|
NOTAS
DOS
COORDENADORES DA EDIÇÃO
A ordem
de publicação dos trabalhos dos associados efetivos
obedeceu à sequência alfabética dos nomes
dos autores. Em seguida, foram ordenados os trabalhos dos
associados correspondentes e convidados;
A Revista
não se responsabiliza por conceitos e declarações
expedidos em artigos publicados, nem por eventuais equívocos
de linguagem nela contidos. A revisão dos originais
foi feita pelos próprios autores dos artigos publicados.
FINS DO IHGMC
Art.
2º - O IHGMC tem como finalidade pesquisar, interpretar
e divulgar fatos históricos, geográficos, etnográficos,
arqueológicos, genealógicos e suas ciências
e técnicas auxiliares, assim como fomentar a cultura,
a defesa e a conservação do patrimônio
histórico, artístico, cultural e ambiental do
município de Montes Claros e região Norte de
Minas.
INSTITUTO
HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE MONTES CLAROS
Sobrado de Dulce Sarmento
Rua Cel. Celestino, 140 - Centro - 39400-014 - Montes Claros/MG
(Corredor Cultural Padre Dudu)
REVISTA DO
INSTITUTO HISTÓRICO
E GEOGRÁFICO DE MONTES CLAROS
Publicação
Semestral
Diretor e
Editor
Dário Teixeira Cotrim
Conselho Editorial
Dário Teixeira Cotrim
Wanderlino Arruda
Hermildo Rodrigues
Mara Yanmar Naciso Cruz
Silvana Mameluque Mota
Editoração,
Diagramação e Impressão: Gráfica
Editora Millennium Ltda.
Fotografias:
Arquivo de Dário Teixeira Cotrim, Eliane Maria Fernandes
Ribeiro, Harlen Soares Veloso, Hermildo Rodrigues, Leonardo
Álvares da Silva Campos, Maria Clara Lage Vieira,
Manoel Messias Oliveira, Landulfo Santana Prado Filho, Maria
do Carmo Oliveira, Silvana Mameluque, Américo Martins
Filho, Mara Narciso, Valdevi, Facella e Internet.
Impressão
Gráfica Editora Millennium Ltda.
ISBN: 978-65-86024-19-7
Capa: O Tropeiro
SUMÁRIO
Diretoria 2020-2021–
07
Associados Efetivos – 10
Associados Honorários – 12
Associados Eméritos – 13
Associados Correspondentes – 13
Homenagem a Associados Falecidos – 15
APRESENTAÇÃO
– 17
ARTIGOS DIVERSOS DOS ASSOCIADOS EFETIVOS DO IHGMC
Américo
Martins Filho | O Tropeiro Américo Martins
- 21
Antônio Pereira Santana | Nave de
passagem - 25
Dário Teixeira Cotrim | Prefácio
para Landulfo - 28
Edvaldo de Aguiar Fróes | A rotina
no hospital - 31
Eliane Maria Fernandes Ribeiro | Sertanear
César, saudade e emoção - 40
Filomena de Alencar Monteiro Prates | Adeus
ao Mestre - 46
Gustavo Mameluque | Em tempo de pandemia,
vamos falar de inveja - 49
Harlen Soares Veloso | Bicentenário
de dr. Carlos Versiani - 52
Hermildo Rodrigues | Fafil - Unimontes:
50 anos de início das aulas - 55
Ivana Ferrante Rebello | Cabaré
Mineiro - 59
José do Carmo Felício | Professor
Cícero Pereira - 64
José Francisco Lima de Ornelas |
Jamais serão esquecidos - 68
José Jarbas Oliveira Silva | Jair
Ruas, João Marques e Tone de Zengla - 70
José Ponciano Neto | Intertv 40
anos - 74
Landulfo Santana Prado Filho | Baronízia
Santana Gonçalves - 78
Lázaro Francisco Sena | O “furacão”
Wanderlino - 83
Lázaro Francisco Sena | Sobrevivência
e Fé - 85
Leonardo Alves da Silva Campos | A capela
que ia virar cadeia afundou - 87
Manoel Messias Oliveira | Éramos
nove, agora somos oito - 91
Mara Yanmar Narciso | Pedido de casamento
- 95
Mara Yanmar Narciso | Montes-claridades,
de Wanderlino Arruda - 100
Márcio Adriano Silva Moraes | Cinemoctografia
- 103
Maria Clara Lage Vieira | Augusta Ribeiro
Drumond - 104
Maria da Glória Caxito Mameluque
| Diomedes, “meu tipo inesquecível” -
111
Maria Inês Silveira Carlos | Entrevista
com a minha mãe - 115
Terezinha de Souza Campos Neves | Folclore:
saberes de um povo - 121
Wanderlino Arruda | João Gordo -
123
Zoraide Guerra David | Patrício
Guerra, o polivalente guerreiro - 127
ARTIGOS
DIVERSOS DOS ASSOCIADOS
CORRESPONDENTES DO IHGMC
Fernanda
Oliveira Matos | Anízio Teixeira, de Caetité
para o mundo - 141
Maria do Carmo Oliveira | História
de dona Lili - 145
DIRETORIA
DO INSTITUTO HISTÓRICO E
GEOGRÁFICO DE MONTES CLAROS
Fundado em 27
de dezembro de 2006.
COMISSÃO
FUNDADORA 2006-2007
Dr. Dário
Teixeira Cotrim
Dr. Haroldo Lívio de Oliveira
Jornalista Luís Ribeiro dos Santos
Dr. Wanderlino Arruda
PRESIDENTE
DE HONRA |
Palmyra
Santos Oliveira |
PRESIDENTE |
Dário
Teixeira Cotrim |
1º VICE
- PRESIDENTE |
José
Ferreira da Silva |
2º VICE
- PRESIDENTE |
Sebastião
Abiceu dos Santos Soares |
1º DIRETOR-SECRETÁRIO |
Mara Yanmar
Narciso Cruz |
2º DIRETOR-SECRETÁRIO |
Hermildo Rodrigues |
1º DIRETOR
DE FINANÇAS |
Lázaro
Francisco Sena |
2º DIRETOR
DE FINANÇAS |
José
Francisco Lima Ornelas |
DIRETORA DE
PROTOCOLO |
Wanderlino Arruda |
Diretor de Comunicação
Social |
Silvana Mameluque
Mota |
Diretor de Arquivo,
Biblioteca e Museu |
Amelina Chaves |
CONSELHO
CONSULTIVO
Membros
Efetivos
Maria de Lourdes Chaves
Teófilo Azevedo Filho
Virgínia Abreu de Paula |
Membros
Suplentes
Juvenal Caldeira Durães
Gessileia Soares Cangussu
Dorislene Alves Araújo |
CONSELHO
FISCAL
Membros
Efetivos
Carlos Renier Azevedo
André Luiz Lopes Oliveira
Alceu Augusto de Medeiros |
Membros
Suplentes
Maria do Carmo Veloso Durães
Maria da Glória Caxito Mameluque
João Nunes Figueiredo |
COMISSÃO
DE GEOGRAFIA E ECOLOGIA
Rita de Cássia
Oliveira Bichara
José Ponciano Neto
Maria Regina Barroca Peres
Antônio Félix da Silva
Ildeu Soares Caldeira Júnior
COMISSÃO
DE HISTÓRIA E ARQUEOLOGIA
Denilson Meireles
Barbosa
Leonardo Álvares da Silva Campos
José Dirceu Veloso Nogueira
César Henrique Queiroz Porto
Paulo Hermano Soares Ribeiro
COMISSÃO
DE ANTROPOLOGIA,
ETNOGRAFIA E SOCIOLOGIA
Maria Ângela
Figueiredo Braga
Hélio Antônio Maia
Jânio Marques Dias
Frederico Assis Martins
Eliane Maria Fernandes Ribeiro
COMISSÃO
DE CLASSIFICAÇÃO E DE
ADMISSÃO DE SÓCIOS
José Francisco
Lima de Ornelas
Marilene Veloso Tófolo
Juvenal Caldeira Durães
Zoraide Guerra David
Landulfo Santana Prado Filho
COMISSÃO
DE DOCUMENTAÇÃO E PUBLICAÇÃO
Marilúcia
Rodrigues Maia
Yury Vieira Tupinambá de Léllis Mendes
Ivana Ferrante Rebello e Almeida
Daniel Tupinambá Lélis
Maria Clara Vieira Lage
COMISSÃO
DE VISITA E APOIO
João de
Jesus Malveira - Coordenador
Edvaldo Aguiar Fróes
José Ferreira da Silva
Manoel Pereira Fernandes Neto
Harlen Soares Veloso
COMISSÃO
DE PROMOÇÕES E EVENTOS
Ana Valda Xavier
Vasconcelos
Josecé Alves dos Santos
Teófilo de Azevedo Filho (Téo Azevedo)
Maria de Lourdes Chaves (Lola Chaves)
Augusta Clarice Guimarães Teixeira (Clarice Sarmento)
Mara Yanmar Narciso da Cruz
COMISSÃO
DA LITERATURA DE CORDEL
Carlos Renier
Azevedo (coordenador)
Teófilo Azevedo Filho
Josecé Alves dos Santos
João Nunes Figueiredo
Amelina Chaves
LISTA DE SÓCIOS
EFETIVOS DO IHGMC
CD |
Sócios |
Patronos |
01 |
Edvaldo
de Aguiar Fróes |
Alpheu
Gonçalves de Quadros |
02 |
VAGA |
Alfredo
de Souza Coutinho |
03 |
Antônio
Alvimar Souza |
Antônio
Augusto Teixeira |
04 |
Maria
do Carmo Veloso Durães |
Antônio
Augusto Veloso (Desemb.) |
05 |
Dorislene
Alves Araújo |
Antônio
Ferreira de Oliveira |
06 |
Marcos
Fábio Martins Oliveira |
Antônio
Gonçalves Chaves |
07 |
Maria
Aparecida Costa |
Antônio
Gonçalves Figueira |
08 |
Jânio
Marques Dias |
Antônio
Jorge |
09 |
Narcíso
Gonçalves Dias |
Antônio
Lafetá Rebelo |
10 |
Maria
Florinda Ramos Pina |
Antônio
Loureiro Ramos |
11 |
Sebastião
Abiceu dos Santos Soares |
Ary Oliveira |
12 |
Antônio
Augusto Pereira Moura |
Antônio
Teixeira de Carvalho |
13 |
Cesar
Henrique Queiroz Porto |
Ângelo
Soares Neto |
14 |
Ana Valda
Xavier Vasconcelos |
Arthur
Jardim Castro Gomes |
15 |
Magda
Ferreira de Souza |
Ataliba
Machado |
16 |
Gilsa
Florisbela Alcântara |
Athos
Braga |
17 |
Samuel
Andrade Lopes |
Auguste
de Saint Hillaire |
18 |
Frederico
Assis Martins |
Brasiliano
Braz |
19 |
Paulo
Hermano Soares Ribeiro |
Caio Mário
Lafetá |
20 |
Felicidade
Maria do Patrocínio Oliveira |
Camilo
Prates |
21 |
Terezinha
Gomes Pires |
Cândido
Canela |
22 |
Silvana
Mameluque Mota |
Carlos
Gomes da Mota |
23 |
Landulfo
Santana Prado Neto |
Carlos
José Versiani |
24 |
José
Ponciano Neto |
Celestino
Soares da Cruz |
25 |
Pedro
Borges Pimenta Júnior |
Corbiniano
R Aquino |
26 |
Harlen
Soares Veloso |
Cyro dos
Anjos |
27 |
Regina
Maria Barroca Peres |
Dalva
Dias de Paula |
28 |
Hélio
Antônio Maia |
Darcy
Ribeiro |
29 |
Carlúcio
Pereira dos Santos |
Demóstenes
Rockert |
30 |
Maria
Lúcia Becattini Miranda |
Dona Tirbutina |
31 |
Augusta
Clarice Guimarães Teixeira |
Dulce
Sarmento |
32 |
Everaldo
Ramos de Oliveira |
Edgar
Martins Pereira |
33 |
Wanderlino
Arruda |
Enéas
Mineiro de Souza |
34 |
Geralda
Magela de Sena e Souza |
Eva Bárbara
Teixeira de Carvalho |
35 |
Hermildo
Rodrigues |
Ezequiel
Pereira |
36 |
Felicidade
Vasconcelos Tupinambá |
Felicidade
Perpétua Tupinambá |
37 |
Evaldo
Gener de Fátima |
Francisco
Barbosa Cursino |
38 |
Maria
Inês Silveira Carlos |
Francisco
Sá |
39 |
José
dos Santos Neto |
Gentil
Gonzaga |
40 |
Maria
da Glória Caxito Mameluque |
Georgino
Jorge de Souza |
41 |
Reinine
Simões de Souza |
Geraldo
Athayde |
42 |
Kelly
Cristine Nery Rocha Gomes |
Geraldo
Tito da Silveira |
43 |
José
do Carmo Felício |
Godofredo
Guedes |
44 |
Roberto
Carlos M. Santiago |
Heloisa
V. dos Anjos Sarmento |
45 |
Gustavo
Mameluque |
Henrique
Oliva Brasil |
46 |
Eliane
Maria F Ribeiro |
Herbert
de Souza – Betinho |
47 |
Amelina
Fernandes Chaves |
Hermenegildo
Chaves |
48 |
Virgínia
Abreu de Paula |
Hermes
Augusto de Paula |
49 |
José
Ferreira da Silva |
Irmã
Beata |
50 |
Antônio
Félix da Silva |
Jair Oliveira |
51 |
Osmar
Pereira Oliva |
João
Alencar Athayde |
52 |
Maria
de Lourdes Chaves |
João
Chaves |
53 |
VAGA |
João
Batista de Paula |
54 |
Cláudio
Ribeiro Prates |
João
José Alves |
55 |
Lázaro
Francisco Sena |
João
Luiz de Almeida |
56 |
Ivana
Ferrante Rebelo |
João
Luiz Lafetá |
57 |
Marilúcia
Rodrigues Maia |
João
Novaes Avelins |
58 |
Maria
Ângela Figueiredo Braga |
João
Souto |
59 |
Márcio
Adriano Silva Moraes |
João
Vale Maurício |
60 |
Manoel
Messias Oliveira |
Jorge
Tadeu Guimarães |
61 |
Ildeu
Soares Caldeira Jr. |
José
Alves de Macedo |
62 |
José
Jarbas Oliveira Silva |
José
Esteves Rodrigues |
63 |
Carlos
Renier Azevedo |
José
Gomes Machado |
64 |
Palmyra
Santos Oliveira |
José
Gomes de Oliveira |
65 |
Laurindo
Mekie Pereira |
José
Gonçalves de Ulhôa |
66 |
Fabiano
Lopes de Paula |
José
Lopes de Carvalho |
67 |
Denilson
Meireles |
José
Monteiro Fonseca |
68 |
Benjamim
Ribeiro Sobrinho |
José
Nunes Mourão |
69 |
Rita de
Cássia Oliveira Bichara |
José
(Juca) Rodrigues Prates Júnior |
70 |
José
Roberval Pereira |
José
Tomaz Oliveira |
71 |
Manoel
Pereira Fernandes Neto |
Júlio
César de Melo Franco |
72 |
Júnia
Veloso Rebello |
Lazinho
Pimenta |
73 |
Terezinha
de Souza Campos Neves
|
Lilia
Câmara |
74 |
Filomena
Alencar Monteiro Prates |
Luiz
Milton Prates |
75 |
Alceu
Augusto de Medeiros |
Manoel
Ambrósio |
76 |
VAGA |
Manoel
Esteves |
77 |
Maria
Jacy de Oliveira Ribeiro |
Mário
Ribeiro da Silveira |
78 |
Américo
Martins Filho |
Mário
Versiani Veloso |
79 |
Antônio
Pereira Santana |
Mauro
de Araújo Moreira |
80 |
Isau
Rodrigues Oliveira |
Miguel
Braga |
81 |
Juvenal
Caldeira Durães |
Nathércio
França |
82 |
Josecé
Alves dos Santos |
Nelson
Viana |
83 |
Daniel
Oliva Tupinambá de Lélis |
Newton
Caetano d’Angelis |
84 |
Itamaury
Telles de Oliveira |
Newton
Prates |
85 |
André
Luís Lopes Oliveira |
Armênio
Veloso |
86 |
Zoraide
Guerra David |
Patrício
Guerra |
87 |
Elzita
Ladeia Teixeira |
Pedro
Martins de Sant’Anna |
88 |
João
de Jesus Malveira |
Plínio
Ribeiro dos Santos |
89 |
José
Francisco Lima Ornelas |
Robson
Costa |
90 |
Teófilo
Azevedo Filho (Téo) |
Romeu
Barcelos Costa |
91 |
Wesley
Caldeira |
Sebastião
Sobreira Carvalho |
92 |
Renat
Nureyev Mendes Tupinambá |
Sebastião
Tupinambá |
93 |
Dário
Teixeira Cotrim |
Simeão
Ribeiro Pires |
94 |
Gessileia
Soares Cangussu |
Teófilo
Ribeiro Filho |
95 |
Marilene
Veloso Tófolo |
Terezinha
Vasquez |
96 |
Yure Vieira
Tupinambá de Lelis Mendes |
Tobias
Leal Tupinambá |
97 |
Leonardo
Alvares da Silva Campos |
Urbino
Vianna |
98 |
Mara
Yanmar Narciso |
Virgilio
Abreu de Paula |
99 |
João
Nunes Figueiredo |
Waldemar
Versiani dos Anjos |
100 |
Maria
Clara Lage Vieira |
Wan-dick
Dumont |
ASSOCIADOS
EMÉRITOS
Antônio
Ferreira Cabral
Expedito Veloso Barbosa
Luiz Pires Filho
Maria das Dores Antunes Câmara
Milene Antonieta Coutinho Maurício
Petrônio Braz
Waldir Sena Batista
ASSOCIADOS
HONORÁRIOS
Alberto
Gomes Oliveira
Carlos Henrique Gonçalves Maia
Irany Telles de Oliveira Antunes
Girleno Alencar Soares
João Carlos Rodrigues Oliveira
José Antônio Corrêa Mourão
José Catarino Rodrigues
José Emídio de Quadros
Luís Ribeiro dos Santos
Mardete Dias Silveira
Newton Carlos do Amaral Figueiredo
Paulo Roberto Xavier da Rocha
Pedro Ribeiro Neto
Raquel Veloso de Mendonça
Waldyr Barbosa de Oliveira
ASSOCIADOS
CORRESPONDENTES
Adilson
Cézar Sorocaba - SP
Alan José Alcântara Figueiredo Macaúbas
- BA
André Kohene Caetité - BA
Antônio Félix da Silva Florianópolis -
SC
Avay Miranda Brasília - DF
Carlos Lindemberg Spínola Castro Belo Horizonte - MG
Cândida Correia Cõrtes Carvalho Luz - MG
Célia do Nascimento Coutinho Belo Horizonte - MG
Daniel Antunes Júnior Espinosa - MG
Dêniston Fernandes Diamantino Januária - MG
Eustáquio Wagner Guimarães Gomes Belo Horizonte
- MG
Felicíssimo Tiago dos Santos Rio Pardo de Minas - MG
Fernanda de Oliveira Matos Caetité - BA
Fernando Antônio Xavier Brandão Belo Horizonte
- MG
Flávio Henrique Ferreira Pinto Belo Horizonte - MG
Honorato Ribeiro dos Santos Carinhanha - BA
Jeremias Macário Vitória da Conquista - BA
João Martins Guanambi - BA
Jorge Ponciano Ribeiro Brasília - DF
José Walter Pires Brumado - BA
Liacélia Pires Leal Feira de Santana - BA
Manoel Hygino dos Santos Belo Horizonte - MG
Maria do Carmo de Oliveira Porteirinha - MG
Moisés Vieira Neto Várzea da Palma - MG
Neide Almeida da Cruz Feira de Santana - BA
Paulo Roberto de Souza Lima São João Del Rei
- MG
Pedro Oliveira Várzea da Palma - MG
Reynaldo Veloso Souto Belo Horizonte - MG
Terezinha Teixeira Santos Guanambi - BA
Wellington Caldeira Gomes Belo Horizonte - MG
Zanoni Eustáquio Roque Neves Belo Horizonte - MG
Zélia Patrocínio Oliveira Seixas Aracajú
- SE
Zilda de Souza Brandão (Bim) Belo Horizonte - MG
EPITÁFIO
Para um túmulo de amigo
“A morte vem de manso, em dia incerto e fecha os olhos
dos que têm mais sono...”
(Alphonsus de Guimaraens - ossa mea, I.)
Dário
Teixeira Cotrim
Cadeira N. 93
Patrono: Simeão Ribeiro Pires
Ainda sob o medo da
pandemia, estamos cumprindo a nossa meta de publicar uma
Revista a cada semestre e, desta vez, concluímos
a edição do segundo semestre de 2020, com
a publicação do vigésimo quinto volume,
toda ela recheada de novidades para o deleite dos associados.
São textos escritos por vinte e oito confrades, todos
eles elaborados com nitidez de conteúdo e, que, certamente
vão enriquecer a memória e a história
do nosso povo. Este volume da Revista tem como tema central
o conhecimento da história que, mesmo encarada sob
uma perspectiva sinóptica do resgate e da preservação
dos fatos, ainda contribui para o desenvolvimento cultural
da cidade de Montes Claros e da região.
Nota-se que o Instituto
Histórico e Geográfico de Montes Claros esteve
sempre na vanguarda dos princípios básicos
da história, com a asserção do conhecimento
em diversos segmentos dos estudos da humanidade, através
dos livros.
É importante
que o leitor possa comentar e opinar, com encadeamento de
ideias, sempre no sentido de melhorar a qualidade das nossas
publicações, propondo uma reflexão
do próprio pensamento e a divulgação
de obras raras e esquecidas em gavetas de armários
velhos e solitários.
Pois bem, o nosso proposito
está cada vez mais próximo da realidade que
aspiramos. Portanto, agradecemos aos associados a confiança
depositada no Conselho Editorial desta obra, percebendo
ainda que, o fio condutor a unir esse conjunto de textos
foi tão somente a dedicação dos confrades
nas pesquisas incessante do processo natural da memória.
Em resumo: aqui está
mais uma Revista, com capa do monumento aos tropeiros, uma
doação de Américo Martins Filho, ilustre
associado do nosso egrégio Instituto Histórico
e Geográfico de Montes Claros e, tudo isso graças
ao empenho de todos os confrades. Assim, sendo, boa leitura!
O
TROPEIRO AMÉRICO MARTINS
Nasceu
a 4 de Março de 1890, na cidade de Jacaracy, no estado
da Bahia. Filho do capitão José Martins Ribeiro
e de dona Etelvina Cangussú Baleeiro Martins.
Talvez
herdando a fibra dos seus pais, Américo era um homem
resoluto e de atitudes firmes. Segundo informes de pessoas
de sua família, teve ele que enfrentar a luta da
subsistência desde os seus doze anos de idade. Para
melhor êxito das suas pretensões, ainda moço,
procurou, em sua terra, o padre Guilhermino, a quem se ligava
por laços de parentesco, para pedir-lhe um emprego.
Por incrível que pareça, foi nessa época,
quando ainda imberbe e inexperiente, que lhe foi confiado
um “lote” de burros (dez animais) para fazer
o comércio ambulante entre a vila de Duas Barras
e Lençóis do Rio Verde (hoje Urandí
e Espinosa). Os lucros eram diminutos, chegando a ganhar
um tostão na venda de um saco de farinha. Homem de
aventura, não deixava de ter suas ambições
para progredir.
