo duas crônicas sobre o misterioso caso das |
múmias que estão sob o assoalho da velha Igreja de Santo Antônio,de Itacambira. A primeira traz assinatura do médico legista
do Dr. João Valle Maurício e a segunda do cronista Ramiro
Lage (Gerente da Revista Acaiaca). Essas crônicas foram publicadas
na Revista Acaiaca - Belo Horizonte - agosto de 1953. |
|
Múmias de Itacambira - Foto de João Valle Maurício |
João Valle Maurício, nasceu
em Montes Claros (MG),
em 26 de abril de 1922.
Diplomado em Medicina
pela Faculdade de Medicina
de Belo Horizonte em
1946 com especialização
em Cardiologia. Reitor da
Fundação Norte Mineira
de Ensino Superior. Secretário
de Estado da Saúde de
Minas Gerais. Membro da
Academia Municipalista
de Minas Gerais, da Academia
Mineira de Letras e
ex-presidente da Academia
Montesclarense de Letras.
Maurício tem os seguintes
|
MORT OS ESQUECIDOS (6)
João Valle Maurício
Fatos existem que, por suas características, nos espicaçam
a curiosidade e nos fazem um convite insistente a pensar
e levantar hipóteses.
Visitando recentemente a vizinha localidade de Itacambira,
onde, como todos sabem, está localizada a famosa e
histórica Serra Resplandecente, ouvimos, entre outras coisas,
uma que mais nos impressionou. Falavam os moradores que,
sob o assoalho da austera e colonial Igreja - uma das primeiras
construídas neste sertão, existiam “muitos cadáveres inteiros”.
A afirmativa era categórica e unanimemente apoiada
pelos habitantes mais antigos. Resolvemos, pois, com a devida
permissão, de ver para crer. Retiramos cuidadosamente
algumas tábuas do assoalho da sacristia e por lá penetramos
na escuridão úmida do porão. Ao focarmos as lanternas e
acendermos as velas, verificamos a verdade das informações:
existe realmente ali uma macabra mixórdia - uma tétrica
profusão de crânios, troncos, braços, tíbias, enfim, os destroços
de uma verdadeira multidão. Podemos assegurar que há
ali mais de 200 crânios e os restantes ossos são incontáveis.
O mais interessante, entretanto, é a existência dos
troncos braços e pernas, nos quais a pele, restos de músculos
e cartilagens, ainda se encontram. Tiramos a fotografia de
um tronco inteiro, tendo ainda fechado o abdômen. Os ossos
dispersos pelo chão estão limpos, lisos e íntegros, numa veemente
afirmação de que jamais foram soterrados. A terra não
exerce certamente sobre eles sua completa ação de voragem,
que faz consumir em poucos anos os corpos que recebe e que
realmente a ela pertencem.
|
Verificamos que os ossos não são só de adultos. Muitos
são de adolescentes, encontrando no meio deles um braço
quase em perfeito estado. Em face de tudo isto nós permanecemos
na hipótese:
1 - Foram enterrados em outro lugar e para ali levados
posteriormente? Não é possível porque então não existiriam
restos de pele, músculo e cartilagens e os ossos mostrariam os
estragos da terra,
2 - Foram colocados ali aos poucos, à medida que iam
morrendo? Não é possível porque a população não toleraria
tal e o mau cheiro seria insuportável.
3 - Como se explica tão grande número de mortos para
um lugar onde a população era, e ainda é, muito pequena?
4 - Duas pessoas das mais velhas da região (com idade
de 84 anos) não sabem da procedência daqueles corpos.
Ninguém conhece a história deles. Deduz-se, assim, que os
mesmos ali estão pelo menos há mais de 70 anos. E ainda
com pele?
5 - Será que algo era juntado aos corpos para impedir
a putrefação? Alguns entendidos já disseram que aqueles corpos
são resultados de conflitos entre soldados e garimpeiros,
quando os primeiros iam fazer cobrança de impostos aos segundos.
Quem sabe algo sobre aquela multidão esquecida?
Quem sabe se naquele amontoado de corpos, sem história e
sem origem conhecida, não estarão muitos heróis dos caçadores
de esmeraldas? Muitos beneméritos da civilização sertaneja?
Quem sabe? |
livros publicados: Grotão,
Taipoca, Pássaro na Tempestade,
Rua do Vai Quem
Quer, Janelas do Sobrado e
Beco da Vaca. Morreu o poeta
no dia 23 de março de
2000. (Wikipédia)
(6) João Valle Maurício.
Revista Acaiaca. Belo Horizonte.
Agosto de 1953. Páginas
136/7. |
|
_____________
(7) Ramiro Lage. Revista
Acaiaca. Belo Horizonte.
Agosto de 1953. Páginas
138/40. |
O MISTÉRIO DE ITACA MBIRA (7)
Ramiro Lage
Sem vocação “Sherloquista”, sem pretensões a oráculo,
apaixonado que sou por tudo ligado à História do Brasil, tive a
minha atenção despertada pela última interrogação formulada
pelo ilustre pesquisador Dr. João Valle Maurício, em seu substancioso
artigo “Mortos Esquecidos”.
No emaranhado do mistério, no terreno das hipóteses,
sem provas concretas que, no caso, só um minucioso exame de
laboratório poderá nos fornecer, não pretendo mais que pene- |
trar na densa treva com um pequenino lume da intuição. Para
isto consultei a história, rebusquei alfarrábios, recorri à memória,
fiz tudo enfim, visando convergir a atenção dos leitores para
a hipótese de serem os “Mortos Esquecidos” de Itacambira os
destroços de uma bandeira ou de um grupo de aventureiros, vítima
de uma cilada dos índios Tapuias, que dominavam aquela
região no tempo da colonização mineira.
Ligando os fatos, farei uma ligeira digressão, recordando
uma magnifica excursão que fiz às margens do Araguaia, em
Goiás, no ano de 1947, satisfazendo inteiramente ao meu espirito
de aventura, ao desejo que sempre tive de conhecer de
perto àqueles que primeiro habitaram o solo pátrio. Instruído
por amigos que já haviam entrado em contato com os índios
civilizados das aldeias do S.P.I. (Serviço de Proteção aos Índios),
munido, não de armas, mas, de presentes que eles mais gostam,
(cachaça, fumo, cachimbos, isqueiros, espelhos, bijuterias, etc.)
em menos de uma semana consegui captar inteiramente a simpatia
e a confiança dos nativos das tribos Xerens e Carajás que,
sob as vistas do S.P.I., ali já vivem como gente, trabalhando,
produzindo, aumentando a prole, num exemplo dignificante
dos ensinamentos cristãos. Naquelas paragens encontrei-me
com um paulista, mais ousado do que eu, que se embrenhou
um pouco mais pelas florestas de Mato Grosso, trazendo, em
sua bagagem de aventureiro, objetos e curiosidades que não
consegui nas aldeias dos Xerens e Carajás. Dentre as coisas que
mais despertaram a minha atenção, lembro-me ter visto um
jaburu (ave aquática) morto e dissecado, de tal modo pousado
numa forquilha que, à primeira vista, parecia estar vivo. Intrigado
com o fato e sem uma explicação satisfatória do colega de
aventuras, indaguei de Noromenquá, um dos mais velhos dos
Carajás, em linguagem que ele pudesse compreender: como ín- |
______________
“A matéria putrefaciente
de alguns desses corpos
não foi digerida pela terra
por causa do solo arenoso,
extremamente rico em mica
branca e por certo outros
elementos químicos, os quais
tornaram impossível a ação
das bactérias pertinentes”.
(Leonardo Álvares da Silva
Campos - O Mistério das
Múmias de Itacambira.
Jornal Hoje em Dia. Belo
Horizonte). |
|
dio faz para secar jaburu inteiro? E o velho pescador respondeume
prontamente: “Irmão branco não sabe? - Índio manda flecha
untada de curare e o bicho para o voo com qualquer estocadinha...
Índio apanha, abre no papo, limpa, enche de paina e jaburu seca
depressa”.
Naquele instante eu havia aprendido mais um segredo
sobre a curiosa vida dos selvagens, com seus usos e costumes
tão diversos dos nossos. Até então sabia eu que o curare é um
veneno violento por eles extraído de planta da flora brasileira e
que mata ao contato do mais ligeiro ferimento, causando paralisia
total e imediata do sistema nervoso. Acrescentei aos meus
apontamentos que o curare possui também propriedade mumificantes,
tornando o cadáver, cuja vida ele ceifou, inatacável por
qualquer espécie de verme destruidor.
