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INSTITUTO
HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE MONTES CLAROS
Fundado
em 27 de dezembro de 2006.
VOLUME
XIX
Montes
Claros
Minas Gerais - Brasil
2017
NOTAS
DOS
COORDENADORES DA EDIÇÃO
A ordem de publicação dos trabalhos
dos associados efetivos obedeceu à sequência alfabética
dos nomes dos autores. Em seguida, foram ordenados os trabalhos
dos associados correspondentes e convidados;
A Revista não se responsabiliza por conceitos e declarações
expedidos em artigos publicados, nem por eventuais equívocos
de linguagem nela contidos.
A revisão dos originais foi feita pelos próprios
autores dos artigos publicados.
Art.
2º - O IHGMC tem como finalidade pesquisar, interpretar
e divulgar fatos históricos, geográficos, etnográficos,
arqueológicos, genealógicos e suas ciências
e técnicas auxiliares, assim como fomentar a cultura,
a defesa e a conservação do patrimônio histórico,
artístico, cultural e ambiental do município de
Montes Claros e região Norte de Minas.
INSTITUTO
HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE MONTES CLAROS
Sobrado de Dulce Sarmento
Rua Cel. Celestino, 140 - Centro - 39400-014 - Montes Claros/MG
(Corredor Cultural Padre Dudu)
REVISTA
DO INSTITUTO HISTÓRICO
E GEOGRÁFICO DE MONTES CLAROS
Publicação Semestral
Diretor e Editor
Dário
Teixeira Cotrim
Conselho Editorial
Dário
Teixeira Cotrim
Wanderlino Arruda
Sebastião Abiceu
João de Jesus Malveira
Editoração
e Diagramação
Gráfica Editora Millennium Ltda.
Fotografias
Dário Cotrim, Clarice Sarmento, Felicidade Patrocínio,
Marilene Tófolo, Sebastião Abiceu, Cláudio
Prates, Yury Tupinambá, Alberto Sena Batista, Beto
Caldeira e Wanderlino Arruda
Impressão
Gráfica Editora Millennium Ltda.
ISBN: 978-85-67049-81-6
CAPA:
Largo da Matriz
SUMÁRIO
Diretoria
2016-2017 - 7
Associados Efetivos - 9
Associados Eméritos - 11
Associados Honorários - 11
Associados Correspondentes - 12
Apresentação - 13
Cláudio Ribeiro Prates
Definido “Seu Romário” - 19
Clarice Sarmento
Adail Sarmento e Maria Guimarães: um casal inesquecível
- 24
Daniel Oliva Tupinambá Lélis
Major Domingos Garcia Leal Tupinambá - 31
Dário Teixeira Cotrim
Maria das Mercês Paixão Guedes - 49
Dóris Araújo
Até qualquer dia, Peré! - 53
Felicidade Patrocínio
A “Vitrine Cultural” da escritora Zoraide Guerra
David - 57
José Ferreira da Silva
Padre Alcides - 61
José Ponciano Neto
Luiz de Paula, o várzea-palmense que
revolucionou Montes Claros e Região - 64
Leonardo Álvares da Silva Campos
Entrevista para o Informativo do IHGMC - 70
Manoel
Messias Oliveira
A crise hídrica - 78
Mara Yanmar Narciso
Montes Claros Memórias do Centenário - 82
Maria Aparecida Costa Cambuy
Mergulho geográfico em Grão Mogol - 86
Maria Clara Lage Vieira
Dona Nenzinha - 97
Maria Lúcia Becattini Miranda
Dr. Dário Rubens Becattini - 105
Marilene Veloso Tófolo
O Boiadeiro - 107
Marilene Veloso Tófolo
O Footing da Rua Quinze - 110
Narciso Gonçalves Dias
O gado de Fulgêncio - 114
Palmyra Santos Oliveira
A Rua Camilo Prates do meu tempo de menina - 117
Wanderlino Arruda
Meu professor Joaquim Rolla - 121
Wanderlino Arruda
Perdas Irreparáveis - 125
Wesley Soares Caldeira
João Rego: pioneiro do Espiritismo em Taiobeiras -
130
Zoraide Guerra David
Homenagens Póstumas - 140
ARTIGOS DIVERSOS DO IHGMC
Radialista Paulo Roberto - Fundador do primeiro hospital de
Montes Claros - 147
DIRETORIA
DO INSTITUTO HISTÓRICO E
GEOGRÁFICO DE MONTES CLAROS
Fundado em 27 de dezembro de 2006.
COMISSÃO FUNDADORA 2006-2007
Dr. Dário Teixeira Cotrim
Dr. Haroldo Lívio de Oliveira
Jornalista Luís Ribeiro dos Santos
Dr. Wanderlino Arruda
DIRETORIA
2016- 2017
PRESIDENTE
DE HONRA |
Palmyra
Santos Oliveira |
PRESIDENTE |
Lázaro
Francisco Sena |
1º
VICE - PRESIDENTE |
Regina
Maria Barroca Peres |
2º
VICE - PRESIDENTE |
Manoel
Messias Oliveira |
DIRETOR-SECRETÁRIO |
Maria
Aparecida Costa Cambui |
DIRETOR-SECRETÁRIO ADJUNTO |
Maria
do Carmo Durães |
DIRETOR DE FINANÇAS |
José
Ferreira da Silva |
DIRETOR
DE FINANÇAS ADJUNTO |
Sebastião
Abiceu dos Santos Soares |
DIRETORA
DE PROTOCOLO |
Wanderlino
Arruda |
Diretor
de Comunicação Social |
Itamaury
Teles de Oliveira |
Diretor
de Arquivo, Biblioteca e Museu |
Dário
Teixeira Cotrim |
CONSELHO
CONSULTIVO
Membros
Efetivos
Palmyra Santos Oliveira
Edwirges Teixeira de Freitas
Maria de Lourdes Chaves |
Membros
Suplentes
Terezinha Gomes Pires
Milene A. Coutinho Maurício
Hélio Veloso de Morais |
CONSELHO
FISCAL
Membros
Efetivos
Juvenal Caldeira Durães
Expedito Veloso Barbosa
Eustáquio V. Santos Macedo |
Membros
Suplentes
Reinine Simões de Souza
Roberto Carlos Morais Santiago Antônio Augusto
Pereira Moura |
COMISSÃO
DE GEOGRAFIA E ECOLOGIA
Zoraide Guerra David
José Ponciano Neto
Magnos Denner Medeiros
COMISSÃO
DE HISTÓRIA E ARQUEOLOGIA
Denilson Meireles Barbosa
Leonardo Álvares da Silva Campos
José Jarbas Oliveira
COMISSÃO DE ANTROPOLOGIA,
ETNOGRAFIA E SOCIOLOGIA
Maria Ângela Figueiredo Braga
Felicidade Maria do Patrocínio Oliveira
Antônio Alvimar de Souza
COMISSÃO DE CLASSIFICAÇÃO E DE
ADMISSÃO DE SÓCIOS
Marilene Veloso Tófolo
Maria Luiza Silveira Teles
Geralda Magela de Sena Souza
COMISSÃO DE DOCUMENTAÇÃO E PUBLICAÇÃO
Dário Teixeira Cotrim
Wanderlino Arruda
Ivana Ferrante Rebello e Almeida
COMISSÃO
DE VISITA E APOIO
João
de Jesus Malveira - Coordenador
Dário Teixeira Cotrim
Edvaldo Aguiar Froes
Ângela Martins Ferreira
LISTA
DE SÓCIOS EFETIVOS DO IHGMC
CD |
Sócios |
Patronos |
01 |
Edvaldo
de Aguiar Fróes |
Alpheu
Gonçalves de Quadros |
02 |
Escritora
Milene A. Coutinho Maurício |
Alfredo de Souza Coutinho |
03 |
Padre
Antônio Alvimar Souza |
Antônio
Augusto Teixeira |
04 |
Maria
do Carmo Veloso Durães |
Antônio
Augusto Veloso (Desemb.) |
05 |
Dóris
Araújo |
Antônio
Ferreira de Oliveira |
06 |
Prof Marcos Fábio Martins Oliveira |
Antônio
Gonçalves Chaves |
07 |
Professora
Maria Aparecida Costa |
Antônio
Gonçalves Figueira |
08 |
Vaga |
Antônio
Jorge |
09 |
Professora
Isabel Rebelo de Paula |
Antônio
Lafetá Rebelo |
10 |
Professora Maria Florinda Ramos Pina |
Antônio
Loureiro Ramos |
11 |
Professor
Sebastião Abiceu |
Ary
Oliveira |
12 |
Dr
Antônio Augusto Pereira Moura |
Antônio
Teixeira de Carvalho |
13 |
Dr
Cesar Henrique Queiroz Porto |
Ângelo
Soares Neto |
14 |
Ana
Valda Xavier Vasconcelos |
Arthur
Jardim Castro Gomes |
15 |
Jornalista
Magnus Denner Medeiros |
Ataliba
Machado |
16 |
VAGA |
Athos
Braga |
17 |
Profa.
Marta Verônica Vasconcelos Leite |
Auguste
de Saint Hillaire |
18 |
Vaga |
Brasiliano
Braz |
19 |
Vaga |
Caio
Mário Lafetá |
20 |
Professora Felicidade Patrocínio |
Camilo
Prates |
21 |
Profa.Terezinha
Gomes Pires |
Cândido
Canela |
22 |
Dr.
Luiz Giovani Santa Rosa |
Carlos
Gomes da Mota |
23 |
Historiador
Hélio de Morais |
Carlos
José Versiani |
24 |
José
Ponciano Neto |
Celestino
Soares da Cruz |
25 |
Adriana
Duarte Borges Aquino |
Corbiniano
R Aquino |
26 |
Vaga |
Cyro
dos Anjos |
27 |
Professora
Regina Maria Barroca Peres |
Dalva
Dias de Paula |
28 |
Vaga |
Darcy
Ribeiro |
29 |
Filomena
Luciene Cordeiro |
Demóstenes
Rockert |
30 |
Escritora
Maria Lúcia Becattini Miranda |
Dona
Tirbutina |
31 |
Professora
Clarice Sarmento |
Dulce
Sarmento |
32 |
José
Catarino Rodrigues |
Edgar
Martins Pereira |
33 |
Dr
Wanderlino Arruda |
Enéas
Mineiro de Souza |
34 |
Profa.
Geralda Magela de Sena e Souza |
Eva
Bárbara Teixeira de Carvalho |
35 |
Dr.
Antônio Ferreira Cabral |
Ezequiel
Pereira |
36 |
Dra. Felicidade Vasconcelos Tupinambá |
Felicidade
Perpétua Tupinambá |
37 |
Evaldo
Gener de Fátima |
Francisco
Barbosa Cursino |
38 |
Professora
Maria Inês Silveira Carlos |
Francisco Sá |
39 |
Ivo
das Chagas |
Gentil
Gonzaga |
40 |
Drª
Maria da Glória Caxito Mameluque |
Georgino
Jorge de Souza |
41 |
Dr
Reinine Simões de Souza |
Geraldo
Athayde |
42 |
Maria
Luiza Silveira Teles |
Geraldo
Tito da Silveira |
43 |
Professor
Benedito de Paula Said |
Godofredo
Guedes |
44 |
Economista
Roberto Carlos M. Santiago |
Heloisa
V. dos Anjos Sarmento |
45 |
VAGA |
Henrique
Oliva Brasil |
46 |
Professora
Eliane Maria F Ribeiro |
Herbert
de Souza – Betinho |
47 |
Amelina
Fernandes Chaves |
Hermenegildo
Chaves |
48 |
Profa.
Maria das Dores Antunes Câmara |
Hermes Augusto de Paula |
49 |
Prof.
José Ferreira da Silva |
Irmã
Beata |
50 |
Jornalista
Délio Pinheiro Neto |
Jair
Oliveira |
51 |
Evany
Cavalcante Brito Calábria |
João
Alencar Athayde |
52 |
Fotógrafa
Ângela Martins Ferreira |
João
Chaves |
53 |
Vânia
Rosália Veloso Assis Dias |
João
Batista de Paula |
54 |
Cláudio
Ribeiro Prates |
João
José Alves |
55 |
Cel.
Lázaro Francisco Sena |
João
Luiz de Almeida |
56 |
Dra.
Ivana Ferrante Rebelo |
João Luiz Lafetá |
57 |
|
João
Novaes Avelins |
58 |
Profa. Maria Ângela Figueiredo Braga |
João
Souto |
59 |
Luiz
Ribeiro dos Santos |
João
Vale Maurício |
60 |
Dr.
Manoel Messias Oliveira |
Jorge
Tadeu Guimarães |
61 |
Vaga |
José
Alves de Macedo |
62 |
Profº
José Geraldo de Freitas Drumond |
José
Esteves Rodrigues |
63 |
VAGA |
José
Gomes Machado |
64 |
Professora
Palmyra Santos Oliveira |
José
Gomes de Oliveira |
65 |
Dra.
Maria de Lourdes Chaves |
José
Gonçalves de Ulhôa |
66 |
Arqueólogo
Fabiano Lopes de Paula |
José
Lopes de Carvalho |
67 |
Prof.
Denilson Meireles |
José
Monteiro Fonseca |
68 |
Vaga |
José
Nunes Mourão |
69 |
Vaga |
José
(Juca) Rodrigues Prates Júnior |
70 |
VAGA |
José
Tomaz Oliveira |
71 |
Dra.
Edwirges Teixeira de Freitas |
Júlio
César de Melo Franco |
72 |
Vaga |
Lazinho
Pimenta |
73 |
VAGA |
Lilia
Câmara |
74 |
Vaga |
Luiz Milton Prates |
75 |
Alceu
Augusto de Medeiros |
Manoel
Ambrósio |
76 |
Vaga |
Manoel
Esteves |
77 |
Profª
Maria Jacy de Oliveira Ribeiro |
Mário
Ribeiro da Silveira |
78 |
Jornalista
Américo Martins Filho |
Mário
Versiani Veloso |
79 |
Vaga |
Mauro
de Araújo Moreira |
80 |
Vaga |
Miguel
Braga |
81 |
Prof. Juvenal Caldeira Durães |
Nathércio
França |
82 |
Josecé
Alves dos Santos |
Nelson
Viana |
83 |
Daniel
Oliva Tupinambá de Lélis |
Newton
Caetano d’Angelis |
84 |
Dr
Itamaury Telles de Oliveira |
Newton
Prates |
85 |
VAGA |
Armênio
Veloso |
86 |
Professora
Zoraide Guerra David |
Patrício
Guerra |
87 |
Arnaldo
Bezerra |
Pedro
Martins de Sant’Anna |
88 |
João
de Jesus Malveira |
Plínio
Ribeiro dos Santos |
89 |
Felipe
Antônio Guimarães Gabrich |
Robson
Costa |
90 |
Folclorista
Teófilo Azevedo Filho (Téo) |
Romeu
Barcelos Costa |
91 |
Dr
Wesley Caldeira |
Sebastião
Sobreira Carvalho |
92 |
VAGA |
Sebastião
Tupinambá |
93 |
Dr
Dário Teixeira Cotrim |
Simeão
Ribeiro Pires |
94 |
Dr
Luiz Pires Filho |
Teófilo
Ribeiro Filho |
95 |
Profa.
Marilene Veloso Tófolo |
Terezinha
Vasquez |
96 |
Yure
Vieira Tupinambá de Lelis Mendes |
Tobias
Leal Tupinambá |
97 |
Prof.
Leonardo Alvares da Silva Campos |
Urbino
Vianna |
98 |
Dra.
Mara Yanmar Narciso |
Virgilio
Abreu de Paula |
99 |
Profa.
Virgínia Abreu de Paula |
Waldemar
Versiani dos Anjos |
100 |
Professora
Maria Clara Lage Vieira |
Wan-dick
Dumont |
ASSOCIADOS
HONORÁRIOS
Décio Gonçalves Queiroz
Edilson Carlos Torquato
Irany Telles de Oliveira Antunes
Girleno Alencar Soares
João Carlos Rodrigues Oliveira
José Antônio Correa Mourão
Mardete Dias Silveira
Newton Carlos do Amaral Figueiredo
Pedro Ribeiro Neto
Raquel Veloso de Mendonça
Sócios
Correspondentes
Adriano
Souto Belo Horizonte - MG
Alan José Alcântara Figueiredo Macaúbas
- BA
Alberto Sena Batista Grão Mogol - MG
André Kohene Caetité - BA
Armênio Graça Filho Rio de Janeiro - RJ
Avay Miranda Brasília - DF
Carlos Lindemberg Spínola Castro Belo Horizonte - MG
Carmem Netto Victória Belo Horizonte - MG
Cláudia Correia Costa Carvalho Luz - MG
Cintia Bernes Belo Horizonte - MG
Célia do Nascimento Coutinho Belo Horizonte - MG
Daniel Antunes Júnior Espinosa - MG
Dêniston Fernandes Diamantino Januária - MG
Enock Sacramento São Paulo - SP
Eustáquio Wagner Guimarães Gomes Belo Horizonte
- MG
Fernando Antônio Xavier Brandão Belo Horizonte
- MG
Flávio Henrique Ferreira Pinto Belo Horizonte - MG
Genoveva Ruisdias Belo Horizonte - MG
Geraldo Henriques (Riky Terezi) New York - USA
Hermano Baggio Pirapora - MG
Honorato Ribeiro dos Santos Carinhanha - BA
Jeremias Macário Vitória da Conquista - BA
João Carlos Sobreira de Carvalho Belo Horizonte - MG
João Martins Guanambi - BA
José Francisco Lima Ornelas África do Sul
Jorge Ponciano Ribeiro Brasília - DF
José Walter Pires Brumado - BA
Manoel Hygino dos Santos Belo Horizonte - MG
Maria da Consolação M. F. Cowen London - England
Maria Estela Kubitschek Lopes Rio de Janeiro - RJ
Maria Isabel M. Sobreira Belo Horizonte - MG
Moisés Vieira Neto Várzea da Palma - MG
Paulo César Oliveira Belo Horizonte - MG
Pedro Oliveira Várzea da Palma - MG
Regina Almeida Belo Horizonte - MG
Reynaldo Veloso Souto Belo Horizonte - MG
Terezinha Teixeira Santos Guanambi - BA
Wellington Caldeira Gomes Belo Horizonte - MG
Zanoni Eustáquio Roque Neves Belo Horizonte - MG
Zélia Patrocínio Oliveira Seixas Aracajú
- SE
Zilda de Souza Brandão (Bim) Belo Horizonte - MG
Lázaro
Francisco Sena
Cadeira N. 55
Patrono: João Luiz de Almeida
APRESENTAÇÃO
Sucedem-se
os diretores no IHGMC, mas a produção escrita
continua, com o mesmo padrão de excelência alcançado
já nos primeiros momentos de sua existência, ao
criar e publicar a sua Revista semestral, para registro e difusão
dos artigos temáticos construídos pelos seus associados.
Ao final de dois anos de nosso mandato como presidente do Instituto,
temos a satisfação de anunciar a publicação
de mais um número da Revista, o 4° sob nossa direção
e 19º no cômputo geral.
É
sempre importante ressaltar a liberdade dos associados para
escrever os seus artigos de forma espontânea, cujos textos,
na forma e no conteúdo, são de sua inteira e exclusiva
responsabilidade. Ao conselho editorial compete o ordenamento
e a distribuição espacial da matéria, não
passando de algumas intervenções de natureza estética,
sem, todavia, transgredir a ideia e a criação
manifestadas pelo autor.
Na
capa da presente edição, aparece a atual igreja
Matriz, quando provavelmente já era Catedral, antes da
transferência da cátedra diocesana para suas instalações
próprias, no belo templo da Praça Pio XII. Era
dia de festa e os fiéis se aglomeraram naquele “Largo
da Matriz”, por onde não circulava qualquer veículo
que pudesse atropelá -los. Certamente é um instante
das primeiras décadas do século XX, quando já
existia a fotografia, mas automóvel ainda era objeto
raro em nossa histórica cidade. Essa foto, ampliada,
sobressaiu-se na decoração do estande do Instituto
na FENICS do corrente ano.
A
lamentar, a inclusão de mais dois associados na galeria
do obituário: Maria das Mercês Paixão Guedes
e Eustáquio Vicente dos Santos Macedo. Registramos aqui
os nossos sentimentos de perda irreparável.
A
festejar, a inclusão de cinco novos associados efetivos
no quadro do Instituto: Narciso Gonçalves Dias, Evaldo
Jener de Fátima, Evany Cavalcante Brito Calábria,
José Jarbas Oliveira Silva e Alceu Augusto de Medeiros.
Regozijo também pela instituição e publicação
dos quadros de associados honorários e associados eméritos.
Sejam todos bem-vindos!
Nesta edição da Revista, estão sendo publicados
artigos produzidos por vinte e um associados, parcela bem expressiva
dos integrantes do Instituto. No campo da Geografia, destaque
para a confreira Maria Aparecida Costa, com o título
Mergulho Geográfico em Grão Mogol. No campo da
História, destaque para os confrades Daniel Oliva e Yúry
Tupinambá que, em parceria, apresentaram os feitos do
Major Domingos Garcia Leal Tupinambá. São notáveis
também as pesquisas biográficas sobre Adail Sarmento
e Maria Guimarães, pela confreira Clarice Sarmento, e
sobre João Rego, Pioneiro do Espiritismo em Taiobeiras,
pelo confrade Wesley Soares Caldeira. Enfim, muitos pontos,
feitos e fatos apresentados com a maestria de Cláudio
Prates, Dário Cotrim, Dóris Araújo, Felicidade
Patrocínio, José Ferreira, José Ponciano,
Leonardo Campos, Manoel Messias, Mara Narciso, Maria Clara Vieira,
Maria Lúcia Becattini, Marilene Veloso, Narciso Gonçalves,
Palmyra Santos Wanderlino Arruda, Wesley Soares Caldeira e Zoraide
Guerra. Que o leitor possa assimilar de cada um aquele conhecimento
ainda não depositado em seu relicário pessoal.
Cláudio
Ribeiro Prates
Cadeira N. 54
Patrono: João José Alves
DEFININDO
“SEU ROMÁRIO”
As
Escrituras Sagradas definem São José, pai de Jesus
e esposo de Maria, com um único adjetivo: José
era um homem justo. Caso eu precisasse definir o meu pai, “Seu
Romário”, que não é o famoso “baixinho”,
mas é um craque na vida, eu precisaria de pelo menos
quatro adjetivos para fazê-lo: um homem honesto, alegre,
de fé e corajoso.
Quanto
à honestidade, sempre me orgulho ao dizer, quando me
refiro a ele: “pode existir um homem tão honesto
quanto o meu pai, mas, mais do que ele, não conheço,
e duvido existir”.
Além
da sua honestidade, do seu bom humor (às vezes ácido
por demais) peculiar, aprendi com meu pai a ter fé e
coragem. Fé em Deus, sempre, e coragem, para encarar
novas situações e os desafios que a vida nos apresenta.
Aliás,
honestidade, alegria, fé e coragem sempre foram as marcas
da vida desde grande homem (em todos os sentidos); estes, certamente
são o maior legado, a imensurável herança,
que ele deixará a mim e a meus quatro irmãos:
Simone, Solange, Márcio e Fabiano; além do Leonardo,
meu sobrinho, criado por ele e minha mãe.
Ainda
muito jovem, adolescente ainda, ele, o filho caçula,
de 17 irmãos, filho de Seu Cincinato e de Dona Querubina
(mãe de onze), saiu da sua terra natal, da Fazenda Campo
Grande, em Juramento, para estudar e trabalhar em Montes Claros.
Viajou pelo Norte de Minas, como dedetizador do “barbeiro”
(Triatoma infestans), transmissor da doença de Chagas;
trabalhou como vendedor de sapatos; Foi seminarista da Ordem
Premonstratense São Norberto, onde estudou e alicerçou
a fé que movia - e ainda move - seus passos, até
conhecer àquela que o faria decidir-se a não tornar-se
um padre: Maria José Ribeiro Prates (dona Zezé:
esta merece um outro livro!), filha do seu Manoel e dona Beata.
Em 2011, completaram 46 anos de casados.
Após
casar-se com minha mãe, mudaram-se para a Fazenda Casa
Nova, próxima à Patis, há cerca de cem
quilômetros de Montes Claros, onde começariam uma
nova vida e onde ele, meu pai, assumiria de vez aquele que se
tornaria o seu grande ofício durante a sua vida: o comércio.