Daí veio o desejo
de adquirir a tropa e fazer o comércio por conta
própria. Imaginando a dificuldade que lhe parecia
intransponível, de conseguir o numerário e
condições para a compra, resolveu fazer promessa
ao Senhor Bom Jesus da Lapa, em que consistia ir à
cidade onde está situada a Basílica do miraculoso
santo, para, em três dias seguidos, varrer e limpar
o sagrado templo. Efetivamente, o resultado não se
fez esperar. O padre, vendo como eram conduzidos os negócios
do seu protegido, não teve dúvidas em vender-lhe
a tropa em boas condições e bom prazo. (veja
foto)
Posteriormente, vendeu
o lote de burros e, com o produto, ingressou no comércio
ambulante de jóias. Assim, visitando diversos lugares,
chegou até Vila Brasília, onde encontrou bom
campo, principalmente entre os fazendeiros da região,
com os quais achava mais fácil transacionar. Conversador
e bastante insinuante, sabia convencer o freguês que,
raramente deixava de comprar-lhe uma peça, mesmo
que fosse apenas um par de brincos ou um anel.
Desde quando ali aportara,
se revelou um bom negociante. Exerceu, não só
a profissão de joalheiro, mas, também, outros
comércios, inclusive de tropa, para a qual tinha
encarregado de confiança. Foi negociante estabelecido
com o comércio de fazendas, ferragens, armarinhos
e outros artigos. Deu ao seu estabelecimento o nome de “Empório
4 de Março” (dia do seu aniversário).
Espírito
empreendedor, como disse linhas atrás, Américo
Martins tinha iniciativas arrojadas. Foi o primeiro a adquirir
um caminhão “Chevrolet”, recebido na vila,
então, com discurso e música, como um acontecimento
marcante no lugar. Foi um dos grandes fazendeiros da região,
explorando, em larga escala, o comércio de gado. Anos
depois, transferiu com sua família para Montes Claros,
onde educou os filhos, quando então, adquiriu a Fazenda
Rocinha, nas proximidades de Bairro Jaraguá.
Américo Martins,
também pioneiro na região do Urucuia, para onde
ia à cavalo.
Nesta região,
foi o pioneiro a trazer o primeiro TELEFONE, a primeira
Rede de Energia Elétrica, o primeiro Poço
Tubular, benfeitorias que tinham como ponto final, a sede
da sua Fazenda Rocinha.
Paralelamente, tempos
depois, iniciou o primeiro Posto de Combustível (o
atual Posto da Produção), que funcionava em
anexo, Armazém, Restaurante e Hotel. Além
deste comércio e atividades rurais, AMÉRICO
MARTINS, atendendo o pedido de sua nora Rosângela
Veloso Assis Martins, iniciou a construção
da “Escola Américo Martins”, o qual foi
o primeiro educandário desta região de Montes
Claros. Quando no término das obras fez a doação
ao município, através do prefeito Antônio
Lafetá Rebello. É de deixar gravado, que sua
nora Rosângela, foi a primeira coordenadora desta
escola.
Anos
depois, transferida para o Bairro Jaraguá I, já
sob a administração do Governo Estadual, promoveu
e pratica excelente educação a milhares de alunos
que aqui passaram , realizando desta forma o sonho de AMÉRICO
MARTINS, sertanejo que em toda sua vida (faleceu em junho
de 1968), tornou-se em realidade seus sonhos progressistas,
em benefício de diversas comunidades por onde passou.
NAVE
DE PASSAGEM
Quando me buscares,
não mais estarei aqui, não quero ser o último
a embarcar nessa nave de luz. O vento já vem soprando
em busca dos retardatários da vida, a nave não
espera por ninguém. A sombra da tarde confunde os
rostos dos que ficam e a lua ilumina a face dos que querem
ir. Dos que saem pelos caminhos que um dia foi prometido
para que não houvesse nenhum lamento nos olhos dos
meninos e meninas, dos filhos e filhas do trabalho honroso
ou escravo, dos puros e dos delinquentes, dos anjos que
não foram para a catequese quando chamados.
Se me olhares nos olhos
não verás o brilho que carrego e não
entenderás o meu rosto, e jamais verás a luz
que trago n’alma. Tenho todos os sonhos adormecidos,
que foram escritos em tempos pretéritos. São
rabiscos feitos em papeis avulsos que mantenho guardados
na mente que ainda está sã e sonhadora, mesmo
com esses contratempos de ventos e sombras que sopram em
todas as direções, fazendo vítimas,
indiscriminadamente: negros, brancos, pardos, europeus,
americanos, do norte e do sul, e tantas outras raças
por esse mundo afora.
Ainda com tudo isso,
a minha mente viaja em devaneios, que são permitidos
nas noites quentes de lua cheia, ou mesmo na lua minguante.
A lua nos remete a delinquir. Ela sugere pecados que serão
perdoados assim que a nave chegar ao ponto final.
Quando voltares, verás
que minha mala já não está sobre o
guarda-roupas do quarto como de costume. O mesmo quarto
onde deitei para dormir à espera da tua companhia,
sem contudo ter feito um poema que falasse de amor, ainda
que em rimas de dor, como são os mais lindos, e que
são lidos as lágrimas pelas criaturas que
teimam em amar.
O amor, tão
grandioso como é, deveria criar uma luz de felicidade
eterna, mas não! Ele está sempre na dor, a
espera do fim, seja pela perda do ente querido ou pela traição
do hipócrita que existe em cada personagem seja real
ou fictícia.
A luz da nave dá
o sinal de partida. Não há uma chamada por
ordem alfabética, todos devem estar atentos a tudo
a sua volta.
Naquela primeira noite
da viagem ficamos todos juntos prestando muita atenção
ao noticiário. As conversas foram diminuindo a medida
que o tempo passava. Na embriaguez do sono eu observei que
mesmo a nave estando em alta velocidade algumas pessoas
continuavam a entrar e se acomodarem nos bancos. Eu tive
uma pequena dúvida se eram de fato pessoas ou simples
espíritos que estavam em busca dos seus corpos, e
essa preocupação tirou-me o sono: seria eu,
também, um espirito?
Saí a andar
pelo corredor da nave. Tentei falar com as pessoas ou com
os espíritos, mas ninguém me ouvia, ou fingiam
não ouvir. Então resolvi voltar ao meu lugar.
Não o mais encontrei. Todos os lugares eram iguais,
nada identificava onde eu estava anteriormente.
Eu não tinha
levado nada para essa viagem, nem a mala eu consegui localizar.
Acho que na correria eu a deixei em cima do guarda-roupas,
deve ter sido isso mesmo, não me lembro de têla
trazido comigo. Recostei em um canto qualquer e esperei
o dia clarear para eu poder me orientar direito. O silêncio
era quase total, um pequeno zumbido vinha da parte traseira
da nave, agora já não sei direito se traseira
ou dianteira, tudo era igual. O barulho parou, só
eu estava acordado, as janelas continuavam abertas, ninguém
mais entrava como antes, parece que as pessoas já
estavam cansadas: todas dormiam profundamente. Comecei a
me preocupar, o dia não clareava!
Olhando
pela janela, eu não via a lua, tão pouco as
estrelas. Eu não tinha um relógio de pulso.
Como saber as horas? Ao passar a mão pelo pulso notei
que batia lento, quase parando. Contei as batidas, não
passavam de umas poucas dezenas, acho que menos que quarenta
e poucas, saí andando a procura de alguém que
pudesse me socorrer, que pudesse medir os meus batimentos
cardíacos, quem sabe encontrar ali um médico
cardiologista ou mesmo o seu espirito, tomara que ele não
tenha esquecido o seu estetoscópio como eu esqueci
a minha mala. O desespero foi tomando conta de mim, eu gritei
alto, uma, duas, três ou mais vezes, o meu grito não
era ouvido, comecei a tossir um cheiro de mofo invadiu o espaço
onde eu me encontrava. Eu não via outra saída,
a não ser ir pra janela, tentar respirar um ar puro.
Porra nenhuma o cheiro de mofo vinha exatamente daquela janela,
corri pra outra, o mesmo cheiro a me sufocar, aí não
teve outro jeito, gritei novamente desesperado, agora eu clamava
a Deus por um pneumologista, ninguém me ouvia, moço,
moço meus pulmões estão carregados, nada.
Ninguém naquele lugar me ouvia. Num impulso derradeiro
me atirei da janela... Graças a Deus era um sonho.
Esse coronavírus ainda vai nos deixar loucos!
PREFÁCIO
PARA LANDULFO
O livro
Razão, Existência em Formação
– Misterioso Mundo da Ciência Filosófica,
do abalizado autor Landulfo Santana Prado Filho, é
caracterizado como um enternecimento de incerteza ou ansiedade,
mediante determinada circunstância, e tem o foco na
evolução como modelo do conhecimento sobre
os mistérios da vida. A análise que fazemos
desta obra se refere na forma da escrita com a utilização
da linguística e a diversidade na composição
dos textos. Não podemos invadir o conhecimento perfeito
do autor sobre os temas sacramentados neste livro, uma vez
que percebemos a sua aptidão pelos enigmas da história
e a tentativa de desvendar fatos controversos. O que há,
aqui, são as explicações plausíveis
e aceitas no universo da filosofia. Por outro lado, o simbolismo
utilizado para definir situações inesperadas
da escrita tem uma visão inquestionável do
valor literário, na concepção da idade
do homem.
A evolução
do tempo no plano físico é superada pela do
plano espiritual. Com a espiritualidade genealógica
nos estudos das origens, pode-se dizer que o escritor arrasta
para si um problema racional nos primórdios da vida.
Pois, sabe-se que a intelectualidade das pessoas é
lapidada na leitura do conhecimento através dos livros
e o autor desta influente obra de ficção é
um belo exemplo deste estado de situação.
Nos capítulos
“Paradigmas” e “Enigmas” o leitor
pode avaliar as seguintes situações; não
raras vezes, a dissertação sobre o funcionamento
do corpo humano torna-se uma verdadeira aula de anatomia,
e isso acontece porque o autor procura definir, com propriedades,
as situações involuntárias na compreensão
das coisas; por outro lado, é por demais detalhista
nas suas explicações e, são por essas
veredas, que acontece a aplicação do simbolismo
em todo o texto. Há uma preocupação
com o idioma, haja vista que a sua escrita é escorreita,
não obstante o tema ser complexo. Daí que
o leitor vai encontrar expressões e vocábulos
incomuns ao dia a dia dos brasileiros.
O livro de Landulfo
Santana Prado Filho é composto de quatorze capítulos.
Em razão disso não se recomenda analisá-lo
capítulo por capitulo, senão como um todo.
A citação de dois deles no parágrafo
anterior foi apenas para estimular a leitura dos demais.
Nota-se que este trabalho literário consiste em introduzir
na filosofia os conceitos de sensibilidade e decisão,
assim como preconizava o pensamento de Nietzsche.
A parte da filosofia
da vida, baseada nos grandes filósofos da antiguidade,
esbarra na famosa frase “sei que nada sei”,
do latim “ipse se nihil scire id unum sciat”,
atribuída ao mestre Sócrates, atestando que,
verdadeiramente, o homem, por mais que ele procure entender
o mundo, descobre que nada sabe. Entretanto, a leitura do
seu livro Razão, Existência em Formação
– Misterioso Mundo da Ciência Filosófica,
trouxe para mim uma janela aberta, a favor do sol e defronte
ao infinito, onde o conhecimento, singrando em mar revolto,
penetra com extremo cuidado no meu corpo e alma, alimentando-os
com os mais preciosos conhecimentos sobre a nossa existência.
Portanto, tomando emprestado esta citação
de Bezerra de Menezes, desejo “que o Senhor nos abençoe
nesta leitura, nos fazendo compreender o que há de
melhor nestas páginas, e que esse prefácio,
mesmo na sua simplicidade, faça-te alegrar, para
que possas entrar no conteúdo destas letras que escondem
vida e perfumam os corações, capacitando-te
no sentido de te certificares do poder das virtudes que
o Evangelho nos ensina por amor”.
O
seu amigo de sempre!
Landulfo Santana Prado Filho
A
ROTINA NO HOSPITAL
As
consultas diárias pela manhã e à tarde
se sucediam, com eventuais atendimentos noturnos, facilitados
pelo fato do médico morar no próprio Hospital.
Os partos naturais
eram feitos pela competente enfermeira prática, que
cuidava de tudo, mas eventualmente o trabalho de parto se
complicava e Jansen era chamado à sala de parto,
onde realizava episiotomias, seguidas de episiorrafias,
sob anestesia local.
Outras vezes, havia
parada de progressão do feto, indicando-se a aplicação
do “fórcipe de alívio”, sempre
acompanhado de estresse por todos ali presentes, aliviados
pelo choro, respiração e cor rósea
do recém-nascido, controle de sangramentos e boa
contratilidade uterina pós parto!
Hemorragias vaginais
pós parto, devido a retenção da placenta,
eram solucionados de imediato, através da sua extração
manual ou curagem e, quando necessário, completada
com curetagem uterina. O uso de Ocitócicos injetáveis,
associada à massagem uterina, solucionava a maioria
dos casos.
Quando
a indicação era de Cesariana de emergência
o médico realizava a raquianestesia e a enfermeira
e uma outra funcionária ficavam na sala, para o ato
cirúrgico, sempre estressante, mas com competência.
Todo o instrumental cirúrgico, inclusive aventais,
luvas e tudo mais encontravam-se sempre prontos para uso
em tal situação!
Havia também
os casos de Cesarianas e Cirurgias eletivas, marcadas previamente,
com o comparecimento do Anestesista da cidade vizinha, que
vinha acompanhado de estudante de Medicina para auxiliar
o cirurgião. Frequentes, também, eram os internamentos
de gestantes com hemorragia vaginal devido a abortamentos
incompletos espontâneos, cujo tratamento consistia
na curetagem uterina, realizada no sala de cirurgia, sob
sedação venosa, oxigênio e controle
rigoroso da respiração, pressão arterial
e batimentos cardíacos, auxiliado pela eficiente
Enfermeira.
O atendimento de crianças
desidratadas devido às gastroenterites agudas, com
vômitos e diarréia eram frequentes, muitas
vezes exigindo internamento com hidratação
venosa e antieméticos injetáveis, além
de antibióticos.
Em alguns casos, havia
necessidade de dissecção de veia periférica,
para hidratação. Sendo possível, a
hidratação oral era introduzida, o mais precoce.
Quando o quadro clínico persistia Jansen encaminhava
a criança com os seus familiares para internamento
na Clínica Pediátrica da cidade vizinha, além
de otites persistentes, broncopneumonias, crises convulsivas
repetidas e meningoencefalites.
Ocorriam, ainda, as
fraturas ósseas simples e complicadas e o RX exercia
papel indispensável para o diagnóstico e a
imobilização gessada.
Um exemplo é
a chamada fratura de Colles no adulto com fratura da extremidade
distal do rádio e do processo estilóide da
ulna, com o típico desvio dorsal daquela extremidade,
denominada “em garfo”.
Num desses casos, após
antisepsia cuidadosa, anestesia local e tração
manual, o médico fez a redução da fratura,
gessando o antebraço com desvio cubital, conduta
que aprendera no Pronto Socorro de BH, mas o edema do dorso
da mão e dor local, após alguns dias, levou-o
a encaminhar o paciente para o Ortopedista.
Outro paciente foi
atendido com fratura exposta no 1/3 inferior da tíbia
direita, exigindo intervenção cirúrgica
de urgência, com o Anestesista da cidade vizinha.
Seguindo a conduta
adotada para aquele tipo de fratura, foi feita uma janela
no gesso, para futuros curativos e controle da evolução
do caso e o paciente foi posteriormente encaminhado para
o Hospital Felício Rocho em BH, devido ser funcionário
do DER e a gravidade Um atendimento marcante foi o de um
paciente que sofreu acidente com sua caminhonete, na descida
da serra, sofrendo escoriações diversas e
fratura de clavícula e Jansen, após reduzi-la,sob
anestesia local, imobilizou com o chamado “oito gessado”
e o resultado foi ótimo.
As suturas ambulatoriais
eram frequentes e, na ausência do Médico, nos
fins de semana a própria Enfermeira, resolvia com
toda a sua competência! Outras cirurgias tipo postectomias
(cirurgia para correção de fimose) sob anestesia
local, punções articulares para aspiração
de derrames nos joelhos e injeção de corticóide
de ação lenta na articulação
(Decadronal) também eram realizadas.
As cirurgias eletivas
tipo Herniorrafias, eram agendadas com o Anestesista e o
auxiliar, procedendo-se os procedimentos na sala cirúrgica
previamente preparada. Bons e inesquecíveis tempos!
ABDOME:
UMA CAIXA DE SEGREDO
Todo
Médico já ouviu, com frequência, a afirmação
acima, através dos seus mestres e colegas mais experientes,
alertando assim, que todo cuidado é pouco quando se
trata do diagnóstico de patologia abdominal!
As variações
anatômicas e fatores os mais diversos explicam a dificuldade
para o diagnóstico diferencial entre as inúmeras
doenças abdominais.
Com relação
ao chamado Abdome Agudo que é um quadro de instalação
súbita de urgência ou emergência, exigindo
um diagnóstico e um tratamento urgente ou emergente:
se a terapêutica for clínica, dizemos tratar-se
de Abdome Agudo Clínico, se for cirúrgica,
falamos de Abdome Agudo Cirúrgico.
Um exemplo clássico
de Abdome Agudo Clínico é a Salpingite Aguda
(inflamação das tubas uterinas ou trompas
de Falópio) e outro é a Pancreatite Aguda
que, a princípio, é clínico e a Diverticulite
Aguda. Já a apendicite aguda e a úlcera péptica
perfurada fazem parte do Abdome Agudo Cirúrgico.
Didaticamente, dividimos o Abdome Agudo nas seguintes Síndromes:
1-Abdome Agudo Inflamatório:
salpingite aguda, pancreatite aguda, colecistite aguda (vesícula
biliar), diverticulites, etc.
2-Abdome Agudo Obstrutivo:
obstrução intestinal por aderências,
vólvulo torção) do cólon, intussuscepção
(invaginação) intestinal, hérnia, tumores.
3-Abdome Agudo Perfurativo:
úlcera péptica perfurada, perfuração
de divertículo de intestino grosso, etc.
4-Abdome Agudo Hemorrágico:
rotura hepática, do baço, vasos, etc, geralmente
por traumatismos abdominais, gravidez tubária rota,
perfuração uterina, rotura uterina, doença
trofoblástica gestacional, Cesarianas, etc.
5- Abdomen Agudo Misto:
perfurativo e inflamatório, hemorrágico e
inflamatório, etc. Assim sendo, em outros capítulos
serão descritas várias situações
de tema tão instigante, vivenciadas no dia a dia
do jovem Médico...
Desejo dedicar este
livro como uma necessária e justa homenagem a todos
os Profissionais da SAÚDE, que diuturnamente labutam
nas suas trincheiras de tralho, muitas vezes, com um grande
sacrifício pessoal e de seus familiares, no atendimento
aos milhares de pacientes dos Postos de Saúde, Ambulatórios,
Clínicas, Hospitais,
Consultórios,
Laboratórios e Pronto Socorros, espalhados por nosso
País, tendo como princípio imutável
a Ética e o sentimento cristão de fraternidade
e solidariedade para com o sofrimento do outro!
A MEDICINA, sobretudo,
exige de todos que a abraçam a noção
exata de que lidamos com VIDAS HUMANAS e jamais poderemos
nos esquecer disso!
A sua mercantilização
e a banalização no trato com a VIDA, deve
ser denunciada e combatida com veemência por todos
que ainda acreditam ser a nossa profissão uma das
mais sublimes e grandiosas!- Quando a MÍDIA escancara,
aos nossos olhos, o absurdo dos inúmeros casos de
omissão de socorro, com pacientes morrendo nas calçadas
bem em frente aos Hospitais de Pronto Atendimento, partos
na rua defronte à Maternidade, recusas seguidas de
atendimentos ao Plano de Saúde de paciente com intensa
dor precordial, com morte no terceiro Hospital, confirmando-se
o fácil diagnóstico de IAM (Infarto Agudo
do Miocárdio) comprovando-se, com filmagem, o conhecimento
dos casos pelos Médicos Plantonistas, chega-se, infelizmente,
à conclusão, que estamos chegando ao fundo
do poço!
MAIS
UM CASO DE APENDICITE AGUDA COMPLICADA
COM ICTERÍCIA NO PÓS OPERATÓRIO
O
paciente foi atendido apresentando o quadro clínico
clássico de Apendicite Aguda: dor iniciada no epigastro,
acompanhada de náuseas e vômitos, seguida de
localização dolorosa na fossa ilíaca
direita, parada de eliminação de gases e fezes
e febre baixa 38°
À
palpação abdominal, constatou-se contratura
muscular da fossa ilíaca direita e ruídos
hidroaéreos diminuídos à ausculta,
sendo solicitados os exames de sangue e urina, confirmando-se
o diagnóstico de apendicite aguda e sua indicação
cirúrgica.
Na
laparotomia ficou confirmado o diagnóstico, notando-se
a presença de secreção purulenta na
pelve que foi aspirada e drenada com dreno de Penrose exteriorizado
por pequena contra abertura lateral e o apêndice colocado
em formol a 10% e enviado para exame a anatomopatológico.
O
pós operatório transcorria normalmente, quando
surgiu uma icterícia acentu-ada, com urina escura
e as fezes acólicas (brancas), fígado aumentado
de tamanho e baço não palpável, sem
febre e dor; os exames de sangue e urina mostraram aumento
discreto das transaminases, aumento das bilirrubinas, sobretudo
da direta, fosfatase alcalina e do colesterol total e aumento
da urobilina. O RX simples do abdome não revelou
a presença de cálculos das vias biliares e
nem calcificações ou cálculos pancreáticos.
Tudo
isso, acompanhado por um grande clínico de inteira
confiança
de Jansen.
O
diagnóstico foi de Colestase Intra hepática
de causa toxi infecciosa, devido à peritonite, por
apendicite aguda supurada e o tratamento clínico
instituído com jejum, sorotepia e hidrocortisona
venosa durante 03 dias, havendo regressão completa
do quadro e alta do paciente após 08 dias.
Foi, realmente, um novo aprendizado, com final feliz!
O UTRO IDOSO COM A GANGRENA SECA NA PERNA
E PÉ DEVIDO À ARTERIOSCLEROSE
O homem vivia no Asilo
São Vicente de Paulo da cidade e foi examinado pelo
Médico por solicitação do Presidente
da Entidade. Com 78 anos de idade, apresentava gangrena
seca na perna e pé direitos estado geral razoável,
sendo indicada a amputação ao nível
do 1/3 inferior da coxa e solicitados os exames pré-operatórios
básicos. Um detalhe frequente: fumante inveterado!
Antes
da marcação do dia da cirurgia, era necessário
combinarse com o Anestesista e auxiliar que viriam da cidade
vizinha, o que foi feito para a semana seguinte.
Tudo
preparado, foi feito o bloqueio por raquianestesia, com
leve sedação do paciente pelo competente profissional.
Jansen efetuou, com habilidade habitual, a amputação,
tudo dentro da técnica apropriada com o devido cuidado
com as ligaduras dos vasos e secção adequada
do ciático para evitar o temido neuroma do coto,
responsável pela chamada “dor fantasma”,
em que o paciente tem a sensação dolorosa
no pé que fora amputado!
O
pós operatório transcorreu dentro da normalidade,
com boa cicatrização da incisão feita
tipo “bico de pato”. Cerca de um ano depois,
este mesmo paciente apresentou gangrena no outro membro,
sendo indicada e feita amputação semelhante,
com o uso definitivo de cadeira de rodas, doada pelo operante
ROTARY CLUBE da cidade!
SERTANEAR
CÉSAR, SAUDADE E EMOÇÃO
Falar
de César é sertanear: se possível fosse...
Recordar... De manhã, no quarto suspenso, situado
ao leste da casa de estilo colonial, com piso de tábuas
corridas, provocadoras de barulho oco, batentes de aroeira
e janela ampla, cheiro de araçá, mistério,
admiração ao ex seminarista. Isto, lá,
pelos finais da década de 1960.
Na pequena estante,
uma coleção de companheiros... Machado de
Assis, Rubem Alves, Augusto dos Anjos, Clarice Lispector,
Castro Alves, Érico Veríssimo, Euclides da
Cunha, Fernando Sabino, Guimarães Rosa, Platão,
Dostoievsky, Nietzsche... Orgasmo literário.
Diversas possibilidades,
trilhas antagônicas, entre o sagrado e o profano.