Reunindo os dados, de novo, em busca do fio da meada,
ao ler atentamente a “Monografia Histórica, Geográfica e Descritiva
de Montes Claros”, de Urbino Vianna (páginas 36 a 38)
encontrei Itacambira no roteiro do bandeirante Antônio Gonçalves
Figueira, o mesmo que antes havia acompanhado Fernão
Dias Pais Leme às formosas terras do Vupabuçu e que agora
vinha em companhia de Matias Cardoso, seguindo a mesma
rota, rumo à lendária Serra Resplandecente. Partiram eles das
margens do São Francisco e, após devassarem o sertão bravio,
fundaram na primeira década do século XVIII as fazendas de
Jaíba, Olhos d’Água e Montes Claros. Entre os inúmeros obstáculos
que venceram, fala-nos Urbino Vianna dos combates
e conquista final das tribos da raça Tapuia, “que dominavam
as margens da Vargem Grande e seus afluentes da região Gorutubana”.
Pela narrativa do historiador não se pode duvidar dos
violentos choques havidos entre os bandeirantes invasores e os
nativos Tapuias - que defendiam por todos os meios a terra que |
lhes serviu de berço. E tudo me faz acreditar que os mais sérios
combates foram travados na localidade de Itacambira ou em
suas imediações, onde se encontra a Serra Resplandecente tão
cobiçada pelos antigos “caçadores de esmeraldas”.
Baseado apenas em minhas anotações sobre a vida dosíndios, sem nada poder afirmar por absoluta falta de provas,
creio intuitivamente na hipótese de serem os “Mortos Esquecidos”,
de Itacambira os destroços de uma bandeira ou grupo de
aventureiros.
E então os mortos em combate ou envenenados à traição?
Esta última forma se me assegura mais viável, por um forte
motivo: os índios, com inferioridade em armas, temiam os
bacamartes dos brancos e evitavam sempre a luta em campo
aberto. Quando, levados pela fúria, arremessavam-se contra os
invasores, em luta desigual, o faziam munidos de borduna, uma
espécie de cabo de machado feito de madeira pesada, (jacarandá,
braúna, etc.) deixando em frangalhos a presa que acertavam.
No caso de Itacambira os crânios e demais ossos estão
íntegros, perfeitos, como constatou o ilustre médico Dr. João
Valle Maurício.
Formulo então a hipótese de ter algum pajé (curandeiro
e conselheiro indígena) da raça Tapuia se utilizando do curare
- como foi dito, veneno violento com propriedades mumificantes
- adicionando-o em alta dose a água ou alimentos de algumas
dezenas de brancos que houvesse escravizado a sua tribo,
matando-os incontinenti. Os remanescentes do grupo, salvos,
talvez, pela ausência temporária, em caçadas, etc., ao chegar,
não tiveram calma para sepultar os seus companheiros de jornada
e, deixando-os guardados para sempre sob o assoalho da
secular Igreja, fugiram apavorados ante a extensão do sinistro.
|
|
|
Todavia, no terreno das hipóteses, na profundeza do
enigma, acreditando intuitivamente, considero racional a interrogação
de Dr. João Valle Maurício: “Quem sabe algo sobre
aquela multidão esquecida?” - Ninguém. O que realmente existe
em Itacambira não é um fato comum de fácil explicação. Tratase
de um mistério insondável, desses que desafiam a argúcia dos
homens e que só a Deus é dado saber. |
|
CAPÍTULO VII
CULTURA E TURISMO
NOSSA LITERATURA
A arte literária aflora com o desejo de se manifestar nas
letras para cantar e encantar as emoções de um grande amor,
ou as belezas sem fim da natureza dadivosa. Apesar de para tanto
ser preciso importar ideias, podemos afirmar, com a devida
segurança, que a região de Itacambira sempre inspirou aos seus
poetas a composição de versos e de crônicas, haja vista a sua
riqueza cultural, religiosa e histórica. Em vista disso, estamos
publicando neste capítulo algumas produções de artistas da terra.
De nodo geral, as nossas tradições e os nossos costumes têm
muito de alhures, o que não poderia ser diferente. Entretanto,
as nossas raízes fincadas ao pé da Serra Resplandecente, ou
naufragadas nas águas verdes da Lagoa do Vupabuçu, somente
enriquece a nossa literatura. |
(1) O poema “Itacambira”
é uma homenagem do Dr.
Milton Leão Coelho, falecido
no dia 26 de dezembro
2002, aos 92 anos de idade,à sua cidade natal. Ele
foi o primeiro itacambirense
a formar em medicina,
em 1940. Além de ter sido
um grande médico, o Dr.
Milton Leão Coelho foi um
grande intelectual e poliglota,
e levou sempre no coração
o nome de sua terra. A
estrada que liga Itacambira
a Montes Claros foi construída
numa força tarefa do
Dr. Milton Leão Coelho e
a população de Itacambira
|
Milton Leão Coelho
com a prefeitura de Montes
Claros (Capitão Enéas Mineiro
de Souza) e o Governo
do Estado (Milton Soares
Campos). |
PEQUENA ANTOLOGIA POÉTICA
ITACAMBIRA(1)
Milton Leão Coelho
Minha Terra, tu és assim...
Toda cheia de Belezas,
És um paraíso, enfim...
Disso temos a certeza
Quando à noite, lua clara,
Se no dia, sol ardente,
No horizonte se depara
A Serra Resplandecente.
Itacambira, querida
Quero ver tuas montanhas,
Quero ter uma guarida
Encerrada em tuas entranhas.
Contemplando a serra histórica
A compor teu horizonte,
Há de ver que lá, heroíca,
Imagem do bandeirante!
Fernão Dias das Bandeiras...
O destino e uma mentira,
Descobriram, altaneiras,
As serras de Itacambira.
|
ITACAMBIRA SEUS MISTÉRIOS E BELEZAS
Maria da Consolação Leão Ferreira (Nana Leão)
É para seus filhos a terra predileta
Envolvida em segredos, sonhos e magias,
Seus cantos, lendas, histórias encantadas,
Encheram nossa infância de riso e fantasias.
Algo fúnebre, triste, alegre e engraçado
A sua história relata coisas misteriosas,
Da Lagoa Vupabuçu, índios e bandeirantes,
Do assoalho da Igreja, múmias assombrosas.
Seu folclore é muito rico, basta uma pesquisa
Muitas lendas e verdades da escravidão.
Cantigas de ninar, danças, brincadeiras de roda,
Cultura que merece carinho, estudo e atenção.
A natureza é um ninho cercado de montanhas
Que exala suave perfume em tardes primaveris.
É lugar aconchegante, belo e privilegiado,
Um dos mais lindos, em todo nosso país.
|
Nana Leão |
“Sertão é todo mundo, mas
Itacambira é só ali nos meridianos
42 e 43 - graus
Oeste. Está tudo lá fantasiado
de mistério: a gendarmaria
medievalesca, o acicate
apontado para a lua, os
artesãos, os ciganos, os que
morreram mais de uma vez,
as aves noturnas espetadas
na moreia,, os estandartes
estendidos ao longo das serras...
Enigmas que ninguém
quer decifrar”. Narciso Silva
Durães
____________
(2) Narciso Silva Durães,
poeta da cidade de Salinas,
|
QUARTET OS DE ITACA MBIRA (2)
Narciso Silva Durães
Porque se ergue uma noite
Nos paredões atalaia.
Vigílias acesas de pedra
Das serras de Itacambira.
As caravanas do inferno
Vão na planura do chão
Jazigos, sinos de pedra
Das serras de Itacambira.
Noite veloz do sertão
As armaduras perdidas,
Perfil de lobo na rua
Da noite de Itacambira.
E se reparte em metais
No dorso lilás da montanha
Noite, retinas da urze
Girando no meu coração.
Nada além dos guerreiros
Cegados de sabre e rubis
Que o mais nicho deserto
Vazio cevado de nada.
|
ITACAMBIRA (3)
Rodrigo Bicalho Teixeira
Para a minha Itacambira
Para os amigos de outrora
Companheiros do menino
Para aquelas montanhas
Pedra pontuda que sai do chão.
Para os barrancos, bananeiras,
Para a escola e brincadeiras
Caminho e alvo, desde então
Pedra cismada, presa na mão.
Para o lugar natural
Para as minhas palmeiras
Para os caminhos sem solidão
Pedra pontuda que prende atenção.
Para todos os seus quintais
Para o frio que aquece
No meu coração
Pedra pontuda que me tira do chão.
|
escreveu um livro com o título
“Olhos de Itacambira”.
Não são poemas sobre a cidade,
mas sobre a região de
Itacambira, principalmente
a Serra de Itacambira. Vajamos
apenas duas trovas do
poema “Quartetos de Itacambira”:
Rodrigo Bicalho Teixeira
_____________
(3) Poema do itacambiramg.
blogspot.com.br
|
Eliane Vicky
(4) Poema do itacambi-
ramg.blogspot.com.br
|
ITACA MBIRA DE ENCANTAR (4)
Eliane R. Silva (Vicky)
Itacambira...
