Dados Internacionais da Catalogação na Publicação (CIP)
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Cotrim, Dário Teixeira (Org.)
C843d
A Deusa das Letras. Dário Teixeira Cotrim (Org.). Montes
Claros – Minas Gerais. Editoras Millennium/Cotrim Ltda. 2014.
118 p. - Volume I
1. Literatura Brasileira 2. Ensaios 3. Montes Claros - Minas
Gerais
I. Dário Teixeira Cotrim (Org.) II. Título
CDD B869.1
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Editora Cotrim Ltda
Rua Euzébio Godinho, 304 - Bairro São José.
39400-356 - Montes Claros - MG
(38) 3015-7939 - dariocotrimcultura@gmail.com
2014
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ÍNDICE
A Deusa das Letras: à guisa de Prefácio - 09
Dário Teixeira Cotrim
Destinos - 12
Olyntho da Silveira
Rainha Centenária - 14
Felipe Gabrich
“Vovó centenária está tão bonita de vestido novo” - 17
Mara Narciso
Uma mulher à frente do seu tempo - 24
Júlia Maria Lima Cotrim
A mulher, a velhice e o amor! - 26
Amelina Chaves
Uma mestra cruzou o meu caminho:
homenagem de uma eterna aluna - 29
Marta Verônica Vasconcelos Leite
Estrela Guia - 34
Geralda Magela Sena Almeida e Souza
O Prazer é todo meu, Dona Yvonne Silveira - 37
Evany Cavalcante Brito Calábria
Dona Yvonne - 39
Terezinha Campos
A Grande Dama - 41
Marilene Veloso Tófolo
Yvonne Silveira: no Largo de Cima - 44
Wanderlino Arruda
Semideusa da Cultura - 52
Petrônio Braz
Dona Yvonne: ícone de cultura e sabedoria - 57
Glorinha Mameluque
Lady Yvonne - 61
Felicidade Patrocínio
Yvonne Silveira, uma lição de vida até nos sonhos - 65
Luiz Giovanni Santa Rosa
Yvonne Silveira: Uma Eternidade - 68
Edson Ferreira Andrade
Toquemos os Sinos - 71
Dóris Araújo
Intelectuais pouco envelhecem: Dona Yvonne, muito menos... - 75
Itamaury Teles
Pelos Caminhos da Vida - 79
Maria do Carmo Veloso Durães
Yvonne Silveira: A jovem de cem anos - 84
Maria de Lourdes Chaves
Yvonne Silveira, uma estrela que brilha - 86
Maria Ruth das Graças Veloso Pinto
Mãe e Mestra - 90
Maria Ilca Terence Noronha
O valor das palavras - 93
Zoraide Guerra David
A filha do Farmacêutico - 96
Karla Celene Campos
Uma grande mulher - 100
Maria Luiza Silveira Teles
A dama da literatura - 103
Gal Bernardo
Cem anos de existência, é um presente de Deus - 105
Ariadna Muniz
Dona Yvonne - 109
Clarice Sarmento
Yvonne Silveira, escritora insignia da literatura de Montes Claros - 112
Terezinha Teixeira Santos
A paciente Dona Yvonne Silveira - 115
Edwirges Teixeira de Freitas
A DEUSA DAS LETRAS
À GUISA DE PREFÁCIO
Dário Teixeira Cotrim
O nosso propósito aqui não é fazer uma grande enciclopédia
sobre a vida e a obra da professora Yvonne de
Oliveira Silveira, mas uma pequena Antologia, com artigos
assinados pelos seus amigos e amigas, sobre as virtudes e os
saberes de uma mulher intelectualmente reconhecida nos meios
literários e querida por todos os montes-clarenses. Nota-se que
esta Antologia foi programada e projetada para fazer parte das
comemorações do Centenário da homenageada, com crônicas e poemas alusivos à sua vida. Não há como negar a nossa admiração
e o nosso preito de gratidão e respeito por essa encantadora
mestra da cultura: Yvonne de Oliveira Silveira – uma mulher à
frente do seu tempo!
Aqui está uma visão centenária da professora Yvonne, escrita
pelos seus confrades e confreiras. São palavras de carinho,
de gratidão e de muito amor pelo brilho inexcedível do seu meigo
coração e de sua bondosa alma. Por outro lado, são manifestações
espontâneas pelo fulgor de sua simpatia, pela cultura
polimorfa, pelo seu sentimento de “juca-pratismo”, que tantas
vezes se manifestou com entusiasmo e que ainda continua se
manifestando com afeição nos seus diversos pronunciamentos.
Acima de tudo, pela sua inquebrantável atitude em trabalhar,
sempre e muito, pela valorização cultural de nossa querida cidade
de Montes Claros. Yvonne de Oliveira Silveira completa
cem anos de vida repleta de momentos felizes e, poucas vezes,
melancólicos.
Saudosa pela partida de seus pais e de alguns de seus amigos,
ela eternizou-lhes a memória no influente livro Cantar de
Amiga. Disse-nos a confreira Maria Luiza Silveira Teles que “ao
exprimir toda a gama de sentimento que a tornaram pela existência,
brindou a uma celebração maior: a celebração de tudo
que caracteriza a sua própria vida e compõe a belíssima canção
da vida do Ser Humano”. Entretanto, a dor maior foi o momento
de dizer “adeus” à sua alma gêmea, o poeta-escritor Olyntho
Silveira.
Agora, numa força conjunta das nossas Academias de Letras
e do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, a
Antologia do Centenário da professora Yvonne de Oliveira Silveira é lançada, sob a responsabilidade da Editora Millennium/Cotrim Ltda. Esta Antologia foi totalmente revista e corrigida
pelo eminente acadêmico Wanderlino Arruda, a quem agradecemos
a colaboração, que novamente nos prestou, com tanta competência
e dedicação. Ainda assim, valemo-nos do ensejo para
os nossos agradecimentos aos que, espontaneamente, e de modo
tão gentil nos ajudaram a organizar e publicar esta despretensiosa
obra literária com o intuito comemorativo. Para finalizar, é
nosso desejo que a ilustre professora Yvonne de Oliveira Silveira
tenha vida longa e que continue sempre inteligentemente lúcidaà frente de suas atividades literárias em favor de nossas Academias
de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de Montes
Claros. Benza! Deus!
Destinos
Olyntho da Silveira
Quando surgiste frente ao meu caminho
E os fados para sempre nos ligaram,
Meus planos todos se modificaram
E armamos de esperança o nosso ninho.
Um após outro, os dias se escoaram
Eu, encantado pelo teu carinho,
Conduzindo por tuas mãos de arminho,
Sentir não pude as horas que passaram.
Veio a neve pintar os meus cabelos,
Mas eu, que só agora posso vê-los,
Relembro aquela venturosa data.
Tornando iguais os nossos dois destinos,
No céu negro dos teus cabelos
finos
Estrelas vêm surgindo já, de prata.
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Do livro ‘Cantar da Amiga’, da professora Yvonne de Oliveira Silveira. Pág.17.
RAINHA CENTENÁRIA
Felipe Gabrich
Os publicitários iriam exibir a sua imagem em outdoors e
vídeos como paradigma da jovialidade.
Não é todo ser humano que atinge a incrível marca
dos cem anos de vida, embora o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística, o famigerado IBGE, tenha elevado para 74
anos o índice de expectativa de vida do homem moderno no
Brasil.
Mas ela é possuidora de vários perfis e qualidades de seres
humanos de inteligência privilegiada.
Como esse incrível e maravilhoso feito de comemorar com
muita alegria os cem anos de vida no mês de dezembro do ano
2014 da Graça do Senhor.
De pé e altaneira, em todos os sentidos físicos da biologia
humana. Com lucidez de espírito de menina de poucos anos de
vida. Com o timbre de voz firme e brilhante de pessoas iluminadas
que se expressam com a alma.