O novo homem simples escancara meandros largos... Quase
infinitos. Quem sabe se chegará a um porto, se é
que queira chegar. Inútil esperança de tia
Augusta, pelo retorno do filho ao seminário.
Não se sabe
quando e como, brotaram na mente fértil, tendências
pecaminosas, ou, sempre existiram, influenciadas pela cotidianidade
da vida no Beco de Rola? Ou as sonhadas (pelo menos) visitas
na casa de Ana Torada? Nasce... Aldinha não existe...
Não é triste? Arroubo de amor juvenil. No
caminhar, o reencontro com amigos: Catatau, Rubem Pinto,
Sebastião Nunes. O pecado mora ao lado, na rua direita
e na D. Pedro II. Mal espera passar a tarde de sol escaldante
no Cerrado seco, com ar rarefeito. Umidade que seca, para
subir a rua e fazer o foot na Praça Benedito Valadares
Tiãozinho abre
o Bocaiuva Clube: eles são brancos da sacada paqueram
as moças que fingem não vê-los no contraste
da vida sempre igual da cidade pequena do interior o ex
seminarista nem sente o calor, o marasmo, o “Eta vida
besta meu Deus“
Mas percebe a sutileza
do vento, do farfalhar de folhas, das flores roxas da árvore
boca de sapo, dos ipês, do correr do calango... Do
sentar no coreto e ouvir histórias, de Seu Romeu
a Julieta, tanto fazia. Assim, sente a poesia no/do/ar bocaiuvense...
Sempre entremeada de emoções apreende e sente
o cheiro, passos, fala, trejeito, calor e frio que o inspiram,
Acalantam, esperanciam... Pura ternura, carisma, profundidade
Despojado, o andar
de bermuda e camiseta, quase sempre suado, transformaram
em Marca registrada e, às vezes, a blusa ficava jogada
sobre o ombro. Nem aí para as línguas das
mulheres puras
“Sequer
conheço Fulana
Vejo Fulana tão curto,
Fulana jamais me vê.
Mas como eu amo Fulana”.
Momentos de revolta
à ditadura... banhos na fonte luminosa durante as
madrugadas, Serenatas...Vicente Celestino... Jovem Guarda...
visitas ao cemitério da rua Saudade, ao som da gaita,
as idas aos galinheiros das moradias de senhoras casadoiras...
Passeio de ônibus, inesperado com Delourdes, só
pra ver o sol nascer indagado, responde: Senti um vazio
existencial após terminar Aldinha não existe
Falar de César
é sertanear: assim, como autor, supervisor na área
de comunicação da presidência do Banco
do Brasil, viajante, tocador de gaita, jogador de futebol...
Introspectivo, de possibilidades extremas, César
se muda para o Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte...
Anda... Anda... Casa-se com Patrícia, amor eterno
e têm três filhos: Guilherme, Alessandra e Patrícia.
Silencia sobre a morte da linda e amada irmã Ocarlina
Volta-se para Bocaiuva,
em especial, para conviver com a mãe idosa. Após
a morte da mãe volta-se para Belo Horizonte, reencontro
com a turma da casa dos Contos, bairro São Bento,
trabalho na correção de textos, para a alegria
de muitos de lá. Família... Tristeza para
os que ficam... Dor e ausência sem substituição.
Injustiça sertaneja. Irreverente. Costumava indagar:
O que vai fazer com esta informação?
Mói em qualquer
lugar, tempo ou condição, amor eterno. Realiza
múltiplas produções literárias...
Consagração... O texto, a poesia... Viram
cinema, matéria de rádio, televisão.
Balé de sombras, pura emoção...
“De Milena, circos
e sonhos”, romance transformado em teatro, enredo
de carnaval. Droga de cidade Grande: a verdade triste de
Cláudia ao se tornar dependente. Família que
se desestrutura, dor imensurável... Sensibilidade
que extravasa xixi na cama, que virou Meu nome é
Joca é novela juvenil, ulterioridade reafirmada.
História do menino negro José Carlos, com
apelido de Xixi na cama (Joca)
História de
um primeiro amor, romance lido e relido pela juventude.
O destrinchar, o arrumar, o apresentar letras, palavras,
frases... Tocam a alma Beto, o analbeto, em memória
à mãe, Augusta, professora dedicada à
alfabetização de alunos “fiz por onde
driblar rondante sentimentalismo, fruto peco de saudade”
Fica claro: as línguas
só devem ser empregadas para promover harmonia, cordialidade,
fraternidade: Ave César. Sente revolta pelo Brasil
desigual e busca equidade. Participa de diversas coletâneas:
Histórias de amor infeliz, Novos contistas, I Concurso
Nacional de Contos Infantis, Antologia do conto brasiliense,
Contos da terra dos contos... Perco nos textos.
Falar de César
é sertanear: adentrar no viver e reviver saudades.
Das noites jogando buraco na sala de jantar do médico
e amigo dr. Luiz. Das comemorações dos dias
de pais, mães na Fazenda Tabua. Das caminhadas pelo
entorno bocaiuvense, do catar pequi e murici. E, ao passar
pela esquina de Gino, sentir a sua ausência na turma
do Ferro Velho. Ouvir o choro de Tião Caldeira, Romero,
Paulo Jacão, Dr. Lucílio...
Saudades de vê-lo
sentado à porta da loja de Titi Vá. Recebê-lo
para um arroz com pequi em várias ocasiões,
junto ao seu irmão o escritor João Roberto
Amorim. De agradecê-lo eternamente pela leitura da
dissertação de Mestrado.. Dói fundo
passar pela Rua Herbert de Souza, obrigatoriedade cotidiana.
Apreender a casa, última morada na cidade, em 2013.
A janela do escritório fechada, a falta do dicionário
analógico. A garagem sem o velho Santana Quantum,
o não sentar nas escadas. A interrupção
das longas conversas e aprendizagens: Bocaiuva rural. Comunidades
quilombolas, o nosso problema existencial não resolvido
até por Sartre. A geo-história das territorialidades
norte mineiras – meu porto seguro
Saudades
amigo. É impossível segurar lágrimas
Difícil
viver uma saudade não querida, injusta... Tiraram
você de nós bocaiuvenses. Amamos você,
César, por muitos e muitos outros motivos.
Em
tempo: Tiquinho...pode corrigir o texto. Ali e aqui. Falar
que inventei a palavra Sertanear. Inventei... mas não
a saudade. Guimarães Rosa já dizia: o sertão
(e o que se vive nele) são muitos. Ele está
aqui e em qualquer outro lugar, até na sua casa.
ADEUS
AO MESTRE
Na
caserna, o clarim silenciou. Nas salas de aulas do Curso
de Direito, ninguém mais ouviu aquele “boa
noite” impostado como só ele sabia fazer. No
plenário do júri também foi notado
que algo de incomum estava acontecendo. Aquele brilhante
causídico de porte elegante e ternos bem cortados
estava nos deixando. Uma ausência notada por toda
cidade da região.
O Cel. Georgino recebeu
seu chamado, viajou deixando uma grande saudade...
Por muitos dias ficou
na UTI de hospital, aonde os sinais vitais se enfraqueciam
aos poucos. Eu ligava á espera de notícias
de um próximo restabelecimento, visitava e conversava
com minha amiga Dina, seus filhos e netos. Mas eis que um
telefonema me leva a Santa Casa, agora para ver meu amigo
pela última vez. Encontrei-o dormindo o sono eterno,
semblante tranquilo de quem adormeceu no Senhor com a certeza
do dever cumprido.
Já estava ausente
da vida militar, mas sempre se perfilava ao ouvir os primeiros
acordes do Hino Nacional. Como bom cavalheiro, sempre comparecia
aos eventos do Batalhão, da Universidade e do Fórum.
Era um vovô carinhoso e adorado pelos netos, pai amigo,
esposo compreensivo e sogro que muitos gostaria de ter.
É impossível discorrer sobre todas as qualidades
do militar, professor e advogado Dr. Georgino.
Quando foi criado o
curso de magistério no colégio Tiradentes,
fui madrinha de formatura da primeira turma, cujo padrinho
era o Cel. Georgino. Em seu ele falava do curso de normalista
e dizia com orgulho que todos os degraus galgados em sua
vida e o sucesso obtido tinham como base esse curso.
Algum tempo atrás,
eu assistia a uma sessão de júri numa cidade
vizinha, quando o Dr. Georgino ocupou a tribuna em defesa
do réu. No seu discurso, com retórica impecável,
ele dizia “vim de Montes Claros até aqui é
pelo caminho avistava os ipês floridos, amarelos e
dourados como o sol, numa paisagem que, se meu cliente não
for absolvido, ficará por muitos anos sem poder ser
por ele contemplada”. Os aplausos foram incessantes
e o corpo de jurados convencido da inocência do réu,
que foi absolvido por unanimidade.
Na sala do fórum
eu quis também cumprimentar o brilhante advogado.
Parabenizei-o e a seguir perguntei:” Doutor, o senhor
tem certeza de que essa é a época da floração
dos ipês?” Ele respondeu: “Madame, para
ser sincero, na minha vida até aqui eu não
vi sequer folhas nas árvores, muito menos flores”...
Era assim o nosso amigo
Georgino. Versátil, convincente, espirituoso. Tinha
um timbre de voz que certa vez chegou a abalar o antigo
fórum da cidade de Porteirinha, sua fama de grande
orador se estendia para além das fronteiras das Minas
Gerais.
É isso aí
meus amigos. Os grandes oradores estão nos deixando
numa viagem sem volta. Consola-me a certeza de que um dia
iremos nos encontrar e então contaremos e louvaremos
ao Senhor.
Agora me resta abraçar
meus amigos Dina, Jorge, Gessim, Lídia, Lúcia,
Leda, Gui, Bina e Júnior, meu irmão de fé,
e dizer que o Cel. Georgino, ao chegar na Pátria
Celeste, pode repetir as palavras do grande apóstolo
São Paulo: “Combati o bom combate, terminei
minha carreira, guardei a fé “.
EM
TEMPO DE PANDEMIA,
VAMOS FALAR DE INVEJA
Acabo
de ler o excelente livro do baiano Joaci Góes, Presidente
da Academia de Letras da Bahia com o título “A
inveja nossa de cada dia” em que o mesmo nos traz
este sentimento pecaminoso desde Moisés, passando
por Napoleão, Hitler, Kennedy, John Lenon e Pelé,
dentre outros. Compilação de leitura obrigatória
para todo aquele que desejar entender mais um pouco deste
sentimento que ao longo dos tempos vem provocando guerras,
mortes e revoluções. Ele distingue com maestria
muito bem, Inveja de Ambição. E nos revela
que inveja é “desejar o que o outro tem”
enquanto que Ambição é “lutar,
estudar, pelejar e trabalhar para chegar naquele patamar
de sucesso que o outro chegou”.
Capítulo de
destaque do livro é aquele destinado ao Nazismo e
também ao Vaticano. Pasmem! Ele estudou profundamente
vários relatos do “Pecado Capital”, Inveja,
no seio do Vaticano. De maneira técnica e recorrendo
a várias citações o autor descreve
com rara cultura todo o processo de “Inveja”
que culminou com o apogeu e a queda do III Reich Alemão
protagonizado por Adolph Hitler. Hitler tinha muita inveja
dos comerciantes judeus que viviam em Berlim. Inveja a sua
cultura, a sua riqueza e sua prosperidade. Esta inveja transmutou-se
em ódio e este ódio se consubstanciou em guetos
e campos de concentração. Ou seja, a inveja,
mal hálito da alma (segundo Góes) é
dos Pecados Capitais o mais mortal. Por inveja se deseja,
se falseia e se mata.
Quem nunca sentiu schadenfreu
provavelmente está mentindo, já dizia Arnaldo
Chuster e Renato Trachtenber na obra “As sete invejas
capitais”.
Shadenfreude, palavra
alemã, representa aquela alegria inconfessável
de outro se dando mal. Algo muito raro no Brasil de hoje.
E principalmente na Política, ou seja, para alguns,
“quando pior melhor”. Frase símbolo da
INVEJA TUPINIQUIM. E não há reza forte ou
mandiga, Santo Forte ou Iemanjá que impeça
a inveja de atacar, porque querer o que é do outro
faz parte da natureza- de macacos a bebês, relembra
Góes.
Ao longo da história.
Diversos personagens causaram prejuízos a oponentes
que ameaçavam roubar seu status. Em um caso famoso
que entrou para a galeria de lendas sobre a inveja (e que
não consta no livro de Joaci Góes), o compositor
italiano Antônio Salieri teria envenenado Wolfgan
Amadeu Mozart, então com 36 anos. Aliás os
dois são protagonistas do filme “Mozart”
ganhador do Oscar. Salieri morreu de tanta inveja de Mozart.
Segundo a lenda, “ao
se preocupar somente em alcançar o gênio austríaco,
Saliere teria desprezado suas próprias qualidades
excepcionais. Era um “virtuose da música”
também. Deu azar de nascer no mesmo século
de Mozart. Tal qual Neymar Júnior deu azar de nascer
no mesmo século de Leonel Messi e Cristiano Ronaldo.
Dizem as más línguas que Neymar Júnior
morre de ciúmes de Messi pelo fato de Messi ter sido
eleito por diversas vezes o melhor do mundo pela FIFA. Da
mesma forma Diego Maradona morre de inveja de Pelé.
Maradona gostaria muito
de ter sido Pelé. “Além de se um excelente
compositor, ele havia descoberto Mozart, o que mostra uma
sensibilidade aguçada. Ele também era um gênio.
Tal qual Maradona e Neymar. Não precisava invejar
ninguém. Bastava-se em si mesmo”.
Toda a trama e narrativa
do clássico Machbet de William Sheakspeare, uma das
obras que marcaram a passagem do homem medieval para o homem
contemporâneo, a linha mestra também é
a INVEJA. Lady Machbet chega a desafiar: “Se você
não deseja o trono da Escócia não mais
serás digno de mim. Não serás homem
“Machbet se rende ao desejo da esposa, e ao seu próprio
desejo, e ensanguenta as suas mãos. Como o Rei escocês
morto em suas mãos declara: “Nem toda a água
do oceano vai lavar as minhas mãos deste sangue injusto”.
É a inveja produzindo ódio, morte e dor. Avassaladora
como vírus Covid-19 que não perdoa ninguém:
jovens, adultos, idosos, sadios e pessoas com cormobidade.
No Judaísmo,
a inveja só é considerada pecado quando existe
o desejo de tirar algo do outro. Quando tem o caráter
de admiração, é vista como estímulo
para o desenvolvimento material e espiritual. Ficou consagrada
a expressão “inveja santa” ou “inveja
boa”, incentivo para alcançar os objetivos
de crescimento.
Concluindo este artigo
em tempo de pandemia tenho inveja (no bom sentido!) do autor
deste clássico: “A inveja nossa de cada dia”.
Mas uma inveja sadia. Quem sabe um dia eu e mais um tanto
de nós não venhamos a sistematizar e redigir
como ele? Lembando que inveja difere de ambição.
E que podem existir duas ambições. Uma de
querer crescer e outra de querer destruir para crê.
BICENTENÁRIO
DE
DR. CARLOS VERSIANI
Transcorreu
no último dia 20 de dezembro de 2019 o bicentenário
de nascimento do Dr. Carlos José Versiani. Há
cem anos essa data foi motivo de grande comemoração
em Montes Claros, com amplo apoio de cidadãos, imprensa
e representantes políticos e religiosos, como expressão
de “uma dívida de gratidão a que nenhum
dos habitantes desta e da Comarca de Grão Mogol pode
ser indiferente”, como registrou uma edição
do Jornal Gazeta do Norte do ano de 1919.
No
“Álbum de Montes Claros”, (REYS, Hugo Leal
Netto dos., 1927), Doutor Carlos Versiani, “Primeiro
médico a pisar as plagas sertanejas”, foi considerado
como “um grande filantropo, que desapareceu deixando
a memória dessas raras individualidades em que se esmaltam
as mais preciosas virtudes” (...). “Pessoas que
o conheceram contam que dificilmente o cliente conseguia pagar-lhe
os serviços profissionais. Não apresentava contas,
não dava preço de seu trabalho, ainda que este
tivesse sido o mais intenso. Seu nome foi sufragado em
Carlos José Versiani
(1819 – 1903)
todas as eleições
municipais, sendo eleito sempre vereador e presidente da
Câmara e concorrendo eficazmente para a boa direção
e progresso do município” (...) “Pertenceu
sempre ao partido conservador, em que lutou com honra, patriotismo
e moderação”.
Carlos José
Versiani era filho do Capitão Pedro José Verciani
e D. Angélica Cláudia Penna. Era neto de João
Antônio Maria Versiani, natural de Lucca, na Itália,
que no Brasil foi guarda-livros da Real Extração
de Diamantes em Tijuco (atual Diamantina/MG). Nasceu na
Fazenda Santo Elói, no distrito de Bonfim de Montes
Claros, então Comarca do Serro Frio, hoje Bocaiúva,
em 20/12/1819. Estudou no Caraça e no RJ, formando-se
em Medicina, vindo a estabelecer-se em Montes Claros em
1845. Lecionou e clinicou nesta cidade durante 58 anos,
onde foi Vereador de 1853 a 1868, dirigindo o município
por 16 anos consecutivos. Foi Deputado Provincial (1848-49,
50-51, 52- 53 e 54-55) e Geral (1853-56 e 77), pelo Partido
Conservador. Era casado com D. Gabriela Gertrudes de Oliveira
Catta-Preta e faleceu a 17/04/1906, deixando sete filhos:
Pedro Catta Preta Versiani; Carlos Versiani; Maria Versiani;
Elisa Augusta de Oliveira Versiani; Artur Napoleão
(Tatá) de Oliveira Versiani; Gabriela Carolina de
Oliveira Versiani e Carlota Catta Preta Versiani.
A
herma erigida em sua homenagem na praça que leva seu
nome no centro de Montes Claros foi construída com
a contribuição de 10 mil réis do Padre
José Vieira Silva, como registram os jornais da época.
Nela está gravada essa frase em latim: “Nominem
ejus requiretur a generatione in generationem” (Seu
nome será lembrado de geração em geração).
FAFIL
- UNIMONTES:
5O ANOS DE INÍCIO DAS AULAS
Há
50 anos neste mês de março, a FAFIL dava inicio
as aulas, com os cursos de GEOGRAFIA, HISTÓRIA, LETRAS
e PEDAGOGIA, em salas cedidas pelo Colégio Imaculada
Conceição, à avenida Cel. Prates, 276.
Era o ano de 1964.
Graças
ao idealismo de um grupo, o sonho tornara-se realidade. Inúmeras
foram as reuniões empreendidas pela FELP-Fundação
Educacional Luiz de Paula na casa de Manoel Nazareno Procópio
de Moura, a rua Dom Pedro II; e de Luiz de Paula Ferreira
e sua esposa Isabel Rebello de Paula, a rua Dr. Santos, com
a presença ainda de M. Florinda Ramos Marques, M. Dalva
Dias de Paulo, Sonia Prates G. Quadros, as irmãs Maria
da Consolação Figueiredo(Mary), Maria Isabel
M. Figueiredo (Baby), e Glacira G. Mendes. Excluindo Luiz
de Paula Ferreira, todos os citados foram os primeiros professores,
juntamente com Maria de Lourdes S. Zuba, o marista Wagner
M. Ribeiro, Dr. Romildo B. Mendes, Francisco G. Souto e Antonio
Francisco Oliveira. Este último como secretário-adoc,
redigiu a 1ª Ata de fundação da FAFIL.
Formandos de 1967 - FAFILMoc
(Foto de Valdevi)
Isabel
Rebello de Paula com competência, dedicação
e firmeza, foi a primeira diretora. No desempenho da função,
dispensou o recebimento de honorários, assim como Manoel
Nazareno que a substituiu. Raridade hoje em nossos dias. Lamentavelmente,
e esquecido por muitos, Manoel Nazareno, padece inconsciente,
há quase 6 anos, vitima de AVC, num leito da Santa
Casa. Hamilton Souza Lopes, foi o primeiro candidato inscrito
ao Vestibular.
No ano
seguinte, 1965, transferimo-nos, para a antiga Escola Normal
localizada a Rua Cel. Celestino,75, fundos da Igreja Matriz.
Naquele ano, os alunos da Escola Normal, haviam sido removidos
para a atual E. E. Prof. Plínio Ribeiro, à av.
Mª Fininha, 1225. As dificuldades foram muitas, mas superadas.
A biblioteca foi improvisada na Secretaria em livros doados
por Isabel R. Paula e outros mestres. No primeiro ano de funcionamento
a FAFIL estava sob o amparo da Fundação Luiz
de Paula. No ano seguinte, 1965, com a criação
da FADIR-Faculdade de Direito que passaria a funcionar no
primeiFormandos ro andar do casarão, ambas passaram
a integrar a FUNM-Fundação Norte Mineira de
Ensino Superior, criada pela Lei Estadual nº 2.615 de
24.05.62 de autoria do ex-deputado Cícero Dumont, que
foi também o paraninfo representando o ex- governador
Magalhães Pinto. No inicio de 2.012, a UNIMONTES comemorou
festivamente 50 anos a partir da criação da
FUNM. Até hoje, o site da UNIMONTES registra erradamente,
o inicio das aulas em 1963, embora há 2 anos, portando
documento, tenha solicitado a correção desse
erro histórico. Contudo, vale muito registrar, e comemorar
para os primeiros alunos, os 50 anos do inicio das aulas em
março-64, assim com faz a torcida mineira que comemora
o aniversário do Estádio Mineirão, a
contar de quando a bola começou a rolar em setembro-65,
e não quando a Assembléia de Minas aprovou projeto
de sua construção em anos passados.
Conservo
até hoje, o convite de formatura, e lá está
gravado também o nome das abnegadas e queridas secretárias:
Adélia Miranda e Teresinha Duarte. Na foto acima em
Dez/1967, na noite da diplomação das primeiras
turmas, vemos parte de alunos de GEOGRAFIA: da esquerda para
a direita: Regina Maria Barroca Peres, o autor destas linhas,
Carmélia C. Macedo (Beli), José Omar Peres,
e Carlos R. Monção. Alguns dessa turma, mais
tarde se tornaram mestres da FAFIL como Regina Maria Barroca
Peres, José Omar Peres, e Maria José Narciso;
de outras turmas: Wanderlino Arruda e Ivone O. Silveira, num
longo período de 1967 a 1990.
Montes
Claros à época estava em plena ebulição
comercial, industrial, social, cultural, e política.
Esse período foi um dos mais ricos da história
da cidade. A FAFIL veio culminar essa época de ouro.
Havia ainda para alguns, o sonho de federalização:
o montes-clarense Darcy Ribeiro era o Ministro da Educação,
sonho abortado pela derrubada do governo Jango Goulart.
R. Shinyashil
disse um dia: “Tudo o que um sonho precisa para ser
realizado é alguém que acredite que ele possa
realizar”. Desta forma, quero homenagear, dirigentes,
mestres e demais servidores dos primórdios da FAFIL,
em reconhecimento pelo tanto que realizaram. Eles ousaram
sonhar, e creram. Eles fizeram um caminho novo. Eles fizeram
história. Graças a esses pioneiros, a busca
do sonho é hoje uma realidade incontestável:
a nossa querida UNIMONTES.
CABARÉ
MINEIRO
Guimarães
Rosa, ao imortalizar a sedutora figura de Doralda, em Dão-lalalão,
novela que integra Corpo de Baile, publicado em 1956, também
nos revela uma das características da cidade de Montes
Claros, conhecida por ser a terra das casas de mulheres-damas.
Doralda ou Suçena, “a mulher em estado de perfume”,
teria sido tirada de um bordel de Montes Claros e levada como
companheira por Soropita, vaqueiro valentão. Na novela
rosiana e em outros livros de Guimarães Rosa, Montes
Claros se imortalizaria como a terra das mulheres dadivosas.