Você é um doce vício
Um belo vilarejo que tem casas e tem pomar,
Lugar...
Onde o povo é conhecido
E tudo é tão bonito e bom pra gente se alegrar
Ah!
Itacambira é uma donzela,
Bela, idosa e formosa de encantar.
Tem samambaias nas varandas
E sempre vivas a enfeitar todo lugar.
Todo dia,
Se na Matriz o sino tocar,
É convidando o povo para vir junto rezar.
Aqui
É terra do cristal e povo muito unido
E das águas a rolarem
Ah!
Itacambira é uma donzela,
Bela, idosa e formosa de encantar.
Tem samambaias nas varandas
E sempre vivas a enfeitar todo lugar.
Nosso passado...
É tão encantador
Que até o Fernão Dias veio aqui se arranchar.
A olhar...
|
E ver tanta beleza, a emoção me deixa,
Com vontade de chorar
Ah!
Itacambira é uma donzela,
Bela, idosa e formosa de encantar.
Tem samambaias nas varandas
E sempre vivas a enfeitar todo lugar.
Tem samambaias nas varandas
E sempre vivas a enfeitar todo lugar.
Tem samambaias nas varandas
E sempre vivas a enfeitar todo lugar. |
BANDA DE MÚSICA
Em Itacambira, no ano de
1899, conta dona Concórdia
Luzia Ribeiro, que
havia uma banda de música
para animar as festas
religiosas, sociais e cívicas
de tempos em tempos. Nas
suas notações encontramos
os nomes dos seguintes músicos:
Juca, Teófilo, Antônio
Borges, Ezequias, Manoel
Veloso, Arthur Campos, Tonico,
Xisto, Alfredo Caldeira,
Tonico Fernandes e Folô
de Marcolina. Depois de
um tempo estagnado, a banda
de Música teve o apoio
do senhor Daniel Fonseca,
egresso da região de Cristália. |
Delma Lúcia de Jesus |
ITACAMBIRA
Delma Lúcia de Jesus
Nas asas leves dos sonhos
Nossa cidade percorremos.
Suas lendas, seus costumes,
Seus tesouros conhecemos.
Suas verdes florestas...
Que beleza de sonhar!
Escondem tantos segredos
Que o povo teima em contar.
É o rio Encantado?
Corre sereno para o mar...
Suas águas - que beleza!
Para os casais namorar.
Cidade pequena e dadivosa
É tão bela de natureza
Premiando a região
Com tanta e tanta beleza!
E que dizer das relíquias
Que aqui guardou o passado.
Sua Igreja, suas festas,
E o Santo Antônio consagrado.
Como esquecer as grandezas
Das serranias floridas?
É o viver sem alegria
Das serras coloridas!
|
Sempre sorri tão gentil
Essa gente hospitaleira.
É um retrato em cores vivas
Desta terra brasileira.
Salve cidade natal
Salve cidade do amor.
Fundada por Fernão Dias
Diamante encantador! |
|
Maria Izabel Noronha |
ITACAMBIRA, MINHA TERRA
Maria Izabel Noronha
Minha terra é grande e bela
Tem montes e serras mil
E nela que se tanto revela
As belezas do meu Brasil.
Minha terra tem perfumes
Que nem posso descrever.
E há milhões de vagalumes
Que a ilumina com prazer.
Minha terra é um encanto
Por muitos, desconhecida.
É um prazeroso recanto
Minha terra é minha vida!
|
SONETO PARA ITACAMBIRA
Dário Teixeira Cotrim
Ao longe, a serra Santana, altaneira,
Anunciava a expedição paulista,
De onde o brilho claro logo se avista,
Na descoberta da pedra primeira.
São as pedras verdes - disse o Figueira:
Belas turmalinas de uma conquista
De Fernão Dias, ao grupo miguelista,
Na ambição de uma luta sem fronteira.
Então, surge a pedra do meio do mato,
Co’a beleza incomum da macambira,
E o som estridente de um artefato...
Eureka! São as esmeraldas - suspira
O velho bandeirante estupefato!
São as pedras verdes do Itacambira!
|
Dário Teixeira Cotrim
_______________
Dário Teixeira Cotrim escreveu
um rosário de sonetos,
intitulado “Gurungas”,
sobre a história antiga de
municípios baianos e nortemineiros.
(veja biografia na
página 6, deste livro) |
Nesta tela nós podemos
observar a presença da Lenda
do Vupabuçu (Iara), o índio
da família dos botocudos,
o garimpeiro à procura das
esmeraldas, a figura ímpar
do bandeirante Fernão Dias
Pais, o artesanato do barro,
a Serra Resplandecente,
a Festa de Santo Antônio
(padroeiro), a Festa do
Divino Espírito Santo e ao
centro a Igreja Matriz de
Santo Antônio de Pádua.
(Tela da artista plástica
Nana Leão) |
ARTE S PLÁSTICAS
A natural artes plásticas de Itacambira é muito bela! A
questão, porém, não era e não é tão simplesmente de beleza,
mas da existência inquestionável da beleza natural. Nesse caso,
os artistas itacambirenses são uns privilegiados e, a sua pintura,
em telas, objetos diversos e em panos, retrata com fidelidade as
cenas históricas da cidade. É como se fosse uma via sacra em
cada ponto do tempo em cada esquina do espaço.
|
OS ARTE SÃOS DE ITACAMBIRA
João de Deus - Trabalhos em pedras;
Édima Alves - Bordados em pano;
Júlio Maria de Oliveira - Trabalhos com sempre vivas;
Justino Meira - Trabalhos com sempre vivas;
Dimas Gomes - Trabalho com madeira;
Eliane Silva - Trabalhos manuais diversos;
Glória Bicalho - Artista Plástico;
Nana Leão - Artista Plástico.
TURISMO EM ITACAMBIRA
A Empresa Brasileira de Turismo (EMBRATUR) tem definido
que o coturismo é um “segmento de atividade turística
que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural,
incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência
ambientalista através da interpretação do ambiente, promovendo
o bem-estar das populações envolvidas”. Por isso, há quem afirme
- o que não é improvável - que, com a descoberta das esmeraldas
por Fernão Dias Pais, descobriram-se, também, a beleza e
o encanto das serras resplandecentes e das águas do Encantado,
Itacambiruçu, Macaúbas e Congonhas.
NA ROTA DO CONHECIMENTO
ITACAMBIRA tem o seu vasto território limitando-se
com os municípios de Bocaiúva, Guaraciama, Botumirim, Juramento
e Grão Mogol. Além de sua história antiga, que é rica |
|
|
em acontecimentos, pode-se notar a beleza inconfundível do
cerrado que envolve seus baixios e seus campos naturais dos
alcantis das serras. Há diversos pontos que indicam a generosidade
da natureza, onde as pessoas podem observar o encanto
das montanhas, a quietude das piscinas naturais, o cantar ininterrupto
dos rios e das belas cachoeiras e os atalhos que serpenteiam
pelos barrancos. Também a solidão dos desenhos rupestres
que envolvem as paredes pedregosas das inúmeras grutas
que habitam nas serras. Na vastidão do Chapadão da Onça a
vegetação rasteira é a predominante (o cerrado). Do mesmo
modo isso acontece com o Chapadão do Burro Morto, onde
flores silvestres, em multicores, florescem pelos campos ao sabor
dos ventos uivantes. De qualquer modo, na beleza da floraé importante a apreciação dos casadinhos-pepalântus que enfeitam
com singular boniteza as margens dos indolentes rios e os
pedregulhos salpicados em volta das exuberantes cachoeiras. A
Serra de Santana e a Serra Resplandecente são os exemplos de
extrema importância para a cidade, entretanto, não menos importante é a Pedra de Itacambira que vem avultando, com rara
beleza, aos olhos dos visitantes assim que eles chegam a poucos
quilômetros da cidade. Ainda fazem parte desse conjunto de
beleza, os campos de sempre-vivas nos caminhos para Macaúbas
e nos alagados dos caminhos para o Curiango.
Itacambira: uma cidade que nasceu à sombra de uma pedra
pontuda, no meio do mato, sem medo de ser feliz. Do alto
da montanha, as poucas casas colmadas de palhas reverenciam,
com ternura, o encontro das águas do Itacambiruçu. Ela é misteriosa!É fascinante! É fantástica! É Itacambira a esmeralda do
grande sertão - veredas do norte-mineiro.
|
Legenda:
1 - Rio Encantado (cachoeiras, piscinas naturais) 4. Km
2 - Serra Resplandecente (das Esmeraldas de Fernão Dias) 4 km
3 - Pinturas Rupestres. 4 km + 2 km
4 - Grota da Senhora. 4 km + 3 km.