Poetisa na acepção do termo, Yvonne Silveira em nada fica
a dever aos maiores poetas e escritores da literatura brasileira dasúltimas décadas.
Seus livros estão aí para quem quiser ler e comprovam sua
brilhante mente produtiva de versos e de contos sonoros e abstratos.
Há, também, escritos de cunho histórico de quem faz e
participa do conhecimento.
Professora eterna, apaixonada e dedicada das artes e das
letras até os dias atuais, não obstante a aposentadoria oficial por
tempo de serviço.
Presidente da Academia Montesclarense de Letras.
Sócia efetiva da Academia Feminina de Letras de Montes
Claros e do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros,
dentre outras atividades culturais da talentosa Yvonne Silveira.
Impressiona a todas as pessoas a vitalidade dessa decana
professora aposentada e a sua encantadora e obstinada vontade
de viver.
Na verdade, ela está presente em todos os eventos oficiais e
não oficiais da cidade. De batizado de boneca à entrega de medalhas
e diplomas de honrarias.
Isso, sem contar as solenidades de lançamento de livros,
sua grande paixão.
Tive a honra de ter sido aluno dela na antiga Escola Normal
e na Faculdade de Administração. E talvez esse detalhe fuja à
análise dos publicitários de plantão: poucas pessoas desses claros
montes podem escrever em seus currículos terem sido amigos de
uma pessoa humana maravilhosa em toda extensão do adjetivo
pátrio.
Ou abençoadas com a dádiva da amizade da emérita mestra
ao longo de muitos anos, assim como de seu inesquecível e
saudoso esposo Olyntho.
Quisera ter o dom da palavra para saudar os cem anos de
vida de dona Yvonne. E para eternizar o apreço e afeto nutridos
por muitos corações que aprenderam os segredos da literatura
brasileira através da sabedoria de uma mestra que sempre amou
o que fala.
Mais cem anos, dona Yvonne, é o que desejamos do fundo
do coração.
Montes Claros, sua gente e sua cultura agradecem aos céus
a sua profícua e benfazeja existência!
“VOVÓ CENTENÁRIA ESTÁ TÃO
BONITA DE VESTIDO NOVO”
Mara Narciso
Já se sentiu desrespeitada. Chegou a ouvir alguém dizer que
ela não era ninguém, nalguma ocasião social. Concluiu que
era inveja, embora não se ache coisa alguma, apenas uma
simples ex-professora de Português e Literatura, que se formou
em Filosofia na atual Unimontes. “Não fiz nada de mais”. Fala
isso sempre, numa modéstia que parece verdadeira. Diz que a
importância que tem é dada pelos outros, que escreve para jornais
desde menina, mas não escreve bem, sendo uma escritora
comum. Ao mesmo tempo considera que foi boa professora e
em trinta anos de magistério, teve apenas dois desentendimentos
com alunas, um no colégio e outro na faculdade. No segundo
caso a moça era atrevida e retrucava, então mandou que se
calasse. A aluna era portadora da doença de Chagas e morreu
alguns dias depois, logo no começo das férias. Ainda hoje é doloroso
lembrar-se desse episódio.
Dona Yvonne Silveira não foi minha professora, mas ouvi
diversas vezes as suas ex-alunas a evocarem de forma respeitosa,
dando a ela os méritos por hoje serem o que são. Fizeram curso
superior, estão bem de vida e desenvolveram o gosto pelos estudos
e pelos livros nas prosaicas aulas de redação da mestra.
Eu conheci Dona Yvonne em 2005, por ocasião do lançamento
do meu livro “Segurando a Hiperatividade”. Em nome
da Academia Montesclarense de Letras ela fez a apresentação. O
fato de ela ter dito na sua análise técnica minuciosa, lendo várias
fichas frente e verso, de que a minha escrita não era literária, hoje
não tem nenhuma importância, mas na ocasião me estimulou a
melhorar, e a buscar escrever noutro ritmo que não “o correr da
pena”, segundo definição dela.
A eterna presidente da Academia Montesclarense de Letras
pode até não ser uma escritora tão grande quantos os autores
que a inspiraram a lecionar Literatura, mas entende da técnica
de escrever como ninguém. A sua prodigiosa memória precisa
apenas de uma breve revisão para palestrar sobre um tema relacionado
ao que ensinava. Seus poemas são corretos, tecnicamente
adequados, com ritmo, métrica e alguma coragem. Prefere a
linha memorialista, e, acanhada em fazer críticas, recorre ao caminho
do elogio. Quando solicitada a opinar sobre temas atuais, recorda que, quando começou a se popularizar o uso de drogas,
escreveu uma crônica contundente sobre o tema, condenando,
obviamente, e foi duramente ameaçada. Na ocasião lecionava e
dirigia, e sob um alerta dos riscos que corria, decidiu abandonar
assuntos polêmicos.
Diante de uma dama centenária, mesmo quem não se importa
com o politicamente correto, tende a derramar-lhe elogios
fáceis. Espírito crítico: está aí uma qualidade que Dona Yvonne
Silveira tem de sobra. Rigorosa sobre o que diz, quando discursa
e troca algum nome, põe-se a fazer o mea culpa, lamentando-se
pelo equívoco.
É de se esperar enorme comedimento de quem veio ao
mundo no começo do século passado. Nasceu em Montes Claros
em trinta de dezembro de 1914, filha de um farmacêutico
bem conceituado, que, devido à prática de curar doentes naqueles
lugares ermos em que não havia médico, chegou a passar dicas
para profissionais formados na capital. Nos seus catorze anos
a família foi morar em Francisco Sá, chamado Brejo das Almas,
lugar com quatro ruas poeirentas. Um rapaz, Olyntho Silveira,
então com dezenove anos falou que iria namorar a filha do dono
da farmácia. Tinha visto a menina uma vez e quando a viu de
novo, ela própria já sabedora do seu interesse, passou diversas
vezes de bicicleta, vestido num paletó marrom, e com a gola da
camisa aparecendo.
Namoraram quatro anos, e, seguindo a tradição da época,
pensou que, com um beijo na boca, fato consumado e que muito
a impressionou, ficaria grávida. Era a filha mais velha, e a mãe
adoentada, com problema psiquiátrico, que não tinha tratamento
eficaz, não lhe falou nada sobre casamento. Utilizou-se das informações de uma amiga mais velha, mas se casou sem saber por
onde nasciam as crianças. Dona Yvonne e seu Olyntho casaramse
na casa dela. A noiva não se animou a atravessar a pé, com seu
vestido longo, as ruas cheias de poeira, até a igreja. Perguntada,
não mencionou uma única palavra sobre a lua de mel. Talvez
não tenha ouvido bem a pergunta. Era o ano de 1933, e, como
diz o jargão, a vida não permite ensaios. O conhecimento pode
chegar junto ao ter de fazer, e assim foi. Ficou casada por setenta
e seis anos e não gerou filho, comenta desanimada. É triste sabermos
que não será preservada tão interessante genética.
Um cérebro privilegiado como o dela deveria ser estudado,
pois aprendeu Francês, quando jovem, e aprimorou o Português
pela Rádio do Ministério da Educação. Ainda hoje fala de improviso
e de pé com tal clareza e voz límpida, que impressiona.
Um feito que muitos, com trinta anos a menos do que ela, não
conseguem imitar. Há dois problemas físicos que ela costuma
mencionar: dificuldade para andar e escutar. Usa o aparelho auditivo,
com pouca eficácia, devido ao desgaste do tempo, e anda
pouco. Disse que todos os médicos a mandam caminhar, ainda
que seja em seu amplo quintal. Mas acaba não obedecendo.