Mas,
se alguém imagina que o jovem e recém-casado empreendedor
iria se acomodar e se tornar um pacato comerciante na Fazenda
Casa Nova, no empório que administrou por mais de trinta
anos, e que lá se acomodaria, equivoca-se completamente.
Simultaneamente
ao comércio “São Sebastião”,
na Fazenda Casa Nova, ele montou outro comércio, em Patis;
depois outra mercearia, no bairro Vila Ipê, em Montes
Claros, a pretexto dos filhos estudarem na cidade.
Algum
tempo depois, com a experiência adquirida no passado,
como vendedor de sapatos (aliás, meu pai sempre se mostrou
um excepcional vendedor. Se o cliente lhe deixasse falar, com
certeza levava o produto. Na dúvida, ele oferecia as
duas únicas opções: “com caixa ou
sem”), o arrojado empreendedor decidiu entrar para o ramo
de
calçados, desta feita, como comerciante. E, sempre apoiado
por minha mãe, “dona Zezé”, seu esteio
e complemento, montou duas sapatarias na cidade: Solange Calçados
e Simone Calçados (os nomes foram homenagens às
minhas irmãs), que perduraram por mais de dez anos. Mas,
como acomodação nunca combinou com o corajoso
comerciante, meu pai, após alguns percalços, decidiu
experimentar algo novo no comércio, desta vez num ramo
totalmente diferente dos anteriores. A ideia agora era um restaurante
especializado em peixes, tendo como carro chefe o Surubim do
São Francisco. Ele acabou por
revelar-se um exímio chef de cozinha, um talento gastronômico.
Assim,
em junho de 1987, meu pai e minha mãe inauguraram a Peixaria
Laranjeiras (nome sugerido por mim), com um detalhe: montado
no bairro Melo, em uma rua sem asfalto e sem saída. Mas,
como obstáculos nunca foram empecilhos para aquele “bandeirante”
do comércio, pouco tempo depois, seu restaurante se tornaria
um dos melhores do Norte de Minas Gerais e um dos mais bem frequentados
de Montes Claros, tendo funcionado até o mês de
Março de 2011, quando o aventureiro comerciante decidiu
“pendurar as panelas” e aposentar-se.
No entanto, em se tratando de “Seu Romário”,
meu querido e amado pai, não tenho certeza de que esta
aposentadoria durará por muito tempo. Não me assustarei
se a qualquer momento ele convocar a família, como sempre
fez, e revelar: “Acabo de ter uma grande ideia. Adivinhem
o que eu estou pensando em montar?” Esse é o seu
Romário! Meu pai; um grande homem! Honesto, alegre, de
fé e corajoso; muito corajoso! Obrigado pela sua vida,
Seu Romário! Obrigado pelo exemplo, meu Pai!
MEU PAI ROMÁRIO BATISTA PRATES, nascido no dia 27 de
Agosto de 1941, na Fazenda Campo Grande, zona rural de Juramento,
há cinquenta quilômetros de Montes Claros; filho
caçula de dezessete irmãos, sendo seis por parte
de pai, do primeiro casamento do mesmo (Olegário, Clemente,
Duninha, Angélica, Maria e Santa)
Eu
e meu pai Romário
e,
onze irmãos do casamento do seu pai, Cincinato Batista
de Souza, com sua mãe, Maria Querubina Prates de Souza
(Zenóbia (Du), Geraldo, Cincinato (Natim), Antônio
Augusto, Messias, Juquita, Laura, Isabel, Marieta e Aparecida).
Além do Seminário premonstratense, estudou no
antigo Instituto de Educação de Montes Claros.
Fez o Tiro de Guerra no ano de 1960. Casou-se com Maria José
Ribeiro Prates, no dia 13 de Fevereiro de 1965 (51 anos de casados).
Pai de cinco filhos (Simone, Cláudio, Solange, Márcio
e Fabiano). Possui sete netos (Leonardo, Anne Beatriz, Caroline
Fernanda, Maria Cecília, Daniel, Maria Teresa, Davi e
Luiz Otávio). Trabalhou como dedetizador; balconista
(Casa Ely); representante comercial de calçados; vendedor;
proprietário de três mercearias, duas sapatarias
e um restaurante. Torcedor do Clube Atlético Mineiro.
Foi goleiro de futebol amador. É integrante do coral
e ministro de leitura da Paróquia Nossa Senhora Rosa
Mística. Fervoroso devoto da Virgem Maria; reza, diariamente,
há mais de dez anos, o Santo Rosário. Exímio
Chef de cozinha, tendo montado e administrado a “Peixaria
Laranjeiras” durante 24 anos (1987 a 2011). Hobby: leitura,
sauna, natação e caminhada.
CLÁUDIO
RIBEIRO PRATES: brasileiro, natural de Montes Claros
- MG, casado, pai de três filhos, servidor público
federal, professor, escritor, ator e diretor de teatro.
Eu,
meu pai, Romário, minha mãe, dona Zezé,
minha esposa, Elizabeth, meus filhos,
Daniel, Maria Teresa e Davi e minha madrinha, Zilca Tolentino.
Clarice
Sarmento
Cadeira N. 31
Patrono: Dulce Sarmento
ADAIL
SARMENTO E
MARIA GUIMARÃES
UM CASAL INESQUECÍVEL
Adail
nasceu em Montes Claros, em 1901, filho de Joaquim Sarmento
Sobrinho e Maria Augusta Teixeira (Miquita). Terceiro filho
do casal (Argentino, Ireni - morreu na infância - e Adail).
Sua mãe morreu aos 21 anos , deixando-o com um ano de
idade. Foi criado pelos padrinhos Antônio Rodrigues Fróis
e sua segunda esposa, sua tia materna Laudelina Santos (D. Bilú).
Cresceu no chalé dos tios, ambiente tranquilo, entre
o perfume das árvores e frutos do pomar , o cantar dos
pássaros e o carinho protetor dos tios e tias.
No chalé do casal, Adail viveu até a morte de
Antônio Rodrigues, quando D. Bilú retorna ao sobrado
de seus pais, na praça da matriz.
A música era uma constante naquele chalé e fazia
parte de sua vida. Os frequentes saraus eram frequentados pelos
músicos das duas famílias: os Teixeira, da família
de sua mãe, com seus instrumentos de sopro, parentes
da professora D. Eva Teixeira, inspiradora e responsável
pela primeira banda de música ( a Euterpe) e as pianistas
da família Sarmento, Lainha, Zinha e Mariquinha, com
destaque para a grande Dulce Sarmento, filhas do primeiro casamento
de Joaquim Sarmento com D. Afra. A eles se juntavam outros amigos,
como Ducho e Artur dos Anjos. Os tios maternos eram os maestros
instrumentistas, Antônio Teixeira de Carvalho (Tonico
de Naná, clarinetista e compositor) e Augusto Teixeira
de Carvalho, Augustão da prefeitura).
Adail era clarinetista. Tocava na Banda Euterpe e em conjuntos
musicais ( orquestra Carlos Gomes) em clubes, bailes e cinema,
com Dulce e Tio Tonico, Artur dos Anjos e Ducho, entre outros.
Seu irmão mais velho, Argentino era flautista.
Bodas
de ouro - 1987
Em
8 de dezembro de 1937, casa-se com Maria Guimarães. Para
sustentar a família, já que a música não
era uma profissão, mais uma fonte de deleite, abriu o
“Bar e Café Sarmento”- que era também
uma casa lotérica - situado na rua Dr. Santos, em frente
ao hotel São Luiz, de D. Nazareth Sobreira. Lugar muito
bem concorrido, lá recebia os amigos para um lanche,
uma cervejinha e um dedo de prosa...
1934
- Inauguração do Clube Montes Claros- Tio Tonico,
Adail Sarmento,
Curió, Benjamim, Pedro, Geraldo Miranda e Cursino.
Adail
era uma pessoa tranquila, amável, introspectiva e erudita.
Quando não estava no trabalho lia muito, revistas e jornais
mas, principalmente, literatura. Ouvia muito música erudita
instrumental, de preferência Beethoven e Wagner. Gostava
das grandes óperas, das quais conhecia os libretos e
árias. Também apreciava ouvir-me ao piano, nas
valsas de Zequinha de Abreu e de Mignone.
Homem muito religioso, frequentava a igreja, participava dos
sacramentos e praticava a caridade como Vicentino. Sua confiança
nas pessoas, até um pouco de ingenuidade, fazia com que
fosse, muitas vezes, vítima de aproveitadores e espertalhões.
Sua honestidade era exacerbada, muito louvada por quantos o
conheciam, como ilustra o episódio muito comentado na
época:
Eneias Mineiro, toda semana, comprava-lhe um bilhete inteiro
de loteria, sempre o mesmo número, que era providenciado
e levado para resgate na sexta feira, véspera do sorteio.
Em certa ocasião Capitão Eneias viajou. Não
o preveniu , nem deixou recomendações com seus
funcionários. Adail ficou com o bilhete encalhado, como
se dizia. Aconteceu que o bilhete foi sorteado com a “sorte
grande”. Quando o capitão chegou, papai foi procurá-lo
e entregou-lhe o bilhete. Recebeu elogios e muitos agradecimentos.
Só.
Assim era meu pai: íntegro, justo e honrado. Viveu pacificamente
e lúcido até os 97 anos deixando-nos seu exemplo,
que guardamos como um luzeiro a guiar-nos no caminho do bem
e o orgulho pelo privilégio de ter nascido seus filhos.
Maria Guimarães nasceu na roça do Vieira, região
assim denominada, formada de fazendas banhadas pelo ainda caudaloso
rio Vieira. Seu pai era Joaquim José Guimarães
e sua mãe, Augusta Gonçalves .
Sei pouco de sua infância, alguns relatos sem ordem cronológica,
pois os adultos não costumavam comentar com as crianças
assuntos
da família. Sei que seu pai adoeceu na roça, teve
febre alta e veio para a cidade, sendo hospitalizado. Sob suspeita
de meningite, não sobreviveu ao exame para retirada do
líquido espinhal. Tinha só 31 anos.
Não compreendo como não frequentou a escola da
roça. Contou-me que aprendeu a ler sozinha, examinado
os cadernos de seus irmãos.
Desde cedo, na roça, revelou sua criatividade e tendências
artísticas, desfiando panos de sacos e pintando os fios
com tintas naturais, feitas com folhas e flores. Alvejava os
sacos de mantimentos e bordava toalhas, com agulhas de espinhos
de laranjeira.
Formatura
do curso de “Corte e costura” em 1935.
Maria, na extrema direita. Ao centro, assentada, Nenzinha Esteves.
Minha
avó, viúva e fazendeira, inexperiente, com seis
filhos menores, foi convencida por parentes a casar-se novamente,
para desespero dos filhos, que não aceitaram bem o padrasto.
Minha mãe,
com 11 anos, veio para a cidade morar com o padrinho e tio paterno,
Francisco (Chiquinho) Guimarães e sua esposa, D. Guili.
Morou com os parentes até a idade adulta. Como não
estudou, sofria
com a vida acanhada como cozinheira na casa dos tios. Mas a
vontade de aprender levou-a a entrar no curso de corte e costura
no atelier de Nenzinha Esteves, esposa do deputado Esteves Rodrigues.
Lá recebeu seu primeiro diploma (ver foto), ponto de
partida para muitos outros cursos.
Ao receber os modestos restos da herança que sobraram
da inexperiência e inabilidade do padrasto, comprou uma
máquina Singer. Com ela costurava suas roupas e bordava
seu acanhado enxoval. Também fazia crochê muito
bem: tecia toalhas, colchas, vestidos e blusas. Nesta época,
morou certo tempo em casa de Nenzinha Esteves e, depois, em
casa de Ducho e da prima Geralda. Lá se casou.
Não imaginava, ao casar-se com Adail Sarmento, encontrar
nele um verdadeiro admirador e incentivador de seus talentos,
sempre pronto a disponibilizar os meios necessários para
a realização de suas aspirações.
Cozinhava admiravelmente. Fazia pratos sofisticados, aprendidos
nas receitas publicadas na revista “Seleções”.
Fazia também apreciados salgados que eram vendidos no
bar do marido. Fez cursos de bolos artísticos e aceitava
encomendas para festas de aniversários e casamentos para
ajudar no orçamento doméstico. Comemorava os aniversários
dos quatro filhos, onde exibia seus dotes em bolos temáticos,
salgados e doces admiráveis.
Nossa casa vivia cheia. Lá morou nosso avô paterno,
Joaquim Sarmento Sobrinho, assim como os tios, filhos do primeiro
e segundo casamento de vovó. Assistiu sua mãe
e o próprio padrasto doentes, assim como parentes do
meu pai (Tio Mingo) e até antigos serviçais (Sa´Ana,
sua lavadeira), cuidando de suas doenças até seus
momentos finais. Também assistia os vizinhos doentes,
parturientes, quem necessitasse. Procurava os também
samaritanos Pedro Santos e Dr. Hermes de Paula, parentes do
meu pai e os enfermeiros vizinhos, Azurém e Seu Clóvis,
sempre prontos a seu chamado.
Apartava brigas, reconciliava casais, dava conselhos e repreensões:
usava
a amizade de meu pai com o Cel. Coelho para resolver pendências
policiais dos vizinhos. Prestava serviços no Asilo São
Vicente e na Casa dos Pobres. Pelo Natal e Páscoa, visitava
os presos e preparavalhes uma refeição festiva.
Foi zeladora da Capela dos Morrinhos, onde organizava festas
e leilões. Pediu donativos para a compra das imagens
e paramentos. Trabalhava compulsivamente e era uma verdadeira
líder comunitária.
Maria foi uma mãe maravilhosa para seus filhos, assim
como para seus irmãos e para meu pai. Lutadora, enérgica,
incansável, defendia com garra e determinação
suas crenças e seus princípios.
Hoje, com a distância dos anos a incentivar a análise
de sua vida, cresce minha admiração pelo tanto
que lutou por nós, seu marido e seus filhos, principalmente.
Seu orgulho pelas nossas conquistas que, na verdade, foram só
dela. Sua lembrança vive em nossos corações,
viva e ainda incentivadora.
Grande Maria! Grande mãe, grande mulher!
Daniel
Oliva T. de Lélis
Cadeira n.º 83
Patrono: Cônego Newton d’Ângelis
Yury
Vieira T. de Lélis Mendes
Cadeira n.º 96
Patrono: Tobias Leal Tupinambá
MAJOR
DOMINGOS
GARCIA LEAL TUPINAMBÁ
Não
é de hoje que Montes Claros é uma cidade pólo.
Em sua gênese e em seu desenvolvimento, há a marca
indelével do forasteiro, daquele que mesmo não
nascido na cidade, ou na região, escolheu esta como a
sua terra. Tal característica por si só demonstra
a riqueza, a beleza, as nuances como estes Montes Claros se
desenvolveram e a força e vitalidade que tem hoje. Da
mesma forma, resgatar o papel desempenhado por esses homens
e mulheres é de suma importância para o entendimento
da história regional, sem contar as delícias de
se empreender essa viagem de volta ao passado. E é isso
que propomos.
O
nosso biografado nasceu aproximadamente em 1829 em região
próxima aonde hoje é o Município de Urandi
(antigo Villa Bella de Umburanas), então pertencente
a Caetité, no Sudoeste da Bahia, sendo filho de família
abastada, dono de grandes fazendas com enorme criação
de gado de corte e muitos escravos, verdadeiro latifúndio
da Bahia, com áreas extensas ocupadas por lavouras, inclusive
exploração do cacau, que era o forte da época.
Era filho de Clemente Garcia Leal e Laudelina Januária
de Novaes.
Major
Domingos Garcia Tupinambá
O
seu pai, Clemente Garcia Leal, foi fazendeiro, comerciante,
oficial militar e Herói da Guerra da Independência
do Brasil (1822-1824), na Campanha da Bahia (1822-1823), onde
lutou ao lado e por convocação de sua parentela,
os seus nobres primos, os destacados varões da Casa da
Torre: Cel. antônio Joaquim Pires de Carvalho e Albuquerque
(que viria a se tornar o Visconde com Grandeza da Torre de Garcia
d’Ávila), Cel. Joaquim Pires de Carvalho e Albuquerque
- o “Coronel Santinho” (que viria a se tornar o
Visconde com Grandeza de Pirajá), e Cel. Francisco Elesbão
Pires de Carvalho e Albuquerque (que foi Governador da Bahia
e viria a se tornar o Barão de Jaguaripe). Na mesma campanha,
também serviu ao lado de personagens históricas
como a “Soldado Medeiros” (Maria Quitéria
de Jesus Medeiros) e o Major “Periquitão”
(José Antônio da Silva Castro, avô do poeta
Castro Alves). Descendente dos Garcia D’Ávila,
da Casa da Torre, tem como origem mais remota o casal formado
pelo nobre português Diogo Álvares (Correa?), o
Caramuru (1475-1557), e a índia que ficou conhecida como
Paraguaçu1 (1495-1583), batizada na França como
a princesa Catarina do Brasil2, pois era filha de Taparica Tupinambá,
o Cacique que chefiava a tribo dos tupinambás, que dominavam
o litoral baiano. Clemente Garcia Leal descendia de Francisco
Dias d’Ávila Caramuru (o 2.º Senhor da Casa
da Torre3), filho de Isabel d’Ávila4 e Diogo Dias
5.
________________________________________
1 - Pela pena do Frei José de Santa
Rita Durão, em seu clássico Caramuru: poema épico
do descobrimento da Bahia (1781).
2 - Sendo seu verdadeiro nome provavelmente
Guaibimpará Tupinambá, a princesa brasílica
foi batizada com o nome de Katherine du Brézil a 30 de
Julho de 1528, em Saint-Malo, na França, na famosa Cathédrale
de Saint-Malo (cujo vigário da época era o monsenhor
Lancelot Ruffier), hoje Cathédrale de Saint-Vincent-de-Saragosse,
tendo como padrinhos o nobre senhor Guyon Jamyn, reitor de Saint-Jagu,
e madrinha Katherine des Granches, e Françoise Le Gobien,
filha do procurador de Saint-Malo. Katherine des Granches, a
madrinha de Paraguaçu, era esposa de Jacques Cartier,
o navegador francês, nascido em Saint-Malo, e um dos primeiros
exploradores da América do Norte (Canadá). Esteve
na Bahia em 1527, levando Caramuru e Paraguaçu para a
França.
3 - A Casa da Torre de Garcia d’Ávila
foi, originalmente, denominada por seu proprietário (Garcia
de Sousa d’Ávila) como Torre Singela de São
Pedro de Rates, em homenagem à cidade natal de seu pai
Tomé de Sousa, filho bastardo de Dom João de Sousa,
Prior da Igreja de São Pedro de Rates, com Mécia
Rodrigues de Faria.
______________________________________
O
Dicionário das Famílias Brasileiras, de Carlos
de Almeida Barata & Antonio Henrique Cunha Bueno, em seu
Tomo II, à Página 2216, assim diz:
Tupinambá:
sobrenome de uma antiga família da Bahia, descendente
dos Garcia d’Ávila, e também dos índios
Tupinambá, com ramificações em Montes
Claros, Minas Gerais, para onde passou, em 1892, o Major
Domingos Garcia Leal Tupinambá, natural de Caetité,
BA, que deixou descendentes, na Bahia e em Minas Gerais,
de seus dois casamentos (HP, MC, 361).
O
major Tupinambá possuía uma grande “tropa”
(que naquele tempo era a condução disponível)
com os melhores animais, todos escolhidos a dedo, o que lhe
rendia muitos elogios, que lhe deixavam verdadeiramente orgulhoso,
pois na realidade, aquela tropa causava inveja aos ricos fazendeiros
da época. Negociante de grosso trato, era muito forte,
com espírito aventureiro, e detentor de um apurado tino
comercial. Possuidor de vultosos recursos financeiros, com aquela
“tropa” viajava muito, por todos os recantos, conhecendo
a Bahia de ponta a ponta, fazendo grandes transações
comerciais na região do Nordeste do Brasil. Foi fundador
e subdelegado do Distrito de Furados, Termo de Caetité
(BA) – hoje Distrito de Tauape, no Município de
Licínio de Almeida (BA). Era oficial da Guarda Nacional
e membro do Partido Conservador (pelo qual já exerceu
a vereança), do qual se desligou mais tarde para se dedicar
exclusivamente às suas fazendas e negócios comerciais.
De seu primeiro casamento, com dona
Bernardina Alves Garcia Leal, teve três filhos e uma filha6.
Deixou, no comando do Distrito de Furados, os seus parentes
Cel. Marciano Garcia Leal7, o Cap. Clemente Garcia Leal (juiz
de paz) e Benedicto Garcia Leal Primo (industrial de alambiques).
_____________________________________
4 - Filha do instituidor do morgado da Casa
da Torre, Garcia d’Ávila (filho bastardo de Tomé
de Sousa, primeiro governador-geral do Brasil, por sua vez filho
bastardo de Dom João de Sousa, abade de Rates e descendente
de Martim Afonso Chichorro, filho bastardo do rei Dom Afonso
III de Portugal), com a cabocla cujo nome cristão (de
batismo) era “Francisca Rodrigues”, esta por sua
vez filha bastarda de Diogo Álvares, o “Caramuru”,
com uma índia tupinambá.
5 - Filho do nobre português Vicente
Dias, natural de Beja, com Genebra Álvares, uma das quatro
filhas do casal Diogo Álvares, o “Caramuru”,
com a princesa indígena Catarina do Brasil, a “Paraguassu”.
______________________________________
“TAUAPE,
A VILA DOS FURADOS
Autor: Dr. Dário Teixeira Cotrim (Gurungas)
Terra dos verdes campos, em doçuras!
Onde tens, ao longe, os bravios capinzais.
E neles, os gados pastam, sempre mais,
Desde o pé da serra inté as suas alturas.
Na
encosta os furados em terras duras
E nas manhãs vêm os ventos dos gerais,
Tangem eles, d’águas, as garças reais
Ah, velho DOMINGOS, quantas brancuras!
Tauápe, em lindas flores amarelas
Surge da história, em terras de Piedade,
Desenhadas em quadros de aquarelas.
Vê: tua velha igreja – quanta saudade!
E o casarão dos Sant’Ana: essas estrelas...
Eis os teus nédios, eis aqui a tua vaidade!”
___________________________________________________
6 - Clotildes Garcia Leal, mãe de Deocleciano
Lopes da Piedade, falecida em 11 de julho de 1897, sepultada
na Igreja de Nossa Senhora da Piedade, fundada e erigida pelo
seu pai.
7 - Intendente de Umburanas (equivalente hoje
a Prefeito de uma região que incluria os atuais municípios
de Urandi e de Licínio de Almeida), capitalista, fazendeiro,
agricultor, criador, recenseador, negociante de secos e molhados,
industrial de alambiques, Comandante do Estado-maior do 383°
batalhão de infantaria da Guarda Nacional etc.
__________________________________________________
TAUÁPE
– UMA HISTÓRIA BEM CONTADA8
(...)
Aqui, antigamente,
Só a mata existia,
Como de tudo acontece,
Porém chegou o dia;
Dessa mata ter valor,
Pro grande explorador, Vindo do Sul da Bahia
Veio em tropa galopante,
Era a única condução;
Pois carro naquela época,
Não tinha na região.
Pra fazer uma romaria,
O transporte em montaria,
Enfrentava o poeirão.
(...)
Essa história é verdadeira,
Tenho provas, sim senhor;
Revelo nesse instante,
O nome do fundador.
Domingos Tupinambá,
Aqui veio se instalar,
Como grande sonhador.
Parando, fez um barraco,
Bem perto da barragem,
A antiga cachoeira,
_____________________________________
8
- LEAL, Celene Castro Leal. Tauápe – Campos Verdes
com Flores Amarelas. Escrito em Tauape, Sudoeste da Bahia, a
10 de agosto de 2003.
_________________________________________________
Não
é mito nem miragem.
Encantou-se co’a beleza,
Deslumbrado co’a riqueza,
Interrompeu sua viagem.
Abriram muitos buracos,
Em lugares separados,
Por isso mesmo diziam,
O arraial dos furados.
Nem todo mundo queria,
Alguém até mesmo sorria,
Dizendo não. É Surados.