5 - Mirante de Santa Luzia. 12 km + 2 km.
6 - Fazenda Água Limpa. 6 km.
7 - Cachoeira da Boca da Serra. 1 km - Mirante
|
|
|
8 - Mirante do Gavião. 2 km
9 - Cascatinha do Macuco. 2 km
10 - Passagem do Curral. 4 km.
11 - Piscinas naturais de Água Preta. 10 km.
12 - Cachoeiras e Piscinas naturais de Mocozinho. 12 km.
13 - Rio Macaúba. (Piscinas Naturais) 23 km.
14 - Cachoeira do Curiango. 7 km.
15 - Cachoeira do Capão do Negro. 12 km.
16 - Cachoeira do Jacuba. 18 km.
17 - Encontro das águas do Itacambiruçu. 11 km
18 - Cachoeira de Jerobá. 13 km.
|
Lagoa do Vupabuçu |
CAPÍTULO VIII
A LENDA DO VUPABUÇU E OUTRAS
A MÃE D’ÁGUA UIARA
A lenda de Uiara é conhecida em todo território brasileiro.
Nos estudos realizados sobre a existência de Uiara ou Iara
mostram que tudo aconteceu no Amazonas. Diz, ainda, a lenda,
que antes de se tornar uma sereia, Uiara era uma belíssima índia. Ela se destacava entre as demais, por ser a mais bela, e
consequentemente despertava a inveja de alguns da tribo, especialmente
a de seus irmãos homens, que não se conformavam.
O pai de Uiara era o pajé e a admirava em tudo o que ela fazia
contribuindo ainda mais para a revolta de seus irmãos. Tomados
pela inveja e pelo ciúme, os seus irmãos decidiram matá-la.
Porém o esquema foi descoberto e ela, então, os mata para não
morrer. O seu pai, para vingar a morte dos filhos ordena que |
|
|
Uiara seja encontrada e morta. Assim aconteceu e ela foi encontrada
e morta e jogada depois nas águas do rio Negro. Assim,
o seu espirito esteve em todos os lugares, inclusive na Lagoa do
Vupabuçu, em Itacambira - Minas Gerais.
Desde então Uiara permanecia nas águas da Lagoa do Vupabuçu
atraindo os garimpeiros de maneira irresistível e os matando.
Acredita-se que em cada fase da lua, Uiara aparecia com
escamas diferentes e adorava deitar-se sobre bancos de areia nos
rios para brincar com as pedrinhas verdes. Também de acordo
com a lenda, era vista penteando seus longos cabelos com um
pente de ouro, mirando-se no espelho das águas cristalinas.
Na versão do confrade Jorge Lasmar - no seu livro Grão
Mogol - a lenda de Uiara, a mãe d’água rezava assim:
A mãe d’água (Uiara ou Iara) habitava as águas na lagoa
do Vupabuçu. O seu canto seduzia os guerreiros. Nas noites em
que no céu vagava a lua cheia (cairê), Uiara subia à tona d’água
e cantava. O seu canto era tão doce e suave que atraía os guerreiros.
E a Uiara então estendia os braços para o guerreiro, e o
guerreiro afundava no lago e não voltava mais. Nesse tempo os
pataxós pediram ao deus da guerra (Macaxera) que salvasse os
guerreiros. O deus da guerra mandou que Uiara dormisse, mas
que os pataxós velassem o seu sono e sua vida. Os seus cabelos
eram verdes do limo das águas, que borda o fundo dos lagos. E,
muitos longos os seus cabelos entraram pela terra e, como eram
d’água, em contato com a terra, viraram pedra. E o Macaxera
disse: “A vida de Uiara está em seus cabelos. Um fio a menos será
um dia de vida que se perca. Quem arrancar as pedras verdes terá
arrancado o sono, ou a vida da mãe d’água. Os pataxós serão os
guardadores do seu sono. E, se a Uiara acordar, ou morrer, uma
grande desgraça pesará sobre vós!”
|
Segundo a lenda o bandeirante Fernão Dias não acreditava
em lendas e nem em coisas do outro mundo. Catou as pedras
verdes que representavam os cabelos de Uiara. Hoje não temos
mais a lenda da bela sereia Uiara. Pior, não temos também a
encantada Lagoa do Vupabuçu, talvez esteja aí a desgraça anunciada
por Macaxera. Entretanto, temos na memória os relatos
dos faiscadores do ouro, os moços que um dia cederam aos
encantos da tentadora sereia e morreram afogados de paixão.
|
_____________
Iara s. f. (1886) 1 - ETN
m. q. MÃE D’ÁGUA. 2 -
ETIM. Tupi Yara. “Senhora”;
segundo a mitologia
indígena, sereia dos rios e
dos lagos: mãe d’água. (Dicionário
Houaiss da Língua
Portuguesa. Editora Objetiva.
Página 1559). |
_____________
(1) revista do Instituto Histórico
e Geográfico de Montes
Claros. Marta Verônica
Vasconcelos Leite. Montes
Claros. Editora Millennium/Cotrim. 2010. Página
124. |
A LENDA DO SANTO ANTÔNIO APARECIDO
Cada comunidade tem a sua história para contar a respeito
do seu padroeiro. Itacambira também tem a sua. Conta que
certa vez, ainda na época de Fernão Dias Pais, foi construída
uma pequenina capela ao lado da Lagoa do Vupabuçu para abrigar
a milagrosa imagem de Santo Antônio. “Entretanto, todas as
noites a imagem fugia, sendo reencontrada no dia seguinte no local
de sua primeira aparição. Em face de tal insistência, o bandeirante
aceitou trocar as proximidades da lagoa pela colina escolhida pelo
santo, onde foi construída a Matriz, em torno da qual cresceu o povoado,
hoje a cidade de Itacambira” (1). Nota-se que a imagem de
Santo Antônio, o padroeiro de Itacambira, tem estilo barroco e certamente foi trazida
de Portugal. A imagem
de Santo Antônio segura
uma cruz na mão
direita e na mão esquerda
ele sustenta um livro
aberto onde o menino
Jesus permanece em pé
com os bracinhos esticados.
Sabe-se que esta
imagem do menino foi
subtraída por algum devoto
e depois recolocada
no mesmo lugar.
|
O CRIME DE MALACACHETA
Conta dona Concórdia Luzia Ribeiro, em seu Caderno
de Anotações, que certa vez ela foi passear na casa do Sr. José
Muniz e ouviu dele uma interessante história sobre uma árvore,
onde havia uma gaiola de ferro pendurada e dentro dela uma
cabeça de um homem. Era a cabeça do “Assassino de Malacacheta”
tendo por sua vítima uma menina-moça bela e inocente.
Foi um crime praticado com requintes de crueldades. Naquelaépoca, expor ao público a cabeça de algum malfeitor era comum,
para servir como exemplo as outras pessoas de que o crime
não compensa. Dizia o Sr. José Muniz para dona Concórdia
que “Certa vez, num domingo, quando os pais da menina-moça
foram para o arraial assistir missa, eles deixaram-na sozinha em
sua casa. Nisso apareceu um indivíduo com más intenções e a menina-
moça então negou ceder-lhe a sua honra. Aí, ele a matou e
cortou os seus seios. O assassino foi capturado ainda com um <pote>
onde estavam pedaços dos seios da menina-moça, comendo-os. No
local do crime sempre aconteciam os jogos de bola e se chamava
Malacacheta. Tornou-se um lugar mal-assombrado. Todo mundo
evitava em passar ali desde as seis da tarde e durante a noite. Com
o passar dos anos, esse medo da população desapareceu. As árvores
foram cortadas e enfim tudo se modificou”. Histórias como essas,
de crimes hediondos, foram constantes nos tempos de antanho.