Sua rotina começa cedo. Gosta de se levantar, arrumar logo
a cama, trocar de roupa, alimentar-se e cuidar do jardim, coisas
que faz sem ajuda. Não gosta de ir direto para as leituras, para
não ficar muito parada. Não aprova a inércia diante da televisão,
a qual vê pouco, apenas o noticiário. Então, lê alguma coisa, especialmente
os dois jornais da cidade, que assina: Gazeta e Jornal
de Notícias. Após o almoço, recosta para descansar, quase não
dormindo de dia. É quando vem a parte da tarde, horário em
que escreve. No momento está perdida em trovas memorialistas, mas acompanha os acontecimentos atuais, o tempo presente.
Gosta das notícias internacionais, e busca seus desdobramentos.
Depois vem a noite longa, mas dorme relativamente bem.
Tem muito cuidado para não cair. Alimenta-se pouco, e,
raramente tem distúrbios estomacais, especialmente quando
come fora de casa. Acredita que a memória antiga esteja em forma
devido a um remédio que toma há muitos anos para preservá
-la – Pharmaton -, porém gostaria de não se esquecer das coisas
do dia a dia. Para evitar maiores lapsos, conta o tempo sistematicamente.
Ao se levantar localiza-se na semana e no mês. A rotina
de enveredar-se pelos livros garante uma espécie de exercício
cerebral. Usava um laptop, mas está desativado no momento,
sendo urgente consertá-lo. Tem um perfil no Facebook, mas vê a
internet como um perigo, vislumbrando o lado mau com muita
convicção.
A televisão é permissiva, a moral se degradou, ela lamenta.
Soube da existência de homossexualidade após estar casada, e
por acaso, quando um parente mostrou com ar de galhofa um
bilhete de um rapaz que queria ficar com ele. Estranha que hoje
uma criança de quatro anos saiba reconhecer um homossexual.
A liberalidade a assusta. A rua ao lado da sua casa, na esquina
no Bairro Vila Brasília era escura, e casais vinham namorar lá,
dentro dos carros. Uma vez, um casal foi visto nu pelo pessoal
da casa. O movimento era grande, num ir e vir constante, e não
havia constrangimento dos que estavam namorando, mesmo
quando pessoas chegavam à janela e olhavam para baixo para
intimidá-los. No outro dia, diziam, havia preservativos espalhados.
Atribui esse comportamento liberal a ascensão das classes
pobres, com pouca formação moral.
Com cem anos de existência, ela pode pensar e falar o
que quiser. Como foi criada no rigor do começo do século XX,
não precisa sentir-se presa ao que se convencionou chamar de
conveniência no pensar. A patrulha ideológica pode funcionar
para os outros, não para Dona Yvonne. Ainda assim, prevendo
o pensamento dos outros sobre os seus, doura a pílula, dizendo:“todos são iguais, ninguém é pior nem melhor, e eu mesma não
me sinto mais importante do que ninguém”. Reforça que a elite
acabou, e os antes da classe baixa tomaram o seu lugar. São eles
que ditam normas e modas, todos se vestem e se comportam de
forma igual, seguindo a televisão. “Você não se lembra, mas as
empregadas se vestiam diferente das patroas”.
Seu bisneto do coração, de pouco mais de um ano, anda
pela casa usando fralda e um sorriso gostoso. Preocupa-se sobre
em que mundo ele crescerá, devido à poluição e violência. O ser
humano tem aprimorado muito a sua maldade, e isso a amedronta.
As pessoas perderam a vergonha. Apresentam-se à missa
e até para se comungar de shorts curtos, blusas tomara-que-caia
com a barriga de fora, sem o menor pudor. Nesse particular, ela
sempre foi recatada, até porque o seu marido tinha muito ciúme
e não a deixava usar roupas sem mangas.
Fala de duas amigas que estão gravemente enfermas, e que
também poderá cair de cama, o que tem pavor. Lembro a ela que
cada um tem uma história, e que é melhor esperar para ver. Sobre
a proximidade dos cem anos, emociona-se, imaginando que
poderá não chegar lá, pois seu marido morreu em 2009, cinco
meses antes do centenário. Sugiro que não se impressione com
isso, e que faça de conta que serão os noventa a nove anos outra
vez. Os números inteiros chamam a nossa atenção, fecham um
ciclo. Melhor não exagerar na emoção.
Em seguida faz referência a Constancio Vigil, escritor uruguaio,
que narra diversas situações em que a vida fecha um ciclo.
Acontecem nascimento, crescimento, apogeu, declínio e morte.“Tudo no mundo é assim”, ela diz, “inclusive vários impérios e
até mesmo o sistema solar, no qual os planetas giram em torno
deles mesmos, então em torno do sol, que pertence a Via Láctea,
e que caminha para um lugar que não sabemos qual é”.
Foi uma visita informal, não marcada e sem nada anotado.
A conversa durou três horas, e na saída, ela me leva à porta, mostrando
o sistema de cerca elétrica e monitorização por câmera,
sendo que anteriormente tinha lamentado o corte de um oiti na
sua porta devido a questões de segurança. Disse ter se alegrado
com a minha visita, e solicitou que eu a avisasse com antecedência,
na próxima vez, para ela poder preparar-me um lanche, pois
não tinha néctar, apenas ambrosia. Achamos bom, você e eu,
grande mestra, sairmos da rotina para termos uma boa conversa.
Ficamos pasmos em ver, sem nenhum exagero, que Dona
Yvonne Silveira é um caso extraordinário de longevidade, lucidez
e sabedoria. Ainda que alguns digam que ela não é tudo
o que festejam e os mais próximos reclamem que ela não é tão
mansa em casa quanto fora dela, sem esforço algum lhe fazemos
reverências, pois sua dignidade, um grande legado, evoca todas
as homenagens.
UMA MULHER À FRENTE
DO SEU TEMPO
Júlia Maria Lima Cotrim
Nós, confreiras e amigas de Dona Yvonne de Oliveira Silveira,
que completa cem anos de idade, em 2014, teremos
a oportunidade de externarmos a amizade, a afeição
e o carinho que dedicamos a ela nesta antologia – A Deusa
das Letras – organizada e publicada pela Editora Cotrim Ltda.,
Falar de Dona Yvonne acho que não é difícil, pois ela se
mostra como uma mulher que batalha pelo seu direito à diferença,
questionando os papéis que lhe são conferidos pela família e pela sociedade, administrando a própria vida, na incessante busca
da possível autonomia, procurando sua porta de entrada para
a cultura, sem aceitar o rótulo de inferioridade sempre conferidoàs mulheres.
Ela é uma mulher que procura exercer sua inteligência e
sua sensibilidade quando profere seus discursos, nos passando
um aprendizado inigualável e, numa busca de parâmetros que
sejam mais apropriados ao que vai descobrindo em si mesma.
Dona Yvonne esqueceu a passagem dos anos, o desgaste da
luta, os aborrecimentos da rotina e compartilhou uma relação
alegre e fiel com o seu esposo Olyntho da Silveira, tornando-se
uma esposa-companheira por muitas bodas.
Quisera ter tido a oportunidade de ser sua aluna, enquanto
conheço pessoas que tiveram o privilégio de ter passado por
uma sala de aula, cujo tempo conviveram e deleitaram com seus
ensinamentos. Para mim ela é a pura expressão do ser humano
comprometida com a cultura e o saber. É um exemplo!
Há pessoas que passam por aqui e deixam marcas e ela vai
nos deixar uma contribuição cultural e suas emoções registradas,
que bem assimiladas, se transformarão em sabedoria. Na condição
de uma das grandes construtoras do progresso de Montes
Claros, nada mais justo que receber nosso reconhecimento pelo
extraordinário desempenho frente à Academia Montesclarense
de Letras, à Academia Feminina de Letras de Montes Claros e ao
Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros.
A MULHER, A VELHICE
E O AMOR!
Amelina Chaves
O homem e a mulher envelhecem de formas bem diferentes.