Os dias foram passando,
Ele deixa sua cabana;
Construiu primeira casa,
Do senhor Mário Santana.
Depois de vista tão bela,
Construiu uma capela,
Aumentou a sua fama.
Foi então que aconteceu,
A grande necessidade;
De construir a capela.
Para a felicidade;
Do povo da região,
Cumprir sua devoção,
Com a virgem da Piedade.
A imagem foi trazida,
Porque tinha um ideal;
Abençoar o seu povo,
Livrando-o do mal.
Como
nossa padroeira,
Também foi a primeira,
Vinda de Portugal.
Por causa da Padroeira,
Os nomes foram trocados,
Usando o nome da Santa,
Ao invés de ser furados,
Com muita seriedade,
Registraram por Piedade,
Mais um dos povoados.
As casas foram surgindo,
Aumentando a população;
As árvores iam sumindo,
Para cada construção.
Foi assim que Piedade,
Virou uma sociedade,
Com o povo da região.
(...)
Não falei sobre a data,
Pois veja, não esqueci;
Foi em mil oitocentos
Setenta e oito, por aí;
Domingos Garcia Tupinambá,
Pra Minas quis viajar,
Mas parou foi por aqui.
Do fundador sou um ramo,
Talvez até a raiz,
Pois pertenço à família,
De
um povo tão feliz;
Com orgulho sempre digo,
Mas não corro o perigo,
De empinar o meu nariz.
A humildade da família,
Veja bem e acompanha,
Garcia, família forte,
Como rocha e montanha;
Tem gente no estrangeiro,
Em cada Estado brasileiro,
E também na Piabanha.
Eu refiro a Piabanha,
Não nego o meu natural,
O nome do Coronel,
Registrado na capital;
Veio de família pobre,
Tornou-se nome nobre,
Marciano Garcia Leal.
Domingos Tupinambá,
Veio do Sul da Bahia,
Mas tinha um parentesco,
Que com respeito dizia;
Manteve sempre fiel,
Como primo do coronel,
Senhor Marciano Garcia.
Na base da união,
Da paz e camaradagem,
Resolvia uma questão,
Não perdia uma viagem;
Respeito
ali havia,
Coronel Marciano Garcia,
Era homem de coragem.
(...)
Tendo
o major Tupinambá ainda muito jovem se enviuvado, e sentindo
ainda paixão para viver, aumentou sobremaneira o fluxo
de suas viagens comerciais, notadamente para Montes Claros,
em Minas Gerais. Nesses longos trajetos, nestas andanças
pelo sertão de Minas Gerais, um dos pousos certos da
tropa do Major Tupinambá, era em Mato Verde, então
distrito pertencente ao Município de Boa Vista do Tremedal
(hoje Monte Azul), mais precisamente na estalagem do falecido
Sr. Jeronymo Soares. Pois bem! De certa feita, durante uma das
viagens, o major (já viúvo), sucumbiu à
febre e por dias ficou recolhido à pousada em Mato Verde,
onde esteve aos cuidados extremosos da viúva do Sr. Jeronymo
Soares da Silva, dona Felicidade Perpétua da Silveira9,
agora proprietária da estância. Com a saúde
reabilitada, o
____________________________________
9 - Nascida aproximadamente em 1857, no Distrito
de Serra Nova, Município de Rio Pardo de Minas (MG),
era filha de Francisca Cardosina da Silveira (falecida a 15
de julho de 1877) com Florentino José da Silveira, cujo
consórcio gerou 9 filhos (incluindo Felicidade), dentre
os quais Otávio Augusto da Silveira (bisavô do
senador Darcy Ribeiro da Silveira), Francisca Cardosina das
Chagas Silveira c/c Adelino José da Silveira (bisavós
do senador Carlos do Patrocínio Silveira) e Padre José
Patrício da Silveira, fundador e primeiro dirigente da
Paróquia de Santo Antônio da Rapadura (Mato Verde).
Seu pai, Florentino José da Silveira, nasceu em 1808,
na Freguesia de São Gonçalo do Rio Preto, Termo
de Diamantina (MG), do qual foi Distrito ainda em 1911. Foi
Negociante no Distrito de Serra Nova (Município de Rio
Pardo de Minas- MG) em 1840, fiscal municipal em 1842, e 4°
Juiz de Paz do mesmo Distrito em 1863. Lavrador, ingressou,
com sua esposa, aos 08 de setembro de 1843, na Irmandade do
SS. Sacramento da Vila. Faleceu a 24 de julho de 1878, em sua
Fazenda do Garrote, sendo sepultado em Mato Verde (MG). Foi
ele um dos fundadores dos povoados que dariam origem aos atuais
Município de Mato Verde (MG) e Distrito de Serra Nova
(Município de Rio Pardo de Minas-MG). Seu pai foi o inconfidente
João José da Silveira, fazendeiro, comerciante
e oficial militar que participou da Conjuração
Mineira (1789), fato este que ocasionou a sua fuga para aquela
região do atual Município de Mato Verde (MG),
estabelecendo-se, no fim do século XVIII ou início
do século XIX, na região de São João
do Bonito, com alguns ompanheiros que, após terem participado
da Inconfidência Mineira, ali chegaram, fugidos da perseguição
movida contra os inconfidentes.
_____________________________________
sentimento
de amizade, que não era novo, e o de gratidão,
esse recente, se transformaram em amor, prontamente correspondido.
Tempos depois, já de casamento marcado, o major Tupinambá
se despede de todos em Tauape, para rumar, em definitivo, para
uma nova vida no sertão mineiro. Preparou tudo para a
partida e na saída disse com toda seriedade: “Vou
para Minas Gerais em busca da Felicidade”.
Como
dito, dona Felicidade Silveira era viúva do Sr. Jeronymo
Soares da Silva, de quem teve dois filhos: Gedor Soares da Silveira
e Elvina Perpétua da Silveira (que se casou com o sócio
do major Tupinambá, Cristiano de Faria). Já da
união do major Domingos Garcia Leal Tupinambá
com dona Felicidade Perpétua da Silveira, nasceriam três
filhos em Mato Verde (Sebastião, Domingos e Tobias) e
uma filha em Montes Claros (Felicidade).
Tem-se notícias, ademais, da propositura de nomeação
ao Ministério da Justiça, em 1891, do então
tenente cirurgião Domingos Garcia Leal Tupinambá
para Major cirurgião-mór da Guarda Nacional da
Comarca de Boa Vista do Tremedal (atual Monte Azul), bem como
do capitão Antonio Garcia Leal10 para Major secretário-geral
da mesma corporação.
________________________________
10 - Natural da Província da Bahia,
o Coronel da Guarda Nacional, Antônio Garcia Leal (nascido
entre 1850 e 1852), fixou residência no antigo distrito
de Santa Rita, hoje Itamirim (Município de Espinosa).
Era filho de Sabino Garcia Leal e Simôa Rosa Luz, ambos
baianos. Casou-se duas vezes, e teve 11 filhos. Do primeiro
casamento, com a baiana Joaquina Apolinária de Jesus
(filiação ignorada), teve 05 filhos:
1) Henrique Garcia Leal (nascido em 1872),
casado com Blandina Alves Benjamim.
2) Gerônimo Garcia Leal (nascido em 1875),
casado com Francisca Cangussu Leal. Sem filhos.
3) Faustino Garcia Leal (nascido em 1877),
casado com Padrelina Angélica de Carvalho. Tiveram um
filho: Levindo Garcia Leal.
4) Augusto Cezar Garcia Leal (nascido em 1880),
casado com Josefa Vieira da Abadia. Tiveram 08 filhos.
5) Júlia Benvinda Garcia Leal; casada
com Antônio Fernandes Balieiro.
________________________________
Mas
o Major Domingos, dotado de grande visão, e vislumbrando
ampliar seus negócios, procurou expandir não somente
os seus horizontes, mas o de seus filhos, buscando um centro
maior para educá-los. Cheio de entusiasmo e confiança,
veio em 1892 para Montes Claros (MG), acompanhado de grande
comitiva. Várias famílias arrastou ele consigo,
dentre as quais as de: Cristiano Faria, seu sócio; o
Cap. Olegário Augusto da Silveira (filho de Otávio
Augusto da Silveira), sobrinho de sua segunda esposa (e portanto
primo carnal de seus filhos), pai da “Mestra Fininha”
e avô do Darcy Ribeiro da Silveira e do Mário Ribeiro
da Silveira; Arcelino Ribeiro, pai de Brasiliano, Bráulio
e Brasilino Ribeiro; Josué Profeta de Souza; Jacinto
Cardoso de Sá; Experidiano Vaqueiro e José Pacheco
de Melo, seu ex-escravo e amigo inseparável.
Apesar
de bem recebido pelas famílias montes-clarenses, muitas
das quais já relacionadas intimamente com o Major Tupinambá,
surgiu um impasse, pois havia aqui uma lei drástica contra
os mascates, e essa lei definia mascate como negociante de menos
de dois anos de residência no município. Ficou
assim o Major Tupynambás, recémchegado, enquadrado
na classe de mascates e sujeito a um imposto proibitivo.
Resolveu ele então voltar para Mato Verde com as armas
e bagagens, de onde veio com toda aquela mercadoria, cerca de
oitenta contos de reais já arrumada nas prateleiras.
De grande pesar se encheram seus amigos:
_____________________________________
Do
segundo casamento, com Ana de Jesus Leal, teve 06 filhos:
1) Adolfo Garcia Leal (nascido em 1885).
2) Filogôno Garcia Leal (nascido em 1902), casado com
Maria Júlia Borborema de Souza.
3) Petrina Garcia Leal (1904-1987), casada com Filogônio
Pereira de Souza.
4) Rodolfo Garcia Leal (nascido em 1913).
5) Maria Dias Leal (falecida com poucos dias de existência).
6) Levindo Garcia Leal.
____________________________________
não
era possível que proibisse a entrada de elementos de
progresso, somente porque uma lei injusta impedia. Devia haver
um jeito... e houve. A Câmara Municipal se reuniu extraordinariamente
e simplesmente revogou a lei, decidindo que a firma Tupinambá-Faria
não era constituída de mascates, podendo, portanto,
se estabelecer nas mesmas condições de outros
negociantes. Fixaram aqui, então, todos aqueles acima
citados e suas famílias11.
O
Major Tupynambá então se instalou definitivamente
em Montes Claros, como fazendeiro e grande negociante, com casa
comercial onde hoje é o antigo Conservatório Estadual
de Música “Lorenzo Fernandes”12, no centro
da cidade. Uma de suas fazendas, foi a importante “Fazenda
do Melo”, que compreendia os atuais bairros nobres do
Melo, Jardim São Luiz e Ibituruna... Tudo isso foi uma
dádiva para Montes Claros.
O major Tupinambá era extremamente católico. Tanto
é verdade que, ao fundar o Distrito de Furados (hoje
Tauape), construiu, no ano de 1878, uma capela para a qual mandou
trazer, de Portugal, um
____________________________________
11
- PAULA, Hermes Augusto de. Montes Claros: sua história,
sua gente e seus costumes. 2 ed., 1979, Volume II.
12 - A respeito do CELF, insta destacar a importantíssima
participação da Família Tupinambá
na história do conservatório. Dentre os descendentes
(por consanguinidade ou afinidade) do Major Tupinambá,
Felicidade Perpétua Tupynambá (neta), Cecy Tupunambá
de Ulhôa (neta) e Terezinha Machado Tupynambá (casada
com seu neto Antônio Augusto Tupynambá) foram suas
co-fundadoras e professoras. O ex-ministro e ex-deputado Oscar
Dias Corrêa (casado com sua bisneta Diva Tupynambá
Gordilho), quando Secretário de Estado de Educação
de Minas Gerais (Governo Magalhães Pinto), foi o responsável
pela estadualização do então Conservatório
Municipal de Música “Lorenzo Fernandes”.
Inúmeros outros de seus descendentes também lá
estudaram ou lecionaram, cabendo destaque para suas bisnetas
Martha Tupynambá de Ulhôa, Mary Tupinambá
de Lélis e Rachel Tupynambá de Ulhôa, esta
última também ex-Diretora do CELF.
___________________________________
potente
sino e a imagem de Nossa Senhora da Piedade, que a partir de
então se tornou a padroeira do povoado, que desde agosto
daquele ano realiza a festa da padroeira, a tradicional Festa
de Agosto.
Aqui um adendo se faz necessário. Em agosto de 2016,
depois de vários contatos prévios com a escritora
Celene Castro Leal, residente em Tauape (e nossa anfitriã)
e descendente da parentela do major Tupinambá, marcamos
de ir na comunidade, no último dia da tradicional festa
da padroeira, festividade essa que foi instituída pelo
major Domingos Tupinambá e que naquele ano completaria
138 anos. Ademais, os moradores de Tauape ansiavam por conhecer
os descendentes diretos de seu fundador, Domingos Garcia Leal
Tupinambá, o que muito nos honrou. E assim procedemos.
Saímos de Montes Claros assim que o sol raiou rumo à
Bahia. Viagem agradabilíssima, com paisagens deslumbrantes
da Serra Geral. Fomos rememorando os “causos” de
família, lembrando saudosamente das visitas que fazíamos
para nossa prima Ruth Tupinambá, das deliciosas histórias
do major contadas pela neta Cecy Tupynambá e pela bisneta
Mary Tupinambá de Lélis. E assim fluía
o tempo, cortando o território mineiro. Passamos em Janaúba,
Porteirinha, Mato Verde, Monte Azul e Espinosa. Já por
volta do meio dia, entramos em Urandi, já em terras baianas.
Atravessamos a Serra, por onde tantas vezes passou nosso antepassado
com sua comitiva, e chegamos ao Município de Licínio
de Almeida, de onde nos dirigimos para Tauape. Fomos recebidos
calorosamente pela população local, que disputava
nossa presença, motivo para nós de grata surpresa
e grande honra. Pelo adiantado da hora e por falta de tempo,
priorizamos as visitas às escolas locais, à rádio
local, à família Santana, mais precisamente ao
Sr. Aluízio e à Dona Elvira, respectivamente irmão
e viúva do Sr. Mário Santana, primeiro prefeito
de Licínio de Almeida; bem como Dona Maria Lúcia.
A noite foi de grande emoção. Missa lotada, fogos
em homenagem à padroeira, adentramos à nave da
igreja, nos dirigindo ao altar, ao som do Hino de Tauape (que
saúda a memória de seu ilustre fundador). Devidamente
apresentados, discursamos em agradecimento,
por tão bela acolhida e por sentir como a memória
do Major era por todos, cultuada. Em retribuição,
em nome de todos os descendentes de Domingos Garcia Leal Tupinambá,
oferecemos à população um quadro do Major
Tupinambá. Momentos como esses ficam para sempre marcados
na memória!
Continuando
no que tange à fé do major Tupinambá, nesse
mesmo sentido, vimos em Urbino de Sousa Vianna que:
O altar lateral da esquerda guarda S. Sebastião e
ao lado S. Vicente de Paulo, padroeiro da <<Conferência>>;
o da direita a imagem de Santo Antônio; aquelle feito
às expensas do devoto coronel Gregório José
Velloso e este do major Tupynambá 13.
Também a Revista Tempo nos dá nota de que:
A construção da igreja na Praça Portugal
foi uma iniciativa de José Joaquim Marques, que,
em maio de 1839, solicitou à Câmara Municipal
de Montes Claros uma licença para edificar a Capela
do Rosário, retirando-a do lugar de origem, a Praça
Santo Antônio e mu-
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13
- Monographia do Município de Montes Claros:
Breves Apontamentos Históricos, Geográphicos e
Descriptivos, p. 303.
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dando-a
para a Avenida Coronel Prates, onde se encontra hoje. Em
1887, uma obra de ampliação e reconstrução
foi iniciada por Domingos Garcia Tupinambá. Apesar
das transformações, a comunidade local julgava
a igreja como pobre, sem arte, pequena e mal situada em
relação ao alinhamento das ruas 14.
Mas
o grande sonho do Major Domingos, era ter um padre na família.
Tobias foi o filho escolhido para satisfazer este seu grande
sonho. Tratou logo de mandá-lo para o seminário
de Diamantina, cidade onde também estudaria seus outros
filhos: Sebastião15, Domingos e Felicidade16.
Mas,
de volta a Montes Claros para passar as férias com sua
família, Tobias logo se interessou pela “Menina
do Sobrado”, Josefina Mendonça, a bela filha do
Coronel Cassemiro Mendonça. Ao vê-la de longe,
na janela de um sobrado da Praça Dr. Chaves17, até
hoje existente, por ela se apaixonou. O jovem Tobias, na força
dos 17 anos e apaixonado, resolveu se casar. Não voltou
mais para o seminário, largando de vez a “batina”.
Porém seu pai, muito decepcionado, não aceitava
aquele casamento. Achava Tobias muito jovem, inexperiente e
que na certa logo esqueceria aquele inocente romance. Mas não
foi o que aconteceu. Porém, o major Tupinambá
não viveria para ver o desenrolar do consórcio
entre o jovem casal. Com 73 anos de idade, aos 6 de novembro
de 1902, faleceu o major Domingos Garcia Leal Tupinambá.
_________________________
14
- Revista Tempo, Edição n° 68 - set/2011.
15 - Sebastião também cursou
o Seminário de Diamantina e fez-se agrimensor prático
licenciado pelo Conselho Regional de Engenharia.
16 - Felicidade estudou no colégio das
freiras de Diamantina dos 7 aos 13 anos, quando regressou para
cuidar da mãe, em razão de adoecimento desta.
Casou-se aos 14 anos com Álvaro Augusto de Lélis,
com o qual foi morar, após a morte do sogro (Capitão
Camilo Cândido de Lélis), ocorrida em dezembro
de 1915, em Inconfidência, hoje Coração
de Jesus (MG), onde foi professora durante décadas.
17 - Ao lado do hoje Centro Cultural “Dr.
Hermes de Paula”.
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Três
dos seus quatro filhos se tornaram patronos de cadeiras de entidades
culturais norte-mineiras: Sebastião Leal Tupynambá
(Patrono da Cadeira nº 92 do Instituto Histórico
e Geográfico de Montes Claros e da Cadeira nº 28
da Academia Montesclarense de Letras), Tobias Leal Tupinambá
(Patrono da Cadeira nº 96 do Instituto Histórico
e Geográfico de Montes Claros) e Felicidade Perpétua
Leal Tupinambá (Patrona da Cadeira nº 09 da Academia
de Ciências, Letras e Artes de Coração de
Jesus). Também sua neta Felicidade Perpétua Tupynambá
se tornou a Patrona da Cadeira nº 36 do Instituto Histórico
e Geográfico de Montes Claros. Seu neto Antônio
Augusto Tupynambá descobriu as espécies Panstrongylus
tupynambai e Phlebotomus tupynambai, que levam o sobrenome da
família na Taxonomia Científica Internacional
em sua homenagem; além de ter sido co-fundador e professor
da Faculdade de Medicina da Unimontes, professor da Faculdade
de Medicina da UFMG e co-fundador e 3º presidente da Sociedade
Rural de Montes Claros (MG). Seu filho Eduardo Machado Tupynambá,
portanto bisneto do Major Tupinambá, é Doutor
em Direito Civil pela Université de Sorbonne (Paris –
França), por cuja tese foi premiado pelo Ministério
das Relações Exteriores francês, e ex-Diretor
da Faculdade de Direito da Unimontes. Outra bisneta do Major
Tupinambá, a artista plástica Yara Tupynambá,
ex-Diretora da Escola de Belas Artes da UFMG, foi aclamada como
a Primeira-Dama da Arte Mineira, tendo se tornado um símbolo
da mineiridade e transformada até mesmo em personagem
literária e de telenovela da Rede Globo (Hilda Furacão,
1998). Sua irmã, Diva Tupynambá Gordilho, também
bisneta do Major Tupinambá, casou-se com o ex Deputado
Estadual e Federal, ex-Ministro da Justiça (Governo Sarney),
ex-Secretário de Estado de Educação de
Minas Gerais (Governo Magalhães Pinto), ex-Ministro (Vice-presidente
eleito) do STF, ex-Ministro-Presidente do TSE e Imortal da Academia
Brasileira de Letras, Prof. Dr. Oscar Dias Corrêa, com
o qual é mãe do ex Juiz do TRE-MG e ex deputado
estadual, federal e constituinte, Dr. Oscar Dias Corrêa
Júnior; e avó do deputado estadual e ex-Secretário
de Estado de Esportes e Juventude de Minas Gerais, Dr. Gustavo
de Faria Dias Corrêa, respectivamente trineto e tetraneto
do Major Tupinambá. Também trineto do Major Tupinambá,
o consagrado Marcelo Lélis é um premiado escritor,
desenhista, ilustrador, cartunista e quadrinista brasileiro
com projeção internacional.
Cabe dizer, por derradeiro, que inúmeros dos descendentes
(por consanguinidade ou afinidade) do Major Tupinambá
se destacaram, de uma forma ou de outra, na vida social, política,
intelectual, artística e cultural da sociedade mineira.
Dário
Teixeira Cotrim
Cadeira N. 93
Patrono: Simeão Ribeiro Pires
MARIA
DAS MERCÊS
PAIXÃO GUEDES
Enquanto
o véu da noite enlutava as nossas vidas, com um momento
de infinita tristeza, o céu se preparava para receber,
com júbilo divino e a suprema emoção, a
ilustre confreira Maria das Mercês Paixão Guedes.
Não é, pois, uma questão de morrer, senão
o de renascer para Deus, um atributo normal para os que cultivam
e cultivaram, aqui na terra, a semente do amor e da caridade.
Como não cabe na feição deste pequeno elogio
fúnebre, uma explanação mais longa, para
o seu pleno merecimento, onde se fixassem todas as suas atividades
realizadas, principalmente no ambiente sócio/comunitário,
dizemos apenas que a alma generosa de Maria das Mercês
sempre esteve presente, para atender o que lhe pedia –
insistentemente – o bondoso coração. Neste
momento de dor e saudade, no egrégio Instituto Histórico
e Geográfico de Montes Claros os seus associados estão
tristes e todos chorosos. Não é só por
isto, mas porque choramos todos nós com a certeza de
que, nem mesmo a morte poderá interromper os seus ideais
de servir a Deus. Graças o seu amor dedicado a nossa
querida cidade de Montes Claros e, também, ao povo montes-clarense,
a acadêmica Maria das Mercês, como disse muito bem
o escritor Wanderlino Arruda, tornou-se uma condiscípula
atuante nos meios literários de nossa terra. Descanse
em Paz!
UM
POUCO MAIS SOBRE MARIA DAS MERCÊS
Natural
de Bocaiúva, MG, era filha de José Ladislau da
Paixão e de dona Maria do Amparo Figueiredo Paixão,
casada com Ivan de Souza Guedes, empresária, escritora
e mãe de quatro filhos Leonardo Paixão Guedes,
Lyntton José Paixão Guedes, Luciano Frederico
Paixão Guedes e Leandro Ivan Paixão Guedes e avó
de oito netos. Estudou na Faculdade de Direito do Norte de Minas
– FADIR (Unimontes), graduando-se no ano de 1969.
PUBLICAÇÔES: Publicou o excelente
livro “Magnificat”, escrito em parceria com a acadêmica
Milene Coutinho Mauricio. Belo Horizonte. Editora Lutador. 2002.
Também a biografia da professora Lilia de Andrade Câmara
1896 – 1973. Pela Editora Digipix de Belo Horizonte. Participou
da Revista do Instituto Histórico e Geográfico
de Montes Claros no I e II volumes. (Gráfica Editora
Millennium Ltda. 2007/2008). Maria das Mercês ainda publicou
vários textos em jornais e revistas de Montes Claros
e do Estado de Minas Gerais.
Livro
de Maria das Mercês Paixão Guedes sobre a biografia
da farmacêutica Lília de Andrade Câmara.