Todas essas histórias fazem parte do folclore da cidade e enriquecem,
sobremaneira, as tradições e os costumes do lugar. |
Concórdia Luzia Ribeiro
Cópia do Caderno de Anotações
de D. Concórdia Luzia Ribeiro,
cedida por Maria Izabel Noronha.
|
Rei e Rainha: Francisco Bicalho Filho e sua esposa Edima Alves |
CAPÍTULO IX
COSTUMES E TRADIÇÕES
A FESTA DO DIVINO ESPÍRITO SANTO
Conta a história que a Festa do Divino Espírito Santo
teve origem nas celebrações religiosas realizadas em Portugal no
início do século XIV, nas quais a terceira pessoa da Santíssima
Trindade era festejada com banquetes coletivos e a distribuição
de esmolas entre os pobres. Uma tradição, que ainda hoje
acontece nas cidades brasileiras e também portuguesas. Nota-se
que a tradição, desde o ano de 1321, quando sob a proteção
da Rainha Santa Isabel, de Portugal e Aragão, teve inicio a celebração
do Divino Espirito Santo, com promessa da rainha de
peregrinar o mundo com uma cópia da coroa e uma pomba no
alto da coroa, que é o símbolo do Divino Espírito Santo, tendo
como objetivo as pazes entre o seu esposo, o rei D. Dinis, com
o seu filho legítimo, D. Afonso, herdeiro do trono. |
|
|
Essas celebrações passaram a acontecer cinquenta dias depois
da Páscoa, quando se comemora o dia de Pentecostes. O
Espírito Santo desceu do céu sobre a Virgem Maria e sobre os
apóstolos de Cristo, sob a forma de línguas com o fogo como
consta do Novo Testamento. É importante verificar que a tradição
portuguesa encontrou terreno fértil para florescer em diversas
partes do solo brasileiro. Em vista disso, em todo o Norte de
Minas, em particular a cidade de Itacambira, as Festas do Divino
Espírito Santo acontecem sob o entusiasmo alegórico do
estandarte e da fé arrebatadora de um povo crente e temente a
Deus! Portanto, é uma festa santa dedicada e cultuada ao Divino
Espírito Santo. Também é uma das mais antigas manifestações
religiosas difundidas e praticadas pelo catolicismo popular. |
Zé Maria de Galdino e sua esposa D. Maria |
FOLIA DE REIS
Também conta a história que a tradição das festas das
Folias de Reis veio para o Brasil por volta do ano de 1534 e foi
trazido pelos jesuítas portugueses e servindo como instrumento
de catequização dos índios e, posteriormente dos escravos. As
comemorações iniciam com o nascimento do Menino Jesus -
25 de dezembro - e encerram-se com a visitação dos Reis Magos
- seis de janeiro - representados por Melchior, Baltasar e Gaspar.
Não obstante terem sidos os portugueses os responsáveis
pela introdução destes festejos no Brasil, ainda no período da
colonização, sabe-se, entretanto, que eles têm origem na Espanha
e aconteciam em toda Península Ibérica. As manifestações
|
|
|
natalinas ganharam força nas cidades interioranas. Este é o caso
de Itacambira, onde o seu povo celebra com fé e participa com
entusiasmo, das evoluções que as Folias de Reis proporcionam
para o espírito e a alma. |
Folia de Reis |
Pedra da Ursa |
CAPÍTULO X
CURIOSIDADES INTERESSANTES
O BATI ZADO DE DIADORIM
A história de Diadorim, no romance Grande Sertão – Veredas,
de João Guimarães Rosa, revela que a cidade de Itacambira
figurou nas idas e vindas do autor no imenso Norte de
Minas. O mesmo não acontecendo com a cidade de Bocaiúva,
fato este que entristeceu o ilustre historiador Antônio César
Drummond Amorim. Numa pesquisa inédita “Diadorim pode
ter vivido em Bocaiúva”, Drummond Amorim relata com muita
propriedade, a possibilidade de Diadorim ter nascido na região
de Itacambira, e deve ser por isso mesmo que ele (a) foi batizado
(a) na Matriz de Santo Antônio de Pádua, desta cidade.
Nota-se bem que, com relação ao batistério de Diadorim,
o próprio escritor de Grande Sertão – Veredas, Guimarães Rosa, |
______________
João Guimarães Rosa nasceu
em Cordisburgo (MG) a
27 de junho de 1908 e era
o primeiro dos seis filhos de
D. Francisca (Chiquitinha)
Guimarães Rosa e de Florduardo
Pinto Rosa, mais
|
conhecido por “seu Fulô”
comerciante, juiz-de-paz,
caçador de onças e contador
de estórias. Guimarães Rosa
escreveu o influente livro
“Grande Sertão – Veredas”,
onde relata o batizado de
Diadorim.
|
denuncia que a página do acento batismal fora arrancada do
livro, assim como está registrado no texto abaixo. Vejamos:
“Aonde fui, a um lugar, nos gerais de Lassance. Os-Porcos.
Assim lá estivemos. A todos eu perguntei, em toda porta bati; triste
pouco foi o que me resultaram. O que pensei encontrar: alguma
velha, ou um velho, que da história soubessem – dela lembrados
quando tinha sido menina – e então a razão rastraz de minhas
coisas haviam de poder me expor, muito mundo. Isso não achamos.
Rumamos daí então para bem longe reato: Juramento, o Peixe-Crú, Terra Branca e Capela, a Capelinha-do-Chumbo. Só um
letreiro achei. Este papel, que eu trouxe – batistério. Da matriz
Pia batismal da Igreja de Santo Antônio, de Itacambira, onde foi batizado(a)
Diadorim (Maria Deodorina da Fé Battancourt Marins). Personagem central
do livro “Grande Sertão - Veredas”, de João Guimarães Rosa.
|
de Itacambira, onde tem tantos mortos enterrados. Lá ela foi levada bà pia. Lá registrada, assim. Em um 11 de setembro de 1800
e tantos... O senhor lê. De Maria Deodorina da Fé Bettancourt
Marins – que nasceu para o dever de guerrear e nunca ter medo,
e mais para muito amar, sem gozo de amor... Reze o senhor por
essa minha alma. O senhor acha que a vida é tristonha?” (Grande
Sertão–Veredas – João Guimarães Rosa).
Difícil é entender o motivo desse ato impensado. Tudo
pode nos levar a crer que se trata de uma história de ficção, sendo,
entretanto, improdutivo elaborar uma nova pesquisa nos
livros da Igreja, à procura de outras informações. De qualquer
sorte, o fato relatado no romance de João Guimarães Rosa já
é o bastante para eternizar a cidade de Itacambira no cenário
literário brasileiro. Mas, por outro lado, o escritor Guimarães
Rosa tinha consciência da existência dos cadáveres no porão da
Igreja Matriz de Itacambira, tanto é vero que ele cita no mesmo
texto que “da Matriz de Itacambira, onde tem tantos mortos enterrados”,
numa alusão às múmias que ali se encontram há mais
de uma centena de anos.
INTENDENTE CÂMARA
Manuel Ferreira da Câmara Bettencourt Aguiar e Sá (1) E
(2), filho de Francisca Antônia Xavier de Bettencourt e Sá e do
tenente Bernardino Rodrigues Cardoso, nasceu na região do
Val, município de Grão Mogol, em Minas Gerais e foi batizado
na Igreja de Santo Antônio de Itacambira, por volta
de 1764. Um dos filhos mais ilustres do Norte de Minas. Ele
estudou na Europa - Universidade de Coimbra - onde foi colega
de José Bonifácio, o Patriarca da Independência. Em 1790,
pelo Decreto Lei de 17 de fevereiro de 1790, foi o escolhido
|
O Intendente Câmara nasceu,
segundo a ficha escolar
fornecida pela Universidade
de Coimbra, em Vila Nova
da Rainha de Caeté, freguesia
de Nossa Senhora do
Bom Sucesso, capitania de
Minas gerais, e foi batizado
aos 23 dias do mês de julho
de 1758, sendo padrinhos o
tenente João Furtado Leite
e dona Coleta Rosa; mas a
certidão de batismo extraída
a seu pedido em 1827 diz ter
sido batizado na Matriz de
Santo Antônio de Itacambira,
comarca eclesiástica das
Minas Novas do Araçuaí,
aos 26 dias do mês de abril |
de 1764, sendo padrinho o
Reverendo Doutor Albano
Pereira Coelho. Esta certidão
foi passada no próprio
requerimento de Câmara,
quer, ao formulá-lo, declarou
ser nascido e batizado
na referida Vila de Santo
Antônio da Itacambira. Foram
seus pais o Tenente Bernardino
Rodrigues Cardoso
e dona Francisca Antônia
Xavier de Bitencourt e Sá. |
pelo governo de sua Majestade para fazer uma viagem à Europa
(Juntamente com José Bonifácio) com o objetivo de conhecer
o progresso das ciências aplicáveis em Portugal. Tendo em vista
o seu trabalho. O Intendente Câmara faleceu na cidade do Salvador,
no dia 13 de dezembro de 1835.
PEDRA DA URSA
A natureza tem o poder de esculpir nas montanhas rochosas,
as mais diversas formas de esculturas para a apreciação e o
deleite das pessoas. A Pedra da Ursa, por exemplo, uma dádiva
|
natural para o povo de Itacambira, um privilégio sem precedentes
que a mãe natureza, gentilmente, presenteou a comunidade
de Itacambira e todo o Norte de Minas.
|
(1) Mário Martins de Freitas
assinalou que o Intendente
Câmara foi o construtor
do primeiro forno para
fundir ferro no Brasil. Isso
aconteceu no ano de 1815,
no Morro de Gaspar Soares,
no Serro (MG).