Enquanto a mulher encontra mil opções para
enfrentar a idade, o homem na sua maioria fica parado,
sem meios de vencer a solidão proporcionada pelo tempo, que
não perdoa ninguém por mais poderoso que seja. A mulher, por
natureza é mais comunicativa e atualmente dispõe de vários recursos
da ciência moderna, remédios, alimentação e exercícios
que ajudam lutar contra a aparência de velhice. Ela também leva a vantagem de poder usar adornos, enfeites brilhantes que tem
o efeito de atrair os olhares e desviá-los das imperfeições causadas
pelo efeito dos anos vividos. Deus doou à mulher uma
grande aliada, a vaidade, que desenvolve esta ansiedade feminina
de parecer bela, e renovar sempre, para ser agradável aos olhos
das pessoas, enfeitar-se e disfarçar as marcas do tempo, mas, por
outro lado, quando a mulher só pensa no visual, em qualquer
idade não passará de um objeto decorativo. A sabedoria e a cultura
se tornam de extrema importância na velhice, só elas dão
condições de descobrir novos caminhos no campo do trabalho,
mesmo social, como forma de preencher o tempo disponível,
tornando-se útil e valorizando a vida. A velhice e a arte talvez
sejam uma das melhores formas de desafiar o tempo, a arte pode
ser uma grande aliada da velhice que limita o corpo.
A partir de certa idade, as atividades tornam-se penosas,
o trabalho, que requer esforços às vezes tornam-se impossível,
enquanto o conhecimento e à experiência adquirida podem ser
realçadas e usadas. Existem vários artistas e profissionais que
permanecem até o fim, senhores do seu talento. Como prova
disto Voltaire, compôs ‘Candice’ aos sessenta anos. Vitor Hugo
escreveu na idade madura os mais belos versos sobre a velhice
e o amor. Quantas mulheres fogem de viver um grande amor,
alegando que estão velhas? Esquecem que só o amor dá sentido
a vida; portanto deve ser vivido em qualquer época; logo, nada
de renúncia sentimental. O coração tem necessidade de exercícios.
Naturalmente, nada de criar amores imaginários forçando
os sentimentos, mas quando surgir algo, porque interditar? Sem
outra razão além da idade, mulheres que têm a capacidade de
despertar os sentimentos de alguém deve amar até os últimos
dias da existência.
Preconceitos absurdos condicionam a mulher na velhice:
sendo mais velha não pode se relacionar com um homem jovem,
enquanto o homem de setenta anos chega até mesmo a se casar
com moça de vinte anos. Muitos acham ridículo velhos apaixonados.
Triste são aqueles que não sabem amar, levam o resto
da vida desprovidos deste sentimento grandioso que nos conduz
amar a vida de forma plena e diferente. Nada existe de feio
ver uma pessoa mais velha enamorada, mesmo quando o amoré platônico. É na velhice que podemos descobrir a beleza que
marca a personalidade de cada um. A delicadeza no gesto de ternura,
afeição, admiração e de carinho não tem idade para sentir
e para ser feliz não tem um tempo determinado. O amor entre
pessoas mais velhas pode ser belo e sincero quanto o amor entre
jovens, pois nele está inserido a pureza, a experiência, esta que só
se aprende vivendo. É este amor, que não se perde em buscas e
pode ser mantido com a mesma volúpia e a mesma sensualidade
da juventude, porque o espírito é intocável pelo tempo.
Um exemplo de velhice bonita, elegante, e produtiva é a
nossa homenageada a amiga e mestra Yvonne Silveira.
______________________
Membro da Academia Montesclarense de Letras e de outras academias afins. Sócia colaboradora
da Comissão Mineira de Folclore.
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UMA MESTRA CRUZOU
O MEU CAMINHO:
HOMENAGEM DE UMA ETERNA ALUNA
Marta Verônica Vasconcelos Leite
“Se a cultura do espírito aumenta a felicidade dos homens, não
pode deixar de ser grande serviço a humanidade inventar meios, pelos
quais essa cultura se generalize.”
A citação acima bem poderia ser de Yvonne de Oliveira Silveira,
mas não é, foi publicada num jornal francês no século
XlX: “O Universal” (Paris, 18/07/1825). Inicio essa
homenagem à minha Mestra de literatura universal e brasileira
valorizando sua formação intelectual e, por conseguinte, o seu magistério. Quase uma vida a serviço da educação norte-mineira.
Dona Yvonne, como a chamamos, nasceu para ser professora
e se realizou como tal.
Eu a conheci em 1973, na Escola Normal Professor Plínio
Ribeiro, que se localiza no Bairro Funcionários, que na época
parecia-nos ficar longe do centro da cidade. Dona Yvonne chegavaà escola no seu famoso fusquinha verde, o que era uma
grande novidade, uma mulher dirigindo o seu próprio carro. Era
professora de literatura brasileira, mas nunca se prendeu a isso,
suas aulas eram verdadeiras palestras sobre a literatura universal,
especialmente a portuguesa, o que muito me valeu para me sair
muito bem no futuro vestibular. Nós as normalistas, ficávamos
encantadas com tanto conhecimento acumulado em uma só pessoa
e, como acontece com os bons professores, ela não nos forçava
a ler os clássicos, mas nos estimulava e indicava bons autores.
Da minha parte foi tudo natural, fui boa aluna porque tive a
sorte de ter uma leitora contumaz como minha mãe e como filha
mais velha, desde cedo convivi com bons livros, Dona Yvonne,
na verdade, só consolidou esse meu gosto pela literatura.
Segundo Irlen Antônio Gonçalves (2008, p. 193/194):
O intento de compreensão das práticas profissionais
desses atores escolares implicou trazer como problematização
central e geral as questões relacionadas à constituição
da cultura que emergiu na escola em Minas. Pois foi nessa
realidade que essas práticas foram inventadas ou reinventadas,
gerando não somente as ações passivas de produção
das imposições formais dos regulamentos e programas prescritos,
mas, sobretudo, desenvolvendo relações mais extensas,
com tramas de sociabilidades entre os professores e seus pares e com outros sujeitos, seja no seio familiar, comunitário
ou outros.
Essa era uma época de mudanças na educação formal. Os
professores buscavam se adequar entre o novo e o tradicional.
Como já citado, Dona Yvonne não obrigava ninguém a ler, não
fazia chamadas e também não me lembro de provas difíceis aplicadas
por ela, no entanto, ninguém matava as suas aulas. Naquelaépoca, ela já era uma senhora experiente o suficiente para
entender que seria inútil tentar exigir de alunos, cujo pais pouco
ou nada estudaram, uma bagagem de conhecimentos literários e
que nos dois semestres que ela passaria conosco, o máximo que
iria conseguir seria se impor como professora pontual, elegante
e amiga de suas centenas de alunas. Por isso, nos orientava no
sentido de que querendo, e se dedicando, qualquer pessoa pode
se tornar um cidadão culto. Nesse aspecto acredito que ela fez o
seu melhor.
Souza (2005, p. 167) nos ajuda a entender tais ações, citando
Chartier (1990, p. 182), que adverte para o fato de (em
questões culturais) é preciso postular sobre existir um espaço
entre a normatização e o vivido, entre a prescrição e a prática,
entre o sentido visado e o sentido produzido, espaço esse onde
podem insinuar-se novos caminhos.
Em 1989, depois de ter concluído meu curso superior em
Comunicação Social, na PUC Minas, em Belo Horizonte, retornei
a Montes Claros e ao Conservatório Estadual Lorenzo Fernandez,
onde reiniciei meus estudos artísticos, retomando o gosto
pela pintura em telas, uma grande e antiga paixão. Participei
de muitas exposições coletivas com as colegas do Conservatório,
em Montes Claros e em várias cidades brasileiras, até que resolvi fazer a minha primeira exposição individual, na Galeria da
Caixa Econômica Federal. Para isso precisava de alguém que me
apresentasse como artista plástica e foi na porta de Dona Yvonne
que fui bater. Ela como sempre foi muito atenciosa. Avaliou os
meus trabalhos, através de fotografias e aceitou o convite. Essa
Exposição, que denominei: “20 anos de pintura”, teve vernissage
no dia 30 de maio de 1992 e foi um marco na minha história
pessoal e também um reencontro com minha Mestra. Como ela é uma assídua frequentadora dos acontecimentos culturais da
cidade, nós nunca mais nos perdemos de vista.