CERTIFICADOS
E CURSOS: Certificat D’etudes Du 3º Degré
L’Alliance Française de Montes Claros, em 1968;
Certificado do I Congresso Nacional sobre Ensino Audiovisual
de Francês, da Universidade Federal de Minas Gerais, em
Belo Horizonte, no ano de 1974; Certificado do Curso de História
da Arte e Arte Contemporânea; Curso de Base de Atração
Convivencial Humana, pela Faculdade de Filosofia, Ciências
e Letras de Montes Claros - FAFIL, no ano de 1974; Curso de
Atualização em Direito e Processo do Trabalho,
da Fundação Universitária Norte de Minas,
Montes Claros, no ano de 1975; Curso do Direito do Trabalho
para Executivos, pela Fundação Universitária
Norte de Minas, Montes Claros, no ano de 1976; Curso de Terapia
e Integração Pessoal, na Pontifica Universidade
Católica de Minas Gerais, em Belo Horizonte, no ano de
1987.
ASSOCIAÇÕES:
Ocupou o cargo de presidenta na Associação das
“Damas de Caridade”, em Montes Claros, durante o
biênio de 1987/88 e na Associação das “Amigas
da Cultura” de Montes Claros, no biênio de 1997/98.
Sócia efetiva do egrégio Instituto Histórico
e Geográfico de Montes Claros, onde ocupava a Cadeira
nº. 73, que tem como patrona a saudosa professora Lilia
de Andrade Câmara e, ainda, da Academia Feminina de Letras
de Montes Claros, onde ocupava a Cadeira nº. 37, que tem
como patrona Zenília Paixão. Sócia Benemérita
da augusta Academia Montes-clarense de Letras.
Dóris
Araújo
Cadeira N. 5
Patrono: Antônio Ferreira de Oliveira
ATÉ
QUALQUER DIA, PERÉ!
“As
lágrimas até aqui derramadas equivalem ao
mar de imorredouras saudades em que estamos todos mergulhados.”
( Haroldo Lívio)
Luís Carlos Vieira Novaes, o Peré, nasceu em Montes
Claros, aos 25 de dezembro de 1953. Grande jornalista, radialista
e notável escritor. Laborou em vários jornais
e rádios em Montes Claros e também em nossa cidade
vizinha, Janaúba.
Trabalhou por mais de dezesseis anos como editor - chefe no
Jornal de Notícias.
Em 2009, publicou, através do Grupo Oficina das Letras,
primeiro consórcio literário de Montes Claros,
o livro de crônicas Sapo na Muda.
Membro da Academia Montes-Clarense de Letras, ocupando a cadeira
de número 05; membro do Instituto Histórico e
Geográfico de Montes Claros, ocupando a cadeira de número
57.
Aos
cinco de outubro de 2014, parte o nosso estimado confrade Luís
Carlos Novaes, o nosso tão querido Peré.
Eu queria muito endereçar- lhe algumas palavras... No
entanto, tomada pela emoção, perco- me sem saber
como e o que dizer. Dizer o quê, Peré? O que dizer?
Dizer simplesmente que você é mais um dos queridos
amigos que nos antecedem à viagem de regresso ao mundo
espiritual, à verdadeira vida. Dizer que já sentimos
saudades... Dizer que nos deixou um bonito legado: exemplo de
coragem, afabilidade, generosidade, competência, e um
valoroso e reconhecido trabalho em prol do Jornalismo, da Cultura
: suas crônicas. Suas geniais crônicas, várias
delas, condensadas no esplêndido livro intitulado”
Sapo na Muda”. Obra muito aplaudida por aqueles que admiram
a boa literatura, pelos críticos e por seus pares no
caminho das letras.
Um belo livro pelo qual tivemos o prazer e o privilégio
de concentrar força e energia em favor do seu lançamento
no memorável projeto Livros na Praça, onde éramos
seus coordenadores ( meu esposo - o professor Sebastião
Abiceu, o escritor Dário Cotrim, que na ocasião
era o diretor da Biblioteca Municipal Antônio Teixeira
de Carvalho e eu). Projeto idealizado por nós e abraçado
pela Secretaria Municipal de Cultura, na administração
do prefeito Luiz Tadeu Leite. Evento que causou grande repercussão,
realizado em uma festiva manhã de domingo, na Praça
da Matriz, no stand do Livros na Praça,
onde inúmeros amigos e notáveis personalidades
estiveram presentes para prestigiá-lo, pois, com seu
carisma, Você conseguia, sem embaraço algum, congregar
uma multidão em seu entorno. Esse seu lançamento
foi um grande sucesso.
Lembro-me bem das inúmeras vezes em que, casualmente,
nos encontrávamos, você vinha irradiando sinceridade
e otimismo. Chegava sorridente, satisfeito, de banho recém
tomado, cheirando à fragrância de Patchouli. Um
cheiro de alma limpa e generosa, de gente do bem, cheiro de
poeta, de cronista, cheiro incorruptível do jornalista
respeitado. O admirável Jornalista, memorialista, sabedor
dos fatos, senhor das ideias, conhecedor do poder das palavras,
mediador da comunicação. Dono de um estilo graciosamente
leve, jocoso, bem humorado, cativante!
Fotografia
do nosso arquivo pessoal / Projeto Livro na Praça
As
nossas conversas geralmente giravam em torno do literário,
assuntos gerais, amenidades... O nosso diálogo finalizava
sempre com um gostinho gostoso de quero mais...
Obrigada,
amigo, pelas incontáveis vezes em que nos recebeu em
seu trabalho, colocando- se à nossa disposição,
dispensando- nos um espaço em seu jornal para que publicássemos
nele as nossas tímidas crônicas ou acanhados poemas.
Obrigada por compartilhar conosco generosa fatia de suas amizades,
de sua alegria, de sua vida.
Obrigada pelo carinho, pela confiança, pelo incentivo!
Seu perfume inconfundível continuará ininterruptamente
a nos envolver... não deixando nenhum intervalo, nenhuma
fenda, nenhum espaço vazio, nem mesmo uma brecha para
o esquecimento...
Suas obras o tornarão imortal em nossa memória,
em nosso coração.
Paz e luz, querido amigo! E até qualquer dia...
Dê por nós um bom abraço em todos os amigos
que o antecederam e que, certamente, o estarão aguardando
com luminosa alegria!
Até qualquer dia, Peré! Até!
Felicidade
Patrocínio
Cadeira N. 20
Patrono: Camilo Prates
A
“VITRINE CULTURAL”
DA ESCRITORA
ZORAIDE GUERRA DAVID
Encheu-me
de contentamento o convite para elaboração do
prefácio do livro “VITRINE CULTURAL da escritora
ZORAIDE GUERRA DAVID. Certamente que este privilégio
deve-se mais aos laços de amizade do que à capacidade
do meu texto. Mesmo assim, com simplicidade, agradeço
a honra e tento desincumbir-me de tão gratificante obrigação.
Para tal, iniciarei colhendo na própria fala da autora
uma citação significativa, e aqui, muito pertinente
“Os dons nos são dados para o serviço”-(
São Paulo.)
Esta reflexão ilustra de maneira completa o ser de Zoraide
Guerra David e sua relação com sua obra literária.
Ao desatar os avatares do seu ser criativo, Zoraide, ainda na
juventude, descobriu-se escritora e dentre suas múltiplas
capacidades neste vetor, o da palavra escrita; a poesia, a crônica,
a prosa, ela priorizou a história, percebendo certamente,
que esta é o “grande espelho da vida”. Percebeu,
desde o inicio, que seu olhar atento de escritora, seria capaz
de perseguir os fatos em busca de verdades nos exemplos de vidas,
e registrando-as poderia perenizá-las para a posteridade.
Nada fácil, mesmo assim enfrentou o desafio. Ao somar
sua reveladora intuição de biógrafa com
boa dose de talento literário, aliando aí uma
pertinaz vocação de servir assim como o sentimento
de obrigação, o seu esforço levou-a à
produção de uma obra vasta e de grande importância
no cenário da literatura e da história das regiões
norte de Minas, sul da Bahia e outras. De olho nas metamorfoses
esperadas e inesperadas do tempo, confirmou a direção
que lhe apontava sua sensibilidade e comoção e
começou a registrar histórias de cidades, histórias
pessoais, o que traduz a sua compreensão de que na memória
da humanidade está a memória do individuo.
A sua eloquência perceptiva procura captar nas entrelinhas,
um dito essencial, nas emoções mais escondidas
ou disfarçadas, o cerne que constitui o ser humano de
suas personagens vivas e é capaz, também, de reconstituir
no presente o brilho de presenças pretéritas.
Zoraide
Guerra David e sua obra literária
Eu
definiria esta produção que ora prefacio, acertadamente
denominada de “VITRINE CULTURAL” como o mapa de
um tesouro, pois ela nos descortina a riqueza imensurável
da produção literária da autora, e desperta
em nós, desejo e curiosidade para ir em busca de todo
esse manancial literário e por fazê-lo, nós,
que vivemos no presente da escritora, já comemoramos
o que o futuro agradecerá. Passarão os nossos
sonhos, a nossa dor e alegria, assim como os nossos feitos,
mas, os exemplos de vida registrados com esmero pela escritora
Zoraide, permanecerão. Serão como faróis
a iluminar modos de ser e viver em um contexto já perdido
na voracidade de Cronos. A síntese que nos apresenta
“VITRINE CULTURAL”, chama a atenção
para o caminho percorrido pela autora, que não é
outro senão o do registro da realidades e personalidades
com as quais estamos vivendo e convivendo e que nem sempre observamos.
Através da original ideia de nos apresentar neste, as
introduções de cada um dos seus livros, onde é
presença a ternura lírica da sua alma, assim como
os prefácios dos mesmos, escritos pelos nomes mais significativos
da cultura local, alguns vivos e atuantes, outros que já
se foram, do Dr. João Vale Maurício ao Padre Murta
que a aclamaram como baiana guerreira e, historiadora, diante
da qual nós somos obrigados a nos ajoelhar. De Wanderlino
Arruda, ao Dário Cotrim, à inesquecível
presidente da Academia Montes-Clarense de letras D. Yvonne de
Oliveira Silveira, à Manoel Hygino que disse que os livros
de Zoraide acrescentam um imprescindível capítulo
à história de Montes Claros, a escritora Zoraide
presta-nos o serviço do conhecimento da dimensão
da sua
obra. Paralelo à competência como escritora, não
podemos omitir, que habita em Zoraide Guerra David, um ser de
grandeza impar, perfazendo aquilo que todos, que almejam transcendência,
gostariam de ser. Apesar da sua estatura física delicada,
até mesmo mingnon, quando quero fitá-la devo elevar
os olhos.
Amantíssima
dos seus familiares, leme e força do seu inseparável
marido, o Dr, Ayer David Cerqueira, ela é, dos amigos,
amiga de presença e participação incomparáveis.
Nos gestos, sempre, a finura e generosidade. A beleza espiritual
de sua alma se materializa nas páginas que escreve, onde
registra o resultado da colheita dos dados dos seus biografados.
Seu nome tornou-se um uníssono quando se quer um trabalho
de registro perfeito da vida de uma pessoa ou de uma instituição,
para o conhecimento do presente e da posteridade. Assim foi
com a ACI, com a história do Corpo de Bombeiros de Montes
Claros, com a vida do intelectual poeta Patrício Guerra,
seu pai, do bem sucedido Ivan Guedes e outros.
Para não alongar, embora me apraza muito percorrer o
itinerário desta pessoa tão especial, a quem admiro
profundamente, volto às sábias palavras de São
Paulo ditas no inicio, em alusão aos talentosos e concluímos
que Zoraide, apenas com o que produziu até agora, já
correspondeu plenamente aos dons recebidos. Sua terra foi lavrada,
semeada, plantada, regada e a urdidura da sua faina fez florescer
e frutificar abundantemente, a árvore da sua literatura.
Resta a nós, felizes leitores, completar o conhecimento
da mesma e amparados pela leitura deste selecionado feixe de
textos do livro “Vitrine Cultural”, partir para
a leitura individual dos livros que neste, são apresentados.
José
Ferreira da Silva
Cadeira N. 49
Patronese: Irmã Beata
PADRE ALCIDES
Padre
Alcides, um grande sacerdote Alcides Francisco Cericato, nasceu
no dia 28 de janeiro de 1928, na Comunidade de Ciríaco,
distrito de Campo do Meio, município de Passo Fundo,
Rio Grande do Sul. Padre Alcides é o primeiro dos 11
filhos do casal Antônio Abelino Cericato e Maria Ferri.
Seus avós paternos, Francisco Cericato e Luiza Friches,
e avós maternos, Celeste Ferri e Pierina Cechin nasceram
na Itália. Alcides Cericato foi batizado no dia 20 de
abril de 1928, na paróquia de Nossa Senhora da Conceição
de Passo Fundo, pelo Pe. Rosenfeldt Palotino, tendo como padrinhos
Pedro Cericato e Virgínia Cericato. Mais tarde, no ano
de 1932, do dia 9 de novembro, foi crismado na Capela de Santa
Terezinha de Ciríaco pelo Bispo de Santa Maria - RS,
Dom Antônio Reis, e seu padrinho foi seu avô, Francisco
Cericato. Aos 9 anos fez a primeira comunhão, sendo celebrante
o Pe. Henrique Hittingen MSF e a sua catequista, a sua bondosa
mãe. Em 1935 entrou para a escola primária em
Ciríaco, e no dia 26 de fevereiro de 1942 entrou para
o Seminário Sagrada Família em Santo Ângelo,
mas uma dupla pneumonia o atacou. Por este motivo retornou para
casa. No ano de 1943 retornou para o seminário, que tinha
como reitor o Pe. João Maria Arnd. Concluiu o 2º
grau em 1949 e iniciou o noviciado em 11 de fevereiro de 1950.
Seus votos aconteceram no dia 11 de fevereiro de 1951 e os votos
perpétuos no dia 11 de fevereiro de 1954. O subdiaconato
aconteceu no dia 9 de junho de 1955 e o diaconato no dia 12
de junho do mesmo ano. A ordenação sacerdotal
ocorreu no dia 8 de dezembro de 1955, na catedral de Passo Fundo
das mãos de Dom Cláudio Coling. Padre Alcides
presidiu a primeira missa em Ciríaco em 11/12/1955.
O
Padre Alcides não se limitou ficar em seu estado, trabalhou
em vários estados do Brasil como verdadeiro missionário
de Deus sem priorizar estados e paróquias do nosso imenso
país. Podemos citar algumas cidades que ele trabalhou
ao longo dos 60 anos de sacerdócio: Ibiaçá,
Santo Ângelo e Catuipe no Rio Grande do Sul; Caibi e Maravilha
em Santa Catarina; Jucás, Carius e Arneiros no Ceará;
Patu, Natal e Alecrim no Rio Grande do Norte; Buique em Pernambuco;
Bairro Saúde, Rio de Janeiro; finalmente Januária
e Montes Claros em Minas Gerais.
O
impressionante na vida desse missionário ao longo do
seu sacerdócio foi a disponibilidade e o desprendimento
à sua missão. Dizia ele que o motivo principal
de tantas transferências foi um propósito no tempo
de seminário de estar sempre à disposição
dos superiores e de não prender-se a lugares e pessoas.
Depois de uma incansável trajetória por várias
cidades e paróquias do sul ao norte do Brasil, finalmente
chega a Montes Claros em 2007, fixando residência na Paróquia
Menino Jesus de Praga até a sua morte em 23 de abril
de 2017.
Felizmente, convivi com o Padre Alcides durante 9 anos como
ministro extraordinário da eucaristia e observei que
ele foi verdadeiro missionário de Jesus, pois era um
homem simples, humilde, prestativo, carismático, sensível
às necessidades dos fiéis, pontual, sério,
contador de histórias e agradável. Por isso, podemos
afirmar que a vida do Padre Alcides foi como São João
Maria Vianney declara que o sacerdote é o amor do coração
de Jesus. Faleceu no dia 23 de abril de 2017, deixando-nos um
grande exemplo do cumprimento da Palavra que nos fortalece para
a vida eterna no paraíso celeste.
José
Ponciano Neto
Cadeira N. 24
Patrono: Celestino Soares da Cruz
LUIZ DE PAULA
O VARZEA-PALMENSE
QUE REVOLUCIONOU
MONTES CLAROS E REGIÃO
“Chegar
aos 100 anos é empreender uma travessia pelo mundo
lá fora e dentro de si. É da vida: o tempo
e a lucidez se (e nos) encontram com o passar dos anos”.
Luiz de Paula Ferreira nasceu em 27 de Junho de 1917 em Várzea
da Palma - MG um Povoado de Pirapora-MG. Seus pais o Sr. Joaquim
de Paula Ferreira (comerciante na localidade) e Emília
Mendonça de Paula. Época que surgia a Estrada
de Ferro.
Este menino nasceu, e logo veio o tétano neonatal, mais
conhecido como o “mal de sete dias”. Temendo que
o filho morresse “Pagão”; no dia 30/06/17,
a pedido da sua esposa, Sr. Joaquim procurou as pressas o homem
mais religioso de Várzea da Palma para batizá-lo.
Ainda dentro de casa, ao lado da cama onde Dona Emília
cultivava o “resguardo” - sob os auspícios
de Deus - o menino foi levado aos braços de Sr Bertulino
P. Ribeiro e de Dona Alzira Ponciano V. Ribeiro – bisavô
e avó deste escriba – no qual me orgulho.
Graças às orações dos pais, do ferreiro
Sr. Bertulino e a vontade de Deus o menino se salvou da doença.
Depois da primeira batalha vencida, meses depois o neófito
foi oficialmente batizado na Igreja de Pirapora e recebeu o
nome de Luiz de Paula Ferreira – inicialmente iria receber
o nome de Luiz Gonzaga de Paula Ferreira – o Sr. Joaquim
não gostou do “Gonzaga”, que foi retirado
no momento do registro. É o que foi narrado pela minha
avó, Dona Alzira Ponciano.
O certo que o menino nasceu, depois curou-se e saiu para o mundo
para trabalhar e estudar.
Tornou-se Contador, Deputado Federal (1967/70), Advogado, compositor,
escritor, historiador e um grande visionário empreendedor.
Casou-se com a Mestra Isabel Rebello de Paula, mulher de uma
civilidade e humildade imensurável. - Certo dia fui à
casa da família situada à Rua Dr. Santos para
resolver uma demanda da empresa que trabalho, e lá encontrei
Dona Isabel com os afazeres de casa na maior simplicidade do
mundo. Aquela imagem deixou-me admirado, devido a sua posição
social e financeira. Somente a intelectualidade de uma pessoa
pode engrandecê-la daquela forma. É uma grande
mulher.
Sr. Luiz de Paula começou muito cedo suas andanças
pelo o mundo trabalhou com seu pai, o Tio Basílio de
Paula, de balconista nos comércios dos amigos da família,
que lhe rendeu uma experiência meteórica.
Ainda criança (nos anos 30) foi trabalhar em Juramento
– MG em uma casa de armarinho.
A sua chegada ao povoado foi narrada em um dos seus livros:
- “A chegada a Juramento foi decepcionante. Eu viera a
cavalo, desde Glaucilândia. Ao descer o Morro da Barriguda,
abarquei com a vista o povoado. Era um pequeno aglomerado de
casas, no fundo de uma depressão, no vale do Rio Juramento,
cercada por serras e morros. A população, como
vim, a saber mais tarde, pelo censo de 1940, era de 545 pessoas
na sede do povoado e mil e poucas na zona rural”. Diz
o menino Luiz.
Ali, o menino trabalhou por algum tempo, seguiu para Glaucilândia/
MG, onde trabalhou em casa comercial tipo “tem-tudo”
– foi trabalhador braçal e aprendiz na agência
da Estação da Estrada de Ferro, com o pequeno
salário pagava suas diárias na pensão.
A vida foi passando, este menino cresceu virou adulto, começaram
surgir novos desafios. Em 1936/7 fundou o Rotary Club em Montes
Claros, voltou para Juramento–MG como sócio-gerente
de uma Casa Comercial, e logo retornou a Montes Claros.
Com o apoio do Rotary Club Internacional – no qual foi
Governador - inicia uma série de benfeitorias para o
Norte de Minas.
Lembro-me da famosa Algodoeira Luiz de Paula (foto). A Algodoeira
possuía um ramal ferroviário à sua porta
e uma plataforma para carga e descarga de algodão, um
escritório, onde, de vez em quando, eu ia receber os
erários das notinhas dos serviços prestados aquela
empresa pelo meu avô Sr. Ponciano e meu Sr. Manoel Ponciano
– ferreiros de profissão como era o Sr. Bertulino.
Hoje a Algodoeira foi transformada em um Educandário.
O ensino foi sempre o foco do Sr. Luiz de Paula. Vejamos a Faculdade
de Filosofia Ciências e Letras – FAFIL, que originou
outras faculdades que fomentaram a criação da
Fundação Norte Mineira de Ensino Superior –
FUNM e posteriormente a Unimontes. A criação da
antiga Fafil, instalada em 1963 e que, inicialmente, teve como
mantenedora a Fundação Educacional Luiz de Paula
– FELP –, sendo incorporada à FUNM em 1966.
Tendo como um dos fundadores, Padre Jorge Ponciano Ribeiro ao
lado das professoras Isabel Rebello de Paula, Maria
Florinda Pires, Maria Isabel (Baby) Figueiredo Sobreira e Maria
da Consolação (Mary) Figueiredo.
Luiz
de Paula Ferreira
Sr.
Luiz de Paula também fez a doação de um
quarteirão na Av. Dulce Sarmento, com 5.000m2; além
de dinheiro, para a construção da Escola do Ensino
Profissional do SENAI, hoje ainda funciona muito bem.
Sr. Luiz de Paula sempre foi um grande visionário. Ele
não enxergava o setentrião mineiro encapelado
pelo o Sol ardente e a falta d’água, como o Cabo
das Tormentas. Com a visão de Vasco da Gama e com a experiência
exitosa da Algodoeira, ele conseguiu transformar o Norte de
minas em Cabo da Boa Esperança.
Com foco na indústria, este “caixeiro viajante”
do desenvolvimento econômico e social da região,
ingressou a sua terra natal (Várzea da Palma) na era
da industrialização; com o apoio do Rotary Internacional,
maçonaria, outras instituições e, sempre
a frente, o Sr. Luiz de Paula implantou na cidade várias
indústrias.
Com o Polo Têxtil do Norte de Minas não foi diferente.
Face da habilidade e a coragem adquirida ao longo do tempo,
o idealizador da Coteminas fez a doação do terreno
de 150 mil metros quadrados em frente ao antigo aeroporto, para
a construção da maior empresa empregatícia
da cidade.
Mas, para que o seu sonho fosse realizado, foi necessário
o apoio do Rotary Club junto á SUDENE e a parceria com
José Alencar Gomes da Silva proprietário da fábrica
de confecções Wembley em Ubá-mg.
A Coteminas foi implantada em 1971 e inaugurada em 1975 com
as presenças do então Prefeito Moacir Lopes e
do Governador do Estado Rondon Pacheco. Como várias outras
indústrias da época, a empresa também foi
beneficiada com incentivos de ordem creditícia, na forma
de financiamentos diretos, tendo como contrapartida empregos
que privilegiavam os montes-clarenses.
Outros benefícios vieram por meio do prestigio do empresário
Luiz de Paula Ferreira, além de todas as indústrias
contemporâneas, o asfaltamento da BR-135, trecho Curvelo
- Montes Claros - Colonização de Jaíba
- Asfaltamento da BR-365, no trecho Pirapora – Canoeiros
(BR-040) - Recursos para a construção da estação
de passageiros do Aeroporto de Montes Claros - por intermédio
do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais, liderou um projeto
para implantação do Frigorífico Norte de
Minas – Frigonorte, e muitos outros.
A este irmão da Ordem Maçônica, obreiro
da Loja Maçônica Deus e Liberdade, e confrade da
Academia Maçônica de Letras do Norte de Minas e
do Instituto Histórico e Geográfico de Montes
Claros, compositor da canção Montes Claros Centenária,
sinceramente Ir,’, gostaria que a genética mudasse
as combinações dos genes, e o contemplasse com,
pelo menos mais 50 anos de vida, para Montes Claros voltar a
crescer.
Feliz centenário!
Algodoeira
Luiz de Paula S.A.
Leonardo
Álvares da Silva Campos
Cadeira N. 97
Patrono: Urbino Vianna
ENTREVISTA PARA O INFORMATIVO DO IHGMC
Leonardo
Álvares da Silva Campos nasceu em Montes Claros, em 03
de junho de 1953, filho de Bento Álvares da Silva Campos
e de Terezinha Peres Álvares da Silva Campos. Estudou
nos Colégios São José, Dulce Sarmento,
São Norberto e CB-MOC, concluindo o curso de Direito
na Faculdade de Direito do Norte de Minas - FADIR, da Fundação
Universidade Norte de Minas - FUNM, hoje Universidade Estadual
de Montes Claros - UNIMONTES.