(2) Joaquim Felício dos
Santos nos informou que
o Intendente Câmara foi o
primeiro brasileiro nomeado
para o cargo de Intendente
dos Diamantes, no Distrito
Diamantino, no Tijuco,
hoje cidade de Diamantina.
|
|
A NATURE ZA CAPRICHOSA
É muito interessante como a natureza é caprichosa nas
coisas que ela faz em Itacambira. Aqui nesta foto, numa palmeira
há uma casa de cupim dando sustentação para a construção
das casas do pássaro joão-de-barro. Um edifício de cinco
andares que causa admiração nas pessoas, pois a harmonia da
natureza é impressionante neste caso: a velha palmeira, o bloco
do cupim e as casas do joão-de-barro, três elementos de viva
beleza que encantam a natureza da região. A lenda conta que
a fêmea do joão-de-barro ajuda-o na construção do ninho, porém
quando o macho percebe que a sua namorada tem um
novo companheiro, ele tampa a abertura da casa fechando-a
para sempre.
|
LA PA DO BUGRE
Os sítios arqueológicos do município de Itacambira, com
pinturas rupestres que foram cadastrados e registrados pelo
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional são em número de
cinco. O Abrigo da Serra do Macuco e o Abrigo da Serra do
Tuituberaba são os dois mais importantes. Temos ainda na Serra
Resplandecente, outros três sítios, sobressaindo o da Lapa do
Bugre que fica na encosta da referida serra.
Lapa do Bugre - Foto: Edvaldo Magalhães Filho
|
“Ao recuarmos ainda mais
no passado, deparamo-nos
com uma expressiva arte
parietal na Lapa do Bugre,
um abrigo plantado num
afloramento de quartzito
isolado da Serra Resplandecente
e a leste desta, sendo
o conjunto parte da Serra
Geral” (O Homem na Pré
-História. Leonardo Alvares
da Silva Campos. Belo
Horizonte. 1983. Página
191). |
FOGO SIMBÓLICO
|
Dom Luís Victor Sartori
(4º bispo de Montes Claros -
1952 a 1956). Foi também
grande propulsor da fé e do
progresso na cidade: reorganizou
a Obra das Vocações
Sacerdotais; instalou o Seminário
Menor; apoiou a
Ação Católica, bem como a
criação da diocese de Januária;
atuou juntos aos poderes
públicos para a iluminação
da cidade, por meio da |
Para homenagear o grande feito de Fernão Dias Pais, o
desbravador dos sertões norte-mineiros, o povo itacambirense,
num gesto de carinho, amor e gratidão, organizou a mais importante
maratona da história de Itacambira com a corrida do
Fogo Simbólico até a cidade de Porto Alegre - Rio Grande do
Sul. Tudo isso aconteceu sob a supervisão do eminente bispo
de Montes Claros, Dom Luiz Victor Sartori. O tempo nos conta
que, partindo da “famigerada” cidade de Itacambira, no dia
12 de agosto de 1954, o Fogo Simbólico percorreu o caminho
palmilhado por Fernão Dias Pais, de volta a São Paulo até a
fronteira com o Uruguai. Foi nos pampas gaúchos que o bandeirante
paulista iniciava a sua peregrinação em busca do ouro
e das pedras preciosas. Entretanto, ele retrocedeu esse caminho |
e rumou para a Serra Resplandecente, de encontro com os socavões
de Marcos de Azevedo, na esperança de realizar o sonho
das esmeraldas.
Portanto, o Fogo Simbólico representa a arrojada atitude
de ambição, intrepidez e coragem de um homem já senil e
que resolve enfrentar os perigos iminentes, pelo sertão adentro,
removendo com incrível estoicismo os grandes obstáculos que
se opunham a sua marcha na procura das pedras verdes (as Esmeraldas),
pedras essas existentes nas entranhas da Lagoa do
Vupabuçu e que não passavam de simples turmalinas.
|
Companhia energética de
Minas Gerais. Foi transferido
para a diocese de Santa
Maria- RS.
___________
Observação: A palavras <famigerada> empregada
neste texto tem o significado
de “muita fama, notável,
célebre, famígero”, conforme
o Dicionário Houaiss da
Língua Portuguesa, de
Antônio Houaiss.
|
|
CAPÍTULO XI
REGISTROS POLÍTICOS
A INICIAÇÃO POLÍTICA
Há muito que o distrito de Itacambira já anunciava a sua
condição de independência politica e econômica. Por se tratar
de uma região ainda inexplorada na agropecuária, não obstante
a exploração das riquezas das pedras verdes, tanto o rebanho
bovino como a plantação do café necessitavam de maior
cuidado dos seus governantes. Desse modo, a sua elevação à
condição de cidade lhe possibilitaria palmilhar os caminhos do
progresso, com vivas esperanças de um novo amanhecer.
Sabe-se que a exploração do ouro e dos diamantes muito
pouco contribuiu para o desenvolvimento da vila de Itacambira.
O “quinto do ouro” imposto devido à coroa ia para o
governo e os lucros com a comercialização das riquezas ficavam
|
|
|
em poder dos forasteiros, que promoviam a evasão de divisas.
Nada era aplicado em beneficio da população que já sofria com
a invasão do “barbeiro”, causando-lhe a doença do coração –
embora fosse uma doença desconhecida antes mesmo do médico
sanitarista Carlos Justiniano Ribeiro Chagas (1878-1934)
anunciar a sua descoberta no final do século XIX.
Do ponto de vista político-econômico, Itacambira permaneceu
inerte no tempo e, por muito tempo.
Enquanto isso, o aspecto físico do terreno era benevolente
com os garimpeiros, por outro lado prejudicava a criação
de currais de gado. O ciclo do ouro e do couro, que em certas
regiões andavam de mãos dadas, aqui isso não acontecia. Nem
mesmo a pequena agricultura de subsistência sobrevivia com
a necessidade da ocasião. Apenas o plantio de café dava sinais
de uma boa safra. O milho e a mandioca foram heranças dosíndios.
Por sua vez, o município de Grão Mogol centralizava a
atenção do mercado do ouro e do diamante. Não muito distante,
a vila do Tijuco (Diamantina) agia da mesma maneira, assim
como a Vila de Nossa Senhora do Bom Sucesso do Fanado
(Minas Novas). Nesse triângulo de caminhos e cruzamentos,
Itacambira sucumbiu-se através dos tempos. Disse o historiador
Vicente Tapajós que “a criação de gado foi uma das razões
da penetração no interior e exerceu, na economia nacional, papel
de importância, notadamente como meio de locomoção e de transporte”.
Em razão disso, o sertanista Antônio Gonçalves Figueira
tinha essa visão de comércio. Abriu a estrada até Pitangui, outra
estrada até o Rio São Francisco e a Estrada Real da fazenda Brejo
Grande – região de Grão Mogol – passando pela fazenda do
São Romão até Tranqueira, na Chapada Diamantina – Bahia.
|
Agora, com o limiar de novos tempos, Itacambira sentiu
a necessidade de andar com as próprias pernas. Libertou-se de
Grão Mogol por Decreto Lei Nº 2764, de 30 de dezembro de
1963, num esforço gigantesco do seu filho Geraldo Maier Bicalho.
Todo processo de emancipação do município aconteceu
de forma civilizada. Assim, no dia primeiro de março do ano
seguinte foi instalado o município com a criação da Câmara
Municipal e em seguida a eleição do primeiro mandatário da
nova cidade. Antes, porém, na pessoa do servidor Lúcio Marcos
Benquerer – indicado intendente – a cidade de Itacambira
começava a dar os seus primeiros passos.
|
“Tive em Itacambira, como
intendente, em 1963, uma
experiência memorável.
Cursando Sociologia na
época, e naturalmente fascinado
pelos ensinamentos
acadêmicos, tive a aventura
de testemunhar e viver, ainda
que pelo curto período de
seis meses, o encontro da teoria
com a realidade político-
social de nossa região e de
Itacambira em particular.
Foi um período inesquecível
e de grande aprendizagem”.