Da pintura à escrita de livros, foi para mim um caminho
natural. O trabalho com o ensino superior na Universidade Estadual
de Montes Claros e as várias especializações me levaram à
escrita científica e depois literária, trajetória sempre acompanhada
por Dona Yvonne. Também participei da pesquisa fotográfica
para o seu livro: “Montes Claros de ontem e de hoje” (1995), escrito
em parceria com a amiga Zezé Colares.
Em 2009, fui convidada a participar da realização de mais
um sonho idealizado por Dona Yvonne Silveira, a criação da Academia
Feminina de Letras de Montes Claros, e foi com imensa
alegria que comecei a frequentar as reuniões que estruturaram
essa instituição literária, que esse ano completa cinco anos. Congrega
quarenta cadeiras, ocupadas por escritoras residentes em
Montes Claros além de outras que são correspondentes. Cada
cadeira homenageia uma patrona, mulheres que se destacaram
na literatura ou professoras dedicadas à nobre causa da educação
e que já não se encontram entre nós. Como idealizadora, Dona
Yvonne, do alto de seus 99 anos, ocupa o posto de Presidente
de Honra e participa com entusiasmo de todas as nossas ações e publicações. Ela é ainda, minha confreira no Instituto Histórico
e Geográfico de Montes Claros e nessa condição apresentou o
meu primeiro livro de memórias, em 2010. Assim, seguimos
Mestra e eterna aluna, amantes das letras e das artes em geral,
defensoras do patrimônio cultural de nossa terra. Desejo vida
longa a Dona Yvonne, porque a sua presença entre nós sempre
foi motivo de inspiração e força.
__________________________
Referências:
Educação elementar: Minas Gerais. Luciano Mendes de Faria filho (org). Belo Horizonte:
UFMG, 2006.
SOUZA, João Valdir Alves de, Igreja, escola e comunidade. Montes Claros: UNIMONTES,
2005.
VAGO, Tarcísio Mauro, Histórias de práticas educativas. Belo Horizonte: UFMG, 2008.
__________________________
ESTRELA GUIA
Geralda Magela de Sena Almeida e Souza
Seus cantares têm
mimos de amiga
paixão e amor eterno
respeito e admiração
pela vida, pelo outro.
Sua voz grave
chega aos ouvidos como acalanto.
Promovendo
conduzindo
incentivando
apoiando.
Centelha divina,
surgiu um dia
nos céus norte-mineiro.
E gostou. E ficou.
Qual estrela guia.
Brilhando
inovando
desmistificando
apontando caminhos de bem viver.
Ilumina belezas
saberes.
Agrega amigos
da cultura
das letras.
Promove tradição
conhecimento.
Faz história. É história.
Aspergindo simpatia
nobreza
poesia
é o seu caminhar.
Olhos voltados para o alto
coração testemunhando Fé
mãos abertas semeando saber.
Agradecida, honrada
por partilhar da sua amizade
do seu tempo
da sua luz
do seu destino centenário
celebro
com louvores e alegria
esta estrela refulgente
e tão amada: YVONNE DE OLIVEIRA SILVEIRA
O PRAZER É TODO MEU,
DONA YVONNE SILVEIRA
Evany Cavalcante Brito Calábria
Conheci uma senhora intensa, extraordinária e da cor de
um diamante, de olhar presente, do seu jeito de ser. Uma
luz real.
Havia chorado, foi o que me contou, quase como quem se
desculpa ao me receber na sua casa, quando fui buscar a apresentação
que ela escreveu para incluir no meu livro Vestígios daÚltima Hora.
Naquela noite ela chorou, pois completara um ano de ausência
do seu amado, e, assim, com face de anjo sorrindo, comentou
sobre meu livro, sua voz melancólica marcava o choro
sentido e um semblante que consentia.
Na sua frente, percebi como tudo é necessário, físico e
mental, como a vida é mágica. Tive um encontro histórico onde
captei plenitude, generosidade e doçura. Uma senhora de tamanha
gentileza que me conduziu como a uma filha e demonstrou
a satisfação deste encontro, pude sentir a mesma emoção que
pensava estar perdida. Ainda sinto sua energia espetacular.
Nas reuniões da Academia, onde somos confreiras, regada
por suas sábias palavras, sempre me emociono junto com ela,
aprendo demais e saio de lá encantada pela lição de vida e empenho
que transmite.
Ainda em sua presença, tudo que disse é marcante, achou
detalhes nas entrelinhas dos meus poemas, que merecem amadurecimento
e, eu a admirava cada vez mais.
Mas não conseguia esquecer o momento que ela vivia – ah!
como queria viver um amor assim. Saí de lá agraciada, extremamente
feliz e levando as preciosas folhas escritas à mão, por ela.
Dona Yvonne, é um prazer enorme ouvir sua voz, sentir
suas mãos tocar as minhas. São divinas, mãos de uma mestra,
uma senhora de Deus.
DONA YVONNE
Terezinha Campos
Dona Ivone com noventa e nove anos de idade
Tens de menina a simplicidade
Em constante e célere atividade,
Receptiva e com cordialidade.
Apesar da feliz anosidade,
Vais-te comunicando com acuidade,
Com amor, com carinho e generosidade
Despontas ao nosso olhar monumental deidade.
Quantos já passaram pela tua vida,
Recebendo instrução, amor e guarida?
Doando bálsamo à alma ferida,
Conduzindo no caminho a ovelha perdida!
Quanto desvelo à criatura abatida,
E quanta compreensão à que busca guarida!
Dona Ivone mulher augusta-luzida,
Oh, alma venturosa e tão querida!
Dotada de amor e terna paciência
És dona de um discurso cheio de fluência
Cujas palavras desfilam com ritmo e cadência.
Ah! Quantos receberam tua bendita influência?
És tão admirada pela competência!
Pelo desvelo, cuidado e diligência;
Oh, dona Ivone mulher- opulência!
Tu és tão somente magnificência.
A GRANDE DAMA
Marilene Veloso Tófolo
No ano de comemorações do aniversário de Dona Yvonne
Silveira não poderia deixar de escrever sobre este fato
relevante do meio acadêmico, estudantil, literário, social,
profissional e familiar.
Cada um observa um aspecto que o liga a esta grande
dama, seja de profissão, amizade, cultura, simpatia, afinidade e
admiração.
Eu a vejo como Mestra, na velha Escola Normal, na rua
Coronel Celestino, onde a juventude não tinha fronteiras, o sorriso
indefinível corria pelos corredores, assoalhos, escadas, grandes
portas e ruas de pedras.
Era a Montes Claros diferente, sem grande trânsito, as praças
arborizadas, sem violência, e podíamos apreciar a natureza, a
beleza da praça e a Igreja Matriz.
O sino tocava ao longe, mas agora o sino não é o da Igreja,é o sino da Escola, que chama os alunos para as aulas matinais.
Não vou desviar do assunto que me fez escrever, devo falar
sobre cem anos, que soam pesados, mas passam leves para esta
senhora, criança, de sorriso fácil, que carregou consigo a classe,
a elegância, a delicadeza de uma pessoa, para quem os anos não
marcaram...
Não falarei da escritora, da fundadora da Academia Feminina
de Letras de Montes Claros, mas falarei da Mestra, daquela
que nasceu para ensinar, que gosta de estudar, de atualizar, e que
tem a palavra fácil, um dom de Deus.