Porém,
muito antes de o criador de Diadorim escrever sobre esses
sertões do Norte, terra dura e resistente, o poeta
mineiro Carlos Drummond de Andrade publicaria em seu primeiro
livro, Alguma Poesia, de 1930, o poema “Cabaré
mineiro”:
A
dançarina espanhola de Montes Claros
dança e redança na sala mestiça
Cem olhos morenos estão despindo
seu
corpo gordo picado de mosquito.
Tem um sinal de bala na coxa direita,
o riso postiço de um dente de ouro,
mas é linda, linda gorda e satisfeita.
Como rebola as nádegas amarelas!
Cem olhos brasileiros estão seguindo
o balanço doce e mole de suas tetas....
O poema
drummondiano, uma décima, alterna versos de dez e doze
sílabas métricas e apresenta poucas rimas consoantes,
e nos últimos versos, rimas toantes, que conferem ao
texto uma sonoridade monótona, sugerida também,
no plano do discurso, por expressões como “linda
gorda e satisfeita” e “balanço doce e mole
das tetas”. Embora paire sobre a “sala mestiça”
um certo ar de decadência e enfaro, há também
alguma luz, ressaltada na combinação do nome
da cidade e dos dentes de ouro da bailarina e em suas nádegas
amarelas. Ora, o calor que se deduz retrata o ambiente quente
do bordel e o calor próprio do sertão. Há
sensualidade e dormência, que chega ao leitor desde
o ritmo e perpassa pela alusão às nádegas,
às tetas e ao qualificativo “gorda”, repetido.
O poema
se inicia com a apresentação da dançarina;
ela é espanhola e de Montes Claros. O caráter
ambíguo dos termos nos permite inferir que a dançarina
tanto pode ser natural da Espanha, como nascida em Montes
Claros, mas que imitava, no gesto e nas danças, as
espanholas. Ainda, se contrapormos esse verso primeiro com
o último, podemos entender, em sentido erótico,
que os montes claros são as duas tetas de “balanço
doce e mole”. Contudo, apesar de ser vista e desejada
por “cem olhos morenos”, seu corpo evidencia sinais
de uma vida trágica: as picadas dos mosquitos e a marca
de bala, evidenciados ainda mais pelo “riso postiço”
em seu rosto.
No “Cabaré
Mineiro” de Drummond, a atração é
a dançarina, que, apesar de ser gorda, ter a pele marcada
de picadas de mosquitos e um ferimento de bala na coxa é
vista como linda. Assim, a visão, sentido que se destaca
na percepção da dançarina, é um
sentido falho, enganoso, que leva o leitor à sugestão
de que o olho vê diferentemente do que o olho deseja.
A mulher que dança incorpora uma Salomé caricatural,
mas sedutora e perigosa, por isso atraente. Assim como Doralda,
que leva Soropita a matar de ciúmes. Há, na
prosa de Guimarães Rosa e no poema de Drummond, uma
celebração dos sentidos, uma evocação
dos desejos sensuais, que, além da possiblidade da
satisfação da carne, permitem também
a celebração do sonho.
Em 1980,
essa atmosfera quente e sedutora é recriada na película
“etílica-musical”, Cabaret Mineiro, tal
como seu diretor, o montesclarense Carlos Alberto Prates Correia,
qualificaria o filme. Estrelado pelo ator Nelson Dantas, que
incorporaria o cantador Antônio Rodrigues, em suas andanças
pelo interior de Minas Gerais, juntamente com o “amigo
americano”, interpretado por Helber Rangel.
No filme,
vemos a presença de mulheres sensuais como Salinas,
interpretada pela triz Tâmara Taxman, e Avana, interpretada
por Tânia Alves. O imaginário erótico,
existente nos versos de Drummond e descrito de forma magistral
na ficção rosiana, alinhava-se ao forte apelo
musical do Norte de Minas Gerais. Os catopês e a marujada
de Montes Claros, a dança do Grupo Corpo, as modas
de Zezinho da Viola, os sambas de Noel Rosa, a voz e o instrumental
de Tavinho Moura, atravessavam o filme, conduzindo uma história
que tanto se referia às novelas de Guimarães
Rosa, ao poema de Carlos Drummond de Andrade, como às
memórias afetivas do filho de Montes
Claros.
Entre
atores conhecidos e celebrados, Cabaret Mineiro contou com
a participação dos moradores como figurantes,
que nele utilizaram seu vestuário cotidiano. Foi filmado
durante 12 semanas, tendo como característica não
obedecer rigidamente a um roteiro, tentando atingir no instante
da gravação a proposta de combinação
da cultura erudita aos elementos da cultura popular e do modo
de viver de uma antiga Minas Gerais. Podemos dizer que a intenção
de Carlos Alberto como cineasta era similar ao feito de Rosa,
como escritor, ao realizar a junção entre o
erudito e o popular na linguagem de seus livros.
Dessa
forma, o filme apresenta uma compilação de lembranças,
sonhos, trechos do cotidiano do interior mineiro, ilustração
de canções, poemas, cantos, brincadeiras, piadas
e alegorias, aproximandose a um grande e heteróclito
painel de sugestões cinematográficas.
Entre
as cantigas populares da cidade, o cheiro do pequi amarelo
e o aroma do café preto com biscoitos de toalha, o
filme celebrou o sertão e a atmosfera onírica,
sugestiva e dramática dos bordéis de Montes
Claros, que foram famosos até o início do século
XX.
No esplendor
da construção da ferrovia, na década
de vinte, século XX, Montes Claros contava com 10%
da população composta de prostitutas.
Fotografia da Estação
Ferroviária de Montes Claros, em 1926 (Foto Facella)
O filme,
que se passa sugestivamente a bordo de um vagão de
trem, expressa o que as ferrovias trouxeram e levaram do sertão,
num sentido que incorpora a chegada da modernidade no lugar,
até então considerado o ermo do mundo, e os
intercâmbios culturais que tal fenômeno proporcionou.
Ao compor essa mistura de música, dança,
sensualidade e violência, Carlos Alberto consegue levar
para a tela uma história em que passado e presente
se misturam, para celebrar um modo de viver, talvez findo.
Cabaret
Mineiro arrebatou os principais prêmios do Festival
de Gramado de 1981, entre eles os de Melhor Filme, Melhor
Direção, Melhor Fotografia (Murilo Salles),
Melhor Ator (Nelson Dantas), Melhor trilha sonora (Tavinho
Moura) e Melhor atriz coadjuvante (Tânia Alves). Ganhou
ainda o prêmio de Melhor Fotografia no Festival
de Brasília.
Como
lembraria o jagunço Riobaldo, em Grande sertão:
veredas, “a cidade acaba com o sertão. Acaba?”.
Aquele sertão a se perder de vista, para onde vinham
as mulheres dadivosas a mando dos coronéis, talvez
tenha acabado de vez. Sobrevivem os cheiros e batuques das
festas de agosto, que arrastam anos de história. A
dançarina espanhola, ou rapariga do Bonfim, ainda povoa
a imaginação do povo, celebrada em todas as
rodas de viola, na letra e música dos irmãos
Elthomar Santoro e Ismoro Da Ponte:
Me abras la puerta la fuera
E me diz que vai embora pero non e pero sim
És indigna, marvada, infuzada
Rapariga do Bonfim
Mas se tu queres ir embora para sempre
Me mate, me mate, me mate
Porque viver sem você será um disparate.
PROFESSOR
CÍCERO PEREIRA
Cícero
dos Santos da Silva Pereira nasceu em São José
do Gorutuba - então distrito de Grão Mogol,
Minas Gerais - em 11 de novembro de 1881. Filho de Ludovica
e Manoel José da Silva Pereira, pais também
de Ulisses (primogênito), Ezequiel e Maria Lisbela.
Homem
simples, de estatura mediana, humilde, simples, sóbrio
e austero, bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais,
poliglota e esperantista, possuidor de grande erudição
e inteligência vulgar.
Desde
pequeno, o menino Cícero revelou profundo interesse
pelos problemas espirituais, iniciando-se aos 13 anos no estudo
da Doutrina Espírita, sob a orientação
segura de Antônio Loureiro, grande expositor espírita
que conhecera em Montes Claros/MG, e do qual se tornou amigo
e admirador. Espírito evoluído, inteligência
lúcida e trabalhador incansável, fez de sua
vida um evangelho de amor, no exercício da fraternidade
e no cultivo da Doutrina de Kardec a que se dedicou com total
zelo.
Fez o curso primário
na escola pública de São José do Gorutuba,
transferindo-se em 1894 para Montes Claros, a fim de cursar
a Escola Normal daquela cidade, estabelecimento no qual, na
condição de professor recém-formado,
iniciou-se no magistério, chegando a ocupar, por indiscutível
mérito, o cargo de diretor. Foi nessa Escola que conheceu
aquela que viria a ser a companheira devotada de sua vida:
Guiomar Léllis, sua aluna.
Casaram-se em
5 de março de 1903, em Riacho do Mato, município
de Porteirinha, onde ambos foram professores. Dessa união
não houve filhos biológicos, mas adotaram o
menino Ruy Sócrates Loureiro, que se formou em Direito.
Imenso é o número de filhos espirituais que
o casal foi gerando por toda a vida, além dos sobrinhos
Antônio dos Santos, José, Joffre e Geraldo Léllis,
acolhidos amorosamente em seu lar.
Na cidade de
Grão Mogol, para onde regressou em 1909, exerceu o
magistério e foi prefeito, coletor estadual e colaborador
assíduo do jornal local. Ali, levantou a bandeira do
Espiritismo, conseguindo reunir elevado número de adeptos,
mercê de sua simpatia, cultura e talento de grande orador.
Em vista disso,
a perseguição religiosa se fez sentir sobre
ele durante os quase dez anos que ali permaneceu. Como cristão
autêntico, suportou todas as agressões recebidas
com a maior serenidade e tolerância, amparado pelos
amigos espirituais que sempre o assistiram.
Removido em 1920
para Montes Claros, assumiu a gerência do Banco da Lavoura
e, junto com colegas de magistério, reorganizou a antiga
Escola Normal, da qual foi eleito diretor, assumindo também
a atividade docente que ali desenvolvera anos seguidos. Foi
escolhido para ocupar a cadeira número 27 da Academia
Montesclarense de Letras. Em homenagem póstuma, seu
nome foi dado a uma rua no
bairro dos Santos Reis, por força do decreto municipal
número 778 (de 31 de julho de 1967).
Mudou-se para
Belo Horizonte em 1927, como funcionário da matriz
do Banco da Lavoura, e dedicou-se ao magistério público
- função em que se aposentou. Fundou o jornal
O Tempo, ao qual deu sua melhor colaboração.
Tornou-se um dos primeiros sócios da União Espírita
Mineira, à época sob a direção
do amigo Antônio Lima, ocupando o cargo de 1º Tesoureiro.
Cultor do Esperanto, foi grande propagandista
da língua criada por Zamenhof.
Em março
de 1935, Cícero Pereira fez ressurgir o jornal da UEM,
figurando seu nome como redator-secretário, no Ano
I da Segunda Época e, no Ano II, como regente de O
Espírita Mineiro. O número 5 deste Jornal registra
a doação de quatro mil réis, feita por
Cícero Pereira, para ajudar na aquisição
da antiga sede da UEM, na Rua Curitiba, 626.
Como prefeito
de Grão Mogol no biênio 1935-1936, deixou a marca
de sua capacidade administrativa. Foi eleito Presidente da
União Espírita Mineira em 1936, terminando o
mandato em 1940. Assumiu, então, o cargo de Vice-Presidente,
que ocupou até pouco antes da desencarnação.
Seu nome está
indissoluvelmente ligado a várias instituições
do nosso Estado, entre as quais o Grupo Espírita Paz
e Caridade; o Grupo Espírita dos Trabalhadores Humildes;
o Grupo Espírita Perseverança; o Abrigo Jesus
– que ajudou a fundar com Leonardo Baumgratz, Alencar
Braga, Osório de Moraes, César Burnier Pessoa
de Melo, Rodrigo Agnelo Antunes, Francisco Cândido Xavier,
Salvador Schembri, Rubens Romanelli, Oscar Santos e outros;
a Casa Transitória - que fundou com Maria de Lourdes
Carvalho -, entidade inspiradora de obras similares em Brasília
e São Paulo; o Centro Espírita Amigos na Dor,
em Boa Esperança; e o Grupo das Samaritanas, que mantém
a Creche Vovó Guiomar em funcionamento no local onde
residiam o Prof. Cícero Pereira e sua esposa Guiomar
Léllis Pereira, na rua Bonfim, 360, em Belo Horizonte.
Francisco Cândido
Xavier (Chico Xavier), era tido como um filho querido do Prof.
Cícero Pereira. Disse o querido Chico: “Achava-me
me grandes dificuldades no desdobramento de minhas atividades
mediúnicas, após a publicação
do Parnaso de Além-Túmulo, em 1932, e precisava
ouvir um companheiro que me auxiliasse nos esclarecimentos
de que necessitava. Nosso caro Professor, não só
me recebeu com imensa bondade, como também me franqueou
a própria moradia, onde, por muitas vezes, tive o privilégio
de ouvi-lo, tanto quanto à sua querida esposa D. Guiomar,
sobre os mais variados problemas da vida, com o que ambos
me fortaleceram a fé no estímulo ao trabalho
de que foram exemplos vivos em nosso mundo.”
Assim era esse
homem bom chamado Cícero Pereira ou, simplesmente,
Professor Cícero, que desencarnou em 4 de novembro
de 1948, pouco antes de completar 67 anos de idade. O abnegado
Professor jamais se recusou a atender qualquer chamado para
um passe a um necessitado. Sua palavra mansa, doce, amorosa
era remédio infalível para os doentes do corpo
ou da alma. Sua autoridade apostólica era irresistível
e seus passos deixaram rastros de luz.
JAMAIS
SERÃO ESQUECIDOS
Prefaciar
um livro é como abrir uma porta e convidar o leitor
a adentrar em um mundo encantado. No caso do mais recente
livro do escritor Dario Teixeira Cotrim, o mundo em que vamos
entrar é duas vezes encantado. O autor conseguiu juntar
duas formas de arte excelentes em si mesmas: a Literatura
e o Cinema, não por acaso, chamado de Sétima
Arte. Em prosa leve e estilo informal, o escritor nos leva
de volta às matinês e soirées dos Cinemas
de Montes Claros, nos áureos tempos da nossa juventude.
Da Árvore
dos Enforcados a Madame X; de E o Vento Levou... a Uma Linda
Mulher, iluminados por um Candelabro Italiano ou sob as Luzes
da Ribalta, somos inundados pela magia e experimentamos as
mais diversas sensações.
Embora
um único filme possa nos causar vários tipos
de emoções conforme a história se desenrola,
o autor, tal qual um “lanterninha” nos conduz
pelas diversas obras, ressaltando o medo, a angústia,
a alegria, a felicidade, a esperança ou a frustração
que cada gênero nos evoca.
À
emoção de apresentar aos leitores as crônicas
cinematográficas de Cotrim, junta-se a minha emoção
pessoal, filho que sou dos cinemas montes-clarenses pois foi,
o final dos anos trinta que meu pai, convidado a instalar
a sonorização das nossas salas, até então
mudas, conheceu a cachaça da região, se encantou
por uma moça da terra e aqui se casou e formou a sua
família, num Love Story de final feliz.
Então,
prezados leitores, que se apaguem as luzes e sejam todos bem-vindos
ao mundo mágico do cinema!
Cena do filme “E o vento levou”
(internet)
JAIR
RUAS, JOÃO MARQUES
E TONE DE ZENGLA
Alô,
Jair Ruas de Lourdinha! Alô João Marques de Stefânia!
Alô Tone de “Zengla” de Leila! Atenção
leitores! “Zengla” não é a outra
não, é o apelido; creio ser derivado do nome
da mãe ou do pai. Não sei. Tá meio explicado,
mas vamos ao assunto.
Como
estão os meus amigos de longas datas? Estão
enfrentando bem essa quarentena chinesa, que já virou
sessentena ou até mais? Estão recolhidos, como
determinam as cartilhas e os ditames legais? Conhecem a velha
máxima: “Manda quem pode, obedece quem tem juízo”?
Então,
meus amigos, tomem os cuidados necessários, vi no celular
que estão prendendo e até agredindo pessoas,
principalmente os velhos, que nem nós, que insistem
no Direito Constitucional de ir e vir. Direito que nos parece
não valer mais.
Eu estou
aqui. Firme! - Firme igual prego em angu! Diria o gaiato do
Jair Ruas, seguido de sua estridente e afinada gargalhada.
Estamos
Presos! Presos não. Presos sim, mas com liberdade transitória,
sem “tornozeleira eletrônica”, como os corruptos,
é verdade, mas com a coleira da família que
mede os nossos passos. Podemos até dar uma escapulida,
mas, para isso, precisamos nos disfarçar que nem os
bandidos dos filmes “bang-bang” de outrora, ou
melhor, do nosso tempo. Lembram? Todos mascarados. Todavia,
mascaravam com o próprio lenço, que portavam
no pescoço, entretanto, hoje, as máscaras tem
que ser especiais. E, ai de quem não usar. Feitas as
considerações, vamos aos fatos que nos levaram
a escrevê-los.
Não
sei se já perceberam, mas penso que o lado de lá
deve ser muito bom, melhor que o lado de cá, penso
eu. Jair Ruas diria novamente: - “To fora! Lá
vem você com suas filosofias baratas.”.
Mas
é fato. Vou citar desorganizadamente alguns nomes e
depois concluo: Elias Xavier, Hernane Vilas boas, Nelson Vilas
boas, César Meira, Edmur Xavier, Renê Xavier,
Juventino Campos, Ari de Campos, Bolivar Andrade, Maninho
de seu Bebé, e recentemente Antônio Augusto.
Destes, somente Bolivar Andrade e Maninho não
eram amigos comuns a nós, mas meus. É claro
que tem muitos outros, como: Zé de Arlete, Zé
Ratinho, Ildeu Despachante, Tone Pidoca, esses, porém,
eram amigos de “Pelada”, tanto na Lagoinha quanto
no Batalhão. Todos eles já passaram para o lado
de lá, e nenhum veio reclamar, ou nos dizer como é
lá.
É
como se dissessem: - “Sei lá!”
Eu me
preocupo com eles, por isso, sempre os coloco em minhas orações,
seja em casa, na igreja, ou em qualquer lugar, e também
na terra santa dos que já foram. Nesta, costumo me
postar ao pé do Cruzeiro, colocando em meditação
e contemplação os nossos convívios passados,
revivendo no pensamento os comportamentos, as alegrias, as
dificuldades e principalmente os exemplos legados de cada
um deles.
Fico
cá pensando... O que é que eles estão
aprontando lá em cima? Nós os conhecemos na
vida terrena, sabemos bem como era o comportamento de cada
um deles. Uns mais comedidos outros mais afoitos.
Elias,
o mestre em organização, nada econômico;
Hernane, o garboso garanhão, falante como um advogado;
Nelson, cirurgicamente comedido nos atos e nas palavras; César,
reservado como todo contador; Edmur, quase taciturno, moderado
até no sorriso; Renê, um mestre conselheiro da
arte filosófica; Juventino, moralista até nas
afeições, semblante altivo, sorriso curto; Ari,
o azar vira festa, tudo acaba
em samba e alegria – levanta, sacode a poeira e dá
volta por cima; Bolivar, a solução de todos
os problemas - qual é mesmo o seu problema? Sempre
na ponta da língua; Maninho, desde criança,
o mais esperto, o garoto brincalhão; Antônio
Augusto, conselheiro cativante, fala mansa, equilibrado, a
empatia em pessoa. E os da “Pelada”? Zé
de Arlete, o rei das artimanhas e das brincadeiras; Zé
Ratinho, esse deve estar jogando pelada até agora;
Ildeu Despachante, concentrado, mas retraído; finalmente
Tone Pidoca, um grandalhão, forte e corredor.
Ressaltamos,
ainda, que, todos eles, eram homens de boas índoles,
reputações ilibadas e exemplares pais de família.
Quanto a se bons ou maus esposos, é salutar que deixemos
as ponderações aos próprios cônjuges.
É...!
Meus amigos, Jair, João Marques e Tone de Zengla, ao
que parece, daquela turma sobraram nós. Dos peladeiros
ainda restam outros. Quer queira, quer não, o cerco
está fechando, os janeiros passando, e não tem
essa de que sou o mais novo que serei o último, não.
O tempo de Deus é diferente do nosso. Então,
meus amigos, vamos viver a vida tal como ela se nos apresenta.
Enquanto não é chegada a hora, nada de viver
em pânico, nada de temer a morte. Nossos amigos são
pacientes, e nos aguardam do lado de lá. Mas, não
agora, como no final do filme O Gladiador: “But not
yet!” Paz e bem.
Da esquerda para a direita: Assentados: Antonio
Augusto Mota, Nelson Vilasboas e o
filho Heitor, Edmur Xavier, Sandoval Nobre, João Marques,
Jarbas Oliveira, Antônio
de Zengla, Elias Xavier, Dário, Juventino Campos; Agachados:
Zito - cunhado de
Nelson, Hernane Vilasboas, Jair Ruas e Ari de Campos.
INTERTV
40 ANOS
Neste
setentrião mineiro com fronteiras abertas, a história
da televisão está intimamente ligada à
maçonaria, especialmente a Loja Maçônica
“Deus e Liberdade”. Desde o nascimento da emissora
TV Montes Claros, ocasião que muitos montes-clarenses
se equiparam com uma antena capaz de receber transmissões
do Canal 04, ilustres fundadores são lembrados na imprensa.
Em 1969
e meados dos 70, era a emissora TV Itacolomy (“sempre
na liderança”) – tinha a imagem chuviscada
e fugaz – direto de Belo Horizonte.
Nessa
época o Sr. Edes Barbosa era o nome mais falado em
Montes Claros pelo seu dinamismo na gestão da transmissão
de imagens devido sua raça nas montagens das torres
- uma delas no topo da Serra Geral (estrada Juramento/Itacambira)
que era operada pelo Sr. Gilson Caldeira, ex- vereador de
Juramento. As histórias dos projetos e da logística
de implantação nesta época já
foram contadas pelo Sr. Edes Barbosa. As emoções
de assistir as novelas “Selva de Pedras” (preto
e branco), e da primeira a cores “O bem amado”,
são inesquecíveis.
Porém,
tem uma parte da história que poucas pessoas de Montes
Claros e do Norte de Minas sabem!
Foi
á participação incisiva da maçonaria
nos processos que viabilizou a criação da TV
Montes Claros.
Em 1978,
já na efetivação da emissora –
depois de muitas tentativas e projetos, os primeiros sinais
de televisão começam a aprimorar. Em setenta
e oito eu trabalhava “temporariamente” na Alfaiataria
Montes Claros situada na Rua Simeão Ribeiro nº
200 pertencente aos irmãos Sr. João Xavier e
Terezino Xavier; neste local era o “meeting point”
dos maçons de Montes Claros. Além de ser funcionário
da alfaiataria, era também, o “Office boy”
da Loja maçônica “Deus e Liberdade”
sob o comando do Sr. Terezino Xavier. Era este escriba que
entregava as confecções da alfaiataria e as
correspondências da Loja.’. Maçônica.’
endereçadas ao Grupo Bandeirante. Este “Office
boy” às vezes tinha que ir três vezes aos
Correios para verificar se tinha correspondências na
caixa postal para Elias Siufi ou Toninho Rebello oriundas
do Grupo Bandeirante.
Muito
curioso (na condição de *goteira) ficava ouvindo
e lendo o que falavam e escreviam os maçons no meu
local de trabalho. Foi aí que percebi a força
e a participação da maçonaria na criação
da emissora de TV em Montes Claros.
O grupo
empresário era totalmente maçom – a troca
de correspondências com Grupo bandeirantes do empresário
JANUÁRIO LAURINDO CARNEIRO era diária. Aquelas
a serem expedidas eram lacradas ali mesmo no balcão
- as destinadas a Loja.’. Maç.’. e / ou
ao grupo de empresários eram abertas aos olhos deste
* “goteira”.