(Depoimento de Lúcio
Mauro Benquerer cedido
por Maria Izabel Noronha) |
|
INSTALAÇÃO DO MUNICÍPIO DE ITACAMBIRA
PREFEITURA MUNICIPAL DE ITACAMBIRA
ATA DA SESSÃO SOLENE DE INSTALAÇÃO DO MUNICÍPIO DE ITACAMBIRA
A primeiro de março de 1963, a partir das 11(onze) horas,
no edifício destinado ao funcionamento da Prefeitura Municipal,
realizou-se a sessão solene de instalação do Município
de Itacambira, criado nos termos dos artigos da Lei nº 2.764,
de 30 de dezembro de 1962. Declarando aberta a sessão o Sr.
Intendente, após compor a mesa, proferiu, em voz clara e pausada,
as seguintes palavras: “Em virtude dos poderes que me foram
outorgados, declaro instalado o Município de Itacambira,
com jurisdição sobre as circunscrições que têm por sede esta localidade,
que ora recebe os foros de cidade, com a competência
e atribuições que a lei confere e determina”. A seguir colocou
franca a palavra, dela fazendo uso o jovem Milton Leão Coelho
Filho, proferiu brilhante e entusiástica saudação ao povo itacambirano,
afirmando em sua oração: “que estando convicto, o
povo com a sua união, seu trabalho e seu desprendimento, faria
desta terra histórica um município próspero”. A seguir, usou da
palavra o senhor Intendente, saudando os presentes e concitando
a todos os itacambiranos a cerrarem fileiras em prol do programa
da jovem cidade. Afirmando que Itacambira, sendo uma
cidade que surgia, poderia ser comparada a uma construção
de um prédio e que cada um em particular, deveria contribuir
com sua parcela de sacrifício, carregando um tijolo para essa
construção. Frisou que estamos incrustados numa região subdesenvolvida
e desamparada, vivendo uma grave conjuntura
social, político e econômico, praticando uma política de bons
costumes e de confiança no futuro. Ninguém mais fazendo uso
da palavra, o senhor Intendente deu por encerrada a sessão de |
que, para constar, eu Maria do Socorro Bicalho, funcionando
como secretária ad-hoc, lavrei a presente ata e a li ao termo da
sessão. Lúcio Marcos Bemquerer - Intendente.
|
|
|
GALERIA DOS PREFEITOS
A cidade de Itacambira foi criada pela Lei nº 2764, de
30 de dezembro de 1962 e a sua instalação, como município
autônomo, ocorreu em primeiro de março de 1963. A emancipação
de Itacambira teve a participação decisiva de Geraldo
Maier Bicalho, que na época era prefeito da cidade de Grão
Mogol. Depois de instalado o município, foi nomeado como
seu intendente o jornalista Lúcio Marcos Benquerer, que esteve
no comando das decisões políticas da cidade durante os meses
de março a agosto de 1963. Com o impedimento de Geraldo
Maier Bicalho, foi proclamado prefeito de Itacambira, seu vice
-prefeito José Ferreira do Amaral, e em vista disso foi realizada
nova eleição, somente para escolher o novo vice-prefeito, que
teve o nome de Domício Santos Bicalho vitorioso nas urnas.
Portanto, o primeiro prefeito de Itacambira, eleito pelo voto
direto, foi José Ferreira do Amaral, que governou o município
no período de 1963 a 1966.
Galeria dos Prefeitos
|
CÂMARA MUNICIPAL DE ITACAMBIRA
Os registros da composição do poder legislativo do município
ficaram prejudicados, tendo em vista a inexistência de
documentação para a comprovação das pesquisas necessárias,
o que dificultou, sobremaneira, a nossa investida na coleta de
dados e fatos sobre o assunto adrede proposto. Entretanto, foi
possível o registro da formação da primeira Câmara de Vereadores,
conforme documentação assinada por Oto Ribeiro e
Silva e fornecida por Antônio Amaro Bicalho.
FORMAÇÃO DA PRIMEIRA CÂMARA MUNICIPAL DE
ITACAMBIRA
PODER EXECUTIVO: 1963-1966
Prefeito: José Ferreira Amaral
Vice-prefeito: Domício Santos Bicalho
PODER LEGISLATI VO: 1963-1966
Maria do Socorro Bicalho
José Ferreira da Silva
Alfredo Antônio Oliveira
Maria Izabel Bicalho Noronha
Nelson Ferreira Oliveira
José Pedro dos Santos
Sadi Santos Bicalho
Davisdson Ferreira Leal
José Felizardo Bicalho |
|
|
FORMAÇÃO ATUAL DA CÂMARA MUNICIPAL DE
ITACAMBIRA
PODER EXECUTIVO: 2013 - 2016
Prefeito: José Francisco Ferreira
Vice-prefeito: João Manoel Ribeiro
PODER LEGISLATI VO: 2013 - 2016
Presidente – José Leão Coelho Sobrinho
Vice-presidente – Pedro Henrique Barbosa
Antônio Júlio de Oliveira
Eder Fabricio Caetano Campos
Eliomar Cardoso Oliveira
Geraldo Claudinei Barbosa Soares
João Cardoso dos Santos
José Gilmar Ferreira
Sebastião Marcelo da Silva PEQUENA BIOGRAFIA DE GERALDO MAIER BICALHO
Geraldo Maier Bicalho nasceu na cidade de Itacambira/MG, no dia 29 de julho de 1920. Ele era filho de Francisco
Circuncisão Bicalho e de dona Maria do Rosário Bicalho.
Casou-se com dona Ruth Matos Bicalho e tiveram 14 filhos.
Foi prefeito das cidades de Grão Mogol e Itacambira. Batalhou
incansavelmente para realizar a emancipação política e econômica
de sua terra natal. Num preito de gratidão, foi erigido um
marco na Praça da Matriz com os seguintes dizeres: “GERALDO
MAIER BICALHO – HOMENAGEM A ESTE LÍDER
POLÍTICO”, na administração de Mariano Augusto Barbosa.
Geraldo Maier Bicalho faleceu em 22 de novembro de 1994. |
Documentos antigos da Igreja de Itacambira |
CAPÍTULO XII
ANOTA ÇÕES ANTIGAS
DOCUMENTOS DA IGREJA |
No presente livro que contém
noventa e oito folhas, serão
registradas as pessoas sepultadas
no cemitério desta freguesia
de Santo Antônio que
foram por mim numeradas
e rubricadas. Itacambira 10
de janeiro de 1899. Vigário
José Francisco de Carvalho. |
Este livro que tem cento
noventa e oito folhas há de
servir para (...) dos casados
vai rubricado com a minha
rubrica de Ferrª e para que
se lhe dê maior crédito, uso
e ponho a minha autoridade
(...) judicial. Tocambira,
maio de 1775.
__________
LIVRO para apontamentos
de Batizados feitos na
paróquia de Santo Antônio
de Itacambira a começar no
mês de junho de 1914. Serão
neste mesmo livro lavrados
os Termos dos Batizados que
se fizerem nos anos 1915 e
seguintes. Padre Callado. |
|
|
FOLHA DE ROSTO DO
TERMO DE ABERTURA
- Devidamente comissionado
por Exmo. Sr. Bispo
Diocesano, faço a abertura
do presente livro que servirá
para nele serem transcritos
todos documentos respeitantesà Comarca Eclesiástica
(ou Vigararia Foraneo) de
Santo Antônio de Pádua,
criada por Decreto Episcopal
com data de 18 de outubro
de 1915 e que vão por
mim numerada e rubricada
com a rubrica que uso “Pe.
Callado” Itacambira, (sede
da Vigararia) aos 10 de
novembro de 1915. Padre
Manoel Francisco Callado.
Vigário Foraneo.
____________
OBS: Nota-se que neste documento
foi colocado como
sendo Paróquia de Santo
Antônio de Pádua. Aliás,
há muitos documentos nos
livros da Coleção do Tombo
da Igreja, com esta denominação:
Santo Antônio de
Pádua. |
FAC-SIMILE - DOCUMENTO
Nº 1 DA IGREJA
DE SANTO ANTÔNIO DE PÁDUA
Dom João Antônio Pimenta,
por mercê de Deus e da
Santa Sé Apostólica, Bispo
Diocesano de Montes Claros,
etc... Fazemos saber que
concorrendo na pessoa do
Ver. Sr. Padre Manoel Francisco
Callado, as qualidades
requeridas para o bom
desempenho da vigararia
da Vara, havemos por bem
nomeá-lo como pela presente
o nomeamos para exercer
o dito cargo, por três anos,
na comarca eclesiástica de
Santo Antônio de Pádua,
para o que lhe concedemos
todos os poderes e faculdades
constantes do “Regimento
dos Vigários Foraneos” desta
diocese, fazendo lhe uma remesse
do dito Regimento.