Entrou para o jornalismo aos 16 anos de idade, no jornal “Diário
de Montes Claros” (hoje extinto), a convite de um de seus
proprietários, Júlio César de Melo Franco,
tendo iniciado na página policial e depois na editoria
de cidade, sendo seu preceptor o também jornalista Jorge
Silveira. Chegou a editor desse jornal, assinando também
as colunas “Vida Estudantil”, em substituição
a Itamaury Teles de Oliveira, e “Passado & Presente”,
editando ainda a “Página Literária”,
fundada por João Valle Maurício, em substituição
a Jorge Silveira.
Também foi editor dos jornais “Jornal do Norte”
(já extinto), de propriedade de Américo Martins
Filho e Jorge Antônio dos Santos, e “O Gorutuba”,
de Janaúba, então de propriedade do jornalista
Raimundo Brandão. Entre os anos 70 e 80, foi colaborador
do suplemento de cultura do jornal belo-horizontino “Estado
de Minas”. Foi um dos fundadores da Academia Juvenil de
Letras de Montes Claros – ACAJUL, sendo também
membro da Academia Montesclarense de Letras, do Instituto Histórico
e Geográfico de Minas Gerais e do Instituto Histórico
e Geográfico de Montes Claros. Lecionou ainda, como professor
substituto do civilista Sidney Chaves, a matéria Introdução
à Ciência do Direito, na mesma FADIR em que se
formou. Advoga na área cível desde setembro de
1983. Foi sócio correspondente da Sociedade Orquidófila
de Belo Horizonte, sendo presentemente sócio e um dos
fundadores do Clube dos Amigos dos Pássaros de Montes
Claros e do Norte de Minas - CAPAMN, cujo estatuto é
de sua lavra.
Em 1979, participou, como conferencista, do XIII Congresso Nacional
de Espeleologia, promoção da Sociedade Excursionista
e Espeleológia, da Escola de Minas da Universidade Federal
de Ouro Preto. Apresentou ainda o trabalho “Grutas e Abrigos
na Memória Nacional” durante o I Seminário
Regional sobre Conservação da Natureza - SERCON/Norte
(Montes Claros), de 31 de agosto a 03 de setembro de 1981, promovido
pelo Governo do Estado de Minas Gerais, Prefeitura Municipal
de Montes Claros e Núcleo de Tecnologia em Ciências
Agrárias, da Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG,
dentro do tema de abertura, “A Natureza na Preservação
da Memória Nacional”. Foi conselheiro e vice-presidente
do Conselho Consultivo do Patrimônio Histórico,
Artístico e Cultural de Montes Claros (1990/1991), e
também membro da Comissão de Cultura da Ordem
dos Advogados do Brasil – Subseção de Montes
Claros (MG), na gestão do presidente Francisco Alencar
Carneiro. Lançou os livros “O Homem na Pré-História
do Norte de Minas” (único original selecionado
em concurso nacional pela Comissão de Apreciação
do Mérito das Publicações, da Imprensa
Oficial do Estado de Minas Gerais, em 15 de fevereiro de 1982);
“A Inacabada Família Humana”, pela Editora
Armazém de Ideias, de Belo Horizonte, em 2008; e “Saluzinho,
Luta e Martírio de um Bravo (A Sociologia dos Conflitos
Agrários no Brasil)”, pela D’Plácido
Editora, em 2014, 1ª edição de 3.000 exemplares
esgotada – esta última obra lhe valeu o “Prêmio
Projeção e Oscar de Minas” como “obra
literária do ano”, promoção do colunista
social João Jorge (jornal “O Norte”/Programa
“Revista Gerais”, Canal 2, Montes Claros), em 09
de maio de 2015. No Concurso Norte-mineiro de Poemas, Contos
e Crônicas, realizado em Janaúba, em 20 de fevereiro
de 1987, promoção da mídia local e Prefeitura
Municipal, ficou em primeiro lugar em crônica, com “Flor
de Pólvora”, e em segundo lugar em conto, com “2001”.
Participou do Curso de Aperfeiçoamento em Informações
Turísticas, ministrado pelo Serviço Nacional de
Aprendizagem Comercial – SENAC, no período de 20
de maio a 07 de junho de 1974, em Montes Claros, dentro do Programa
Intensivo de Preparação de Mão de Obra
no Vale do São Francisco (convênio SUVALE/PIPMO/ABCAR).
Recebeu o “Diploma Jair de Oliveira”, da I Delegacia
Regional do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas
Gerais, em 24 de fevereiro de 1984, pelos seus relevantes serviços
prestados à comunidade montesclarense, nas comemorações
do primeiro centenário da Imprensa local.
Recebeu
mais o “Diploma de Mérito Godofredo Guedes”,
da Sociedade Cultural Montes-clarense (então formada
por músicos, atores, artistas plásticos, escritores,
compositores, bailarinos, produtores de moda, desportistas,
agentes de viagem, artesãos, educadores, intelectuais
e demais formadores de opinião de Montes Claros), em
21 de dezembro de 1995, por méritos comprovados no campo
da Espeleologia, área de Patrimônio Histórico.
Recebeu três vezes o “Prêmio Parnaso de Cultura”,
em 2004, 2014 e 2016, promoção anual do escritor
José Luiz Rodrigues, em Montes Claros. Foi homenageado
com um poema, ao lado dos também escritores e pesquisadores
Arthur Jardim de Castro Gomes e Simeão Ribeiro, pelo
literato José Prudêncio de Macêdo, em seu
livro de poemas “Entre outras coisas... Eva”, na
parte “Perfilando Acadêmicos”, Editora Gráfica
Polígono, Montes Claros, 1986. Participou com artigos
e/ou trabalhos literários nas seguintes publicações:
“Montes Claros, sua História, sua Gente, seus Costumes”,
Hermes de Paula, Minas Gráfica Editora Ltda., volume
2, 1979 - “Antologia montes-clarense”, pág.
262 (“Pisa sertaneja”); “Revista do Instituto
Histórico e Geográfico de Minas Gerais”,
Imprensa Oficial de Minas Gerais, volume XXI, 1986/1991, págs.
370/373 (“Da Pangeia à quica-d’água,
uma nova explicação para a dispersão dos
marsupiais”) e 375/377 (“O ermitão dos socavões”);
“Antologia da Academia Montes-clarense de Letras”,
edição comemorativa dos vinte anos de sua fundação
(1966/1986), volume II, Barvalle Ind. Gráficas Ltda.,
págs. 141/143 (“Um Homem Justo”), 144/145
(“O ermitão dos socavões”), 145/146
(“Penas amarelas, lindas, mortas...”), e 146/148
(“Sinfonia de Nadinha”); “Sesquicentenário
da Vila Diamantina”, Imprensa Oficial de Minas Gerais,
1983, págs. 273/279 (“Assim nasceu Diamantina,
berço de JK e onde ‘reinou’ Chica da Silva”);
“Dados Históricos & Lei Orçamentária”
– Coração de Jesus,
1984, págs. 19/20 e 23/24; “Menino Pescador”,
Reivaldo Canela, editora não informada, 2008, págs.
02/05; “Os Filhos do Dragão Cospem Fogo”,
editora não informada, 2012, págs. 131/132 (“E-mail
enviado pelo escritor Leonardo Campos”), 133/136 (“A
Ética e a Moral”), 137/141 (“Eta mulher sem
vergonha”), 143/145 (“Demônios que vêm
com a noite”), 305/310 (“Encruzilhada das línguas
viperinas”) e 311/321 (“Nunca estaremos com a morte”);
“Revista do Instituto Histórico e Geográfico
de Montes Claros”, volume XIII, 2º semestre de 2014,
págs. 79/84 (“As Múmias de Itacambira Explicadas”);
“Revista do Instituto Histórico e Geográfico
de Montes Instituto Histórico e Geográfico de
Montes Claros”, volume XVI, 1º semestre de 2016,
págs. 53/56 (“O Falso Dr. Douville”).
Como
especialista em paleoantropologia - A paleoantropologia
é o estudo do homem primitivo, sua origem e evolução,
dentro do limite do tempo pré-histórico. Seu surgimento
se deu na África, num período entre 2,8 milhões
e 3,2 milhões de anos, quando ali pululou uma série
de hominídeos, entre os quais o homem, o único
que estreou naquele cenário dotado de inteligência.
Tratava-se do “Homo habilis”, sucedido pelo “Homo
erectus”, há 300 mil anos, e, por fim, pelo “Homo
sapiens”, que somos nós. O homem de Neandertal
era um tipo especializado para enfrentar o período glacial
do seu surgimento, desaparecendo, contudo, com o pós-glacial,
mas sem antes ter-se miscigenado com o “Homo erectus”,
conforme irrefutavelmente comprovado com as pesquisas do genona
humano. Foi o “Homo sapiens” primitivo que conseguiu
realizar a travessia Ásia/América, deixando a
Sibéria e chegando ao Alasca, no último glacial,
através do Estreito de Bering, há cerca de 13
mil anos. Todavia, pesquisas em São Raimundo Nonato,
na Serra da Capivara, no Piauí, têm mostrado uma
ocupação acima de 50 mil anos passados e talvez
se estendendo há 100 mil anos, provavelmente mercê
de uma travessia pelo Oceano Atlântico procedente da África,
que então atravessava um período de seca tremenda.
A América mostra dois tipos morfológicos, pelo
estudo de diversos crânios, inclusive em Lagoa Santa (MG):
negroides e mongoloides (asiáticos). Foram as primeiras
levas destes últimos que penetraram o continente americano
pelo Estreito de Bering.
Livros
publicados. - O meu primeiro livro publicado, “O
Homem na Pré-História do Norte de Minas”
teve seus originais selecionados, a nível nacional, pela
Comissão de Apreciação do Mérito
das Publicações, da Imprensa Oficial do Estado
de Minas Gerais, em 1982. É uma obra eminentemente de
paleoantropologia, não deixando de passar um pouco pela
espeleologia (estudo de cavernas) mineira, uma vez que os nossos
primeiros ameríndios ocupavam abrigos calcários,
inclusive em seus rituais religiosos e fúnebres. São
abordadas a origem, evolução e disperção
do homem da África, Ásia, Europa e continente
americano, sua sobrevivência, costumes, alimentação
e manifestações parietais (sinalações
rupestres).
O
segundo, “A Inacabada Família Humana”,
publicado pela Editora Armazém de Ideias, foi escrito
entre 2004 e 2008. É uma obra envolvendo sociologia,
filosofia, crimes contra a humanidade, relações
homem-mulher, ecologia, etc., sendo também semiautobiográfico.
Nelas não são citados nomes, mas inúmeros
personagens do passado recente e do presente de Montes Claros,
ora chamada de País de Tropicana, ora de Necrópolis,
estão ali retratados em número considerável:
advogados, juízes, escritores, colunistas sociais, políticos,
homens tidos como probos, intelectuais e moralistas, etc. Enfim,
é o oposto do chamado “jucapratismo”.
O
terceiro e último, “Saluzinho, Luta e Martírio
de um Bravo (A Sociologia dos Conflitos Agrários no Brasil)”,
Editoria D’Plácido, 2014, teve esgotada a sua primeira
edição, de três mil exemplares, sem contar
a comercialização de e-book, principalmente em
outros estados, com vendas pela Saraiva e Cultura. A segunda
edição deverá ser lançada até
o final deste ano. Saluzinho, um sertanejo que obteve notoriedade
no ano de 1967, ao enfrentar armado policiais militares de Montes
Claros e destacamentos de municípios das redondezas de
dentro de um abrigo calcário situado em Varzelândia.
Deu-se a contenda por quatro dias e quatro noites, na Serra
da Onça. Ao final, a Polícia Militar não
obteve êxito, porque Saluzinho somente se entregou a um
delegado do DOPS, que lhe garantiu a vida. Ele defendia sua
posse, por sucessão do seu falecido pai, enveredando-se
o livro, no pormenor, pelo Direito Agrário, explicando,
à luz do nosso ordenamento jurídico e jurisprudencial,
que a terra devoluta nunca é necessariamente do Estado,
mas, sim, de quem nela primeiro faz posse (a terra adéspota,
ou “nullius”, precisamente o caso de Saluzinho defendendo
suas terras de grilagem de fazendeiro abastado da época.
Os
movimentos culturais de Montes Claros.
- Os movimentos culturais em Montes Claros, presentemente, encontram-se
de roupagem nova e mais alvissareira, mercê de instituições
voltadas para os mesmos, mormente o Instituto Histórico
e Geográfico de Montes Claros e a Academia Montes-clarense
de Letras, e o interesse também de particulares e grupos
ligados ao folclore e serestas, passando ainda pelo “Psiu
Poético”, que sobrervive ante a luta elogiável
de Aroldo Pereira, e ainda por artistas plástico de renome,
como Yara Tupinambá, Carlinhos Araújo, Afonso
Teixeira e outros. É ainda pífio o apoio de setores
da vida pública, como União, Estado (com exceção
de determinados setores da Unimontes) e Município (exceção
também para a Secretaria Municipal de Cultura, administração
de Antônio Lafetá Rebello, Ruy Muniz e o atual
chefe do Executivo municipal). Lembrando rapidamente nomes de
peso cultural do passado, como Hermes de Paula, Plínio
Ribeiro, Simeão Ribeiro Pires, Geraldo Tito Silveira
e Olyntho Silveira, Arthur Jardim, José Alves de Macedo
(que era radicado em Coração de Jesus), Yvonne
Silveira e Nelson Vianna, José Luís Rodrigues
e Raphael Reys, têm-se presentemente os continuadores
dos nossos melhores movimentos culturais, como Dário
Teixeira Cotrim, Wanderlino Arruda, Lázaro Francisco
Sena (presidente do Instituto Histórico e Geográfico
de Montes Claros),
Raquel
Mendonça, Mara Narciso, Amelina Chaves, Ubirajara Macedo
(radicado em Coração de Jesus) e João Rodrigues
(secretário de Cultura) e muitos outros. Enfim, para
que não se incorra no risco do esquecimento por lapso
de memória, devo frisar, como baluartes dos nossos movimentos
culturais, todos os membros do Instituto Histórico e
Geográfico de Montes Claros, Academia Montes-clarense
de Letras, Academia Feminina de Letras e instituições
outras similares.
O
Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros
é, a todas as luzes, a instituição cultural
que precisava, vindo para preencher a lacuna da inexistência
de organismo a congregar os verdadeiros
historiadores e geógrafos de Montes Claros e região.
Ganhou Montes Claros, porque na troca de ideias e congraçamento
dos verdadeiros pesquisadores, da história e da geografia,
brotam incentivos maiores a que se possa penetrar mais e mais
nas ocorrências do passado, que é o alicerce do
presente e futuro. Quem não conhece seu passado provavelmente
terá dificuldades em sua formação moral
e ética para somar numa nação melhor de
se viver. Sempre sonhei com uma instituição de
tal naipe entre nós, a qual, agora, vem dando passos
largos para fazer brotar outra necessidade premente, qual seja
a criação de um museu da imagem e do som neste
setentrião mineiro.
Manoel
Messias Oliveira
Cadeira N. 60
Patrono: Jorge Tadeu Guimarães
A
CRISE HÍDRICA
“Louvado
seja, meu Senhor, pela irmã água, que é
muito útil, humilde, preciosa e casta”. (São
Francisco de Assis)
Os mais antigos filósofos gregos já afirmavam
que tudo provém da água e a ciência tem
demonstrado que a vida se originou na água e que ela
constitui a matéria predominante em todos os corpos vivos.
“Pede leite a tua camela, um filho a tua mulher, mas água
só para Deus”. É o que um antigo provérbio
tribal nômade nos fala da água que procuramos e
precisamos para saciar nossa sede.
Pouca gente sabe que cerca de apenas 0,008% do total da água
do nosso planeta é potável. Assim, num futuro
próximo, poderá faltar este precioso líquido
para o consumo de grande parte da população mundial.
A situação é tão séria que
a ONU, em 1992 criou o “Dia Mundial da Água”,
e o consagrou como sendo “22 de março”, destinado
à discussão dos diversos temas relacionados a
esse importante bem natural. Discussão que envolve reflexão,
análise, conscientização e elaboração
de medidas práticas para a solução do problema.
Destarte,
sem dúvida, nos dias atuais precisamos refletir, e muito,
sobre o tema.
Além do subsolo, grande parte da água que consumimos
vem dos rios, lagos e barragens; fontes que estão sendo
continuamente contaminadas, poluídas e degradadas pela
ação predatória do homem. Esta situação
é preocupante, no entanto, temos que nos habituar a ela.
Conviver com a falta de água tornou-se uma realidade
inegável.
O progresso tem um preço, o povo está agonizando
com sede e o clamor é geral. O alerta foi dado e a luz
amarela já está acesa. A Secretaria de Estado
para o Desenvolvimento e Integração do Norte de
Minas Gerais – SEDINOR, tem se esforçado a fim
de amenizar a situação ou evitar que se agrave
mais. As autoridades municipais e os órgãos competentes
em todos os níveis, também estão atentos
e pedem que evitem o desperdício.
Nos
últimos anos vêm se repetindo longos períodos
de estiagem, alterando substancialmente a estrutura econômica
e social, nem só nos meios rurais, mas e, principalmente,
nos aglomerados urbanos como as cidades, distritos e povoados.
De onde provêm as águas?
Provêm de várias origens, é uma das substâncias
mais difundidas na natureza. Encontramos água em quase
tudo o que nos cerca: no ar, no solo, nas plantas, nos animais
e até nos alimentos que consumimos. Não podemos
viver sem ela. A vida depende da água. No entanto, se
encontra ameaçada pela poluição, pela contaminação,
pelo uso irracional, pelo desperdício doméstico
e nas indústrias, pelos projetos arrojados de irrigação
e pelas alterações climáticas.
É preciso pensar e manter viva a consciência ecológica
que deve nortear, prioritariamente, o indivíduo. E, neste
sentido, entender a necessidade de retirar o sustento da natureza
sem prejudicar o ecossistema.
Os antigos supunham a existência no interior da terra,
de grandes reservatórios de água que, interminavelmente,
se escoariam, através dos mananciais naturais em direção
aos oceanos que, como reservatórios maiores formariam
grandes rios; os menores dariam origem a rios pequenos, regatos,
córregos e lagos. Aristóteles que viveu três
séculos antes de Cristo criticava essas teorias. Dizia
ele que, se os rios tivessem as suas origens em cavidades determinadas,
o volume total da Terra não seria suficiente para conter
todas elas.
Sabe-se hoje que o ciclo das águas, ou ciclo hidrológico,
está intimamente ligado ao ciclo energético terrestre,
isto é, a distribuição da energia proveniente
do sol. Essa energia é a responsável pelo transporte
da água do mar e da própria Terra para as grandes
altitudes, de onde se derrama na forma de chuva sobre os continentes.
A maior parte infiltra-se no solo, preenchendo os espaços
vazios existentes entre os grãos de argila, de areias
ou de rochas mais consolidadas, constituindo depósitos
de águas subterrâneas que retornam gradativamente
à superfície, naturalmente pelas nascentes, ou
por meio dos poços artesianos tubulares, escavações
de cisternas e cacimbas.
Se as chuvas responsáveis pela reposição
faltarem, ocorrerá a diminuição na capacidade
dos depósitos e, consequentemente, faltará água
para o consumo em todas as vertentes das necessidades terrenas.
São muitos os desrespeitos e violências contra
a natureza. Mas, apesar de tantos fatos lamentáveis,
ainda há bastante coisa boa, muita gente disposta a ajudar
o próximo, um monte de pessoas lutando por uma vida melhor
para todos. Quando estiver desanimado, procure lembrar de todos
bons exemplos que você conhece principalmente aqueles
concernentes aos cuidados que as empresas concessionárias
empregam para deixar a água própria para o consumo
humano. Os pensamentos negativos em nada ajudam.
Água potável significa “que se pode beber”.
Para ser ingerida é essencial que não contenha
elementos nocivos à saúde. Mas não é
só isso. Para ser bebida pelo ser humano e utilizada
no preparo dos alimentos e na sua higiene corporal, torna-se
necessário que atenda a certos requisitos estéticos,
isto é, que não possua sabor desagradável,
odor ou aparência comprometedora.
Água é saúde. Água é vida.
Vamos conservar as nascentes e economizar este precioso líquido,
para não faltar.
Mara
Yanmar Narciso
Cadeira N. 98
Patrono: Virgílio Abreu de Paula
MONTES CLAROS
MEMÓRIAS DO CENTENÁRIO
Quando
Montes Claros fez 150 anos foi possível ver a lista dos
150 homenageados, com muitos nomes de rua, que desfilaram, como
se saíssem da história e viessem nos assombrar
com os seus feitos, e gente de hoje, pessoas que trombamos nas
esquinas. Então, se passou uma década e Montes
Claros fez 160 anos.
Meus pais gostavam de Montes Claros. Minha mãe, Milena
Narciso, natural de Montes Claros, cantava pra mim: “Montes
Claros/ Vovó Centenária/ está tão
bonita/ de vestido novo/” (Luiz de Paula Ferreira), e
explicava que a música do Centenário contava como
a população se preparou, pintando suas casas para
festejar os cem anos da cidade. Maria Inez Narciso, minha tia,
ainda criança tinha aberto o desfile do Centenário,
vestida de formiga para homenagear o nome primitivo da cidade,
que era Vila Montes Claros de Formigas.
Meu pai, Alcides Alves da Cruz, mudou-se de Januária
para Montes Claros aos 15 anos, e nunca houve nenhum “montes-clarense”
mais fanático do que ele, natural da Bocaiúva.
Foi contador, jogava futebol, era amigo do Dr. Hermes de Paula,
que dirigiu o Cassimiro de Abreu Futebol Clube e também
foi presidente do Centenário. Pai nos explicava que o
nome do Pentáurea Clube, outra criação
do Dr. Hermes, significava cinco bodas de ouro, referentes aos
250 anos de fundação (1707 a 1957).
Então, o Instituto Histórico e Geográfico
de Montes Claros lança o livro “Montes Claros:
Memórias do Centenário”, de Rogério
Othon e Luciano Pereira, professores da Unimontes, com prefácio
de Dário Teixeira Cotrim, e traz na capa a foto de Maria
Inez Narciso, à frente do desfile. Modestos, os autores
dizem abrir uma janela para que outros trabalhem o assunto com
maior detalhamento. Nada foi falado sobre o papel da Rádio
ZYD-7, fundada em 1944. Como teria sido sua atuação?
O
livro é uma imersão no passado, na qual o leitor
irá encontrar os nomes de rua em plena ação
em prol de, com o Centenário, dar uma injeção
de desenvolvimento na cidade. Isso aconteceu de forma mais marcante
na década de 1970, com um período de industrialização
e isenção de impostos proporcionada pela Sudene
– Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste
e asfaltamento da rodovia para Belo Horizonte, expectativas
semeadas no Centenário.
Em
1955, após longa pesquisa, o Dr. Hemes da Paula descobre
os 250 anos de fundação (Sesmaria recebida por
Antônio Gonçalves Figueira em 1707, que “afazendou-se”
na Fazenda Montes Claros) e os cem anos de cidade a ser comemorados
em 3 de julho de 1957. Houve reserva das autoridades ao lembrar
que a emancipação teria ocorrido em 1832 e que
o centenário já tinha sido comemorado. O escritor
Haroldo Lívio escreveu sobre o “inventor do Centenário”
de forma elogiosa, explicando a veracidade do fato.
Os preparativos duraram dois anos, um livro de 600 páginas
foi escrito por Hermes de Paula: “Montes Claros, sua história,
sua gente e seus costumes”, obra importantíssima,
sendo a mais pesquisada e citada em âmbito acadêmico;
foi construído o Colégio Marista São José
e o Parque de Exposições João Alencar Athayde;
aconteceram avanços urbanísticos e uma arrancada
civilizatória, colocando Montes Claros no mapa.
Era presidente da república Juscelino Kubitscheck e governador
de Minas Bias Fortes, que vieram ao evento, sendo prefeito de
Montes Claros Geraldo Ataíde. A cidade não tinha
como hospedar figuras tão ilustres, então as autoridades
ficaram nas casas dos organizadores da festa, que constou de
desfiles, representações folclóricas, rodeios,
leilões de gado, baile de gala e muitas promessas.