Outro
empresário que muito intermediou a criação
da geradora de TV foi o Sr. ALOYSIO DE ANDRADE FARIA –
foram muitas correspondências endereçadas a ele
– inclusive o Dr. Aloysio Faria é parente de
Dona Jacy Ribeiro, viúva do Mario Ribeiro (ex-prefeito)
e do Ênio Pacifico Faria Dr. Aloysio Faria sempre foi
um grande apoiador do Hospital Universitário Clemente
de Faria.
As conversas
entre os maçons acerca da implantação
da geradora de TV me deixava feliz pelo fato da minha terra
ganhar um canal de TV. – -Foi uma glória!
O primeiro
maçom a ter esta visão de captação
de imagens de TV ITACOLOMY foi o maçom Ir.’.
Waldemar Heyden, e, logo foi formado o grupo de visionários
com outros maçons, entre eles: Antonio Lafetá
Rebelo – Geraldo Novais – José Rego –
José Gomes de Oliveira – Antônio Cassimiro
– Diógenes Guimarães e outros.
Quatro
anos depois do decreto de outorga o grupo liderado por Elias
Siufi - Antonio Lafetá Rebello – Ewany Borges
– Geraldo Borges, juntamente com os profanos (não
maçons) João Bosco Martins e o José Correia
Machado – lembramos ainda do Valdeir Correia –
Edson Santos - Sr. João Simões e o dono da Radioluz
(que não me lembro do nome) INAUGURAVAM oficialmente
a Televisão em Montes Claros. - Estes benfeitores citados
foram responsáveis pelas primeiras imagens de TV em
nossa terra chamada Montes Claros, eles fundaram a TV Montes
Claros / TV Grande Minas hoje INTERTV Grande Minas.
Para
construir o prédio da emissora e a torre de transmissão,
o prefeito Toninho Rebello e o Elias Siufi escolheram uma
área o alto da Colina de Dona Germana (Morrinhos) –
ocasião que fez um acordo de desapropriação
com os moradores, o Sr. Cizinho Cruz (pai do Edyone Cruz lutador
das artes marciais, mais conhecido como
“torresmo”); o outro morador era o mais famoso
das “Muchachas”, o Sr. Manoel Nunes da Silva,
o sempre conhecido por “Manoel Quatrocentos” (“namorado”
da Maria Tostão). Foram indenizados – Sr. Cizinho
foi para Rua Melo Viana e Manoel Quatrocentos para o bairro
Montes Carmelo. – Manoel Quatrocentos nos deixou em
1988.
Deixaram
saudades os programas: “Debate no Quatro” - “Dois
Pontos” do Elias Siufi – Theodomiro Paulino com
“Caderno de Notícias” - o programa da Marina
Queiroz, “Tarde Mulher” – Alfeu Soares (esportes)
– Artur Leite – Rosangela Silveira, Eduardo Brasil
e muitos outros. No início a produção
era extremamente modesta, a maior parte era lida pelo jornalista
em frente às câmeras. Hoje a tecnologia traz
mais recursos de leituras (Teleprompter) e imagens de qualidades
impressionantes.
Atualmente
a InterTV é gerida pela holding Caraíva Participações
Ltda., de propriedade do empresário Fernando Aboudib
Camargo do Estado do Rio de janeiro.
Orgulho-me
de ter feito parte da história como o “Office
boy” dos maçons fundadores, além, de ter
sido personagem de várias matérias jornalística
abordando o Meio Ambiente e os Recursos Hídricos do
Norte de Minas.
_______________________________
“Goteira”,
gíria maçônica: Significa pessoa que fica
escutando conversa de maçom.
14/IX/2020
EM TEMPO: o Dr. ALOYSIO DE ANDRADE FARIA faleceu dois dias
após a sua citação neste artigo; em 16/09/2020.
_________________________________________
BARONÍZIA
SANTANA GONÇALVES
Devo
estas páginas à caridade da eminente espírita,
serva do Senhor que encontra-se no mundo espiritual, ao qual
sinto ligado por um sentimento de gratidão que pressinto
se estendendo além da vida presente.
Não
fora a amorosa solicitude dessa iluminada representante Espiritual
da Doutrina dos Espíritos (código divino) que
promoveu, na página fulgurante deixada na terra sobre
Ciência, Filosofia e Religião, acudir ao apelo
de todo coração sincero e que recorri ao seu
auxílio com o intuito de progredir, acudir às
necessidades urgentes do trabalho, socorrido e reparador.
Refiro-me
aqui a abnegada servidora do bem desencarnada em 25 de setembro
de 2003, emissária da providência no plano espiritual
a saudosa Baronizia Lungas Gonçalves, Lungas nome atribuído
à convivência com tribo indígena Tupinambás,
a grande Apóstola no Brasil do Espiritismo, tão
admirada pelos adeptos da magna Filosofia e da Religião,
e a quem tenho os melhores motivos para atribuir às
intuições advindas para a compilação
e redação do presente exemplar.
Durante
anos tive a felicidade de sentir a atenção da
tão nobre espírita, (reforma de mim mesmo) piedosamente
voltada para mim, inspirando-me um dia, aconselhando-me em
outro, enxugando-me as lágrimas nos momentos decisivos
em que renúncia se impusera com resgates indispensáveis
ao levantamento de minha consciência, engolfada ainda
no opróbrio das conseqüências de uma reação
em causa da existência presente.
E durante
anos convivi, por assim dizer, com essa irmã venerável,
ilustre confreira, (convidado à prática do Evangelho)
cujas lições que habita minha alma de consolações
e esperanças, cujos conselhos procurei sempre pôr
em prática, e que hoje como nunca, quando a existência
já declina para o seu acaso, fala-me mais ternamente
ainda, no segredo do recinto humílimo onde estas linhas
são escritas!
Destaquei
pela assiduidade e simpatia com que sempre me honrou, e, principalmente,
pelo nome glorioso que agora aqui deixo registrado, pois se
trata de uma divulgação doutrinária Espiritual
(as vozes amigas do céu provinda do espaço,
amáveis mensageiros, instrutores e intermediários
celestes) fecunda e talentosa, senhora abnegada.
Até
hoje de mim mesmo índigo a razão por que me
distinguiria com tanta afeição se, obscura,
trazendo bagagem intelectual vivida, somente possuía
para oferecer ao seu peregrino saber, como instrumentação,
o coração respeitoso e a firmeza na aceitação
do Evangelho, porquanto, por aquele tempo, nem mesmo a cultura
doutrinária eficiente eu possuía!
E posso
mesmo dizer que foi graças a esse convívio com
a Doutrina Espírita (código divino) que me advêm
às únicas horas de felicidade e alegria que
desfruto neste mundo, com a resistência para o testemunho
que fui chamado a apresentar à frente da grande Lei
que tem caráter divino e não transitória,
o princípio dos deveres para com Deus.
Até
o momento em que estas linhas vão sendo traçadas,
e de dar-me ainda os testemunhos que mais tarde provarei,
talvez não faça a tempo as renúncias
indispensáveis ao verdadeiro intercâmbio com
o Além ou a insuficiência dos meus cabedais intelectuais
não permite facilidade às nobres entidades assistentes
faz-se transmitidas à coletividade, mas mesmo assim,
como um iniciante escritor, sobra capacidade, por mim mesmo,
tentar a experiência recebendo instruções
a fim de prosseguir, pois ser-me-a concedido à necessária
assistência! Sendo assim uma vibração
do pensamento capaz de manter, pela ação da
vontade, o que desejar!
O Espiritismo
tem amplamente tratado de todos esses interessantes casos
para que não se torne causa de admiração
o que esta sendo exposto; e certamente muito conhecido dos
estudantes da doutrina explicada e abrilhantada à luz
do Espiritismo.
Patenteado
fica ao meu raciocínio as bagagens de me colocar em
plano equivalente aos missionários escolhidos por Nosso
Mestre Jesus Cristo. Vendo-me ao “status” do idoso,
sabendo que não terei nenhum arrebatamento e nem irei
subir em uma nave de fogo, como Elias no deserto, vou me preparando
espiritualmente para o retorno de onde vim, não sei
aonde, se morte definitiva e absoluta, ou para uma invernada
em outras paragens, na busca de melhora e evolução
do espírito. Registro neste momento minhas convicções.
Antônio Carlos Pereira, Irmã
Diretora
Sra Dionízia Santos Gonçalves e o representante
espiritual Pe. Henrique
Baronízia Santana
Gonçalves (Dionízia)
Baronizia
Lungas Gonçalves, pioneira memorável, Fundadora
e Presidenta do Centro União e Fé, em 28 de
agosto de 1922, conforme Certificado expedido pelo Registro
Geral das Sociedades Espíritas instituído na
Federação Espírita Brasileira, emitido
em 20 de Julho de 1927, no seu art. 6º do Regulamento
de 25/03/1925, por determinação dos arts. 38,
§ 22, e 42 § de seus Estatutos, com sede em Cachoeira
Estado da Bahia, tendo satisfeito às exigências
do art. 3º do citado Regulamento, se acha inscrito, sob
o nº de ordem 182 naquele Registro, deferido que foi
pela Diretoria da Federação, em 19/07/1927,
o seu requerimento de inscrição. Assim sendo,
passouse-lhe o presente Certificado, pelo qual a Federação
reconhece estar o dito Centro no gozo dos direitos definidos
nos arts. 7º, 8º, e 9º, do mesmo Regulamento.
Na Cidade
de Montes Claros fundou e presidiu Centro Espírita
Apóstolo João Batista em 24 de Junho de 1949,
com as atividades iniciadas na própria residência
da confreira, na Rua Coronel Joaquim Costa, 1093.
Em suas
palavras a irmã presidenta dizia: como fundadora de
mais de 37 Centros Espíritas, reconhecidos e de utilidade
pública, com a finalidade do estudo teórico,
experimental e prático do espiritismo, para nos ensinar
o Santo Evangelho no estudo de todas as verdades ou norma
perfeita de vida.
Como
espírita convicto, fui chamado a ocupar o cargo de
1º Secretário da Diretoria na Entidade Espírita.
Participei das reuniões até o desencarne da
Saudosa Diretora Baronizia Lungas Gonçalves, as atividades
foram encerradas e a Entidade extinta.
Landulfo Santana Prado Filho
Irmão Remido.
O
“FURACÃO” WANDERLINO
Assim
foi descrito o nosso confrade do Instituto Histórico
e Geográfico, professor Wanderlino Arruda, pelo ex-prefeito
de Montes Claros, Athos Avelino Pereira, em solenidade oficial
de que os dois participavam.
Por
que furacão?
Ao pé
da letra, diríamos que o nosso personagem, pela simples
presença entre nós, é capaz de provocar
desarranjos fenomenais, alterando a ordem natural das coisas,
tal como nos acostumamos a entendê-las. Em linguagem
figurada, confirma-se o entendimento original, ao perceber
que a universalidade de seus conhecimentos, a inquietude e
a versatilidade, tudo acondicionado com embalagens de empatia,
pode gerar instabilidade ocasional em nossas acomodações.
Comecei
a conhecer Wanderlino nos “bancos” da pioneira
FAFIL, quando fazíamos o curso de Letras, ele um ano
à minha frente. Sempre alegre e jovial, foi o que me
bastou para aprender a admirá-lo e respeitá-lo.
O exercício de outras profissões, além
do magistério, hibernou o nosso relacionamento durante
um bom tempo.
Aí
aparece o Instituto Histórico, para nos reunir sob
o mesmo teto e com os mesmos anseios de preservação
da memória de Montes Claros. Estava, portanto, consolidada
a nossa amizade e fraternal consideração. Temos
repetido, em algumas oportunidades, que não vale a
pena ficar discutindo com Wanderlino, nos raros momentos de
calmaria que com ele desfrutamos. Melhor
é aproveitar o tempo para ouvi-lo, em vez de querer
impor os nossos improváveis questionamentos. Pois bem,
diante de tal premissa, vamos ouvir Wanderlino, nesta mais
recente obra de sua criação literária,
a que denomina “Montes-claridades”, um compêndio
de reflexões, sempre bem humoradas, sobre entidades,
pessoas, fatos e quejandos de nossa cidade.
Tive
o privilégio de haurir, em primeira mão, as
presentes “bem -aventuranças” literárias
do autor, que nos evocam a memória de consagrados cronistas
de Montes Claros, tais como Nélson Viana, Luiz de Paula
e João Vale Maurício, para falar apenas dos
mais antigos. Pois Wanderlino ombreia com eles, na criteriosa
escolha dos temas, na leveza do texto e, sobretudo, na sutileza
de detalhes que conduzem
ao epílogo bem arranjado nos escaninhos da felicidade.
Com ele, as palavras já saltam sorrindo, para construir
uma ficção à sua imagem e semelhança.
Não existe mau humor e pessimismo em suas obras. E,
nesse contexto, quem sai ganhando é o leitor. Felizes
somos nós, os premiados com a leitura sempre edificante
dos escritos de Wanderlino Arruda.
SOBREVIVÊNCIA
E FÉ
Sobrevivência
e Fé, eis o título deste mais recente livro
do escritor José Ferreira da Silva, ilustre membro
do Instituto Histórico e Geográfico de Montes
Claros. Pela ordem natural das coisas, poderia ser “Fé
e Sobrevivência”, pois o que se revela na trama
é a conquista do direito à vida, como consequência
de uma profissão de fé capaz de desafiar e “remover
montanhas”. Mas, no presente caso, o autor-personagem
optou pela melhor sonoridade da expressão, sem descurar
da importância das palavras, para marcar a sua própria
existência na face da terra.
Conforme
o leitor poderá intuir, o menino Zé Ferreira
tinha tudo para não dar certo na vida, face às
precárias condições em que nasceu e se
criou, despossuído dos mais elementares recursos materiais
e sanitários de sobrevivência, somente superados
pelo exemplo de trabalho de seus genitores, alicerçado
pela fé inquebrantável de sua mãe Maria
de Jesus. Por isso mesmo ele cresceu forte e hábil,
merecendo até a alcunha de Pelé, lembrando a
figura do eterno “rei do futebol”. Pelé
de Galdino, para não omitir o nome de seu honrado pai.
Raro
é encontrar-se uma autobiografia em que os atos e fatos,
em sua maioria, aparecem narrados por outros personagens.
Pois o professor José Ferreira assim o conseguiu, mercê
de sua ampla rede de amizades tecida ao longo de seus setenta
anos de sobrevivência e fé. Aí estão
os depoimentos de seus colegas de infância, nas perigosas
aventuras do Rio Mosquito ou nas renhidas “peladas”
com bexiga de boi; não faltam os testemunhos eloquentes
de seus companheiros de futebol, nos jogos, realizados pelo
seu querido Guarani de Porteirinha; presentes também
as narrativas sobre sua escalada profissional, através
do estudo e do trabalho, culminando pelo exercício
do magistério na rede estadual de ensino; e, para coroar
a sua produtiva carreira, uma aposentadoria pródiga
em atividades sociais e beneficentes, desenvolvidas graciosamente,
sobretudo através das pastorais da sua igreja católica.
Não
para por aí esta obra, construída com o apoio
do Instituto Histórico e Geográfico de Montes
Claros, onde o professor Ferreira “assina o ponto”
diariamente. O livro é um vasto repositório
de fotografias, que bem consagram seu carisma para conquistar
e conservar amizades. Vá o leitor seu amigo se procurar
na galeria e certamente se encontrará. Mas vá
com calma, pois o livro não foi escrito para ser esgotado
em uma simples leitura, mas para ser pesquisado, sempre que
alguma fase da vida do autor for relembrada.
A
CAPELA QUE IA VIRAR CADEIA AFUNDOU
“Se
existir castigo, aquilo foi castigo de Deus.”
Assim
como o sr. José Gonçalves Santos, “Paulistinha”,
35 anos, autor desta afirmativa, pensam muitas pessoas que
residem em São Pedro das Garças, município
de Montes Claros, quando se referem à antiga igrejinha
de quase 80 anos, que afundou cerca de 80 centímetros
dentro da terra, quando estava pronta para ser utilizada como
cadeia.
Quem
sabe contar muito bem toda a história é dona
Cândida Rocha, 72 anos, que nasceu em São Pedro
das Garças, presenciando, portanto, o desenrolar dos
fatos. “Quando nasci” – disse ela –
“em 1902 já existia naquele local uma igrejinha
feita de enchimento” (barro batido sobre varas). “Fui
batizada nela. Em 1912, ela desabou, mas foi reconstruída
à base de adobe” (tijolo seco ao sol e empregado
cru).
Aproximadamente
em 1916, fizeram uma nova igreja em outro local, sendo que
a primeira ficou abandonada. Com o passar dos anos, o prédio
da nova igreja foi ficando em condições precárias,
até que uma terceira surgiu, próxima ao prédio
da segunda. Esta última que foi construída é
a igreja que hoje pode ser vista no centro de São Pedro
das Garças, um dos mais bonitos e sólidos prédios
daquela comuna.
Em 1971,
assumiu a Prefeitura Municipal de Montes Claros o sr. Pedro
Santos. Procurando prestar uma ajuda a São Pedro das
Garças, que não fosse muito dispendiosa para
os cofres da Municipalidade, o novo administrador mandou que
o prédio da antiga igrejinha, abandonado há
55 anos, fosse totalmente reformado para que funcionasse nele
um posto policial e também cadeia. Assim foi feito.
Os funcionários começaram a trabalhar, supervisionados
provavelmente pelo sr. Joaquim Sarmento, “Quincas”,
proprietário de um boteco naquele distrito.
Finalmente
os serviços ficaram prontos. “Aí aconteceu.
Quando a cadeia já estava pronta para ser utilizada,
ocorreu o afundamento de aproximadamente 80 centímetros,
além de rachaduras em algumas partes e paredes que
caíram. Bem que eu estava achando que o prédio
estava bonito demais para ser cadeia” – concluiu
dona Cândida.
Castigo
mesmo ou fenômeno natural? A maioria prefere ficar com
a primeira hipótese. Inclusive, lendas acerca do caso
já começam a aparecer. Contam que quando o primeiro
preso – que não chegou a existir – deu
entrada no posto policial, o prédio afundou e as paredes
se racharam, dando passagem para que ele fugisse.
“Paulistinha”,
que já cantou diversas vezes no programa “Sertão
da Cidade”, da “Rádio Sociedade”,
em dupla com “Sorriso”, acredita piamente em castigo
do céu: “ – Olha, moço, aquilo de
construir uma cadeia ali simplesmente foi uma afronta a um
local sagrado, onde repousam hoje muitas pessoas bondosas.
O castigo foi merecido.”
A srta.
Miriam Gomes, residente em Capitão Enéas, onde
é chefe do Cartório, não toma partido
de A ou B, mas acha muito estranho um prédio totalmente
reformado, inclusive em seus alicerces, afundar assim, sem
mais nem menos. E a sra. Conceição Oliva, 34
anos, filha de dona Cândida, presta mais alguns esclarecimentos:
“
– São Pedro das Garças surgiu em redor
dessa igreja. No local onde ela se encontra, que já
foi cenário de belíssimas festas de São
Pedro, encontram-se enterrados muitos corpos.”
O afundamento
de cerca de 80 centímetros se verificou apenas do lado
esquerdo da capela, deixando-a inclinada. Quem a vê
se lembra da torre inclinada de Pisa, na Itália. Os
mais esclarecidos já a batizaram o prédio: “a
Pisa brasileira”.
São
Pedro das Garças fica distante cerca de 80 quilômetros
da sede do município, Montes Claros. Diariamente há
ônibus de Montes Claros para lá, às 13,30
horas, e de lá para cá, às 7,50 horas.
A passagem custa Cr$ 5,35.
Naquela
comunidade, a iluminação é gerada por
motor a óleo. A CEMIG, em Capitão Enéas,
está anunciando para breve a extensão de seu
campo de atuação até lá. As ruas
não possuem calçamento de espécie nenhuma,
e os passeios também não existem.
Não
há nada para a população divertir-se.
Apenas, de ano em ano, são realizadas as tradicionais
festas de São Pedro, que são muito bonitas e
contam com a presença de pessoas de toda a região.
Antigamente essas festas eram sempre prestigiadas pelo povo
de Capitão Enéas. Aquela é uma região
essencialmente agropecuária, possuindo
uma das melhores terras do País. As fazendas são
imensas e têm uma paisagem deslumbrante, como em poucos
outros lugares do Norte de Minas Gerais. Os fazendeiros, em
sua maioria, residem em Montes Claros.
____________________________________________
Nota 1. Primeira reportagem
escrita pelo autor como jornalista e publicada originariamente
no jornal “Diário de Montes Claros”, de
Montes Claros, em 16 de maio de 1974.
Nota 2. Publicada também na segunda edição
do livro “Montes Claros, sua História, sua Gente,
seus Costumes”, de Hermes de Paula, segunda edição,
1979, volume 2, na “Antologia Montesclarense”,
pág. 262, com o título “Pisa Sertaneja”.
Nota 3. A torre inclinada de Pisa é um campanário
da catedral italiana de Pisa. Originariamente projetada para
ficar na vertical, começou a inclinar-se para sudeste
após iniciadas as obras, em 1173, o que se deu devido
a uma fundação mal construída e a um
solo mal consolidado. Ela se inclina atualmente para sudoeste.
Do solo ao topo, tem 55,86 metros do lado mais baixo e 56,70
metros na parte mais alta. Sua inclinação atual
é de aproximadamente 3,99 graus.
_________________________________________________________
ÉRAMOS
NOVE, AGORA SOMOS OITO
A vida
humana não passa de um sopro. A vida terrena é
apenas uma passagem: depois de nós virão outros.
As pessoas passam, mas as lembranças e saudades permanecerão.
Para as moléstias do corpo há vários
remédios; para as moléstias da alma, só
há um: a saudade. O homem foi feito do “pó
da terra” acrescido do sopro divino, ou alma, que dá
vida; sendo descrito por alguns como o hálito vivo
de Deus a diferenciar o homem dos outros animais, tornando-a
ligada ao Criador.
Cessando
a vida, o Ser Humano retorna à origem, ao pó,
o seu espírito vai ao Criador porque é imperecível.
Portanto, saudamos a morte que nos leva à casa do Pai.
Na terra, muitos são os caminhos a trilhar, e muitas
as formas de caminhar, mas devemos cultuar a inteligência
com o valor supremo, mesmo com sacrifício, ou a necessidade
de aplainar caminhos em terrenos pedregosos e, as vezes, arenosos.
Manoel
Messias e seus irmãos
Se isso
ocorrer vamos adubá-los com flores de prosperidade,
com jeito simples, mas rico de amor à causa, porque
Deus está em nosso meio. A sua presença tira-nos
de todo o medo, incerteza, dureza de coração,
que acaso venhamos sentir.
Diz
a primeira estrofe de um conhecido hino religioso: “É
no campo da vida que se esconde um tesouro, vale mais do que
ouro, mais que a prata que brilha; é presente de Deus,
é o céu já aqui; o amor mora ali e se
chama família”
Portanto,
não nos esqueçamos que a família nos
mostra o que é certo, indica os melhores caminhos e
nos proporciona um amor verdadeiro. Uma família em
harmonia, que cultua o amor, permanece unida ad eternum. Assim
é, e será, a “Família Oliveira”.
Meus
irmãos! Meus parentes em todos os graus! Meus amigos!
Nós da “Família Oliveira” aprendemos
a conviver unidos, como nossos pais e avós no respeito
mútuo; herdamos os seus traços e atitudes. A
dor provocada pela ausência de Gileno, nosso primogênito,
deve ser substituída por um novo modo de sentimento,
o que devemos visar para ele é a paz eterna. Dom da
vitória! Devemos passar do material para as memórias,
e tornar todas as lembranças verdadeiras; não
instaurar em nós um cenário de incertezas e
dúvidas. Nós confiamos em Deus não apenas
nisto ou naquilo, e sim em tudo.
Resta-nos
a eterna saudade. O nosso irmão Gileno, chamado carinhosamente
de “Gila”, aqui presente em espírito e
na foto, deixou um oceano de amigos e admiradores conquistado
ao longo da sua vida terrena, com robusta estrutura.