Cada um segue a sua missão e Dona Yvonne cumpriu a
dela, não são todos que chegam aos cem anos bem vividos...
A sala está cheia de alunos, sonetos, redações, provas, misturam-se com a juventude que se foi, os cabelos tornaram-se
brancos, mas a postura, a elegância, o sorriso, a educação fazem
parte desta Senhora, que celebra a vida, deu prioridade à Educação
e insiste em desafiar a nossa cultura, tão desgastada nos dias
de hoje.
Dona Yvonne, enquanto existirem mulheres como a Senhora,
a educação prevalecerá sobre nós, porque uma dama que atravessou várias gerações, chega vitoriosa, com princípios pautados
no bem, na seriedade e colocando a Educação como um
dos nossos pilares.
Parabéns! Cem anos, são cem dias para quem tem esperança
em tempos melhores: de fé, mudança e realização. Tenho
dito.
YVONNE SILVEIRA
NO LARGO DE CIMA
Wanderlino Arruda
Não basta crer e saber, é necessário viver a nossa crença, isto é, fazer penetrar na prática cotidiana da vida os princípios superiores que adotamos.
Léon Denis
Yvonne de Oliveira Silveira é de Montes Claros e veio ao
mundo em 30 de dezembro de 1914, numa casona de
esquina das Ruas Padre Augusto/Doutor Santos, onde
agora reina o Banco Itaú. Tempo bom de infância de Cândido
Canela, Mário Veloso, Waldir Bessone, Raul Peres, Ciro dos Anjos, Felicidade Tupinambá, tempo de suas amigas Walkiria
Teixeira, Zuleica, Luíza Froes, Dora dos Anjos, Idoleta e Maria
Maciel. Tempo de seu futuro namorado, noivo e marido Olyntho
Silveira. Tem duas origens interessantes: da família Peres, de
tradição montes-clarense e do sangue alemão do seu pai Antônio
Ferreira de Oliveira, lourão de olhos verdes, sobrenome brasileiro,
porque traduzido. Teve sete irmãos: Wilson, Lívio, Zilda,
José Laércio, João Hamilton, Paulo Nilson e Nilza. Muitos tios:
Alexina, Francisco, Levy, Iracy, Raul, Rubens, Zelândia e Zélia.
Francisco era o famoso Cica Peres. Raul, é o doutor Raul Peres,
agora chegando aos 104.
Foi criada pertinho do Largo de Cima, conhecedora perfeita
da Praça Doutor Carlos, ouvinte de todo o barulho de fereiros
e de animais amarrados em moirões e palmeiras. Foi sempre
uma alegria de menina que vivia entre canteiros de flores e
hortas de alface, brincadeiras de quintal e de rua, com estórias
dos mais velhos no escurecer da boquinha da noite, assentados
na calçada. O tempo corria lento, marcado pela posição do sol
e pelo sino do relógio da torre do mercado, um batido musical
para cada meia hora e tantas e tantas pancadas coerentes com o
número do mostrador; meio-dia e meia-noite, claro com doze
lindas sonoridades. O que não era poeira do chão, era boniteza
colorida dos pequis, dos cachos de banana, dos sacos de laranja,
dos bacuparis e das pitangas, das carnes penduradas e cheirosas
pingando gordura. Tudo, tudo entre a realidade e os sonhos.
Agora Dona Yvonne – assim eu a sempre tratei mesmo
como colega de faculdade - vive seu centenário e faz a vida se
transformar em obra de arte. Sempre parecendo que saiu do banho,
cabelo arrumado, perfume de mãos que oferecem flores, seu olhar é de quem ama mais do que tudo a existência. Em Yvonne
Silveira, nada mais condizente que as palavras de Emmanuel
construídas no sonho e concretizadas no amor: “Duas asas conduzirão
o espírito humano à presença de Deus: uma chama-se
AMOR, a outra, SABEDORIA. Pelo amor, que, acima de tudo, é serviço aos semelhantes, a criatura se ilumina e aformoseia por
dentro, emitindo, em favor dos outros, o reflexo de suas próprias
virtudes; e, pela sabedoria, que começa na aquisição do conhecimento,
recolhe a influência dos vanguardeiros do progresso,
que lhe comunicam os reflexos da própria grandeza, impelindo
-a para o Alto”.
O Curso de Letras, o primeiro em nível superior em Montes
Claros, teve início no Colégio Imaculada Conceição, em
1963, teve matrícula de 52 e formatura de somente sete: Yvonne,
Saturnino, Hugo, Adilson, Lola, Irmã Guiomar e Wanderlino.
Quando o terminamos em 1967, para sermos professores
universitários em nossa própria escola, Yvonne e eu tivemos de
seguir para a pós-graduação na Universidade Católica de Minas
Gerais, ela na especialização em Teoria da Literatura, eu em
Linguística Geral, isso além de termos de prestar exames de suficiência,
ela na Universidade Federal em Belo Horizonte, eu na
Federal de Juiz de Fora, porque o registro da Fafil iria demandar
ainda algum tempo. Já com muita prática no ensino de Português
e de Literatura, fomos na área os primeiros a preparar
futuros alunos e candidatos ao vestibular. Daí, da cátedra e da
titularidade de professores, vivemos entre importantes gerações
de estudantes que, hoje, marcam o jornalismo, a vida social, a
batalha política e cultural em várias partes deste Brasil. Fico encantado
quando um aluno de Yvonne marca lembranças de suas
aulas, principalmente por recordar cada minuto do entusiasmo dela, principalmente das muitas palavras de incentivo à leitura e à escrita. Como a sua estreia no magistério foi aos doze anos, ela
teve no mínimo oitenta e oito de oportunidades para despertar
vocações, quase um século de benfazeja prestação de serviços à
cultura.
Disse muito bem Charles Chaplin que a vida é uma peça
de teatro que não permite ensaios. É preciso que a gente cante,
ria, dance, chore e viva intensamente cada momento, antes que
a cortina se feche e a peça termine sem aplausos. Acrescenta Fernando
Pessoa que o valor das coisas não está no tempo que elas
duram, mas na intensidade com que acontecem. E é por isso
que existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas
incomparáveis. Não seria exagero dizer que os dois mestres – sem conhecer Yvonne Silveira - escreveram isso tempos atrás
baseados num modelo nela inspirado ou que ela inspira. Neste
momento em que escrevo, ela está comemorando e ajudando a
comemorar o Dia Internacional da Mulher, desfilando nobremente
num escaldante sol de Verão, por vontade própria e atendendo
a um convite do Rotary de Montes Claros-União. Estou
quase certo de que ela estará sendo fotografada e dando uma
entrevista para os repórteres da TV e apresentando ideias para
a moçada dos jornais e das rádios. Voz de moça de trinta anos,
com toda uma lógica no raciocínio e uma perfeita coerência de
ideias. Numa rara queixa esta semana, ela me disse, por telefone,
que acha que está envelhecendo, pois se vê distraída, sentindo
umas tonteiras e tendo dificuldade para subir escadas. Claro que
velha seria a avó dela se ainda estivesse viva.
De publicação, Yvonne Silveira tem Montes Claros – Crônicas,“Cantar de Amigos - Poemas, História do Elos Clube de Montes Claros, Montes Claros de Ontem e de Hoje, e Folclore
para Crianças, (em parceria com Zezé Colares) e Brejo das Almas – Contos e Crônicas, livro dela e do marido Olyntho Silveira.