O livro “Montes Claros: Memórias do Centenário”
explica toda a festa, ocorrida há 60 anos, mostrando
reportagens da época do evento, especialmente do Jornal
Gazeta do Norte, já extinto, como também publicações
em Belo Horizonte e no Rio de Janeiro - Distrito Federal. Também
trouxe crônicas sobre os cem anos de cidade nas letras
bonitas de Rubem Braga, Carlos Drummond de Andrade, Anderson
Magalhães, Maria Antônia Alkmim, Haroldo Lívio,
Yvonne Silveira, Hermes da Paula e outros.
Quem ama Montes Claros vai se apaixonar pelo passeio ao Centenário,
e quem ainda não ama, vai amar.
Maria
Aparecida Costa Cambuy
Cadeira N. 07
Patrono: Antônio Gonçalves Figueira
MERGULHO GEOGRÁFICO
EM GRÃO MOGOL
“O
brilho das pedras fascinou, levou riqueza e muitas mortes.”
Quem visita o interior de Minas Gerais fica maravilhado com
esta região, especialmente atraente do “Espinhaço”,
com espetaculares formações rochosas, picos, sítios
arqueológicos, chapadões, rios e quedas d’agua,
campos rupestres e bucólicas cidades, entre elas, o antigo
sítio da cidade de Grão Mogol.
Em Grão Mogol, surgida no século XVIII/1839, destacam
a igreja de Santo Antônio, cadeia pública, muros
e calçadas de pedras, e hoje, o surpreendente Presépio
Mãos de Deus, a céu aberto. O município
é um encantador tesouro destas terras norte mineiras,
onde tudo nos convida à contemplação, ao
estudo e ao mesmo tempo à aventura e ao turismo.
Nas décadas de 80 e 90 estivemos, por duas vezes, professores
e alunos do curso de geografia da Faculdade de Filosofia/FUNM,
hoje Unimontes, realizando trabalhos de campo de reconhecimento
e in locum, constatando-se as informações teóricas
obtidas, sobre este impar laboratório natural. Inicialmente,
situou-se o município, traçou-se o roteiro de
viagem e elaborou-se o perfil geomorfológico. Coube aos
alunos, com este material em mãos, localizarem as referências
chaves do estudo, as quais, estão incluídas neste
breve relato, que se segue.
GEOMORFOLOGIA
Na depressão: Superfícies aplainadas
com desnudação periférica realizada pela
drenagem da Bacia São Franciscana, apresentando interflúvios
tabulares e colinas com vertentes ravinadas.
Após Franciso Sá: Passando pela
escarpa da linha de falha e entrando no Espinhaço com
planaltos e áreas dissecadas da Bacia do Jequitinhonha.
Entrando no Espinhaço: Superfícies
aplainadas Terciárias, apresentando cristas com vertentes
ravinadas, vales encaixados e superfícies tabulares,
limitados por escarpamentos, superfícies onduladas e
planalto de escoamento superficial.
Em Grão Mogol: Presença de Serras,
patamares e escarpas do Espinhaço (Serra do Barão),
testemunhos escalonados de superfícies aplainadas tendo
dobras e falhas e extensos escarpamentos, superfícies
aplainadas com cristas e picos esparsos. Área de maciço
antigo.
_____________________
Texto: Professora Maria Aparecida Costa e Professora
Marina de Fátima Brandão Carneiro.
___________________________
PERFIL
GEOMORFOLÓGICO
ROTEIRO MONTES CLAROS – GRÃO MOGOL
Adaptação:
Professora Marina de Fátima Brandão Carneiro -
1991
Um
pouco de história: O povoado “Serra de
Santo Antônio do Itacambiruçu” teve sua origem
durante o período colonial, no ano de 1839, com a descoberta
de diamantes, que atraíram aventureiros do país,
bem como estrangeiros, dentre estes, Portugueses, Franceses
e Alemães, também viviam índios, selvagens
da região norte e nordeste de Minas, que segundo Nelson
de Sena, o bandeirante Fernão Dias, foi intitulado “O
Conquistador do Reino dos Mapaxós”. A exploração
e o comércio cresceram. No ano de 1840, o arraial passou
a ser Vila Provincial e logo transformada em Distrito. Somente
em 1859, Grão Mogol recebeu a categoria de cidade e tornou-se,
por décadas, a cidade mais importante da região.
Igreja de
Santo Antônio
A
decadência da exploração das lavras em Grão
Mogol coincide com o desmembramento de terras do município
para a instalação dos municípios de Itacambira,
Cristália e Botumirim, onde, também, já
se exploravam riquezas minerais.
A geografia: O município de Grão
Mogol tem 3.888,59 km ² de área, dista 141 km de
Montes Claros e 560 km de Belo Horizonte. São limites
de Grão Mogol os municípios de: Francisco Sá,
Capitão Enéas, Riacho dos Machados, Padre Carvalho,
Josenópolis, Cristália e Botumirim. Regionalmente,
o município de Grão Mogol faz parte da Microrregião
de Grão Mogol e da Mesorregião localizada ao norte
de Minas Gerais, conforme o IBGE. Sua população
em 2016, em estimativa, era de 15.870 habitantes. Ainda hoje,
seus moradores cativam a todos com seu modo simples e acolhedor.
O clima tropical se caracteriza por baixas
temperaturas no inverno com médias de 18 º centigrados,
e freqüentes nevoeiros, sendo agradável e com chuvas
de verão.
No município ocorre variedade mineralógica,
sendo de maior valor econômico: diamante, ouro e minério
de ferro, por estar situado na unidade Estrutural “ Serra
do Espinhaço/ Planalto Proterozóico” onde
predominam quartzitos, filitos, calcários e xistos, com
idade aproximada de 1.3 bilhões de anos. Ali, também,
estão granitos, gnaisses e migmatitos, com idade de até
3,2 bilhões de anos, formando o substrato (Arqueozóico).
Há ocorrência de relevo com serras e morros, muitas
vezes representando blocos de formas bizarras, conforme “Guerra-2001”.
As
maiores altitudes do município de Grão Mogol são
superiores a 850 metros, correspondendo às cristas quartzíticas
do Espinhaço, formadas por dobramentos e falhamentos
do pré-cambriano, apresentando rochas do super grupo
espinhaço. O sítio urbano de Grão Mogol
está sobre um platô de 829 metros de altitude.
ROTEIRO
MONTES CLAROS - GRÃO MOGOL
Escala :1:1.000.000
- Adaptado por: MARIA APARECIDA COSTA- 1991
O
relevo é ondulado, forte ondulado e montanhoso,
coberto por vegetação de caatinga hiperxerófila,
campo cerrado, formação rupestre e de transição
para a caatinga, sobre um solo podzólico vermelho - amarelo
de textura argilosa média, eutrófico e ainda,
solos litólicos álicos (Arenosos). São
denominações locais da Serra Geral: Bocaína,
Barão, Ventania e Morro do Pagão. O Parque Estadual
de Grão Mogol tem sua maior extensão na serra
Bocaína. Destaca no município o rio Itacambiruçu
e o Ribeirão do Inferno, este atravessa o núcleo
urbano possuindo águas escuras.
Na
economia existe agricultura de subsistência, a agroindústria
de cachaça e farinha de mandioca, pecuária extensiva,
mineração de cristal, diamante, pedras ornamentais,
reflorestamento de eucalipto, artesanato e o turismo com o carnaval,
festa do Divino Espírito Santo, Juninas e o Presépio
Mãos de Deus. O minério de ferro e o ouro, também,
a serem explorados em escala comercial estão inclusos
no
projeto da Sul Americana de Metais e a Mineração
Minas Bahia, apresentando um potencial de exploração
de 25 milhões de toneladas, a cada ano.
Em
parceria com a Unimontes vem se realizando a cada ano o Festival
de Inverno. O Município se estrutura para desenvolver
o turismo, já possuindo a Casa do Artesão, a Casa
da Cultura e Secretaria de Turismo. E as rodovias, MG-307 asfaltada,
que se interliga a BR-251, ambas necessitando de manutenção.
Estimula o turismo a recente definição pelo IPHEA/2016,
Grão Mogol Patrimônio Cultural, o Presépio
Mãos de Deus e o Parque Estadual de Grão Mogol.
Em consulta ao material da Microrregião Grão Mogol,
divulgado pela Unimontes/2012, numa produção cientifica
de professores e equipe de estudos e pesquisa, repasso algumas
informações que considero vitais e que enriquecem
este texto. As atividades econômicas em Grão Mogol
estão assim distribuídas: Comércio (41,61%),Serviços
(31,49%),Agricultura (17,30%),Indústria (8,14%), Construção
(1,46%). A administração Pública é
a responsável pelas grandes empresas, entre 500 a 999
empregados. Os trabalhadores têm faixa etária entre
25 a 49 anos, predominando de 30 a 39 anos. O salário
varia entre meio a três salários mínimos.
Sobre a população, a Expectativa de Vida é
de 72 anos. A renda per capta e a Mortalidade Infantil da microrregião
são respectivamente, R$ 253,56 (duzentos e cinqüenta
e três reais e cinqüenta e seis centavos) e 19,73
por mil habitantes. A escolaridade é baixa: sem ensino
médio 65% da população e apenas 28% com
ensino médio completo, o que levou a ser instalada uma
escola técnica através do Programa Brasil Profissionalizante
que tem retomada de construção em 2017.
O maior número de analfabetos tem idade entre 50 a 64
anos e conferem às s mulheres com curso superior completo
a maior porcentagem 64%. O índice de envelhecimento da
população é de 24,30 por mil, o que define
a necessidade de políticas públicas voltadas à
natalidade, o seu controle, e também, voltadas à
terceira idade. Em setembro
de 2013, retornei-me a Grão Mogol para conhecer o presépio
Mãos de Deus quando fiquei surpresa com o que vi: “O
maior presépio natural do mundo, num trabalho precioso,
envolvendo a natureza e a sensibilidade do filho da terra, Lúcio
Bemquerer. O planejamento, a persistência e a tecnologia,
produziram este presépio digno de ser visitado”.
Conheça Grão Mogol, a visita nos permite voltar
às origens de Minas Gerais.
Curiosidades: O Barão de Grão
Mogol, Gualter Martins Pereira, Coronel da Guarda Nacional,
foi homenageado por Dom Pedro II, recebendo este título.
Viveu entre o Império e a República, e influenciou
na história do Brasil, como participante do 7º Batalhão
de Voluntários da Pátria (1865), para lutar na
Guerra do Paraguai. Foi explorador de diamantes e dono de escravos,
construiu um casarão no centro histórico e faleceu
em São Paulo, em 1890, com 64 anos. Nasceu em 1826 na
Fazenda Santo Antônio/Cafezal. O Barão foi importante
vulto do sertão mineiro, chefe do partido Liberal, Presidente
da Câmara (1861) e Vereador várias vezes. Tinha
idéias abolicionistas, libertou todos os seus escravos
muito antes da lei Áurea, homem honesto, dividiu sua
parte da fortuna e reconheceu 15 filhos que teve com escravas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Guerra, A.T e Guerra, AJT - Dicionário Geológico-
Geomorfológico- Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2001.
COMIG- Mapa geológico de Minas Gerais, Belo Horizonte,
2003.
BELEM, R.A- Conceitos Básicos da Geologia e Geomorfologia
do Norte de Minas, Revista Cerrados/Unimontes.
Revista Cerrados, vol 10, nº 1, Departamento de Geociências/Unimontes,
2012.
Getúlio Barbosa, Estudos de Morfoestrutura de Minas Gerais,
1965.
SUDENE-
Levantamento Exploratório de Minas Gerais. Versiane Sindeuax,
Roney- Microrregião de Grão Mogol, Observatório
do Trabalho no Norte de Minas – Grupo de Estudos e Pesquisa
em Administração/Unimontes – Boletim 2012.
Revista do Instituto Histórico e Geográfico de
Montes Claros, 2016.
Revistas, panfletos, jornais diversos e pesquisa Google Acadêmico.
Presépio
Mãos de Deus
Vegetação
Típica do Espinhaço/Grão Mogol.
Todas as
fotos cedidas pelo jornalista: Alberto Sena Batista
Maria
Clara Lage Vieira
Cadeira N. 100
Patrono: Wan-dick Dumont
DONA
NENZINHA
É
gratificante conhecer mulheres extraordinárias, que marcaram
a história de Bocaiuva. Pesquisar sobre a sua vida e
o seu trabalho é uma aventura fantástica.
Otília Caldeira Pimenta é uma dessas representantes
femininas que adornaram a vida da cidade.
Mulher simples, mas decidida e enérgica, mostrou-nos
que o coração alegre e temente a Deus realiza
maravilhas no ambiente em que vive.
Otília nasceu aos 22 de fevereiro de 1911, na Fazenda
dos Poções, município de Bocaiuva, filha
de Manoel Ferreira Pimenta (fazendeiro) e de Regina Caldeira
Pimenta. Sob o número 131, ficou registrado o seu batistério,
que informa o local e a data do batismo: Fazenda dos Poções,
aos 21 de março de 1911, assinado pelo Pro-Pároco,
Cônego Maurício Gaspar.
Viveu sua infância na fazenda de seu pai e, desde cedo,
mostrou-se interessada em conhecer o mundo e seus mistérios.
E aí adquiriu o hábito de dar graças a
Deus por tudo e, mais tarde, tentaria passar para seus filhos
e netos essa aprendizagem.
Dona Nenzinha
Casou-se
com Gilberto Caldeira Brant, aos 14 de fevereiro de 1928, muito
jovem, pois ainda não tinha completado 17 anos. Seu pai
se encontrava doente e esta foi a maneira que ela encontrou
para poupá-lo, fazendo-o se sentir seguro junto dela.
A tenra idade não a impediu de assumir as responsabilidades
do matrimônio.
Sendo seu marido cidadão bocaiuvense, dedicado ao desenvolvimento
cultural e econômico de sua terra, tornou-se político
forte, tendo sempre, no sucesso e nas intempéries, o
apoio da esposa
O casal teve onze filhos, a saber:
1 - Maria Virgínia de Jesus Caldeira (falecida), casada
com Bento
Caldeira Alkmim (falecido);
2 - Zélia Pimenta Caldeira (falecida), casada com José
Geraldo Bandeira de Melo (falecido);
3 - Paulo Caldeira Brant, casado com Nerilda Brito Silva Caldeira
Brant;
4 - Mary do Rosário Caldeira, casada com Marcos Caldeira
Brant (falecido);
5 - Elza Caldeira Brant, casada com Mauro Araújo (falecido);
6 - Célia Caldeira Brant, casada com José Epifânio
Costa;
7 - Regina Cléria Caldeira Brant (falecida), casada com
Mozart Pereira Monteiro (falecido);
8 - Maria Lúcia Caldeira Brant, casada com Marcílio
Abreu (falecido
9 - Carlos Caldeira Brant (falecido), casado com Elizabeth Geralda
Araújo Caldeira Brant;
10 - Márcio Caldeira Brant (falecido), casado com Eliane
Lage Cotta;
11 - Mário Caldeira Brant, casado com Maria Aparecida
da Silveira Brant.
Onze
filhos criados com muito carinho, mas também com energia.
D. Nenzinha, como ela era chamada afetuosamente – talvez
porque seu marido fosse tratado como “Seu Nem” –
fez de seu lar a primeira escola para seus filhos. Ensinava-lhes
os bons princípios que devem nortear o comportamento
das pessoas de bem e ensinava-lhes também os primeiros
conhecimentos e noções de história, geografia,
ciências. À noite, quando as crianças eram
pequenas, gostava de reuni-las para contar histórias,
o que sempre agradou a elas. Iam para a praça, brincavam
um pouco ali e, quando o sono chegava, corriam para casa, ansiosas
por ouvir as histórias que a mãe contava.
Tendo
herdado de seus pais a mansidão e a bondade, ela refletiu
esses dons em seu lar com o esposo e os filhos.
Cultivou, entre os seus, um amor incondicional, que
mantinha a união com o marido e irradiava, não
só dentro da família, mas também entre
todos que se aproximassem dela e gozassem de seu convívio
sempre disponível. Ajudava a todos que necessitassem
de um apoio.
Mantinha em sua casa a mesa farta, as portas abertas. O ambiente
acolhedor para quem chegasse. Na sua simplicidade, conservava
um coração forte, que não se abatia por
causa das tristezas, que sabia perdoar, que tinha compaixão
pelas pessoas.
Quantas vezes a comunidade assistiu a seus gestos corajosos
com que tentava sanar o mal, o sofrimento por que alguém
estivesse passando!
D. Nenzinha foi uma grande mulher que se manteve ao lado do
marido o tempo todo e lhe deu forças para superar os
contratempos.
Mansa e bondosa, destemida, valente, sempre apoiou o trabalho
do esposo e nunca perdeu a ternura.
O casal enfrentou várias dificuldades, inclusive tendo
que se mudar para Belo Horizonte, num período em que
a vida em Bocaiuva tinha se tornado insustentável para
os dois. Entretanto, ela nunca deixou que os problemas anuviassem
a infância de seus filhos ou interferissem nas amizades
deles.
As pessoas que conviveram com ela lembram-se de que ela era
bonita por fora e por dentro. Guardavam na memória sua
beleza interior, sua serenidade, bondade e simplicidade de pessoa
do campo que traz nos gestos e nas palavras a sabedoria e o
amor pela natureza. Testemunharam a sua capacidade de sacrificar-se
para proteger seus filhos, netos, familiares, amigos e outras
pessoas que necessitassem de apoio e proteção.
Seus filhos nunca presenciaram nela algum gesto ou atitude que
demonstrasse aflição, angústia, tensão
ou desespero. Eles percebiam o quanto de controle e disciplina
era necessário para conservar a calma, a mansidão,
a serenidade, que eram características marcantes dela;
Nos momentos difíceis de sua vida, como quando os meninos
adoeciam, ela dizia, com aquela sabedoria que lhe era peculiar:
”Mãe tem que por o coração à
larga e se entregar nas mãos de Deus.”
E foi esta fé e esta entrega que a sustentaram e a mantiveram
serena e preparada, durante toda a sua vida. Ela sempre agradecia
a Deus por tudo. Quando alguém reclamava de uma mágoa,
uma dor, um sofrimento, ela sugeria que a pessoa olhasse ao
redor de si para ver que outros seres humanos também
sofriam e, muitas vezes, problemas maiores. Então, ensinava-lhe
que nós sempre temos motivo para agradecer. As pessoas
de seu relacionamento ficavam sempre agradecidas porque as suas
palavras ajudavam a cultivar a gratidão, a alegria e
o entusiasmo diante de tudo o que a vida nos apresenta.
Em casa, D. Nenzinha sempre ajudou nas despesas da família.
Fazia doces, empadinhas, pastéis, mingau de milho verde,
que eram vendidos no bar.
Faleceu aos 28 de dezembro de 1984.
Essa
foi Otília Caldeira Pimenta que, depois de casada, passou
a assinar Otília Caldeira Brant.
Mas, para nós, que tivemos a alegria de conhecê-la,
para os amigos, para as pessoas que ela sempre acolheu e ajudou,
essa mulher maravilhosa e autêntica foi D. Nenzinha, que
viveu fazendo o bem e que coloriu a história de Bocaiuva
com as cores da bondade, da paciência, da alegria, do
amor.
A primeira
casa em que morou Dona Nenzinha, onde é hoje o Banco
do Brasil
Nenzinha
com os pais e dois irmãos
Infância
Maria
Lúcia Becattini Miranda
Cadeira N. 30
Patrona: Dona Tiburtina
DR. DÁRIO RUBENS BECATTINI
Dr.
Dário Rubens Becattini nasceu em Curvelo - Minas Gerais,
no dia quatro de fevereiro de 1909. Filho de Lourenço
Becattini e de dona Tereza Becattini, formou-se em Medicina
em 1935 pela Faculdade de medicina da Universidade Federal de
Minas Gerais. No dia 08 de Dezembro de 1985 completou o seu
cinquentenário de formatura e foi agraciado pela Associação
Médica de Minas Gerais com o diploma de “Honra
ao Mérito”. Em sessão solene ele foi também
homenageado na Assembleia Legislativa de Minas Gerais pelos
muitos serviços prestados na área da medicina
em favor do povo mais necessitado. Toda a sua profícua
vida foi dedicada à profissão que escolheu. Casou-se
com dona Clotilde Becattini e tem seis filhos, dez netos e oito
bisnetos. Sempre devotou ao povo de sua terra, com o maior carinho,
os seus cuidados médicos e seus conselhos de amigo. Na
política atuou durante vinte anos seguidos como vereador
e por diversas vezes foi presidente da Câmara Municipal
de Curvelo. Trabalhou no hospital Santo Antônio, durante
trinta e seis anos servindo com muita dedicação
aos indigentes. Trabalhou também na
fábrica
de tecidos Maria Amália e Cedro Cachoeira, em Inimutaba.
Ótimo cirurgião, ele exerceu clínica geral
com entusiasmo e alegria, as suas marcas características.
Transferiu-se para Belo Horizonte no ano de 1971, onde trabalhou
na primeira junta de recursos do INAMPS, hoje INSS. Sua vida
de perfeita dedicação à Medicina e o amor
ao próximo é exemplo para todos aqueles que o
conheceram, tanto na profundidade do seu caráter como
na bondade do seu coração eternamente jovem. (Texto
de Adriano).
___________________________
NOTA. Parabéns Adriano pela bela e justa
homenagem ao meu saudoso pai, Dr. Dário
Rubens Becattini- Lúcia Becattini
____________________________________
Marilene
Veloso Tófolo
Cadeira N. 95
Patrono: Terezinha Vasquez
O BOIADEIRO
Com
a leitura deste texto de autor desconhecido resolvi escrever
sobre o mesmo.
“Você me conhece? Eu já fui boiadeiro...
Conheço estas trilhas, quilômetros, milhas, que
vê e que vão pelo alto sertão, que agora
se chama não mais de sertão, mas de terra vendida,
civilização.
Ventos que arrombam janelas e arrancam e arrancam porteiras,
esporas de prata, riscando as fronteiras...
Um abraço apertado e um suspiro dobrado não têm
mais sertão...
Tem mais não, ô peão...
Tempos e vidas cumpridas, pó, poeira, estradas, estórias
contidas, mas encruzilhadas, em noites perdidas, no meio do
mundo...
... Existe uma vida, uma vida vivida, sentida e sofrida...”
Este
texto de autor desconhecido trouxe-me a figura do boiadeiro...
Quem é ele? È aquele que acorda cedo, respira
o ar do sertão, desce e sobe montanhas, não tem
medo da chuva, do sol e da estiagem. É um homem acostumado
as lides do campo...
O boiadeiro, no seu cavalo arisco, toca-o com a espora, corre
atrás da rês extraviada... Ela, esperta, corre,
corre e esconde junto à gruta, onde o rio corre devagar,
e sobre serras e colinas, e esconde-se no grotão...
O boiadeiro faz um aboio, sente-se cansado, olha a colina, e
confia no senhor, que há de encontrar a fujona...
Onde estará a novilha perdida? O patrão espera
por ela, e os dias vão passando...
O boiadeiro olha pra o céu, acelera o passo do cavalo,
com sua espora que canta, com o vento que passa, com a tarde
que chega, e as aves que cantam...
Que tristeza no horizonte, com o canto dos pássaros do
entardecer. O boiadeiro faz uma prece ao criador e espera encontrar
a rês perdida.
Ele olha pra o lado, procura-a por todo o vale, e nada dela
aparecer.
Pássaros param de cantar, o sol se põe, o boiadeiro
está quase desistindo, mas faz uma ultima tentativa de
encontrar a rês desgarrada...
Olha o horizonte, reza, espera o cavalo e na última tentativa
o boiadeiro, é antes de tudo, “um forte”,
sorri feliz, pois a sua rês desgarrada bebe tranquilamente
no rio que desce da serra, e o boiadeiro com seu laço
pega a foragida que tanto trabalho lhe deu...
Mais uma vitória para aquele na sua lida, que conseguiu
cumprir a sua missão com sucesso.