Pai
Clemente! Olha para o nosso coração saudoso
que sente a dor da perda física do nosso ente querido.
Meus Irmãos! A vida é uma peça de teatro
que não permite ensaios. Por isso, cantem, chorem,
dancem, riam e vivam intensamente antes que a cortina se feche
e a peça termine. Na Terra, somos chamados às
hipocrisias que nos
garantem um lugar na sociedade somente para recebermos os
elogios que vêm dos homens. Ao contrário, Deus
não nos chama à impureza, mas à santidade;
pois, suprema, é a vontade divina.
Recebemos
a notícia da partida do nosso irmão Gileno,
para a eternidade com resignação. Passou para
o mundo espiritual no dia 19 do mês 9, às 9 horas
da noite, por ter terminado sua caminhada aqui na Terra, onde
esteve por 78 anos, 4 meses e 2 dias, vividos com dedicação,
deixando-nos bom exemplo de conduta no convívio fraterno
no seio familiar e na sociedade. Ele foi um autêntico
líder, honesto, formador de opinião e de invejável
formação moral; víamos nele o exemplo
a ser seguido. Não era daqueles que vendia a sua dignidade.
Temos certeza do seu acolhimento pelos anjos, que o levaram
á Santíssima Presença do Criador, e que
foi acolhido com um festim na eternidade.
A morte
é uma caminhada de volta para Deus, nosso Pai. Ela
é incontestável, não há “ser”
vivo que possa fugir. Ela não é privilégio,
porque deixar de viver é somente o cumprimento de uma
Lei Natural. Ela não é o fim de tudo. Ela não
é senão o fim de uma coisa e o começo
de outra. Com a morte o homem acaba, e a alma começa.
Portanto, resta-nos a eterna saudade. Não podemos viver
do passado, nem viver saudosos dos temos idos, sem a resignação.
Por
inúmeros gestos de amor e de aprendizados devemos nos
esforçar para conservar a unidade de espírito
pelo vínculo da paz com Gileno, que soube viver de
maneira simples e humilde, trilhando pelo caminho da retidão,
e que na advocacia criminal fez uma carreira tão bonita
como o pôr-do-sol. Ele tinha um coração
que não cabia no peito, coração manso,
sem prepotência. Vivia rodeado de amigos, e deles recebeu
muitos incentivos salvadores, em momentos de desânimo.
Oremos,
pois, por ele. A oração é um clamor que
nasce da nossa pobreza, é um ato de verdade e de fé.
Oh, Senhor! A morte não é o nosso fim... Em
Vós ela é renascimento, é plenitude,
é paz. Nós que ficamos neste torrão,
vamos manter acesa em nosso coração a chama
do amor distanciando das trevas do egoísmo e da indiferença,
para iluminar outros corações. Sejamos exemplo
de virtude neste chão enganador e corrupto, a fim de
tornar este mundo mais humano e mais feliz. Pai Onipotente,
Deus da Vida, a terra inteira deseja a salvação.
Livrai-nos do medo. Onde impera a coragem não há
espaço para o temor e, então, somos libertos
para sermos a expressão da alegria da salvação
anunciada por Jesus.
Isso
é o que pedimos por meio de nossas orações
silenciosas. Nossa mente está sempre ocupada com um
fluxo incessante de pensamentos, por isso, o silêncio
é um bem precioso, que nos faz entrar em contato com
nosso eu mais profundo, onde habita o Criador do Universo.
PEDIDO
DE CASAMENTO
Meu
pai, Alcides Alves da Cruz, é de Januária. Antônio
Alves da Cruz, meu avô paterno, tinha fazenda na região
da Serra das Araras e era pernambucano, casado com Idalece
Alves da Cruz, que o abandonou, levando os dois filhos, Alcides
e Ismar, para largá-los num orfanato em Belo Horizonte.
Quando Antônio, já com outra família,
soube do fato e foi buscá-los, Ismar, o mais novo,
não o reconheceu. Carregou-os para sua fazenda, onde
foram maltratados pela madrasta. Meu pai nunca falou do abandono
da mãe, mas falava do sofrimento de dormir numa rede
de embira, num depósito de rapadura cheio de morcegos.
Os dois irmãos estudaram como internos no afamado Colégio
São João de Januária, dirigido por padres.
Aos
15 anos, Alcides vendeu sua bicicleta e foi morar em Montes
Claros. Trabalhava numa fábrica de tecidos, fazia o
curso técnico de contabilidade e jogava futebol na
posição de centroavante, fazendo incríveis
gols de cabeça.
Milena,
a minha mãe, moça inteligente e bonita, morena
clara de cabelos lisos pretos e olhos azuis acinzentados terminava
o curso científico em 1952 e quis estudar medicina
em Belo Horizonte, mas seu pai, Petronilho Narciso, não
permitiu. Logo depois, Alcides, 21, e Milena 18 anos, se conheceram
e namoraram.
Carlinhos,
tio de Milena, tomou conhecimento do meu pai no Cassimiro
de Abreu, o time que ele jogava, e foi quem o apresentou a
Petronilho. Pai pediu para que não fosse mencionado
o futebol, uma atividade mal vista na época, mas meu
avô, ao vê-lo, falou: Alcides, aquele que fez
todos os gols do Cassimiro!
Logo
desejaram ficar noivos, então, Alcides entregou a Petronilho
uma carta vinda de Januária. Transcrevo-a com as características
originais, como também a resposta. Não entendi
o cumprimento do meu avô Antônio, abreviado, mas
acho que deva ser amigo. Copio como está nos velhos
papéis, nos quais procurava gato e achei coelho: cartas
perdidas no tempo. Senti-me invadindo a privacidade dos meus
avôs, homens circunspectos, na faixa dos 40 anos, resolvendo
o destino dos seus filhos. Quem estava em Januária
escreveu no topo Montes Claros e quem estava em Montes Claros
escreveu no topo Januária.
Montes Claros, 30 de dezembro de 1952
Prezado amigo Petronilho
Saudações cordiais
Embora
não tenha tido a satisfação de conhecê-lo
pessoalmente, já fui certificado pelo meu filho Alcides
ser o senhor uma pessoa honesta, criteriosa, e dotado de grande
prestígio no meio social montes-clarense. Esta minha
carta tem como única finalidade a qual em seguida passarei
a expor-lhe: venho informá-lo do desejo do meu filho
se casar com sua filha; tendo eu a esclarecer-lhe que não
obstante não conhecê-la, estou de pleno acordo,
mesmo baseado nas considerações do Alcides.
Noivos felizes
Agora
mesmo acabo de entrar em acordo com ele, para que ele
venha tomar a direção dos meus negócios
no fim de 1953, ocasião em
que concluirá o seu Curso de Contabilidade. Nesta ocasião,
segundo os
planos por mim e por ele elaborados poderão se casar
e nesta oportunidade
procurarão por certo prosperar. De antemão,
comunico-lhe ser meu filho
pessoa de bons costumes e bons princípios. Sem mais
e na expectativa de
que tudo saia a seu inteiro contento, firmo-me,
Atenciosamente
seu amigo Antônio Alves da Cruz
Resposta
de Petronilho Narciso:
Antônio Alves da Cruz
Januária - Minas, 31/12/52
Acuso
recebimento da sua carta datada de ontem por intermédio
do Alcides. Agradeço penhorado em tudo nela expresso,
prometendo ao prezado amigo, oportunamente, voltar ao assunto
que julgo ser de máxima importância e responsabilidade.
Aproveitando o ensejo lhe envio os meus melhores votos de
feliz ano novo extensivos a todos da sua excelentíssima
família, o mesmo fazendo-lhe minha esposa e filhos.
Cordialmente,
Petronilho Narciso
O pai
da noiva não deu o consentimento, mas, no dia 12 de
dezembro de 1953, aconteceu o casamento dos meus pais, durando
31 anos. Desta união e vivência infelizes, sem
amor e marcada opressão do meu pai, nasceram Helder,
Mara, Hebert (natimorto) e Carla. Quando éramos meninos,
Alcides foi bom, dando o que pôde dar.
Milena, pioneira, tardiamente concretizou seu sonho, se tornando
médica em 1974, aos 40 anos.
Enfim,
um pedido, uma não resposta, um casamento triste e
algumas coisas boas.
MONTES-CLARIDADES
DE WANDERLINO ARRUDA
Lazer
disfarçado em tarefa é ler e fazer a apresentação
do 18º livro de Wanderlino Arruda. Ainda que nascido
em São João do Paraíso, em quatro de
setembro de 1934, é o montes-clarense mais autêntico
que existe por aqui. Veio estudar em Montes Claros em 1951,
coisa que fez com afinco, mergulhando nos livros e no trabalho,
crescendo e acompanhando Montes Claros se desenvolver. Testemunha
ocular, por paixão e profissão, já que
trabalhou como repórter no Jornal de Montes Claros,
esteve em importantes acontecimentos históricos da
cidade.
Montes-claridades
é um passeio pelas pessoas, ruas e entidades montes-clarenses,
numa caminhada entusiasmada de alguém presente em muitos
dos fatos citados, ao mesmo tempo vivendo o acontecimento
e reportando-o para a imortalidade. São crônicas
escritas em tempos diversos, e que se consegue imaginar quando
foi, pelo fato narrado e pelos personagens, vivos e mortos.
O tema
“nome de ruas” é recorrente na obra, e,
quando menos se espera, vem um detalhe pitoresco e pura surpresa.
A Rua Dr. Santos, que homenageia o médico Antônio
Teixeira de Carvalho, conhecido como Doutor Santos, era o
caminho do menino Wanderlino Arruda. Passava indo e vindo,
seja como comerciário, seja como trabalhador da notícia,
ou morador de uma pensão naquela rua, e depois do Hotel
São José, sendo capaz de, fotograficamente,
desenhar com palavras cada edificação, detalhando
os personagens dentro dela.
O Mercado
Central, ser inanimado, ganha vida, cheiros e balbúrdia,
nas lentes amorosas de Wanderlino Arruda, que lhe vê
grandioso, bem construído, cheio de atrativos, ainda
que consistisse num ambiente infecto, verdade relativamente
ocultada, já que o amor tende a minimizar qualquer
falta de qualidade.
A energia,
vitalidade e jovialidade de Wanderlino Arruda sabese de onde
vêm, da sua literatura e vice-versa. Um alimenta o outro
de forma siamesa. Ainda que o toco que ficava em frente à
sua casa tenha ganhado ares de protagonista vivente, seu entusiasmo
é grande quando fala das pessoas que admira. Há
um crescendo no encontrar as palavras exatas, chegando-se
ao apogeu de materialização corporal
e psicológica, através da sua fácil adjetivação.
Os colegas do Colégio Diocesano, alguns compenetrados
com os estudos, outros não, a solenidade no trato com
os mestres, pessoas austeras, distantes, exceto monsenhor
Gustavo, um doce de pessoa, estão lá, nos escaninhos
da saudade.
O Clube
Minas Gerais ganha destaque em sua memória, por ser
próximo ao local onde o menino Wanderlino Arruda fora
morar quando aqui chegou. O lugar luxuoso, cheio de glamour,
mistérios, música, jogo, mulheres e frequentado
pelos homens de dinheiro, atiçava a imaginação
e curiosidade do recém chegado, logo transferido para
um endereço distante geograficamente do ambiente de
pecado, mas não afetivamente.
Quando
o personagem é grande, fica exuberante na argúcia
do escritor, que visita o passado sem melancolia. Passam por
Montes-claridades vultos que construíram a cidade,
como Cícero Pereira, Nathércio França,
Yvonne Silveira, Konstantin Christoff, Luiz de Paula, Hermes
de Paula, Darcy Ribeiro, Dulce Sarmento, João Carlos
Sobreira, Simeão Ribeiro, Godofredo Guedes, e outros,
bastante elogiados.
Entidades
circulam em suas páginas como Rotary, Loja Maçônica
Deus e Liberdade, Catedral, Banco do Brasil, Fafil, Academia
Montes-clarense de Letras, Instituto Histórico e Geográfico
de Montes Claros, todas elas pululando vida e saúde.
Original em várias passagens e genial no nome, Montes-claridades
são, na verdade, vários partos, porque conta
o nascimento de inúmeras instituições,
numa narrativa vibrante, quase romântica, típica
dos jovens que nunca envelhecem, como é o caso de Wanderlino
Arruda. Não só deu a luz em suas páginas,
mostrando a criação dos nomes citados e outros
mais, como também, iluminando o horizonte, para que
sigam os caminhos de “o estudo é a luz da vida”.
Estudar iluminou a vida desse paraisense,
que, generosamente, distribui história e amor em seu
novo livro.
AUGUSTA
RIBEIRO DRUMOND
Quando
chegamos a Bocaiuva para lecionar Português no Colégio
Normal Oficial, atualmente denominado Escola Estadual Professor
Gastão Valle, encontramos alguma dificuldade. Havíamos
saído da Faculdade de Letras da UFMG, em Belo Horizonte
e tínhamos um método novo para o ensino da língua,
mas nem todos foram receptivos a isto.
Entretanto,
para nossa alegria, deparamo-nos com uma professora bastante
entusiasmada, interessada em renovação, que
logo se juntou a nós, num gesto simpático, solidário,
ávido de por em prática novos conhecimentos
didáticos: D. Augusta.
Sua
bagagem pedagógica, sua simplicidade, sua dedicação
nos conquistaram e foi muito proveitoso o tempo em que trabalhamos
juntas, num esforço comum de oferecer aos nossos alunos
novos horizontes do saber.
Augusta
Ribeiro Drumond nasceu em Bocaiuva aos 09/11/1913, filha de
Pedro Ribeiro da Silva e Ocarlina Ribeiro Drumond.
Foram
seus irmãos:
Esmeraldo
Ribeiro Drumond, que se casou com Maria Olinda Versiani;
Alencar Ribeiro Drumond, solteiro;
Antônio Ribeiro Drumond, casado com Jovinha;
Maria Drumond de Souza (Mariinha), esposa de Mário
Coutinho de Souza;
Hilda Ribeiro Drumond Lages, que se casou com Mário
Lages;
Neusa Ribeiro Drumond Leles, casada com Dionísio Leles;
Arabela Ribeiro Drumond Fernandes, esposa de Walter Fernandes;
Gerolisa Ribeiro Drumond Froes, casada com Irineu Froes.
Augusta
viveu uma infância feliz, em Bocaiuva, com seus pais
e irmãos. Gostava de brincar de roda, contar histórias,
pular corda, roubar bandeira, morto-vivo, adivinhações,
declamar poesias, passear nos arredores da cidade com suas
amigas, fazer piquenique no pontilhão da recém-construída
ferrovia que passava por aqui em direção a Montes
Claros.
Enfim,
sua infância foi povoada daquelas brincadeiras divertidas
e amenas, costumeiras entre as crianças de outrora
e que as de hoje não conhecem.
Em idade
escolar, iniciou seus estudos no Grupo Escolar Coronel Fulgêncio,
que, nos dias de hoje, se denomina Escola Estadual Genesco
Augusto Caldeira Brant. Terminando a primeira fase dos estudos,
foi para Montes Claros, estudando em regime de internato,
no Colégio Imaculado Coração de Maria.
Na adolescência,
quando vinha nas férias, gostava de passear, ler poesias,
cantar, ouvir serestas e também namorar.
Formou-se
normalista em 1935 e foi designada para trabalhar na Fazenda
do Sítio, em Engenheiro Dolabela, passando, posteriormente,
para a escola de Granjas Reunidas, que era um povoado próximo
a Engenheiro Dolabela. O trabalho que executou nas duas comunidades
foi reconhecido e elogiado.
Casou-se
com Sérvulo Pereira de Amorim, que trabalhava no almoxarifado
da Usina Malvina, de Engenheiro Dolabela.
O casal
teve três filhos: Antônio César Drumond
Amorim, que se casou com Patrícia Lanari Drumond; João
Roberto Drumond Amorim, casado com Maria Zita Afonso Drumond
e Ocarlina Drumond Patrus Ananias (falecida), casada com Márcio
José Patrus Ananias.
Vale
enfatizar aqui que seus filhos, seguindo as suas pegadas,
se tornaram ilustres escritores. Antônio César
foi várias vezes premiado pelas suas obras literárias
e João Roberto, historiador e sociólogo, enriquece
o acervo de Bocaiuva com suas obras de cunho histórico,
geográfico e social e tivemos o privilégio de
tê-lo como nosso colega no quadro docente da Escola.
O reconhecimento
da dedicação de Augusta ao seu mister viria
logo. Designada para saudar o político da região,
Dr. José Maria de Alkmin, em uma visita á comunidade,
ela o fez com tanta competência, que o então
deputado solicitou ao secretário da Prefeitura de Bocaiuva,
Sr. Romeu Barcelos Costa, que providenciasse a sua transferência
para a sede do município.
Assim,
ela foi trabalhar onde fez seus primeiros estudos: Grupo Escolar
Coronel Fulgêncio.
Foi
um período muito especial para ela. Fez amizades e
trabalhou em conjunto com as professoras Marocas, Nair, Dila,
Maroquinha, Lourdes Alves, Lourdes Araújo, Lídia
Castro, Maria do Rosário Dornas Valle e a diretora,
D. Zinha Meira.
Seu trabalho
foi reconhecido com uma homenagem por ocasião das comemorações
dos 75 anos da Escola.
Na fundação
do Ginásio Senhor do Bonfim, atual Colégio Servelino
Ribeiro, foi convidada para preparar alunos do curso de admissão.
Também ministrou aulas de Português no mesmo
estabelecimento de ensino.
Aqui
também ela foi homenageada pelo seu trabalho, feito
com dedicação e carinho.
Trabalhou
por muito tempo como professora de Português no Colégio
Normal Oficial, diga-se Escola Estadual Professor Gastão
Valle.
Augusta
sempre primou, não só no ensino da língua
materna, mas também na formação moral
de seus alunos.
Foi
redatora do jornal “A Pena”, que circulou por
muito tempo na cidade. Quando ficou viúva, criou seus
filhos com o amor e a “garra” que lhe eram peculiares.
Ao aposentar-se,
dedicou-se à arte musical e à pintura. Fez aulas
de violão e aprendeu a pintar, preferindo focalizar
em seus quadros algum recanto da Bocaiuva antiga.
A parte
religiosa não ficou esquecida. De boa formação
católica, ela participava de movimentos pastorais da
Paróquia do Senhor do Bonfim, desde a época
do Padre Siardo até o tempo de Padre Geraldo Majela
de Castro que, posteriormente se sagrou bispo e arcebispo
da Arquidiocese de Montes Claros.
Nessa
época, ela se tornou amiga da família do pároco,
de D. Ana, mãe do padre e fez, como se costuma dizer,
a honra da casa, ajudando bastante na instalação
da família na cidade.
Sérvulo
Pereira de Amorim
Aos noventa
e dois anos, D. Augusta faleceu no dia 28 de outubro de 2006.
Sua
passagem pela vida, pelo mundo, no aconchego da família,
no ambiente escolar e religioso marcou profundamente todos
aqueles que, de alguma maneira, conviveram com ela.
As marcas
que pessoas como D. Augusta deixam no cenário em que
viveram não morrem com elas. Ficam para sempre no coração
das pessoas que a conheceram e que ficaram para se lembrarem
dela.
Existe
uma frase cujo autor não nos ocorre, mas que, mesmo
assim, podemos citar porque já pertence ao domínio
público. A frase diz: “O homem é eterno
quando seu trabalho permanece”. Parafraseando, podemos
dizer também que “a mulher é eterna quando
seu trabalho permanece”.
Augusta
é eterna. Eterna no coração de sua família,
eterna na saudade dos colegas que lhe sobreviveram, eterna
na lembrança, que deve ficar para a posteridade, de
uma professora que ajudou a tecer a história de Bocaiuva.
DIOMEDES,
“MEU TIPO INESQUECÍVEL”
Há
alguns anos, a Revista Seleções publicava periodicamente
um texto com o título: “Meu tipo inesquecível.”
Hoje, quando se falta tanto em pandemia, em cloroquina e em
outros medicamentos, veio-me à memória a figura
de uma pessoa que povoou a minha infância e da qual
nunca me esqueci. Trata-se de Diomedes Valadares, que todos
do meu tempo conheceram lá em São Romão,
minha terra.
Ele
era filho do lendário e importante figura, o Major
Saint-Clair Valadares, que era farmacêutico, e morrendo,
deixou de herança para seu filho Diomedes, sua farmácia.
Ele era apenas um prático, que aprendeu com seu pai
a fazer poções que curavam todas as doenças.
Mas era o único médico que havia na cidade,
e que atendia todos os chamados, acudindo prontamente e na
maioria das vezes gratuitamente a quem precisasse.
Lembro-me
perfeitamente das minhas doenças infantis, e principalmente
da malária que conhecíamos como impaludismo
e que todos os anos deixavam-nos todos de cama com os terríveis
calafrios, que não havia cobertor que resolvesse, seguido
de febre alta. Isto porque o Rio São Francisco enchia
no tempo das chuvas e alagava tudo, chegando mesmo até
à rua da nossa casa, próxima do rio. Todos que
moravam ali, mudavam-se para a parte mais alta da cidade,
com medo da enchente. Quando o rio descia para o seu leito
natural, ficava uma vazante cheia de lama e aí os terríveis
mosquitos Aedes aegypti, que chamávamos de muriçocas,
aproveitavam e lá vinha o impaludismo. Quando eu e
meus irmãos apresentávamos os primeiros sintomas,
meu pai ia atrás do Diomedes e ele nos examinando a
olho nu, apalpava nosso pulso, olhava-nos com ar sério
e dizia para meu pai: “É impaludismo!”.
Minha mãe levantava as mãos para o céu
e dizia: “Graças a Deus!”. O impaludismo
já era uma doença comum e o medo é que
fosse outra doença mais grave. Naquele tempo não
haviam os testes e nem laboratórios lá em São
Romão. O diagnóstico era feito no olho mesmo.
E lá vinha o tratamento.
Aí
começava o nosso martírio: a injeção
de Impaludam- uma injeção de cor azul que o
Diomedes já trazia pronta numa seringa enorme. Resolvia
o problema da malária, mas poucos dias depois lá
vinha o abcesso nas nádegas, causado pela injeção.
Tanto que a marca registrada das pessoas de São Romão
do meu tempo é uma depressão nas nádegas,
causada pelo tal abcesso.
Além
disto, tomávamos durante muitos dias a cloroquina,
tão badalada hoje, que chegava a doer nos ouvidos e
que nos deixava pálidos depois da doença. Quando
eu estudava fora e que chegava de férias, era a primeira
visita que vinha me ver e me abraçar, quando ficava
horas conversando com meu pai nas cadeiras colocadas na calçada,
um hábito daquele tempo.
Lembro-me
que escrevi uma crônica para ele, no extinto Jornal
“O Sertão” jornal de São Romão,
que reproduzo aqui:
“Caro
Dió:
Pego hoje o papel para rabiscar alguma coisa e lembro-me de
você. Pelo tempo em que não nos encontramos,
pela minha longa ausência, talvez você pense que
eu seja uma ingrata, que me esqueci de você. Puro engano!
Talvez a covardia, o medo, o desejo de iludir-me tenham me
impedido até agora de deslocar-me daqui para ir ver
você. Quanto já desejei fazer isso, só
Deus sabe. Como me lembro de você, sempre solícito,
atento, o grande médico de todos, pobres e ricos, do
centro ou da periferia, recém-nascidos, crianças,
senhoras e idosos, sempre com seus apetrechos na mão,
andando rápido na rua a atender os vários chamados,
sempre gratuitamente. Quantas vezes, incontáveis vezes,
você entrou em minha casa, fosse dia ou noite, a qualquer
hora, com qualquer tempo: por vezes, pela febre insistente
do terrível impaludismo que nos mantinha presos à
cama com arrepios cronometrados; e você aparecia com
a injeção de Impaludam, azulzinha a nos meter
medo; outras vezes pelas enxaquecas de minha mãe e
por último pelas crises do meu pai. Você era
aquele médico amigo, que atendia a qualquer hora, figura
hoje inexistente.