Foram muitos e muitos os prefácios para livros de amigos,
muitas as análises literárias, muitos poemas e crônicas, muitas as
peças para apresentações de teatro. Professora de tudo quanto é
escola em Brejo das Almas e em Montes Claros, nunca houve na
sua vida um dia de desemprego, trajetória do ensino primário
até a eficiência universitária. O cargo talvez mais elevado entre
os muitos que tem exercido seja o de Diretora da Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras do Norte de Minas, nossa querida
Fafil. Isso sem falar que foi professora de História das Artes no
Conservatório Estadual de Música Lorenzo Fernandez, ao tempo
de D. Marina. Presidente da Academia Montesclarense de
Letras desde 1985, nunca teve vontade de deixar o cargo, nem
vai deixá-lo, dizendo-se sempre influenciada por Austregésilo de
Athayde, da Academia Brasileira de Letras, e por Vivaldi Moreira,
da Academia Mineira, que tiveram mandatos infinitos e existenciais.
Só aos quase cem anos, ela admitiu passar o cargo para “alguém mais novo/a”, acredito uma grande conversa da boca
para fora, porque de alma sempre nova, ela sempre sentiu a perpetuidade
do seu mandato. Iluminar, iluminar tudo, iluminar
todos, iluminar sempre, esse é o seu lema, essa a sua trajetória,
esse o seu dever, o que entende por sua missão.
Yvonne e Olyntho realizaram, lá pela meia idade, uma
mais do que querida adoção. Receberam, com muita alegria,
Ireni, Ireni Mota Carlos, que lhes deu dois netos: Maria Luíza
e Pedro Vinícius. O nascimento de Maria Luíza Oliveira Silveira
foi elegantemente comemorado com um soneto de Olyntho,
um dos mais bonitos que ele escreveu. De Maria Luíza, curso superior de Enfermagem, casada com Leandro Pimenta Peres,
nasceu o bisneto Vinícius Silveira Peres, que já anda como rapaz,
dá recados e faz as honras da casa quando chega uma visita.
Moram todos numa linda mansão da Rua Basílio de Paula, que
liga a Vila Brasília ao Bairro Todos os Santos, desculpem-me a
falta de modéstia, uma área das mais nobres. Para a época de antanho
do casamento, em Brejo das Almas, Olyntho e Yvonne se
uniram já bem coroas (76 anos de vida em comum), ele com 23,
ela com 18. E só se casaram depois de quatro anos de namoro,
porque Olyntho não lhe dava sossego, passando dia e noite de
bicicleta em frente à casa de D. Cândida e Niquinho Oliveira,
seu pai. Por falar em Niquinho, é bom dizer que ele, na verdade,
tinha um nome de literato e de orador e dois apelidos como farmacêutico,
um no Brejo, outro em Montes Claros: o normal era
Niquinho Oliveira. O outro, que lhe foi posto por Joaquim Sarmento,
um dos seus melhores amigos, era Niquinho Açúcar, só
usado pelos mais íntimos. E por que Ninquinho Açúcar? Havia,
na Camilo Prates, da Padre Augusto até a Praça Doutor Carlos,
dois Niquinhos farmacêuticos: Niquinho Teixeira e Niquinho
Oliveira. O Oliveira, louro e brancão, como disse antes, de olhos
verdes; o Teixeira, um tanto quanto amorenado. Para distinguir
melhor, Joaquim Sarmento apelidou-os de Niquinho Açúcar e
Niquinho Rapadura, ficando assim bem mais clara a identificação.
Yvonne e eu somos da fundação do Instituto Histórico
e Geográfico de Montes Claros. Ela tem como patrono o pai
farmacêutico Antônio Ferreira Oliveira e eu, o farmacêutico Antônio
Augusto Teixeira, ambos fundadores do Rotary de Montes
Claros em 1926, o terceiro clube rotário do Brasil.
Quando não era ainda normais as viagens para outros países,
Dona Yvonne fez duas aventuras na Europa. A primeira em 1981, lembro-me muito tendo de memória os comentário
do seu companheiro de turismo, Lazinho Pimenta. A segunda
em 1991, com um turma de amigas, um mês inteiro percorrendo
Portugal, depois de participar como representante brasileira
em uma Convenção do Elos, no Faro, quando D. Fernanda Ramos
era presidente internacional. Sem dúvida, fizeram muito
sucesso, bela apresentação do elismo brasileiro, principalmente
do nosso Elos Clube de Montes Claros, que sempre esteve na
vanguarda. Desejo lembrar também aqui da admissão de Dona
Yvonne na Academia Montesclarense de Letras, juntamente
com Simeão Ribeiro Pires, Olyntho Silveira, Cândido Canela e
Sílvia dos Anjos, primeira turma convocada para se unir aos fundadores
Alfredo Marques Vianna de Góes, João Valle Maurício,
Joaquim Cesário dos Santos Macedo, Francisco José Pereira, Orlando
Ferreira Lima, Heloísa Neto de Castro, Antônio Augusto
Veloso, Maria Ribeiro Pires, Dulce Sarmento, José Raimundo
Neto, Hélio Oscar Valle Moreira, Avay Miranda e Geraldo Avelar.
A curiosidade é que os criadores da Academia não queriam
ter patronos, privilégio que ficaria para eles mesmos, quando
morressem. Foi Yvonne Silveira que os convenceu a adotar a
prática normal.
Neste grandioso 2014, ano de seu centenário, estaremos
em constante festa, preparando e comemorando juntamente
com ela todas as glórias que Deus lhe permitiu. Ana Valda Vasconcelos,
representando o Elos Clube, Maristela Cardoso planejando
pelos artistas, e eu, como presidente do Instituto Histórico
e Geográfico de Montes Claros, estamos nos reunindo
com muitas instituições para realizarmos importantes reuniões
festivas. Elos Clube, Academias de Letras, Instituto Histórico
e Geográfico, Rotary, Conservatório, Fundação Marina, Ateliê Felicidade Patrocínio, Associação dos Artistas Plásticos, Automóvel
Clube, Câmara Municipal e Assembleia Legislativa. As
duas maiores manifestações deverão ser da Reitoria da Unimontes
e da Secretaria de Cultura. O Reitor João dos Reis Canela já
está preparando sua festa para o mês de maio.
Clássica e renascentista, sempre antenada a cada tempo,é Yvonne Silveira conservadora ao máximo, alma de absoluta
mineiridade. Intelectual tanto dormindo como acordada, será
sempre um dos símbolos de Montes Claros e de Francisco Sá,
seu saudoso Brejo. Ontem como hoje teve e tem uma multidão
de admiradores e de amigos. Deo gratias!
__________________
Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros e da Academia Maçônica de Letras do Norte de Minas.
__________________
SEMIDEUSA DA CULTURA
Petrônio Braz
Observa Marilena Chaui que “em nossa vida cotidiana
usamos a palavra razão em muitos sentidos. Dizemos,
por exemplo, ‘eu estou com a razão’ ou ‘ele não tem
razão’ para afirmar que nos sentimos seguros de alguma coisa ou
que sabemos com certeza alguma coisa. Também dizemos que,
num momento de fúria ou de desespero, ‘alguém perde a razão’,
como se a razão fosse alguma coisa que se pode ter ou não ter,
possuir ou perder, ou recuperar, como na frase ‘Agora ela está
lúcida, recuperou a razão”.
A razão, nesse caso, não é faculdade de raciocinar, mas
de avaliar com correção. Com razão os membros da Academia
Montesclarense de Letras ao organizarem esta Antologia, como
uma homenagem aos cem anos de nascimento de Yvonne de
Oliveira Silveira
Assiste razão, também, a quem afirmou que Yvonne Silveiraé a patriarca semidivina da cultura de Montes Claros, que
se respeita e se venera.
A professora Yvonne Silveira, presidente da Academia
Montesclarense de Letras, esposa do saudoso escritor-poeta
Olyntho da Silveira, com seus bem vividos cem anos, encontrase
em plena atividade intelectual e social.
Professora de várias gerações de montes-clarenses tem
prestado ressaltados serviços à cultura regional. Yvonne Silveira,
intoxicada de cultura até o mais profundo de sua alma, é reverenciada
como ícone da intelectualidade local. Uma deidade.