Marilene
Veloso Tófolo
Cadeira N. 95
Patrono: Terezinha Vasquez
O FOOTING DA RUA QUINZE
Montes
Claros, cidade norte mineira, na década de 60 (sessenta),
era uma idade como todas as outras, perdidas no sertão...
Situada entre Bocaiúva e Francisco Sá, cidades
também que viviam pacatas no interior mineiro... As viagens
que eram feitas nesta época eram para Belo Horizonte,
capital mineira e raramente para o Rio de Janeiro.
Esta divagação sobre as citadas cidades é
para situar os acontecimentos a que me refiro, sobre a vida
dos que viviam nestas regiões.
Nas cidades do interior mineiro, as pessoas de cidades vizinhas,
vinham fazer compras em Montes Claros, e faziam parte da vida
comercial e social da mesma.
Nos fins de semana, a cidade recebia pessoas de toda a região,
que participavam da vida comercial e social da referida cidade.
Durante
o dia, o comércio girava ao redor da rua quinze, onde
a boneca de Leonel, uma grande boneca de roupa de “chita”
colorida, circulava pelas ruas, fazendo propagandas, com um
homem movimentando a mesma, e circulando pelas ruas centrais.
Mas ao que me refiro é o movimento à noite, onde
a “Rua Quinze”, estava cheia de moças e rapazes,
que iniciavam os seus primeiros namoros. Os rapazes ficavam
conversando nas esquinas, as moças desfilavam com as
amigas pelas calçadas, onde algumas músicas eram
tocadas, e iam para o cinema São Luiz, que situava-se
no quarteirão do povo.
Os passeios não eram só de alegria, porque alguns
rapazes, que as moças pretendiam estavam conversando
com outras donzelas. Ai era só tristeza, e procuravam
outros rapazes para enamorarem...
Com um passeio pela rua quinze, sabia-se de tudo, quem estava
só, quem estava acompanhado, e as últimas fofocas
e acontecimentos locais. Era o termômetro da cidade, social,
político e amoroso... O tempo passava breve, porque a
hora de chegar em casa não podia passar das 9 horas,
e saíamos correndo quando o relógio do marcado
marcava as horas.
Saudades do barulho da rua, do pouco movimento de carros, dos
amigos, das amigas, daqueles que não estão mais
entre nós, que se foram com o vento, com a brisa, com
o sol, morar em outras paragens, em um lugar seguro perto de
Deus, longe das tristezas e dissabores deste mundo.
O sol nasce todos os dias, se põe e traz consigo o hoje,
mas o ontem dorme escondido no interior de cada um, e ao levantarmos
o véu das lembranças, a vida passa depressa, a
saudade não morre, e eu consigo retratar como numa tela
pintadas, a alegria, a tristeza, a pureza, a esperança
de uma rua que se foi com o vento....
Ontem: Rua
XV - Hoje: Rua Presidente Vargas
RUA
QUINZE
Marilene Veloso Tófolo
Numa rua de Montes Claros,
a cidade do interior mineiro,
recebia pessoas e forasteiros,
no seu comércio rotineiro!
As pessoas andavam devagar,
conversando e trocando cumprimentos,
subiam e desciam, fazendo negócios,
ora parados nas calçadas!...
O tempo passou, a rua mudou,
levando saudades e acontecimentos,
de uma cidade que transformou-se
em princesa do Norte!...
Negócios, passeios, acontecimentos,
eram narrados nas esquinas,
em dias e noites que se foram,
tocados pelo tempo!...
Tempo de alegrias, saudade e tristezas,
levados por ele que não perdoa,
que passa célere como o vento,
nas esquinas do tempo!
Olho o calendário e penso,
como tempo passou depressa,
levando com a vida,
as pessoas, amores no vento!...
Foi como um vendaval,
que levou todas as arvores e flores,
deixando o seu rastro sinistro
na poeira do tempo!...
Nada restou do ontem,
de saudades, alegrias e esperanças,
de algo que ficou nas estradas
junto com a poeira do tempo
22 de julho de 2017.
Narciso
Gonçalves Dias
Cadeira N. 9
Patrono: Antônio Lafetá Rebello
O
GADO DE FULGÊNCIO
Fulgêncio
morava na Lagoinha, nos arredores do Rebentão, povoado
monte-azulense, terra de extremo potencial produtivo, de pouca
chuva, é verdade, mas mesmo assim, um terreno que o tempo
o fez aprender a se virar com a pouca água. Racionando-a
para dar substância às plantas que ali teimam em
fixar suas raízes. Fulgêncio era o típico
caboclo que iniciava seu labor com o aparecimento do sol e concluía
com os últimos raios da luz natural. O tempo retirado
à força para por no bucho um pouco de alimento
para sustentar-se, é tempo considerado perdido, é
tempo que bem podia ser utilizado para consertar as cercas,
roçar a pastagem, fazer aceiros, buscar água na
cacimba e tantas outras atividades essenciais nas múltiplas
atividades diárias do sítio. Mas o que que se
há de fazer? A natureza faz-se superiora e exige que
parte do seu precioso tempo seja gasto com o comer, o beber
e as necessidades fisiológicas. Êita tempo perdido
Sô! Fulgêncio, temeroso e muito religioso não
ousava contradizer nada. Mas sempre matutava consigo mesmo:
Prá que que pobre quer fiofó? Só serve
para atrapalhar. Se não cagasse a comida podia durar
muito mais tempo dentro do estômago. Que bela economia.
No
início de agosto, Fulgêncio reuniu sua boiada,
composta de dez vacas, um reprodutor, seis bezerros e duas bezerras,
todos curraleiros, ditos pé-duros, gado rústico,
fruto de gerações e gerações de
consanguinidade. Filho cruzava com mãe, neta com avô...
O gado definhava em termos de qualidade, mas ganhava resistência...
As vacas do Sítio São Fulgêncio, pariam
e cuidavam das crias sozinhas, no mato, no ermo, na solidão
das noites. Eainda
se protegiam a si e as crias, contra os predadores da natureza.
Fulgêncio se babava todo, maravilhado com a natureza,
de uma perfeição sem tamanho. Tudo era feito de
maneira a se resolver sozinho... Ele só precisa dar uma
mãozinha, para tudo se ajeitar e sair nos conformes.
No pequeno curral, a minúscula boiada estremecia o chão,
as varas do curral pareciam pestes a desabar com o tremor sem
fim, o gado tremia de medo, de impaciência. O clima era
tenso e desesperador...
O grupo de animais se espremia e girava em num único
sentido, como se adivinhassem que Fulgêncio, naquele instante,
ia vender os seis bezerros e duas vacas, que resumiria o rebanho
em onze cabeças, número que comportava o pequeno
terreno que lhe fora destinado na partilha feita com a morte
do seu pai. O gado inquietava e aguardava o desfecho daquela
inesperada reunião.
O sitiante após prender o rebanho, sentou-se no vão
da cerca, perto do curral e fazendo um pito, picava o fumo nas
mãos ressecadas, trincadas e sujas... Resultado de uma
vida de penúria e sofrimentos, mas repleta de orgulho
por ser um homem livre.
A espera terminou com a chegada de Ontonho de Orora, comprador
de gado que já chegou ao curral, cumprimentou Fulgêncio
com um abaixar de rosto, disse algo parecido com bom dia e já
se dirigiu ao curral para vistoriar e avaliar o gado. Fulgêncio
já conhecia de cor e salteados todos aqueles grunhidos
e movimentos destinados a fazer o sucesso da transação
comercial que se iniciava. Todos os anos o espetáculo
se repetia. Ontonho era uma raposa esperta e estava no ramo
de compra de gado há coisa de trinta anos.
Ontonho de Orora, após minucioso reparo, sem levantar
os olhos, pigarreia, tosse seco oferece a quantia de dois mil
reais pelos oito animais. Fulgêncio da mesma forma, de
olhar perdido no horizonte diz que está fechado o negócio...
Prá que iniciar uma luta com Ontonho... Aquilo era uma
autoridade no ramo do gado... Ele é quem sabe o quanto
vale o fruto do trabalho do povo... E se ele falou...tá
falado!
Ontonho enfiou a mão no bolso, sacou um camaço
de notas de cem reais e se dirigiu a Fulgêncio para efetuar
o pagamento. No ato de estender a mão para o criador
de gado, numa fração de segundos, o gado ao ver
o dinheiro, avançou na mão do pobre Ontonho e
numa agilidade sem par, comeu as vinte cédulas que estavam
na mão do comprador de gado... Ontonho não acreditava...
Atônito e abestalhado, olhava para os animais que engoliam
as cédulas como um prato exótico e obviamente
caro... As lágrimas caiam e em prantos o infeliz Ontonho
diz para Fulgêncio:
-
Fulgêncio, amanhã cedo eu volto para buscar o dinheiro
que vai sair na bosta do boi e concluir a compra!
O dono do Sítio São Fulgêncio, responde
calmamente: Amanhã não digo, esse gado é
de pouco cagar, pois a comida aqui é muito pouca. Mesmo
assim, sabendo ter perdido uma fortuna, Ontonho sempre que encontrava
Fulgêncio, no mercado municipal de Monte Azul, perguntava:
- O gado já cagou o dinheiro?
Recebendo como resposta um sorriso safado de quem pelo menos
uma vez na vida teve o prazer de ver um rico ser punido. E nunca
mais Fulgêncio questionou o motivo da existência
do fiofó. Pelo menos o do gado.
Palmyra
Santos Oliveira
Cadeira N. 64
Patrono: José Gomes de Oliveira
A
RUA CAMILO PRATES
DO MEU TEMPO DE MENINA
A
Rua Camilo Prates é formada somente de quatro quarteirões.
Ela começa na Praça Coronel Ribeiro e termina
na Praça Dr. Carlos Versiani. A casa de Dona Mariquinha
Serradeira foi a primeira construção depois substituída
pelo escritório do Dr. Antônio Eustáquio
Tolentino, advogado e que foi prefeito da cidade de Porteirinha.
Nessa casa morou a dona Caçula Mendes (Idalgisa Mendes),
que era mãe do Sr. Alcides Mendes e também foi
prefeito de nossa Porteirinha. Hoje é uma Drogaria que
ocupa esse lugar. Um pouco abaixo – arruando ao norte
- do mesmo lado morava o Sargento, pai de Da Luz e de José
Maria, uma criança que um dia quando eu estava varrendo
na frente da casa da minha mãe, ele ao ver “Sapudo”,
um mudo doido que perambulava pelas ruas de Montes Claros, disse
que “Sapudo” ia me pegar. Eu devia ter uns seis
anos e ao virar-me depressa para entrar em casa, a vassoura
que tinha um prego no cabo bateu na cabeça de Zé
Maria. Ele quando viu o sangue começou a chorar e foi
para sua casa. A sua mãe veio dar queixa lá em
casa. Mas, a minha mãe vendo que eu estava amarela de
medo, disse que não ia me bater.
Andando
um pouco mais abaixo ficava o quartel da Polícia Militar
e logo em seguida o prédio da Cadeia, pintado de amarelo
e muito bonito. Todos os dias eu ia lá com a minha amiga
Efigênia Câmara, para visitar os presos. Os aprisionados
sempre nos presenteavam com macaquinhos, cadeirinhas e mesinhas
de madeira e outras quinquilharias mais que eles fabricavam
na prisão.
Em frente do prédio da Cadeia ficava um cartório
anexo com a casa do Dr. João Luiz de Almeida e sua esposa
dona Iolanda, cuja filha pequena, subiu na cama do casal, pegou
um revólver em cima do guarda-roupa e suicidou-se.
Mais adiante era a casa da minha colega Veninha Veloso e do
seu irmão Raimundo Nonato Veloso (Nonatinho), onde eu
comprava cajás. Em frente, em posição subsequente
era a casa de dona Mariquinha Padeira, avó de Denizar,
onde eu comprava as mais deliciosas bolachas crocantes. Adiante
ficava a casa de dona Maria que com o jovem Hermano (Padre Dudu)
rezaram pedindo a Deus proteção para “seu”
Juca de Chichico ganhar na loteria. Pois ele ganhou duzentos
contos de réis e estabeleceu a sua farmácia.
Na esquina a seguir ficava a pensão de dona Geracina,
irmã de Dr. Santos. Na outra esquina, a casa de dona
Taúde, a nossa professora de Desenho e de Trabalhos Manuais,
que morava com seus pais. Quase na frente à casa de dona
Taúde morava a família de minha amiga Haidée
irmã de Dely, Milton e Dásio. Ao lado morava a
mãe de Rita Souza, também minha inesquecível
amiga. Abaixo era a casa de Dra. Lourdes Pimenta, professora
da Escola Normal e de sua irmã Esterzinha, minha amiga
que se mudou para a Rua Thompson Flores, em Belo Horizonte.
Um pouco abaixo morava um deputado com a sua família.
Na esquina morava o Sr. Antônio Augusto Teixeira comprador
de gado (Niquinho Teixeira ou Niquinho de Rapadura) pai dos
meus amigos Walquíria, Mércio e Márcio.
O Mércio possuía uma fazenda na Jaíba,
o Márcio morreu de acidente aéreo. Na outra esquina
ficava a residência de dona Leila Veloso Pacudino. Em
frente foi erigido o prédio da farmácia do Dr.
Plínio Ribeiro, o nosso ilustre professor de Ciências
Naturais, ali reuniam as pessoas para a conversa noturna de
todos os dias. Em frente ficava também a farmácia
do Dr. Mário Veloso, ele que era marido de dona Nieta
que também foi a nossa professora de Desenho na Escola
Normal.
No final da Rua Camilo Prates esquina com a Praça Dr.
Carlos Versiani ficava a loja do Dr. Herculano Trindade, tio
de estimada minha colega Lia Trindade. Era assim a Rua Camilo
Prates do meu tempo de menina. Quantas saudades!
Wanderlino
Arruda
Cadeira N. 33
Patrono: Enéas Mineiro de Souza
MEU
PROFESSOR
JOAQUIM ROLLA
Minha
primeira lembrança é do dia em que meu pai me
conduziu para a sua escola, na rua de baixo. Foi no início
de 1942, acredito no mês de janeiro. O mestre Joaquim
Rolla vestia uma bata de professor de cor clara, não
sei mais se branca ou em tons cinza. Um homem alto, magro, rápido
nos passos, olhar firme e penetrante o tempo todo, com uma régua
de madeira, pronta para descer no lombo de quem não estudasse
direito ou não desse as respostas certas nos algarismos
ou na pronúncia das palavras. No bolso, um lenço
grande para secar o cuspe e limpar as lousas que todos nós
tínhamos desde o primeiro dia de aula.
As lousas, também chamadas de pedras, eram de ardósia,
com moldura de tábuas, utilizadas dos dois lados com
lápis do mesmo material. Serviam para escrita de pequenos
textos e principalmente para as contas, somas, subtrações,
multiplicação e divisão. Os exercícios
eram tantos, que nenhum pai podia comprar todos os cadernos
necessários, naquele tempo muitos caros. Com seis meses
de aprendizagem, eu multiplicava e dividia por doze números,
coisa difícil de fazer hoje até com as maquininhas
eletrônicas. As somas chegavam a trinta parcelas, conferidas
pelo menos duas vezes para evitar o impacto da régua
e da palmatória. Só não apanhávamos,
se tudo estivesse certo para merecer nota dez. Um nove dava
puxão de orelha e coques na cabeça.
Eli, filho de João de Bita e de Dona Anísia, era
o mais velho da turma. Cristóvão, seu irmão,
sentava comigo na mesma carteira e usava o mesmo tinteiro. Um
grande colega, mas que me atrapalhou, porque eu colava dele,
mesmo não precisando. Durante os meses que estivemos
juntos, eu estudei menos do que precisava. Uma pena, pois depois
dele, nunca mais deixei de ser o primeiro aluno de qualquer
classe, porque estudar muito e caprichar eu sempre soube.
Vou introduzir aqui um texto que escrevi em 1978, quando lancei
em São João o meu primeiro livro, Tempos de Montes
Claros, e narrei uma visita que fiz a Cristovina. Ei-lo: “Foi
num mês de fevereiro, trinta e dois anos depois, que voltei
a rever a minha terra, São João do Paraíso.
Foi bem naquele fevereiro brabo de tantas enchentes, estradas
intransitáveis, com um mundão de dificuldades
para chegar lá, partindo de Taiobeiras. Foi depois de
longa viagem por Valença e Nazaré, por Itaparica
e Salvador, andanças de muito laudar pelo céu
e pelo mar. Em São João, entramos num dia de intensa
luz, depois das chuvas. E comigo estavam Olímpia, Rízzia
e Gracielle, ao mesmo tempo que bons amigos como Joaquim da
Caixa Econômica, Mário Português e meus cunhados,
Anderson e Nelmy, todos para dar maior prestígio ao filho
que voltava à cidade natal. Nas ruas, o Lauro, colega
de curso primário, fazia a surpresa com muitas faixas
de saudação, tudo muito grato, bom demais para
os olhos e para a alma.
Visitas, encontros, apresentações, um rememorar
de saudades, o reviver de velhas e bem guardadas lembranças,
uma alegria aqui, uma decepção ali, porque nem
tudo que o coração registra fica imune à
ação do tempo. Jovens transformados em velhos,
velhos já não na vida. A paisagem já não
a mesma e, ainda que melhorada pelo progresso, diferente. Não
mais a ponte dos banhos de meninos pelados e jovens lavadeiras;
não mais o canavial sem fim; não mais a serra
verde escura ligada às nuvens; não mais a igrejinha
do alto do morro, nova em folha; a grama da praça, substituída
por pavimentação e postos de gasolina; o matagal
do cemitério já bairro novo. Tudo mudado. Os olhos
procuram, o coração deplora toda a ausência
de eternidade nas coisas e nas pessoas! Quanta falta!
À noite, o lançamento do meu livro, na Matriz,
o louvor dos discursos, as explicações, os abraços,
o rolar de tranquilas lágrimas de gratidão ao
passado, a riqueza das lembranças boas que só
a infância pôde dar, o olhar reverente de jovens
professoras ao camarada mais velho, amadurecido pelas dores
da vida. Olímpia me pergunta baixinho o que me passa
pela cabeça, enquanto olho a velha igreja, ouço
o antigo sino, sinto a paisagem pisada por pés descalços
em tempo distante. O que responder? As coisas que passam pelo
sentimento não podem ser analisadas, não são
lógicas. As imagens são superpostas, principalmente
as do meu pai, ainda novo, do meu avô Vicente, de longas
barbas brancas, e da tia Raquel e de D. Adelina, gorda e clara.
Vem o segundo dia e, enquanto dia, uma viagem pelo Mato Cipó
para visitar os tios Júlio e Diolina, a passagem pela
Lagoa da Viada, pelo rio, pelos mangueiros, a procura de velhas
estradas por onde costumava passar, indo para a casa de Maria
de Silvina, o caminho da fazenda do doutor Osório. A
cada lembrança, uma fotografia, a promessa intima de
pintar um quadro. Na volta, à noite, depois do jantar,
a palestra na Escola, uma espécie de acerto de contas,
um desfiar de vivos sonhos, um voto de confiança e um
incentivo às novas gerações. Mais tarde,
o passeio pelas ruas, o mingau de milho na sala de jantar de
D. Benzinha, o café com biscoitos a convite do padre
João, madeirense culto, amigo solícito.
Foi durante um café, sentados em duros bancos, braços
sobre uma mesa comprida sem toalha, daquelas feitas com madeira
fornida, que resolvi fazer um comentário sobre meu primeiro
professor, o velho Joaquim Rolla, mestre de régua e palmatória,
de lousa e tabuada, de norma e abecê. Falei da escola,
falei dos alunos, descrevi os objetos. Quando ia mostrar que
me lembrava também dos móveis, Cristovina, a anfitriã,
sorriu maliciosa, e com brilho no olhar me fez arrancar de dentro
a mais querida das lembranças, pois aquela mesa, aqueles
bancos, todo aquele ambiente era a minha primeira sala de aula.
Havia eu, por acaso, me esquecido de que ela era a filha do
professor?
Estava ali o maior presente ao meu coração...
Wanderlino Arruda
Cadeira N. 33
Patrono: Enéas Mineiro de Souza
PERDAS IRREPARÁVEIS
EUSTÁQUIO
MACEDO
Natural de Montes Claros, participante de família numerosa,
Eustáquio Macedo nasceu em 30 de janeiro de 1946. Segundo
grau no Colégio Estadual Plínio Ribeiro, quando
ainda era Escola Normal, foi aluno de pleno destaque. Leitor
sempre interessado e pesquisador de muitos recursos, foi um
brilhante aluno da FADIR -Faculdade de Direito do Norte de Minas,
hoje Centro de Ciências Humanas da Unimontes – Universidade
Estadual de Montes Claros.
Funcionário do Banco do Brasil, quadro de advogados,
Eustáquio também se destacou em todos os setores.
Logo depois de aposentado, voltou à terra natal, Montes
Claros, mais precisamente à Rua Januária, onde
transformou sua residência em um moderno museu, fonte
e destino de arte e cultura, fruto do seu bom gosto e plenitude
de capacidade inventiva. Cada desenho, cada imagem concretizada,
uma verdadeiro obra de arte.
Convidado
pelo presidente Itamaury Teles de Oliveira, do Instituto Histórico
e Geográfico de Montes Claros, eleito por unanimidade,
teve uma cerimônia de posse grandemente prestigiada, fruto
de muitos amigos e admiradores. Inteligente, culto, observador
em tempo integral, disciplinado nos estudos e leituras, Eustáquio
Macedo foi frequentador cem por cento de todas as nossas reuniões
de trabalho e solenidades.
Sua
passagem para o mundo espiritual deixou-nos mergulhados em uma
ausência irreparável, uma vez que acostumados ao
seu brilho, não conseguimos fazer de nossa imensa saudade
uma substituição aos seus méritos.
LUIZ DE PAULA FERREIRA
Nascido em 27 de junho de 1917, Luiz de Paula Ferreira é
um milagre. Tudo na sua vida deu certo. Tudo: sonhos e realidade,
jeito de ser e de viver. Comportamentos, atitudes, hábitos,
numa receita sábia, e manhosamente aviada desde os velhos
tempos de Roma: “Não basta ser, é preciso
parecer”. Luiz – em todos os decênios que
marcaram a idade do menino, do jovem e do adulto – foi
e pareceu inteligente quase por um dever de fé e destinação.
Querendo - quem sabe - até sem querer, jamais pôde
fugir das luzes de uma generalizada admiração
de próximos e distantes. Conservador e revolucionário,
sempre teve como medida o comedimento, coisas de antigo PSD,
que não fazia reunião sem antes de tudo estar
resolvido. Luiz sempre soube ver e antever, vestido e revestido
de inigualável poder de avaliação. Sabido,
tranquilo, atualizado, sempre pronto para enfrentar o futuro.
Em seus livros – conjunto fantástico de retalhos
intensamente coloridos da vida interiorana brasileira do Século
XX – Luiz de Paula é narrador e personagem, iluminador
e fotógrafo, ao mesmo tempo retratista e retratado em
cenas que ele próprio sempre se inseriu. Dono de poder
material e imaterial, produziu textos mais do que vivos - do
seu e do nosso agrado – encarnando e reencarnando uma
tradição oral de esperteza, que muito será
discutida no futuro, quando as máquinas e os chips ocuparem
com primazia a diretiva humana. Os relatos, as crônicas,
a prosa poética, até os contos que ele - por segurança
e sabedoria, diz de ficção - representam o que
a Literatura pode ter de melhor na fixação de
imagens e vivências, conteúdo importante porque
só possível aos que o viveram com entusiasmo.
Um
pouco mais novo que Luiz, tendo vivido pelo lado de dentro e
de fora de uma casa comercial - ouvinte e visualizador atento
- bem sei do quanto o relar o umbigo no balcão valeu
para nós. Ali nada passava despercebido no universo das
pessoas e das coisas, seja ouvindo uma sanfona de oito baixos,
seja engraxando sapatos ou controlando os movimentos sinuosos
dos bêbedos. Era a vida imitando a vida, para criar memórias
que só a escrita pode fixar, resumindo um musicar e um
cantarolar de lembranças que só um bom narrador
consegue pôr no papel.
Purista corajoso do idioma, Luiz de Paula Ferreira conduz o
leitor à excelência da fala brasileira, com todo
o condão de quem sabe fazer mágica com a inteligência
e o gosto do verdadeiro contador de causos. No que toca à
missão do homem no viver e conviver, no amar e no sonhar.