Nos meus dias de infância, quando fazia comidinhas no
fundo do quintal; na juventude quando eu retornava à
casa para as merecidas férias e mesmo já madura
a visitar meu pai, sempre seu vulto inconfundível se
fazia presente: antes, lépido, ágil, rápido;
depois, mais cansado, a arrastar os chinelos, cabelos embranquecidos
pelo tempo, mas sempre a mesma doação, o mesmo
amor.
Quisera poder retribuir ao menos uma gotinha do grande mar
de bondade que você sempre derramou, mas nem sempre
podemos fazer aquilo que sonhamos, levados pelo grande torvelinho
da vida que se encarrega de nos jogar pra longe daqueles a
quem a gente quer bem.
Querido
Dió, padrinho Diomedes, amigo, irmão: você
é um grande homem, daqueles de quem a gente conta histórias
para os filhos, daqueles que ficam inseridos na história
de uma comunidade. Você merece o reconhecimento de todos,
uma coroa de louvor, um lugar de herói.
Não
pense que me esqueci de você, meu velho amigo: estou
me enchendo de coragem para ir ver você e dizer-lhe
como sinto saudades daqueles papos nas rodadas de cadeiras
nas calçadas, ora de sua casa, ora da minha; dizer-lhe
como o admiro por tudo o que você é e foi. Aproveitar
mais uma vez a sua lição de vida, grande professor
que você é. Desculpeme, mas não poderia
mandar-lhe uma carta que só você iria ler. Esta
carta aberta é o meu preito de gratidão, um
mínimo que posso fazer além de rezar por você,
diante do tanto que você merece. Um abração
saudoso.
A)Glorinha.
Diomedes
Araújo Valadares, de família tradicional, mas
que viveu de forma anônima e que foi o “anjo da
guarda” das famílias de São Romão,
teve as pernas amputadas por complicações do
diabetes e muito sofreu nos seus últimos dias.
Tenho
certeza que sua bondade, sua ajuda caridosa a todos e sua
humildade sempre serão lembradas por todos que conviveram
com ele.
Por
isto mesmo, é ele “O meu tipo inesquecível.”
ENTREVISTA
COM A MINHA MÃE
D. Alzira,
com seus bem vividos 101 anos, foi testemunha valiosa da história
de Montes Claros. Conviveu diretamente com importantes personagens
da primeira metade do século passado, exemplos D. Tiburtina
e dr. João Alves. E com uma grande vantagem: como criança
e adolescente, era isenta qualquer censura. Para ela, as pessoas
e os fatos tinham valor de realidade.
Quem
era Dona Tiburtina? Dona Tiburtina de Andrade Alves era sobrinha
do meu avó materno Moisés Domingos de Andrade,
portanto minha prima. Casada com Dr. João José
Alves, médico e político. Quando criança
convivi muito com ela, eu e minhas primas brincávamos
no grande quintal de sua casa. Dona Tiburtina era uma
pessoa acolhedora e bondosa. Sua casa estava sempre cheia
de pessoas, promovia saraus (as crianças não
participavam, ficavam brincando no quintal) onde recebia a
sociedade de Montes Claros e eram servidos chá e café
acompanhados de quitandas. Tenho uma grande lembrança
do gramofone que me encantava e que se parecia com uma flor.
Era uma esposa que estava sempre ao lado do seu marido, ajudava-o
na sua profissão: visitava os doentes em suas casas,
ajudava na Santa Casa, distribuía remédios e
ajudava a fazer partos. Acompanhava o marido na política
e lutava muito quando a oposição os ofendia.
E o
Dr. João Alves? Seu consultório ficava ao lado
do casarão, hoje Automóvel Clube. Eu, minha
mãe e meus parentes mais próximos consultávamos
em sua casa. Não o chamávamos de doutor e sim
de João José. Era uma pessoa boníssima,
não cobrava a consulta dos parentes. Era um chefe político
e sempre ganhou a política enquanto viveu. O Dr. João
Alves era opositor ao candidato a presidente da República
Júlio Prestes e eu me lembro de um verso que meu tio
Carlos Câmara fez: Julinho não vem, / Na terra
do leite grosso / Porque Dr. João Alves / É
um colosso.
No dia
6 de fevereiro de 1930, que ficou conhecido como Atentado
em Montes Claros, eu não estava na casa no momento,
porém a minha mãe Maria Augusta estava presente
e nos contou o seguinte: Veio do Rio de Janeiro a caravana
de Melo Viana ( Vice-presidente da República), oposição
a Dr. João Alves. Desceram na Estação
Ferroviária e entraram na praça da residência
de Dr. João Alves. Naquela hora havia um sarau na casa
e esta estava cheia de pessoas. Dr. João Alves chegou
à janela e fez uma referência para a caravana
que passava e nesse momento uma bomba foi atirada (não
se sabe quem atirou) e atingiu Dr. João Alves, que
caiu vomitando sangue. Segundo as palavras do jagunço
Totonho: “Quando vi meu padrinho vomitando sangue, eu
atirei e assim começou o tiroteio”. Morreram
cinco pessoas e quatorze ficaram feridas. A partir desse dia
ele nunca mais teve boa saúde, deu um problema na perna
e foi tratar em Belo Horizonte. As notícias vinham
por telegrama e essas diziam que ele piorava a cada dia.
Quando
estava prestes a morrer, a oposição organizou
uma festa para ser feita no dia de sua morte com muito foguete,
muita comida e bebida. Quando chegou o telegrama anunciando
a morte de Dr. João Alves, a oposição
começou a comemorar, porém a mãe de um
dos opositores morreu e assim tiveram que encerrar a festa.
Após
a morte de Dr. João Alves, Dona Tiburtina se recolheu,
acabaram-se os saraus, as reuniões políticas.
Você
conheceu os jagunços? Conheci os três que faziam
a guarda de Dr. João Alves: Exupério Ferrador,
Totonho e Zé Lu. Geralmente eles ficavam no quintal
embaixo das árvores e sempre armados. Após o
atentado, Exupério Ferrador colocou uma pensão
na Rua João Souto para atender soldados. Um dia quando
eu estava na Escola, minha Tia Doninha foi me buscar, muito
apreensiva, pois o Totonho tinha sido assassinado no mercado
e esse fato poderia acarretar um novo massacre. Quanto ao
Zé Lu, não sei o que aconteceu com ele.
E os
Bate-paus? Eram homens que substituíam a polícia
na falta dela, vestiam farda e ficavam armados e vigiavam
as entradas da cidade. Só entrava alguém após
revista. Meu esposo, antes do nosso casamento, foi um deles.
Como
eram os hábitos familiares? As famílias se encontravam
à noite. Os homens conversavam sobre política,
negócios. As esposas se assentavam à porta da
rua para trocar experiências domésticas (receitas,
bordados, educação dos filhos) e as crianças
ficavam brincando de roda, pique, cabra cega, tudo à
luz da lua, não havia energia elétrica. Quando
um pouco mais velha ia passear na Rua Quinze e na Praça
da Estação. Após meu casamento, já
aqui em Francisco Sá, fazia a mesma coisa com meus
filhos, algum tempo com a luz da lua e a partir de 1949 com
a luz elétrica. Em Montes Claros, a luz era muito fraca,
o gerador ficava no local onde hoje está erguida a
Igreja do Rosário. Não havia água encanada,
toda casa tinha cisterna.
Em Francisco
Sá a energia era gerada por uma usina movida à
lenha. A energia elétrica chegou no dia 26 de julho
de 1949. A água em Francisco Sá chegava às
casas através de uma bica que vinha do rio e ficava
onde hoje é o Clube Social. O prefeito Feliciano Oliveira
construiu a caixa d’água e fez a canalização
e os moradores fizeram as redes até suas casas.
As Escolas?
Entrei para a escola aos sete anos de idade, no Brejo das
Almas. O Grupo Escolar ficava na Rua Sete de Setembro, e era
bem pequeno, tinha só quatro salas. As professoras
eram Maria Luísa Araújo (Tia Mariquinha) Maria
Augusta Dias, Maria de Jesus, que formaram em Diamantina.
Vieram de Montes Claros: Raimundo
Ataíde, Maria José de Moura (D. Menininha).
Após a morte de minha mãe, mudei para Montes
Claros e estudei na Escola Normal. Os professores eram Cândida
Câmara (Doninha), D. Taúde, Dulce Sarmento, João
Neto. Meu avó materno Moisés, que além
de Agente do Correio, foi professor. Havia muitos castigos:
aluno ficava de pé em frente para a classe, batia com
régua de madeira, usava a palmatória e puxava
as orelhas, na escola primária.
A Santa
Casa foi construída no mesmo local onde se encontra
hoje. Era muito pequena, eu e minha família frequentávamos
a missa na sua capela e também aos domingos fazíamos
visitas aos doentes.
Possuía
uma enfermaria feminina e outra masculina e alguns quartos
para quem podia pagar e alguns quartos para confinamentos.
O meu bisavô Justino Câmara doou o terreno para
a construção e outras pessoas ajudaram na construção.
Médicos de que me lembro: Dr. Marciano e Dr. João
Alves e como já disse D. Tiburtina ajudava muito a
cuidar dos doentes internados.
Lembra
dos primeiros automóveis em Montes Claros e Francisco
Sá? Em Montes Claros havia pouquíssimos carros,
uma das filhas de Dr. João Alves, chamada Sinhazinha
dirigia um carro Ford. Quando apareceu o primeiro automóvel
aqui em Francisco Sá, muitas pessoas se esconderam
com medo. Outras curiosas com a novidade venderam galinhas,
porcos para poderem andar no carro.
E as
Festas em Francisco Sá? Geralmente eram Festas Religiosas:
Festas de Agosto, Coroações, algumas festas
de casamento e saraus. Usava muito as visitas em famílias,
geralmente no começo da tarde. Chegavam-se de surpresa
e a família visitada tinha por obrigação
pagar a visita. Entre as famílias havia muitos compadres
e comadres e casavam-se muito entre os parentes. Quando chegava
uma família para morar na cidade, costumava-se fazer
uma visita de boasvindas. As visitas eram sempre recebidas
com muita fartura, servia-se café com bolo, biscoito,
requeijão e queijo. Como sempre as crianças
não participavam das conversas e ficavam nos quintais
(todos os quintais tinham pomar).
Novenas
e outros Rituais
Aconteciam
na Matriz que era bem menor, havia novenas em intenção
de vários Santos, Nossa Senhora, Sagrado Coração
de Jesus. Rezava-se o terço, cantava a Ladainha, e
o Ofício de Nossa Senhora. As mulheres usavam sempre
véu em qualquer ritual que houvesse na Igreja e os
homens vestiam ternos (os mais abastados) e tiravam o chapéu.
Na época
do Natal em todas as casas faziam presépios e havia
a visita das pastorinhas. Na Sexta Feira Santa os homens passavam
o dia dentro do quarto fazendo jejum e em orações.
Não varriam as casas, a comida era feita na véspera,
e não se penteavam o cabelo, porque segundo a tradição
Nossa Senhora não teve tempo de pentear o cabelo na
Sexta Feira Santa. Meu avô tinha por vizinhas três
irmãs que na Sexta Feira Santa jejuavam com um copo
de água com três folhas de laranjeira dentro
do copo, mas nunca explicaram a razão disso.
Como
eram as roupas usadas naquela época? As mulheres e
meninas usavam vestidos longos. Os homens ricos vestiam terno,
gravata e chapéu e alguns usavam bengalas e calçavam
sapatos e botinas. Os homens trabalhadores usavam roupas comuns.
Não havia roupas prontas para vender, havia as costureiras
e os alfaiates. Lembro-me que quando criança usava
um sapato, como o atual tênis, chamado pé de
anjo. Quando as mulheres andavam a cavalo usavam a chapelina
para se proteger do sol e o cilhão para montar de lado.
Sobre
as armas e maçonaria? Nunca vi nenhum parente portando
armas, sabia que os coronéis e os jagunços tinham
carabinas, espingardas, revolveres e que a maioria andava
armado. Só vim a conhecer quando já casada e
quando fui trabalhar na Prefeitura de Francisco Sá
e tinha um colega que era Maçom, porém ele nunca
explicou o que era a Maçonaria.
FOLCLORE:
OS SABERES DE UM POVO
A 17
de agosto de 1965, pelo decreto número 56.747, foi
criado o Dia do Folclore no Brasil. Considerou-se a importância
crescente dos estudos e das pesquisas do Folclore, em seus
aspectos antropológico, social e artístico inclusivo,
como fator legítimo, para maior conhecimento e mais
ampla divulgação da cultura popular brasileira.
O folclore
brasileiro é considerado um dos mais ricos do mundo,
por causa de sua diversidade, junção de etnias
e culturas. Simboliza a cultura popular e apresenta grande
importância na identidade de um povo. A importância
do folclore é reconhecida pela UNESCO, entidade vinculada
à ONU, que considera o folclore como Patrimônio
Cultural Imaterial ressaltando a importância da preservação
das diferentes manifestações, que o formam.
O folclore
foi criado no século XIX e sua origem está associada
ao idioma inglês. O termo em português é
um aportuguesamento de folklore, proposto por William John
Thoms em 1846 significando: folk-povo e lore-conhecimento
ou saber.
Os
pioneiros no estudo do folclore foram os irmãos Grimm
e Johan von Herder. Atualmente, os especialistas consideram
que o folclore é uma área de conhecimento
vinculada à antropologia. Para se compreender bem
a história de um país, é necessário
não apenas se debruçar sobre os documentos
da alta cultura (instituições religiosas e
artes eruditas) também se faz necessário o
estudo das tradições populares, da cultura
popular. Nesse sentido o trabalho dos folcloristas e dos
estudiosos da cultura popular torna-se indispensável.
Luís
da Câmara Cascudo, ou simplesmente Câmara Cascudo
ainda na década de 1920 ele começou a interessar-se
por literatura e pela tradição dos contos,
lendas e narrativas populares, como as que eram impressa
em cordéis e vendidas em feiras nordestinas. Natural
de Natal / RN estudou em Recife – Pernambuco.
Folclore
é a ciência ou a sabedoria de um povo. O fato
folclórico, contudo, pode resultar tanto da invenção
quanto da difusão; o folclore mineiro é muito
rico e se desenvolveu, principalmente na época da
mineração. Nele há influência
dos primeiros habitantes do Brasil, que foram os portugueses,
índios e negros (escravos). Recebeu também
muita influência da igreja mesclando aspectos de comemorações
religiosas com elementos folclóricos. Há uma
riqueza de brincadeiras, jogos, lendas e provérbios
no folclore brasileiro.
O
estudo do folclore é muito interessante e permite
conhecer bonitos aspectos de um lugar e de sua gente.
JOÃO
GORDO
E a doçura
é tanta que faz cócega na alma.
Clarice Lispector
Que
bom encontrar um texto como o de João Soares, sem
consertos, sem revisões, com a pureza da gramática
que o autor sabia. É a riqueza de um lindo momento
de pura poesia, quase uma celebração com ritual
só de ideias jovens. Coisa mais do que confessional,
depoimento de sentires, acontecências de pureza d’alma,
desabafo de quem muito amou ou ainda ama. Marcas de juventude,
tempos da terceira década do século passado
ou de qualquer outro tempo, de antanho ou do hoje em dia.
Agradeço,
por isso, ao meu ilustre amigo e companheiro Dário
Teixeira Cotrim por me encarregar mais uma vez de prefaciar
um livro seu, dividir os méritos de estudos e a fruição
da alegria de ler e analisar. São tantos os nossos
prefácios feitos que chegamos a publicar um livro
- só deles - que demos o título de “Elogios
das Letras”, coisa de gente um pouco sem juízo.
Agora, com os textos de João Soares, jovem de 27
anos, de trágico destino, quando a morte lhe tirou
a vida no seis de fevereiro de 1930, guerrilha de partidários
do dr. Melo Viana contra os do dr. João Alves, dias
brabos de Dona Tiburtina. Tudo em um caderno de papel pautado,
versos manuscritos, acredito nunca passados a limpo, porque
esculpidos na luz e nas sombras de cada momento vivido e
sentido.
Importante
uma explicação do porquê do Instituto
Histórico e Geográfico de Montes Claros entrar
na ilusão de um texto poético, sem pretensões
de literariedade, como o de João Soares, poeta mais
por paixão adolescente. Nada de resvalo ou desvio
de objetivo. O nosso Instituto tudo tem feito para resgatar
textos que estavam invisíveis no esquecimento como
um do bispo D. João Antônio Pimenta sobre sua
própria família, um de posturas da antiga
Câmara Municipal de Montes Claros, um de Antônio
Augusto Veloso, “Corografia Mineira de Montes Claros”.
Casos especialíssimos são os livros “Rio
dos Buracos”, de Cândido Canela, que nem a família
possui um exemplar e o dos magníficos discursos e
crônicas de Simeão Ribeiro Pires, existentes
em velhos papéis datilografados. Afinal, nem só
de duas revistas por ano vive o Instituto Histórico
e Geográfico. Em treze anos, desde a fundação,
no mínimo um livro semestre, ou dois a cada passagem
do calendário.
João
Soares da Silva, foto que agora passa a ser conhecida, excelente
aluno do Grupo Escolar Gonçalves Chaves, saiu de
lá para brilhar na publicação em jornais
e até na fundação de dois periódicos
de pequeno porte. Consultor da União Operária,
membro da Aliança Liberal, produziu três livros,
“Tempestade de Amor”, “Cantilenas”
e “Murmúrios e Canções”,
mesmo e apesar de algumas ofensas às normas do escrever.
Muito a elogiar por sua produção em tenra
idade e pela guarda em arquivos de tão importante
documentação poética. João Soares
tinha outros méritos: de boa aparência física,
jeito de inteligente pelo tamanho da testa e pelo brilho
dos olhos, sem barba, sem bigode, furinho marcante no queixo,
até parecia talhado para algum sucesso. Tudo isso,
além do uso de gravata borboleta, colarinho grã-fino
e terno da melhor confecção, não se
pode provar se preto ou azul marinho. Para o tempo, acredito
de casemira Aurora, a melhor que havia.
Para
o organizador Dário Teixeira Cotrim, o livro de João
Soares tem o bastante para consagrar e eternizar o autor,
principalmente agora debaixo das asas do nosso Instituto,
com publicação em livro, menção
no house organ da instituição, comentários
nos jornais, divulgação pela Internet e pelos
programas e aplicativos como Facebook, WhatsApp e Instagram,
além de outros que logo logo vão surgir. Três
divisões tem o opúsculo: “Tempestades
de Amor”, poemas de 1922, ou seja, quando ele tinha
apenas dezenove anos; “Horas Loucas”, tempo
de muita paixão e desespero; “Amor em ruínas”,
horas de amarga desilusão; e ”Cinzas”,
misto de orgulho ferido e dolorosa desistência. Em
fim dramático, troca de elogios por acusações,
de amor por desamor, de beleza por total falta de encantos.
Tentativas
de sonetos, a forma mais difícil de poetar, as palavras
usadas dizem tudo, principalmente do azul dos olhos da doce
amada, encantadoramente cheios do brilho do sol e de todas
as estrelas que cintilam nos céus. Exemplos: “Oh,
olhos azuis que a hora encanta”, “Estes teus
olhos, menina... Da cor do céu anilado”, “Este
azul dos olhos teus”, “O teu olhar tão
terno e azulado”, “A cor divina do teu olhar”
e “Tem um encanto nos teus olhos”. Importante
também ressaltar que a amada, apesar de não
ter nome citado, era beleza para nunca se esquecer por um
dia, uma hora, ou um simples momento, nem em hora de dormir,
porque preenchia sonhos de noite inteira. A idade? Uma vez
ela é “menina”, ou ela é “mulher”,
sempre “virgem”, “virgem formosa”,
o que pode significar jovem, bonita e pura, tudo no melhor
sentido para a época. Vaidosa? A única menção
física, além da beleza de corpo, é
“a cor dos teus lábios de carmim” e um
tipo de “face purpurina”... Quando ele se refere
ao “coração de alecrim”, algo
que pode indicar sinestesicamente sentimentos perfumados,
o espiritual chegando a prevalecer sobre o físico.
Considere-se ainda que a beleza era sempre “divina”,
ou “tão divinal”.
De
propósito, quero ficar apenas no positivo, fase de
amor, de encantamento, das muitas ilusões. Tudo em
tempo de sol, de luz, cintilâncias e perspectivas
de sensações sublimes. Para mim, no aqui e
no
agora, conta como tempo o marcar saudades, as vibrações
do amor, as
luzes que brilham nos universos de cores e de música.
Nada de tristezas,
porque, na vida, tudo passa. Mesmo a desilusão...
Quero,
sinceramente, parabenizar, o doutor Dário Teixeira
Cotrim por também este livro. Mais uma prova –
física e espiritual – de que Montes Claros
é realmente, com toda transparência, “A
Cidade da Arte e da Cultura”.
Montes
Claros, primeiro dia do Verão de 2019/2020.
PATRÍCIO
GUERRA,
O POLIVALENTE GUERREIRO
Graças
às referências comemorativas do 54º aniversário
da Academia Montes-clarense de Letras, retrocedi à
década 50 que marcou de modo gratificante minha juventude.
Conduzida
por meu saudoso pai José Patrício Guerra,
à Montes Claros, fui acolhida com carinho no Colégio
Imaculada Conceição, onde estudaria o curso
ginasial. Ensejou-me assim, conhecer a cidade e muitos montes-clarenses,
pela relação mestres/aluna, colegas/familiares.
Dentre
os amigos que conquistei, o casal Olyntho e Yvonne Silveira,
Cândido Canela, Professor José Raimundo Neto
e Simeão Ribeiro, os quais manifestaram o desejo
de conhecer meu pai - o escritor Patrício Guerra
- devido à publicação de suas poesias
através dos jornais montes-clarenses: DIÁRIO
DE MONTES CLAROS E GAZETA DO NORTE.
No
ideal de proporcionar possibilidade de torná-lo conhecido,
aproveitava suas visitas a mim, para apresentá-lo
aos referidos amigos. Foi o alicerce para a construção
de sólida e sincera comunicação literária,
através de cartas, homenagens poéticas, visitas
domiciliares com formidáveis bate-papos!
Autodidata,
ao externar sua luta histórica no sertão da
Bahia, tornou-se digno de consideração especial,
culminando com o convite para tornar-se “sócio-correspondente”
da Academia Montes-clarense de Letras, a qual o estimularia
a dar continuidade ao processo de registrar em prosa e verso,
imortalizando pessoas, fatos e momentos. Por sua vez, graças
à sua intensa, variada e nobre produção
transmitindo conhecimento, estimulando com seu exemplo de
coragem e perseverança a vencer os obstáculos
ao crescimento do nível cultural, colaboraria com
a realização do objetivo que ocasionou a fundação
da egrégia agremiação: Academia Montes-clarense
de Letras.
Sua
biografia como participante da ANTOLOGIA DA ACADEMIA MONTESCLARENSE
DE LETRAS, editada em 1978, registra:
“PATRÍCIO
GUERRA, nasceu em 17 de março de 1896, no Arraial
de Piedade do atual município de Licínio
de Almeida - BA, foi batizado com o nome de: JOSÉ
PATRÍCIO GUERRA, residente atualmente em Mortugaba
- BA.
Filho de João
de Souza Lima e Cherubina dos Santos Guerra de condições
humildes, o que lhe forçou ainda muito criança
à dedicação do trabalho na lavoura,
barrando-lhe as possibilidade de ir à escola.
Entretanto através
de dura luta, buscando orientações dentro
de seu próprio lar, escapou ao analfabetismo,
sendo assim autêntico autodidata.
Escreve poemas,
dramas, comédias, tendo sempre
predileção pela poesia lírica,
cantando as belezas da natureza e da pátria e
dando também um cunho patente de sua ardente
fé religiosa.
Dentro de sua
simplicidade, comunica-se facilmente
o que o fez conhecido da Academia Montes-clarense
de Letras, que, reconhecendo seu valor literário,
convidou-o para sócio-correspondente”.