Dando-lhe esta prova de
nossa confiança, esperamos
que o Vigário Foraneo,
digo, Vigário da Vara, por
nós assim nomeado e depu |
|
Alfarrábios da Igreja de
Santo Antônio de Pádua de Itacambira - Minas Gerais |
tado, saberá empreender o
dever que lhe incumbe de
zelar por sua pessoa, pelo
mais escrupuloso e exemplar
procedimento, a autoridade
que lhe delegamos e que, no
exercício desta autoridade se
portará com zelo, moderação
e prudência, como convém
ao serviço de Deus e ao
Nosso.
Tenha sempre em vista que,
entre outras obrigações do
cargo que lhe é conferido,
saberá a de velar, com solicitude,
para que as determinações
e conselhos da Pastoral
coletiva sejam postas
em prática, como é de dever
em sua comarca; para o que
concorrerá de modo...
__________
OBS; Também neste documento
foi registrado o nome
de Santo Antônio de Pádua.
|
|
AGRADECIMENTOS
Ao concluir este modesto trabalho sobre a história de
Itacambira, solicitamos dos distintos leitores as desculpas pelas
deficiências e pelos problemas que o enfeiam. Os senões e
os deslizes gráficos também podem ocorrer e, quanto ao conteúdo,
seria de lastimar muito mais, não fosse a providencial
colaboração de Antônio Neto da Silva, Ilma Ramalho Ferreira,
Vanusa Alves da Costa Ramalho, Wanderlino Arruda e Antônio
Amaro Bicalho, na doação dos mais variados documentos
e de sucessivos depoimentos sobre a trajetória da comunidade.
Pessoas essas a quem reiteramos mais de uma vez, a expressão
sincera do nosso profundo agradecimento.
“Sit finis libri, non finis quaerendi”
|
BIBLIOGRAFIA
FONTES DE PESQUISAS E CRÉDITOS
DAS FOTOGRAFIAS
LIVROS
BARBOSA. Waldemar de Almeida – Dicionário Histórico Geográfico
de Minas Gerais. Belo Horizonte. Itatiaia. 1995.
BELMONTE. Benedito Bastos Barreto – No Tempo dos Bandeirantes. São Paulo. 4ª Ed. Melhoramentos.
BILAC. Olavo – O Caçador de Esmeraldas. Poesias. São Paulo.
Ediouro. 1978.
CALMON. Pedro – História do Brasil. 7 volumes. Rio de Janeiro.
Livraria José Olympio Editora. 1971.
CAMPOS. Leonardo Álvares da Silva – O Homem na Pré-História. Belo Horizonte. Imprensa Oficial. 1983.
CARDIM. Padre Fernão – Tratados da Terra e Gente do Brasil. São Paulo. Ed. Nacional. 1978.
COSTA. Antônio Gilberto – Os Caminhos do Ouro e a Estrada
Real. Belo Horizonte. Editora UFMG. 2005.
COTRIM. Dário Teixeira – Ensaio Histórico do Distrito de Serra
Nova, Município de Rio Pardo de Minas. Rio Pardo de Minas.
2000.
|
|
|
COTRIM. Dário Teixeira – História Primitiva de Montes Claros.
Montes Claros. Unimontes. 2002.
COTRIM. Dário Teixeira – Sinalações Rupestres. Montes Claros.
A Sinneta. 2005.
DIAS. Gonçalves – Dicionário da Língua Tupi (Chamada Língua
Geral dos Indígenas do Brasil). 1ª edição 1858 e 2ª edição
1970. Rio de Janeiro. Livraria São José. 1970.
DURÃES. Narciso Silva – Olhos de Itacambira. Poesia. Belo
Horizonte. Arte Quintal. 1986.
FAGUNDES. Giselle e MARTINS. Nahílson. Capítulos Sertanejos.
Montes Claros. Formato. 2002.
FERREIRA. Delson Gonçalves – O Aleijadinho. Belo Horizonte.
Trona Editora. 2001.
FREIRE. Felisbello – História Territorial do Brazil. 1º e 2º volumes.
Salvador. Instituto geográfico e Histórico da Bahia. 1998.
FREITAS. Mário Martins – Grão Mogol: de Portugal a Portugal.
Romance. Rio de Janeiro. 1940.
HOLANDA. Sérgio Buarque de – Raízes do Brasil. São Paulo.
Companhia das Letras. 1995.
LASMAR. Jorge e VASQUES. Terezinha – Grão Mogol. Belo
Horizonte. Santa Clara Editora. 2005.
MARTINS. Nahílson e FAGUNDES. Giselle - Capítulos Sertanejos. Montes Claros. Formato. 2002.
MILIET de Saint-Adolphe. J. O. R - Diccionário Geográphico
Histórico e Descriptivo do Império do Brazil. 1845.
PAULA. Hermes Augusto de. Montes Claros sua História, sua
Gente e seus Costumes. 3 volumes. Montes Claros. Ed. Unimontes.
2007.
|
PIRES. Simeão Ribeiro – Raízes de Minas. Montes Claros.
1979. Páginas 71/75.
PIRES. Simeão Ribeiro – Serra Geral: Diamantes, Garimpeiros
e Escravos. Belo Horizonte. Cuatiara. 1999.
ROSA. João Guimarães – Grande Sertão: Veredas. Romance.
Nova Fronteira. 1979.
SALVADOR. Frei Vicente do – História do Brasil 1500 – 1627. Belo Horizonte. Itatiaia. 1982 (Livraria Amadeu)
SAMPAIO. Teodoro Fernandes – Vocabulário Geográfico Brasileiro.
(cópia xerox).
SANTOS. Délio Freitas dos – Câmara Municipal de São Paulo. (oferta do vereador Aurelino Soares de Andrade) 1998.
SANTOS. Márcio – Estradas Reais. Belo Horizonte. Editora
Estrada Real. 2001.
SILVA. Eliane Rodrigues da – Itacambira, uma Lenda. Dossiê.
Apostilha da Biblioteca Pública Municipal Concórdia Luzia
Ribeiro. Itacambira. 2002.
SILVEIRA. Geraldo Tito – O Padre Velho, Belo Horizonte. Imprensa
Oficial. 1971. Páginas 82/83.
SILVEIRA. Geraldo Tito da – Crônica da Polícia Militar de
Minas Gerais. Belo Horizonte. Imprensa Oficial. 1981.
SOUSA. Gabriel Soares de – Tratado Descritivo do Brasil em
1587. São Paulo. Brasiliana. Volume 117. 1987.
SPIX. Johann Baptist von – Viagem Pelo Brasil (1817 – 1820).
Volume 2. Belo Horizonte. Itatiaia. 1981.
TAPAJÓS. Vicente – História do Brasil. São Paulo. Companhia
Editora Nacional. 1965. |
|
|
VASCONCELOS. Diogo de – História Antiga de Minas Gerais. V
1 e 2. Rio de Janeiro. Imprensa Nacional. 1948.
VASQUES. Terezinha e LASMAR. Jorge – Grão Mogol. Belo Horizonte.
Santa Clara Editora. 2005.
VIANNA. Urbino - Bandeiras e Sertanistas Baianos. São Paulo.
Companhia Editorial Nacional. 1935.
PANFLETOS
Festa de Santo Antônio e do Divino. Arquidiocese de Montes
Claros. Paroquia Santo Antônio. Itacambira – MG. 2008.
VII Festa Cultural Itacambira. Prefeitura Municipal de Itacambira.
2013.
DOCUMENTOS
Carta do Padre José Ozanan
Cópia da Carta de D. João Antônio Pimenta – Bispo de Montes
Claros – MG.
Documentos fornecidos pela Câmara Municipal de Itacambira
(Lucídio)
REVISTA
Revista Acaiaca. Belo Horizonte. Agosto de 1953.
JORNAIS
Diário de Montes Claros. Montes Claros, quarta-feira, 31 de
maio de 1978. Miguel Domingues, fundador de Montes Claros.
Leonardo Campos.
|
Diário de Minas. Belo Horizonte. 12 de Agosto de 1956.
Hoje em Dia. Prefeitura Busca Apoio para Construir Casa da
Cultura e Reconstruir os Esqueletos. Fernando Zuba.
Hoje em Dia. Município à caça de R$ 1 milhão para salvar
Igreja. Girleno Alencar.
Informativo Paroquial. Ano I – nº 1 – outubro de 2008. Padre
Honório Andrade
Informativo Pastoral – Comunidade São José. Município de
Itacambira. Setembro de 2008. 3ª edição. Padre Honório Andrade.
|
|
Impresso na oficina da
GRÁFICA EDITORA MILLENNIUM LTDA.
Rua Pires e Albuquerque, 173 - Centro
39.400-057 - Montes Claros - MG
E-mail: mileniograf@viamoc.com.br
Site: www.mileniograf.com.br
Telefax: (38) 3221-6790
|
|
|
|
|