Experimente-o como quem sabe sugar o sumo doce de uma jabuticaba
bem madurinha, o andar de bicicleta em tempo de Primavera e
o ver e ouvir o sapateado de um cantador de coco.
Concluo, afirmando que seus livros são desafios, trabalho
em espanto de vida, aceitação de mistério.
Suas páginas foram escritas em áureo e doce dealbar
de músicas e de sonhos. Tudo plural: douradas iluminuras
nas capas e, no interior, lindos coloridos, tudo bem serenado
em universo de ideias. Um luxo!
Wesley
Soares Caldeira
Cadeira N. 91
Patrono: Sebastião Sobreira Carvalho
JOÃO
RÊGO: PIONEIRO DO ESPIRITISMO EM TAIOBEIRAS
João
Batista Rêgo nasceu em Lagoa Dantas, perto de Caculé,
na Bahia, provavelmente em 6 de novembro de 1886 - tomada em
consideração anotação sua de que
estava com 88 anos, em agosto de 1975, registro incluso num
texto de memórias, lançado num pequeno caderno[1].
Era um dos sete filhos do primeiro casamento de Martinho Antônio
Rêgo (1851/1911), descendente de portugueses e tropeiro
dinâmico.
Em 1894, João Rêgo ficou órfão de
mãe, com o falecimento de Dona Olímpia Secundina
de Viterbo Garcia. No mesmo ano[2], o casamento entre seu pai
e Dona Jovita Secundina Rêgo (1873/1973) determinou a
mudança para Taiobeiras; melhor dizendo, para o então
Sítio Bom Jardim, local de parada de tropeiros e cavaleiros,
do qual seu pai foi adquirindo partes da terra entre 1901 e
1910 [3]. A abundância de taioba — planta que serve
para ornamentação e consumo — nomearia o
futuro povoado de Bom Jardim das Taiobeiras[4] (1923) e, adiante,
a cidade de Taiobeiras (1954).
João
Rêgo escreveu no citado caderno de memórias: “Chegamos
de muda no arraial no dia 5 de janeiro de 1895, só havia
26 casas cobertas com telhas e os ranchos de pindoba”
(página 10). Na página imediata, ele relatou a
dramática luta pela sobrevivência na época:
“Em 1889 apareceu a grande crise, foi tanta a fome!
Passava os baianos deixando os filhinhos mortos e vivos pelas
estradas. Os tropeiros com os burros magros iam até a
Mata de Santa Maria, buscarem víveres, trasia farinha
de milho foi uma calamidade: lembro-me que serto dia avirarão-nos
[avisaram-nos] que havia uma mulher morta em um rancho de pindoba,
para lá fomos, uma porca muito magra já havia
comido o rosto da mulher e a filhinha estava chupando o peito
da mãe, não lembro quem tomou conta da creanca.
Encontrava as ossadas das pessoas morta da fome nas beiras de
estradas.” (sic)
Conta-se que, aos onze anos, João Rêgo saiu a passear
com um bodoque, e acertou um passarinho. De volta ao lar, disse:
“Já posso me casar. Já sei caçar
e, assim, consigo sustentar uma esposa”.
João se tornou, em verdade, tropeiro, como o pai, cortando
terras da Bahia e Minas Gerais, até Buenópolis
e Curvelo, levando e trazendo mercadorias para mascatear.
O tropeirismo foi de grande importância para a economia
brasileira entre o Século XVII e início do Século
XX. Extensas áreas eram atravessadas, transportando-se
gado e mercadorias, gerando a abertura de estradas e a criação
de vilas.
Pai e filho continuaram tropeiros, mesmo depois de se tornarem
fazendeiros.
Martinho Rêgo foi também delegado de polícia,
chefe político do povoado e seu primeiro vereador, em
Rio Pardo, de que era distrito, no ano de 1898. “Espírito
progressista, imbuído de invulgar ânimo, lutou
tenazmente pela consolidação e desenvolvimento
do lugarejo”, avaliou Rafael Ângelo Miranda, filho
daquela terra. Em 1907, Martinho Rêgo abriu um empório,
em Taiobeiras, onde se venderia de fumo a remédio.
João
Rêgo
João
Rêgo, igualmente, abriria uma casa comercial, para a venda
de produtos sortidos, especialmente tecidos, e, na porta, manteria
uma bomba de gasolina. Era ele de aparência agradável
e incomum: alto, magro, moreno, de traços finos, nariz
afilado e olhos verdes, lembrando aos indianos. Com 28 anos
de idade, casou-se com Fidelcina Leonídia Cangussu (1901/1975),
de Caculé, com quem teve sete filhos: Dedy, Nelmy, Laury,
Andersy, Anderson, Janete e Olímpia. Antes de casar-se
teve três filhos: João Batista (Joãozinho),
Conceição e Mery, todos criados juntamente com
os filhos do casal. Não frequentou escola. Foi de esforço
próprio que aprendeu as letras e os números, por
isso sua escrita apresenta algumas deficiências, reconhecidas
por ele:
“[...] não venho a imitar escritores, sou um
simples escrevedor — preciso dizer o que passa comigo,
desde quando vi com os olhos a claridade da luz do sol [...]”[5]
“[...] agora que já não posso diser que
desponho de uma vida longa como a que conto até hoje,
oitenta e oito anos. Não deixasse escrito estas linhas
— dignas da crítica literária, mas receberei
de bom grado por que não aprendi rabiscar de outro modo
— a crítica ficará com quem não escreveu
e criticou.”[6]
Mais tarde, ele procuraria oferecer a todos os filhos esmerada
educação. Ele e seu irmão Teófilo
Rêgo mandaram buscar da Bahia a primeira professora de
Taiobeiras[7], e outras posteriores. Aos filhos que desejaram,
custeou-lhes os estudos, até na capital mineira.
Era ele que redigia as correspondências do povo de Taiobeiras,
e para o seu nome eram remetidas as cartas, a fim de que as
entregasse aos verdadeiros destinatários, sobretudo do
campo.
Certa vez, no Rio de Janeiro, João Rêgo se encontrava
numa livraria. E lá estava ninguém menos do que
o dr. Rui Caetano Barbosa de Oliveira. Isso mesmo: Rui Barbosa,
o eminente jurisconsulto e polímata. Ambos, coincidentemente,
compravam o mesmo livro. O célebre erudito e estadista
havia sido candidato à presidência da República.
Um só voto lhe foi confiado no Norte de Minas. E esse
voto fora de João Rêgo, na cidade de Salinas, num
tempo em que Taiobeiras era seu distrito. João se apresentou
a Rui, e se declarou o autor daquele único e solitário
voto.
Após
completar cinco décadas de existência, quando nasceu
sua caçula Olímpia, João Rêgo decidiu,
para seu prazer, ler apenas em francês, pois já
contava com reconhecida eficiência. As lições
sobre a língua de Victor Hugo ele as obteve de um pintor
francês (judeu fugido para o Brasil e radicado em Taiobeiras),
que contratou para pintar um quadro. Leitor e falante, seguiu
como autodidata.
Desde menino, João Rego se mostrou dotado de um dom singular:
ver os espíritos, as almas dos mortos. Contava ele que
essa faculdade lhe trouxera muitos desconfortos, pois a comunidade,
reacionária, não lhe oferecia condições
para relatar suas experiências. Muitas vezes, na igreja
local, ele, que, inicialmente, teve formação católica,
viveu momentos de angústia, pois se espantava com a quantidade
de espíritos que via, e, logo que seu pai fechava os
olhos para alguma fase da missa, o menino vidente saía
para fora, procurando alívio psíquico.
Ele escreveu sobre isso:
“[...] eu que sou comunicador com os meus irmãos
do espaço
[...]”[8]
“As vezes eu estou a faser meus calcos, como é
comum todos nós ter nossos afaseres e só estou
comigo: vão entrando pessoas conhecidas e também
desconhecidas, cada qual conversa o que tem para conversar,
trocamos conversas etc; acontece irem saindo outrora saem de
véz, ai é que eu sinto que estava rodeado de espíritos
desencarnados, reunidos em palestra.”[9]
“O doido não conhece ao seu estado de loucura:
penso se estas coisas que vejo, sinto, percebo, pesquiso, não
as domino, são espontanhas. Sei firmemente que elas existem
são reais, não são palpaveis porque são
fluidicas. A carne comunica com a carne. E o espirito comunica
com o espirito.”[10]
“Por que se eu passasse a escrever tudo que passa neste
sentido tudo que vejo e ouço, não teria onde arrumar
a papeleta. [...]. Tambem me lembro de coisas passadas comigo
em outras vidas.”[11]
Quando
chegou a primeira professora em Taiobeiras, ela introduziu o
protestantismo na cidade, fundando a primeira igreja evangélica,
em 1924, a Presbiteriana. João se tornou devotado presbiteriano,
ao lado de Teófilo e Maciel Rêgo (seus irmãos),
Antonyno Almeida e Olympio Ribeiro - todos, futuros espíritas.
Quantas vezes, ante à pregação do culto,
quando o pastor afirmava que os mortos não retornam,
João Rêgo confidenciava aos íntimos a contradição:
o ministro religioso negava o que seus olhos frequentemente
viam.
No início dos anos de 1940, Andersy, um de seus filhos,
na
altura dos treze para quatorze anos, revelou o mesmo dom, a
mediunidade, que irrompeu desafiadora, e nada o harmonizava.
Por esses tempos, Teófilo Rêgo (1891/1977), primeiro
dentista de Taiobeiras, graduado em Juiz de Fora/MG, tinha residência
em Belo Horizonte, e, junto com João Rêgo, matinha
relações comerciais com Bady Curi, famoso espírita
e futuro presidente da União Espírita Mineira.
Bady Elias Curi (1903/1962) imigrara do Líbano e havia
iniciado
suas atividades espíritas no Brasil, em Barra de Piraí/RJ,
em 1921. Depois, em Belo Horizonte, estabeleceu-se no comércio
e se tornou vice-presidente da União Espírita
Mineira, a partir de 1948, e presidente, em 1955. Entre 1937
e 1940, um montes-clarense “pelo coração”,
Cícero Pereira, foi presidente da centenária instituição.
Levado para a capital, Andersy, o filho de João Rêgo
com dificuldades no trato com sua mediunidade, foi apresentado
a Bady, que propôs que o jovem fosse examinado por um
médico, mas perguntou a João Rêgo se não
gostaria de lhe acompanhar a um núcleo espírita
para que o rapaz recebesse também assistência espiritual.
Andersy restabeleceu o equilíbrio psíquico rapidamente.
Estreitados os laços de amizade com Bady Curi, João
Rêgo conheceu o Espiritismo, em fonte límpida,
não tardando a fazer visitas a Chico Xavier, em Pedro
Leopoldo.
É
possível que João conhecesse Chico anteriormente,
possibilidade extraída de duas circunstâncias:
Chico Xavier passou por Taiobeiras, a caminho de Pedra Azul
(a antiga Fortaleza), a fim de representar a Fazenda Modelo
(órgão do Ministério da Agricultura em
Pedro Leopoldo) numa exposição agropecuária
da cidade das maravilhosas turmalinas azuis. Nessa ocasião,
Chico foi hospedado por João Rêgo, em Taiobeiras.
Num momento em que os dois conversavam, as filhas de João,
pequenas, faziam algazarra por perto. O pai recomendou-lhes
silêncio, e Chico conciliou o ânimo do anfitrião,
lembrando-lhe: “Deixai vir a mim as criancinhas”.
De outra vez, João Rêgo esteve em Pedro Leopoldo,
na Fazenda Modelo, para tratar da consignação
de um cavalo campolina com seu diretor, o Dr. Rômulo Joviano,
amigo e benfeitor de Chico Xavier. Um animal foi cedido e se
tornou o reprodutor de um plantel que se disseminou na região
de Taiobeiras, Salinas e Pedra Azul.
Esses dois fatos aconteceram antes ou depois da amizade com
Bady Curi? As opiniões divergem.
O pesquisador Rafael Ângelo Miranda encontrou no livro
Sementeira de paz[12]—composto de mensagens psicografadas
por Chico Xavier entre 1946 e 1948, em reuniões domiciliares
acontecidas na casa do Dr. Rômulo Joviano, para o culto
do Evangelho no lar— duas mensagens espirituais do pai
do Dr. Rômulo, o senhor Arthur Joviano, que fizeram referência
a uma viagem profissional do Dr. Rômulo e de Chico Xavier
ao Norte de Minas, em torno do fim de setembro de 1948. A mensagem
mediúnica datada de 8 de setembro de 1948 recebeu o título
“A solidão é útil à prece”
(capítulo 94), e diz, a certa altura:
“Muito fruto valioso advirá de sua viagem ao
norte mineiro. Em todo o trabalho digno, a palavra funciona
por bendita semente de renovação. Deus abençoe
os seus esforços”.
Na
mensagem seguinte, “Experimentação para
a vidência” (capítulo 95), psicografada em
15 de setembro de 1948, o espírito Arthur Joviano se
refere novamente a uma viagem, sem deixar indicação
do destino, e que pode se tratar da citada viagem ao Norte de
Minas:
“Em vésperas da viagem nova a que se veem compelidos
pelo imperativo da missão atual, rogo ao Senhor lhes
conceda, como sempre, alegria e bom-ânimo no desempenho
do dever edificante. Desnecessário dizer que estaremos
juntos tanto quanto me for possível. Com o auxílio
divino, espero tudo nos corra segundo a nossa expectativa de
satisfazer os superiores desígnios.”
Entre as crises psíquicas de Andersy e a datação
da viagem mencionada no Sementeira de paz há um intervalo
de cerca de oito anos. Talvez as crises de Andersy tenham ocorrido
mais tarde do que o lembrado pelos depoimentos da família.
Ou, quem sabe, a viagem de Chico Xavier a Pedra Azul, hospedando-se
em Taiobeiras, com João Rêgo, tenha sido anterior
àquela noticiada no Sementeira de paz.
Quando João Rêgo regressou de Belo Horizonte, após
a melhora surpreendente do seu filho, trouxe uma mala cheia
de livros espíritas, e declarou a todos sua conversão
ao Espiritismo, para escândalo de muitos taiobeirenses
e a oposição ferrenha do líder religioso
do lugar: frei Jucundiano de Kok[13].
As reuniões de estudos e de práticas mediúnicas
ocorriam na sua própria casa, na Avenida da Liberdade.
Segundo as testemunhas, eram reuniões memoráveis,
de uma atmosfera única, inesquecível.
Médiuns surgiram na própria família Rêgo.
A produção de curas, notadamente a libertação
de pessoas da influência nociva de espíritos desequilibrados,
atraia muita gente. João Rêgo tinha expressiva
autoridade moral sobre os espíritos desequilibrados.
Certa vez, uma mulher chegou num estado de tal desordem mental
que precisou ser levada amarrada. Sem preâmbulos, João
pediu que a soltassem. Feito isso, ele falou ao espírito
que aturdia a pobre criatura: “Deixe-a”. E a mulher
não mais reincidiu naquelas terríveis crises.
A
mesma autoridade lhe amparou, em 1927, quando “A Coluna
Prestes”, de Luiz Carlos Prestes, avançou pelo
Norte de Minas e chegou a Taiobeiras. Quase todos fugiram; e
não era para menos. Os revoltosos praticavam atrocidades
e causavam terror. Muitos integrantes desse movimento foram
arrebanhados das cadeias das cidades por onde a Coluna passava.
Em Taiobeiras, os revoltosos também deixaram mortos.
João Rêgo, porém, ficou no seu lar. Sem
resistência, disponibilizou sua loja e alimentou aqueles
homens. Ao final, quando Luiz Carlos Prestes se despediu, entregou
a ele uma bota, com moedas mais que suficientes para cobrir
as despesas. [14]
Não tardou e foi fundado o primeiro centro espírita
de Taiobeiras, chamado “Joanna D’arc”. Ele
funcionou na via principal da cidade, a Avenida da Liberdade,
em casa que pertencia a Teófilo Rêgo.
João Rêgo não se ilhou em sua caminhada
espírita. Relacionava-se com espíritas de Belo
Horizonte e também de Montes Claros, sendo amigo, aqui,
de Sebastião Sobreira de Carvalho (meu patrono, Cadeira
91), do professor Ezequiel Pereira e de Joel de Abreu.
Quando a “Caravana da Fraternidade”, coordenada
por Leopoldo Machado, esteve em Montes Claros, no final de 1950,
recolhendo assinaturas de adesão ao Pacto Áureo
de 1949, que uniu os espíritas do Brasil, João
Rêgo estava presente e aderiu ao Pacto.
A filha Janete, ao se casar com Heber Rêgo, passou a morar
em Montes Claros, a partir de 1956. Olímpia, casada com
o confrade Wanderlino Arruda, veio no ano seguinte. Laury Rêgo
se estabeleceu aqui por volta de 1960. Isso, claro, intensificou
a presença de João Rêgo em Montes Claros.
Após a fundação da Sociedade Espírita
Allan Kardec, de Montes Claros, em 1966, João Rêgo
acostumou-se a visitar essa instituição, e se
faziam filas de pessoas para conversarem como ele e pedirem
sua orientação. Ilustre casal da terra, que há
muito esperava, em vão, por uma criança, submetendo-se
a todos os tratamentos tradicionais, procurou-o
um dia, e João Rêgo já foi dizendo aos dois:
“Deve ser menina, pois está de vestidinho branco!”.
Logo, o casal completava a felicidade do lar, e o espírito
que se mostrara a João, na forma infantil e de roupinha
branca, passou a enfeitar a vida dos esposos.
João Rêgo estava adiantado no tempo. Foi pai amigo
e disponível para os filhos e as filhas, avô com
colo e paciência para as perguntas dos netos. A neta Cynthia,
por exemplo, encontrava o avô na porta da loja, em Taiobeiras,
subia no seu colo, e o flechava de perguntas, que ele, paciente,
ia respondendo. Era ponderado, sábio e simples. Treinado
como bom tropeiro, sabia cozinhava até muito bem. E tinha
uma incomum consciência ecológica, sendo extremoso
protetor do meio ambiente em suas terras. Ele escreveu em suas
memórias:
“V. já vio da janela da sua vivenda, ao sol
entrar por tras do morro, o sabiá dar a ultima bicada
no restante da goiaba madura e levantar a cabeça despedindo
do crepusculo, soltar mavioso canto de notas musicais tão
sonoras tais enegualaveis, que não se escuta nas outras
aves com tanta suavidade?”[15]
“É muito bonito ver uma floresta o vento soprando
a balançar os seus ramos e a suavidade do perfume despreendidos
das flores e o aroma agreste.”[16]
Ele deixou o plano físico em 13 de maio de 1982, por
volta de 95 anos de idade.
João Batista Rêgo, fundador do movimento espírita
de Taiobeiras, foi mais, foi um dos pioneiros do Espiritismo
no Norte de Minas.
Zoraide
Guerra David
Cadeira N. 86
Patrono: Patrício Guerra
HOMENAGENS
PÓSTUMAS
Em
1996 a escritora Yvonne de Oliveira Silveira, então Presidente
da Academia Montesclarense de Letras, com propriedade externou
seu conceito de homenagem ao tecer o posfácio do livro
“PATRÍCIO GUERRA – Vida e obra” que
escrevi para homenagear in memoriam meu pai, ao ensejo do primeiro
centenário de seu nascimento
“O
homem imortaliza-se pelas ações que o dignificam
(...) Realizando grandes coisas com pequenas ações
na vida cotidiana, torna-se exemplo de amor ao próximo”.
Confirmando sua expressão, estas homenagens póstumas,
ou seja, expressando gratidão e louvor a pessoas amigas
falecidas que merecem ser resgatadas pelos seus exemplos de
vida, através destes acrósticos impregnados de
saudade.
MARIA
DAS MERCÊS – UM NOME SINGULAR
Confirmando
sincera amizade, minha homenagem in memoriam
a Maria das Mercês da Paixão Guedes
Maria das
Mercês? É profecia,
A teus pais revelada. Que riqueza!
Rainha dispensando mil favores,
Ignea cristã, modelo de beleza,
Acalanto de tantos sofredores.
Deus – o Artista que te fez,
Arte pura em ti manifestou,
Sobressaindo a arte do AMOR.
Maria das Mercês, eis que teu nome
Ensina a combater o egoísmo.
Repartes com carinho, amor e fé!
Como bem expressou o teu esposo,
És “presente de Deus”, pois que teus gestos,
São exemplos que erguem e põem de pé.
Analisando
suas idéias, sentimentos e ações conclui
que seu
nome é singular. Os sinônimos perfeitos confirmam
Maria dos
favores; Maria da benignidade; Maria da disposição
favorável para
ajudar o próximo.
RECORDANDO COM GRATIDÃO
Homenagem à memória do saudoso amigo Padre Henrique
Munáiz.
Pontevedra
– Espanha. Lá ele nasceu!
Ao mundo um presente especial.
Deus o assistiu constantemente.
Realizou campanhas contra o mal.
Exemplo de fé e amor ardente.
Hoje,
com saudade agradecemos
Esse belo evangelho do amor.
Núncio da paz a tantos corações,
Reconfortava com perseverança,
Iluminando com suas ações.
Querido do adulto e da criança,
Unia os fiéis num só rebanho.
Ele o Pastor aureolado de esperança!
Meditando sobre sua vida.
Uma conclusão nos advém:
Não apegar aos bens materiais,
Amar a Deus que é nossa proteção,
Imitar Cristo como ele fez,
Zelando solidário o nosso irmão.
PERFIL
REAL
Com saudade e gratidão a Deus, minha homenagem in memoriam
a Jovino Pereira de Brito.
Jesus
e Maria - força e luz em sua vida.
O seu lema era o amor em ação.
Vivência de paz com sua família tão querida,
Inspirando coragem ante a missão.
No lar, na Igreja ou no lazer.
O modelo de um fiel cristão.
Embora o coração esteja imerso na saudade sinto-me
reconfortada
pela esperança explicitada no evangelho Lucas 6,21: “Bem-aventurados
vós que agora chorais, porque vos alegrareis!”
RADIALISTA
PAULO ROBERTO
FUNDADOR DO PRIMEIRO HOSPITAL DE MONTES CLAROS
PAULO ROBERTO - O médico e radialista
José Marques Gomes (o nome de batismo de Paulo Roberto)
nasceu em 10 de outubro de 1903, na localidade mineira de Dom
Silvério. Antes de ser radialista, dedicou-se exclusivamente
à medicina, tendo morado em Montes Claros, onde fundou
o primeiro hospital da cidade. Ao retornar ao Rio de Janeiro,
sentiu-se atraído pelo rádio, que, aos poucos,
ia se consolidando como um extraordinário meio de comunicação.
Na época, o médico e o radialista trabalharam
juntos. Especializou-se em obstetrícia. Na Rádio
Nacional, lançou a campanha “Dêem árvores
ao Brasil!” Sua voz atingiu o país através
de programas da mais alta qualidade, como Bandeiras da Liberdade,
Gente que brilha, Nada além de dois minutos, Honra ao
mérito, Obrigado, Doutor e A lira do Xopotó. Compositor,
é autor de “Vagalumeando”, música
gravada por Elizete Cardoso. Paulo Roberto era um humanista
e foi um dos fundadores do Partido Socialista Brasileiro. Talvez,
por isso, em 1964, tenha sofrido perseguições
políticas, sendo demitido, com tantos outros companheiros,
da Rádio Nacional. Segundo Renato Murce, “Paulo
Roberto foi um dos maiores radialistas desta terra. Todas as
suas criações traziam a marca da inteligência,
da cultura e de um profundo sentimento humano, difícil
de ser igualado e muito menos ultrapassado”. Paulo Roberto
morreu em fevereiro de 1973, aos 69 anos de idade. Foi, sem
dúvida, um dos expoentes do rádio brasileiro.
No livro A Era do Radio é dedicado um capítulo
inteiro a Paulo Roberto. Vale a pena saber um pouco mais sobre
este grande brasileiro! (Texto: autor desconhecido)
Paulo Roberto
Impresso
na oficina da
GRÁFICA EDITORA MILLENNIUM LTDA.
Rua Pires e Albuquerque, 173 - Centro
39.400-057 - Montes Claros - MG
E-mail: mileniograf@hotmail.com
Telefone: (38) 3221-6790
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