Aos
21 anos publicou seu 1º soneto, num jornal quinzenal
de
Caetité - Ba, o “ARREBOL”:
INCERTEZA
(Patrício Guerra)
Tu és
uma flor, a mais bella e pura
Com que dotou a terra, a Natureza;
A tu’ alma é o emblema da candura,
- Tuas faces - o symbolo da belleza.
A luz phosphórea
que em teu olhar fulgura,
Qual uma estrella de máxima clareza,
Attesta a tua clássica formorsura
Realçada em tons de singeleza.
Sinto minha’
alma alar-se à região
Do eterno amor em mystica ascenção,
Quando vejo-te risonha ao lado meu...
Também
sinto rasgar-se de tristeza
Meu coração imerso na incerteza
De viver para sempre ao lado teu!...
Com uma
perseverança invejável, foi cultivando sua inteligência
numa caminhada ininterrupta, sempre enriquecida pela leitura
diária, rotineiramente até altas horas da noite.
Quando
desposou Priscilia, filha do Capitão Júlio Carvalho,
passou a residir em Mortugaba - Vila no município de
Jacaraci - BA.
Mortugaba,
na carência de recursos progressistas, foi um incentivo
ao seu crescimento literário e conceito de cidadão
modelo. Buscava nele a informação e a criatividade.
Escrevia poesias para as crianças declamarem nas festas
escolares e peças de teatro: dramas, comédias,
diálogos proporcionando lazer à comunidade,
realizadas em palco feito pelos artistas, no quintal de sua
residência.
Sobressai
em sua produção poética: hinos oficiais,
inclusive o de Mortugaba e hinos religiosos. Em virtude da
cultura que sempre deixou transparecer, desempenhou os mais
variados cargos: delegado, dentista, Juiz de Paz, Fiscal escolar
e Vereador. Sua constante aquisição de obras,
fê-lo possuidor de uma rica biblioteca.
Dentre
outras razões, este seu hábito fez despertar
na comunidade mortugabense o desejo de prestar-lhe uma homenagem,
denominando a Biblioteca do seu Colégio: “BIBLIOTECA
PATRÍCIO GUERRA”. Numa sequência lógica
e justa, sua jornada literária foi sendo reconhecida
graças às publicações em jornais
e revistas de vários rincões do Brasil; reconhecimento
manifesto de várias formas e meios:
•
Patrono da cadeira nº 40, da Academia de Letras e Ciências
de São Lourenço/MG;
•
Patrono da cadeira nº 86 do Instituto Histórico
e Geográfico de Montes Claros/MG, as quais ocupo com
honra, prazer e saudade;
As referências
a seguir avalizam o mérito de Patrício Guerra:
•
“Patrício Guerra lutou e cresceu. Integralmente
no espírito, no intelecto, nas qualidades morais, nos
conhecimentos da ciência farmacêutica, na política,
e nas ações do bom samaritano. Cresceu como
dono da palavra, expressando-se em diversos gêneros
literários. Cresceu como cristão. E seu crescimento
fez crescer Mortugaba”.
Yvonne
de Oliveira Silveira
Presidente da Academia Montes-clarense de Letras.
•
* “Patrício Guerra, seu idolatrado pai, ocupa
de fato e de direito, lugar privilegiado na luminosa galeria
dos maiores poetas do Brasil de todos os tempos”.
Reivaldo
Canela
Academia Montes-clarense de Letras
* Excerto
da crônica “BILHETE A ZORAIDE”, publicada
no JORNAL DE NOTÍCIAS 12/02/2008.
•
* “Sua voz é atemporal e universal a sua mensagem,
o que o torna perene”
Cândida
Correa Cortes Carvalho
Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais.
* Excerto
do prefácio da obra:
“PATRÍCIO
GUERRA - Vida e Obra”
Autora: Zoraide Guerra David
Merece considerável atenção a urdidura
artística de suas duas coroas
de sonetos:
- O império da dor.
- O Rosário de Maria.
A fluência
dos seus versos tornava-o capaz do improviso adequado, a registrar
em ontingências variadas. Filosóficas umas, humorísticas
outras:
“Vida
só tem quatro letras,
Amor tem quatro também
Mas vem a morte com cinco
E não respeita ninguém.”
Ao contemplar
a fachada de uma loja em Caculé-Ba, a “CASA SAPUCAIA”,
escreveu:
“Veja
que coisa engraçada
Que até mesmo pede vaia.
Como há de ficar caiada
A casa que o sapo caia?”
Dentre
as inúmeras homenagens que lhe foram prestadas, destacamos
a comemoração do seu 1º centenário
de vida, com exposição de suas obras, objetos
pessoais, jornais e revistas, fotos, móveis, etc, missa
celebrada pelo Padre Henrique Munaiz no salão nobre
do Centro Cultural Hermes de Paula de Montes Claros, com a
presença solidária de familiares, amigos e confrades.
Em 2011,
Dário Cotrim, Presidente do Instituto Histórico
e Geográfico de Montes Claros - publicou o Livro: “POETAS
ILUSTRES”. A capa os expõe! Emocionada e grata
contemplo sua foto de participante! Em 23 de maio de 1985
aconteceu o fim de sua peregrinação terrena.
As inúmeras homenagens póstumas confirmaram
que Patrício Guerra foi um “polivalente guerreiro”
a promover a paz. Seu velório foi realizado na Igreja
Matriz de São José em Mortugaba, ambiente que
recebeu seu zelo de cristão solidário na orientação
espiritual de líder e diácono, servindo à
comunidade, ao longo de sua vida.
O jovem
poeta mortugabense José Borborema, expressou reconhecimento:
“Patrício
Guerra,
Você se foi, você partiu...
No entanto, você ficou n’alma do teu povo!
Apesar
da imensa saudade concientizamo-nos que o mundo não
acaba aqui / Mortugaba ainda está de pé. Enquanto
existir a vida / Levaremos conosco sua esperança, seu
espírito de fé”.
“HOMEM
CARISMÁTICO
Refiro-me
ao falecido JOSÉ PATRÍCIO GUERRA, com a intenção
de registrar alguns de seus talentos:
1. Cidadão de respeito e da confiança popular,
ele residia em Mortugaba, diocese de Caetité, a plantar,
alegremente a sua colheita.
(...) 5 – Decano dos ministros extraordinários
da Eucaristia, ele encontrou, ai, o brilho da estrela transcendente,
que lhe estampa, agora, a imagem de glorificado, junto do
Senhor(...).
A existência
terrestre sua, teve como fonte humana de suas atividades,
o ouro de seu coração, por onde passaram - para
os outros – tantas graças ou favores de Deus.
Ora, exatamente isto, na Teologia, tem o nome de “Carismas”.
Portanto,
foi ele um “homem carismático”
José Alves Trindade
Bispo emérito de Montes Claros”
O nosso
relacionamento foi de intensa paz, provocando o sentimento
que experimento e que poeticamente ele questionou nesta trova:
Saudade...
“Saudade
não se biparte,
Como pois se justifica
Que ela vá com quem parte
Sem se apartar de quem fica?”
São
Paulo, na II Carta aos Coríntios. 5,1 lega-nos uma
confortante afirmativa:
“Sabemos
com efeito, que ao se desfazer a tenda que habitamos
neste mundo, recebemos uma casa preparada por Deus, e não
por
mãos humanas, uma habitação eterna no
céu”.
Rememorando
sua vida, creio que ele está na mansão celeste!
E um
folheto de canto litúrgico da Igreja São José
de Belo Horizonte/MG, expõe-me verdadeira confirmação
da afirmativa de São Paulo.
“Ele
pôs em minha boca uma canção,
me ungiu como profeta e trovador
da história e da vida do meu povo, e
por isso respondi: Aqui estou!”
E minha alma esperançosa exclama:
Obrigada Senhor!
2 -
FICHA LITERÁRIA
Nome:
Jose Patrício Guerra
Nome literário: Patrício Guerra
Data de nascimento: 17 de marco de 1896
Naturalidade: Arraial de Piedade hoje Tauape/BA
Residência:
Mortugaba - BA
Grau de instrução: autodidata
Produção
em verso:
• Poemas de forma livre
Líricos • Sonetos
• Coroas de sonetos
- O Império da Dor
- O Rosário de Maria
Humorísticos
• Logogrifos
• Charadas
• Enigmas
Produção
em prosa:
Gênero narrativo
• Contos
• Crônicas
• Romance
- O Tesouro (inédito)
Gênero
dramático
• Dramas
- A Sombra do Lar
- 0 Fruto do Apostolado Leigo
- A Voz do Sangue
- Restauração de um Lar
- Suspeita Falsa
- A Cura Milagrosa
- Um Erro Judiciário
- Alma em Desespero
- Milagre Estupendo
- Mãe e Madastra
•
Comédias
- Um Caso de Policia
- Frustração de um Noivado
- Paixão de Velho
Gênero
Oratória
• Palestras
• Discursos
• Conferências
- O papel da mulher através do tempo
- Deveres dos pais na formação religiosa e cristã
dos filhos.
- A educação religiosa (sua importância
como base na instituição da família,
da organização perfeita da sociedade e do engrandecimento
da integridade da Pátria).
Produção
Científica:
- Monografia de Mortugaba
- Monografia sobre o Folclore do Sertão Baiano
Obras Publicadas:
• FOLHAS DE OUTONO - Poesias
Editora Mensageiro da Fé - Salvador - BA
•
TRES VEZES POESIA -
Obra em parceria com Zoraide Guerra David – filha
Zoraya Guerra David – neta
Gráfica
BARVALLE – B. Horizonte – MG
Obras Inéditas: • FLORILEGIO MARIANO –
Poesias
• O Prático de Farmácia e a Farmácia
no Interior.
Participação
em obras:
• Coletânea organizada por DA COSTA SANTOS:
- NOSSO SENHOR E NOSSA SENHORA, na poesia brasileira.
Edições Mantiqueira - MG
• ANTOLOGIA DA ACADEMIA MONTES CLARENSE DE LETRAS -
edição especial, comemorativa do seu primeiro
decênio de existência. Editora Comunicação
- BH
• FORÇAS VIVAS DA NAÇÃO - Estado
da Bahia Do Instituto de Pesquisas Municipais pela Comunicação
Promoção e Marketing Ltda. - SP
• MORTUGABA - HISTORIA E POESIA autora: Zoraide Guerra
David Imprensa Oficial de Minas Gerais - Belo Horizonte -
MG
• PATRÍCIO GUERRA – Vida e Obra
Edição Comemorativa do 1º Centenário
de seu nascimento: 17/03/1896
– 17/03/1996. Belo Horizonte: Diagrama Arte e Anúncio
Ltda. 1996.
Participação em Associações:
• ACADEMIA MONTESCLARENSE DE LETRAS - Categoria de sócio
correspondente.
• CLUBE DO LIVRO - Rio de Janeiro - RJ
Publicações:
Revistas:
• NAZARETH – Periódico trimestral Dell’
Instituto Ancelle di Gesu Bambino Anno XVI – nº
63 autono 1971
Veneza – Itália.
• UNICA - Salvador - BA
• O MALHO - R. Janeiro - RJ
• ALMANAQUE MENSAGEIRO DA FE
• MENS AGEIRO DO CORAÇÃO DE JESUS
• ALFA Revista dos Municípios Brasileiros - Salvador
- BA
• LEGIÃO DE MARIA - Ano XI - 1992 - n° 39
- Órgão oficial da Legião de Maria no
Brasil -Salvador - BA
Jornais:
• A TARDE - Fundado em 15-10-1912 em SALVADOR-BA, principal
Jornal do Norte e Nordeste do Brasil.
• O COMBATE
• A PENNA e o ARREBOL - quinzenários de Caetité
- Ba.
• O PALADINO - de Espinosa - MG
• O JACARACY - de Jacaracy - BA
• O CONDEUBENSE - de Condeuba - BA
• NOSSA TERRA - de Cruz das Almas - BA
• O LIBERTADOR - de Urandí - BA
• O BASTENSE - de Bastos - SP
• O CEUZINHO - Jornal da E .E. D. Vidinha Pires - M.
Claros MG
• O LAR CATÓLICO - de Juiz de Fora - MG
• O DIARIO DE MONTES CLAROS e o GAZETA DO NORTE
Montes Claros - MG
• FOLHA ESTUDANTIL - Órgão mensal de orientação
cultural e popular - Salvador - BA
ANÍSIO
TEIXEIRA,
DE CAETITÉ PARA O MUNDO
Anísio
Spínola Teixeira nasceu em Caetité – Bahia
no dia doze de julho de mil e novecentos, era filho de Deocleciano
Pires Teixeira e Dona Ana Spínola Teixeira, sua terceira
esposa.
Anísio
Teixeira iniciou sua vida educacional com os jesuítas
do Instituto São Luiz Gonzaga em Caetité e desde
cedo já demonstrava talento e desenvoltura aparecendo
sempre entre os alunos que se apresentavam e se sobressaíam
nas solenidades do final do ano letivo pelas boas notas e
quantidade de medalhas recebidas.
Anísio
concluiu o curso ginasial em 1915 com aproveitamento excelente
e seguiu para Salvador onde prosseguiu seus estudos com os
jesuítas do Colégio Antônio Vieira, aí
continuou se destacando, chamando a atenção
dos padres e despertando a cobiça deles, que o queriam
entre os vocacionados da Companhia de Jesus. Provavelmente,
Anísio não teria saído de Caetité
com o propósito de seguir carreira vocacional, muito
menos esta era a intenção de seus pais ao enviá-lo
ao Antônio Vieira, porém, entre as perspectivas
possíveis, esta, muito lhe seduzia.
Ao concluir
o secundário, Anísio começa o curso de
Direito em Salvador, entretanto, seu pai o transfere para
o Rio de Janeiro onde ele termina o bacharelado, entretanto,
essa transferência, não foi capaz de lhe fazer
desistir da ideia de se dedicar à Companhia de Jesus,
mesmo sem aprovação dos seus pais que já
tinha uma filha seguindo carreira religiosa junto à
Congregação do Bom Pastor.
Anísio,
por sua vez, contrariado mas condescendente com a decisão
do pai, com as angustias de um recém formado, volta
a Caetité já bacharel em direito em 1923. Ele,
talvez não soubesse ainda o que era “vocação”
e certamente só descobriu alguns tempo depois quando
um convite do governador da Bahia Góes Calmon em 1924,
mudaria completamente o foco das suas atividades laborais
e também da sua vida.
Góes
Calmon, recém empossado como governador da Bahia queria
abandonar a velha política trazendo novidades ao governo
do estado, neste sentido, recrutou alguns jovens recém
formados, desconhecidos do mundo da política, para
compor sua equipe, entre eles, estava o jovem bacharel em
Direito Anísio Teixeira, que assumiu o cargo de Inspetor
Geral de Ensino — cargo equivalente hoje ao de Secretário
da Educação.
Aceito
o convite do governador, inicia o Anísio, os primeiros
passos na pasta da Instrução Pública
na Bahia, terreno desconhecido e pedregoso para um jovem bacharel
em direito sem experiência alguma na área da
educação. Este foi estímulo para que
ele começasse a estudar e se inteirar dos assuntos
e problemas pertinentes à pasta.
Aos
poucos Anísio começa a visualizar as maiores
necessidade e gargalos da instrução pública
na Bahia: a falta de instituições de educação,
principalmente no interior, o que refletia em números
muito elevados de analfabetos no estado.
Anísio
Teixeira, propunha como diferencial e como inovação
para a administração de Góes Calmon a
ideia de escolarizar o povo e assim resolver um dos principais
problemas do estado, para tanto ele sugeria a disseminação
de escolas primárias públicas por todo o território
do estado para que uma maior quantidade de crianças
tivesse acesso à escolarização.
Como
diretor da instrução pública ele propôs
uma grande reforma para o sistema escolar baiano, entre 1924
e 1927, quase dobrou o percentual de investimento do estado
na educação, e triplicou o número de
matrículas, abriu e reabriu muitas Escolas Normais,
inclusive a de Caetité fechada em 1903. Ainda neste
período, realizou viagens de estudos à Europa
e Estados Unidos, onde conheceu as ideias de
John Dewey, tornando seu discípulo.
O cargo
de Diretor de Instrução pública da Bahia
foi apenas o primeiro ocupado por Anísio na área
da educação. Ao longo da sua vida ele ocupou
muitos outros cargos públicos, foi funcionário
do Ministério da Educação e Saúde
Pública e logo depois diretor-geral do Departamento
de Educação do Distrito Federal. Criou a Universidade
do Distrito Federal, no Rio de Janeiro. Foi ainda Conselheiro
de ensino superior da UNESCO e o criador da Escola Parque,
em Salvador, que se tornou um novo modelo de educação
integral. Foi diretor do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos
(INEP), realizando trabalhos para a valorização
da pesquisa educacional no país e criou o Centro Brasileiro
de Pesquisas Educacionais, fundou a Universidade de Brasília,
tornando-se reitor entre 1963 e 1964. Com a instalação
do governo militar, foi para os Estados Unidos, onde passou
a lecionar na Universidade de Colúmbia e na Universidade
da Califórnia.
Anísio
sempre foi defensor da educação como um direito
e da escola pública de qualidade para todos, publicou
muitos livros, é uma referência quando se fala
de educação integral por exemplo.
Com essa
trajetória fica muito visível que a Companhia
de Jesus, certamente perdeu um possível grande padre
e a família Teixeira um político, mas sem dúvidas,
o Brasil, ganhou um grande intelectual.
Anísio
Teixeira foi encontrado morto no dia onze de março
de 1971, no fosso de um elevador no prédio onde morava
Aurélio Buarque de Holanda, situado na Praia do Botafogo,
48, edifício Duque de Caxias no Rio de Janeiro. Ele
teria ido neste endereço se encontrar com Aurélio
para lhe pedir voto pois era candidato a membro da Academia
Brasileira de Letras.
Acerca
dessa morte sobraram muitas dúvidas e recentemente,
estudos do professor João Augusto de Lima Rocha, apontaram
que não se tratou de um simples acidente, Anísio
não caiu no fosso do elevador, ele foi assassinado
e naquele lugar foi colocado.
A
HISTÓRIA DE DONA LILI
Dona
Lili é uma mulher de fé, sábia, corajosa
esplêndida, guerreira e capaz de contar toda sua história
através de lembranças vívidas e bem guardadas
no coração. São muitos adjetivos que
marcam a vida dessa mulher que será sempre lembrada
pela sua família e amigos.
Dona
Vitalina Alves Conceição, filha do senhor Joaquim
Marcelino da Conceição e dona Maria Mendes da
Silva, nasceu em 17 de março de 1940 no Distrito de
São José do Gorutuba, no município de
Porteirinha. Sendo a terceira filha do casal, teve cinco irmãos,
Ângela, Adriano, Inês, Neuza e Nauza. Viveu toda
sua infância e juventude naquele distrito pelo qual
ainda é apaixonada por causa das histórias vividas.
Foi batizada na igreja centenária de Nossa Senhora
da Soledade, que ainda resiste ao tempo. Participava ativamente
das novenas, das festas religiosas, fazia parte da coroação
de Nossa Senhora da Soledade, participava do coral da Igreja
e, quando se tornou professora, preparava seus alunos para
a coroação e primeira comunhão. Lembra
que, na sua juventude, as missas eram celebradas em latim
pelo padre Julião Arroyo Gallo.
Lá,
suas professoras foram Maria Paulo Santos, Honorata Dias Correa
e Dilvani Dias Correa. Ela conta que a escola de São
José do Gorutuba só oferecia até a terceira
série primária. Sendo assim, ela repetiu esta
série várias vezes, até completar 13
anos e poder ir para a cidade concluir a quarta série
na Escola Estadual João Alcântara. Em 1954, ela,
apenas com o ensino primário, retornou para São
José do
Gorutuba e, com quatorze anos de idade, começou a lecionar
como professora leiga na mesma escola onde estudou. Destacou-se
como professora e, com sua generosidade, sempre cuidou de
quem precisava. Trabalhou de 1954 a 1962 e, por razões
políticas, foi dispensada no inicio de 1963. Nesse
período de dispensa, dedicou-se aos trabalhos domésticos
e costuras, bordados e afins.
Em 15
de junho de 1961, casou-se com José Alves do Nascimento,
com quem teve nove filhos: Valdiney, Vanilda, Valdelice, Valciney,
Vanilce, Valtemir, Vilson, Vailza e Vanilson.
Em junho
de 1966, foi contratada como professora novamente e se efetivou
pela Lei de Estabilidade por Tempo de Serviço. Em 1972,
retornou aos estudos, iniciando o Curso Fundamental com 40
horas semanais oferecido no período de férias
apenas para professores leigos. Para frequentá-lo,
precisou de muita ajuda da família, pois já
tinha seis filhos, de 7 meses a 9 anos de idade. Terminando
o curso em janeiro de 1974, não conseguiu ir fazer
as provas finais em Montes Claros. Quando teve condições,
matriculou-se no Centro de Ensino Supletivo para concluir
o Ensino Fundamental e Médio.
Ressalta-se
a origem da escola onde ela estudou e trabalhou, pois além
de ser a primeira do município, está entrelaçada
na história da sua família. A Escola de São
José do Gorutuba começou a funcionar quando
Dona Sophia Rosa da Silva foi nomeada normalista para emprego
de professora pública primária de São
José do Gorutuba. Na época, em São José,
não havia prédio próprio para funcionar
a escola.
Então, o pai de Dona Sophia Rosa emprestou uma das
salas do seu casarão para que a escola funcionasse.
Na foto, vemos o casarão do pai de Dona Sophia Rosa.
Depois,
a escola foi passando pelas casas despovoadas do distrito,
pois muitas famílias de Porteirinha possuíam
casas, que eram ocupadas por elas apenas em tempos de festas
ou em período eleitoral. Em 08 de novembro de 1947,
o senhor Joaquim Marcelino e sua mulher dona Maria Mendes
fizeram a doação de uma gleba de 10.000 metros
quadrados de terras de sua propriedade na fazenda Gravatá,
onde, em 1949, foi concluída a construção
do prédio da escola no povoado. Dentre as filhas de
seu Joaquim, lecionaram na escola Nauza, Inês e dona
Lili, que atuou também como coordenadora no ano de
1976.
Com a
morte de seu pai, em 1976, Dona Lili sentiu o desejo de homenageá-lo,
dando o seu nome para a escola, pois ele, além de ter
sido o doador do terreno, sempre desempenhou um papel fundamental
ao demonstrar interesse e luta pelo desenvolvimento da educação
naquele lugar. Orientada pela inspetora, ela escreveu a biografia
de seu pai e encaminhou a solicitação à
Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais.
Porém, por um motivo que não vem ao caso contar
aqui, em 1977, foi publicado o decreto com a nova denominação:
“Escola Estadual Neco Lopes”.
Em 1978,
dona Lili, com muito sofrimento, assistia quase sozinha o
povoado se esvaziar por causa da construção
da Barragem do Bico da Pedra. Nesse ano, ela apenas cumpria
horário, pois já não havia alunos para
quem ministrasse as aulas.
Em 01/02/1979,
Dona Lili foi removida da Escola Estadual Neco Lopes, que
funcionava sem alunos em São José, para a Escola
Estadual Odilon Coelho, em Porteirinha, que funcionava no
mesmo bairro que ela escolhera para morar. Ali ficou até
se aposentar em 1987. Mas a missão de dona Lili ainda
não havia terminado. Continuou a sua busca na realização
de seus sonhos, trabalhando no Lar do Idoso Dona Lia Coelho
de 1995 a 1997. Em 1997, passou em um concurso para o cargo
de Auxiliar Administrativo para a Prefeitura de Porteirinha,
trabalhando até 2012 no Centro de Saúde. Nesse
período, fez os cursos de Técnico e Auxiliar
de Enfermagem e se sentiu realizada, pois era seu grande sonho
trabalhar nessa área. Hoje, a matriarca da família
Alves Conceição vive em Porteirinha com seus
80 anos e traz consigo aquilo que sempre teve: fé,
devoção, humildade, simplicidade e uma grande
esperança de que teremos um Brasil e um mundo melhor.
Impresso na oficina da
GRÁFICA EDITORA MILLENNIUM LTDA.
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