Instrui Yvonne Silveira que “o romance, como substituto
da epopeia, surge no Romantismo, refletindo o estilo de vida da
burguesia em ascensão e tornando-se o porta-voz de seus desejos
e ambições. De tal modo, o romance, atualmente, reflete o
ambiente sócio-cultural com os conflitos e estudos científicos,
como a psicanálise, e de simples narrativa passa a ser considerado
uma das espécies literárias mais importantes, pelas técnicas
estilísticas e da prospecção psicológica”. Uma aula.
Ao se ler um poema, não se busca a razão, mas a emoção,
isto porque o emotivo não é passível de ser analisado logicamente.“Eu te peço perdão por te amar de repente / Embora o meu
amor / seja uma velha canção nos teus ouvidos”. O que nos diz Vinícius de Moraes? Ele apela para o sentimento, sem se incomodar
com a razão, como fundamento da própria existência.
A poesia de Yvonne Silveira é sentimento e essência filosófica.
Daí por que Maria Luiza Silveira Teles nos faz cientes de
que “o abismo da alma humana, com seus desvãos, meandros,
desertos, grandezas e angústias se abre diante do leitor e, no decorrer
da leitura, vamos nos identificando com a autora, encontrando
os sentimentos que vêm fazendo morada em todos nós,
nos caminhos da existência”.
Raquel Mendonça, nas primeiras páginas do livro “Cantar
de Amiga”, apresenta a autora ao leitor: “O seu caminho sempre
foi o das palavras, das lições, das letras a cultivar a língua portuguesa
e a literatura com generosas doses de amor, talento e conhecimento!
A maior Dama, sem dúvidas, da Cultura da cidade
e região: Yvonne de Oliveira Silveira!”.
Há algum tempo, reorganizando os livros que me vieram
do meu pai - Brasiliano Braz - deparei-me com um, já sem capa,
mas com o conteúdo perfeito, de autoria do saudoso Olyntho da
Silveira e de Yvonne Silveira: “Brejo das Almas”, edição de 1962.
Preciosidade em meu poder, cuja existência em meus guardados
desconhecia. Mandei encadernar.
Conversando com Yvonne Silveira, informou-me ela que
meu pai tinha sido amigo de Olyntho e dela, e trocavam correspondências,
artigos e livros, mas ao tempo dessa amizade não
me relacionei com eles. Não os conhecia. Relacionei-me com
eles muito depois.
Talvez por conviver entre analfabetos presunçosos, entre
pessoas que só valorizavam os bens materiais, meu pai não dava conhecimento público de suas relações culturais. Ele as mantinha
no silêncio de sua individualidade. Sobre ele disse Cândido
Canela: “As gerações futuras saberão admirar a obra e reverenciar
daqui a cem anos, ou mais, a memória de Brasiliano Braz”.
No Antelóquio do livro, como Olyntho Silveira designou
o Prefácio, ele esclarece ser “o segundo livro que traz o nome
de Brejo das Almas. O primeiro, de autoria do maior poeta do
Brasil contemporâneo – Carlos Drummond de Andrade – de
versos modernos, cuja filosofia, no estro inconfundível do vate
itabirano, não é de fácil interpretação. O segundo é este que o
leitor tem em suas mãos, infinitamente longe do conteúdo do
primeiro, nem só no seu estilo como na deficiência de substância
e no brilho das imagens.”
Mas o livro de Olyntho e Yvonne Silveira não é um livro
de poesias, nem mesmo de história. É um livro de crônicas, que
fixa histórias.
Olyntho Silveira descreve, no Antelóquio, fatos importantes
vinculados à História de Cruz das Almas das Catingas do Rio
Verde, Brejo das Almas das Catingas do Rio Verde, São Gonçalo
do Brejo das Almas, hoje Francisco Sá, e nos traz à lembrança o
intrépido Antônio Gonçalves Figueira, que foi também o fundador
de Montes Claros. Ele rebusca fatos a partir de 1760 e
descreve vivências históricas. Esses conhecimentos de natureza
histórica teriam aprofundado o relacionamento entre Olyntho
Silveira e Brasiliano Braz.
O livro “Brejo das Almas” é dividido em duas partes distintas.
A primeira, da lavra de Yvonne Silveira, e a segunda, de
Olyntho Silveira.
Yvonne, na primeira crônica, descreve a viagem de sua família,
pela estrada poeirenta e estreita, de mudança de Montes
Claros para o Brejo das Almas em 1929, a vila que “tinha muitos
defuntos”.
O livro nos leva a um refluxo para o passado. É salutar ler
e, lendo, relembrar tempos idos e vividos. Tempos de um passado
não muito remoto, mas que já tem um nome: saudade!
A vida das moças e dos rapazes em Brejo das Almas daqueles
tempos não era diferente da vida em São Francisco. As
duas cidades não possuíam luz elétrica, nem cinema, mas havia
bailes, de quando em quando, e as moças cantavam modinhas.
Naqueles tempos, os beijos dados ou vendidos não faziam nascer
meninos.
Recorda Yvonne Silveira os tempos da emancipação do
município com a mudança do nome para Francisco Sá. Difícil
de ser absorvido pela população e, por muito tempo, dizia-se:“Moro no Brejo”, “Vim do Brejo”, “Vou para o Brejo”. Até hoje
alguns francisco-saenses ainda falam, com orgulho: “Sou do Brejo”.
Mas, Yvonne Silveira é de Montes Claros.
___________________________
(*) Advogado e escritor. Membro da Academia Montesclarense de Letras, da Academia de
Letras, Ciências e Artes do São Francisco e da Academia de Letras, Ciências e Artes de Várzea
da Palma. Sócio da Associação Nacional de Escritores, do Instituto Histórico e Geográfico de
Minas Gerais e do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros.
___________________________
DONA YVONNE
ÍCONE DE CULTURA E SABEDORIA
Glorinha Mameluque
Esta é uma tarefa das mais difíceis a que me propus. Falar
sobre Dona Yvonne ou para Dona Yvonne é um grande
desafio, pois mestres e doutores a ela já se referiram, enaltecendo
a grande figura que ela é: verdadeiro ícone da nossa cultura.
Para ela, tudo parece pouco, sem expressão; faltam palavras
que consigam transmitir a riqueza da sua vida, dos seus feitos, da
sua personalidade. Deixo para os outros tão difícil tarefa.
Reservo-me apenas o direito de falar sobre a minha relação
com Dona Yvonne. Sempre ouço a maioria das pessoas se
referirem a ela como sua antiga professora. Não tive esse privilégio,
pois quando cheguei a Montes Claros, já havia passado essa
fase da minha vida. Minha história com Dona Yvonne começou
através das letras.
Quando escrevi meu primeiro livro, isto em 1997, sabedora
que ela era a Presidente da Academia Montesclarense de
Letras, achei por bem convidá-la para o lançamento, que foi
feito sem as honras de qualquer Academia, eu ainda neófita e
inexperiente nesse mundo novo que se abria para mim. Ela compareceu
atenciosa e usou da palavra com maestria como sempre,
comparando o meu livro “Memórias de um álbum de família”
em que mostrava as lutas, dificuldades e vitórias da nossa família
a uma peça “Álbum de família” de Nelson Rodrigues, que ao
contrário, mostrava uma família desequilibrada, eivada de paixões
incestuosas e perversões diversas.
Foi aí o meu primeiro contato mais próximo com Dona
Yvonne. Tempos depois, conhecendo minhas crônicas publicadas
semanalmente no antigo “Jornal do Norte”, convidou-me a
ingressar na Academia, o que protelei por alguns anos, porque
trabalhando durante o dia e estudando à noite, senti que não
poderia me dedicar a esse novo mister, como gostaria. Até que,
livrando-me de alguns compromissos, decidi aceitar o seu convite
e em 07 de agosto de 2002 tomei posse na Academia, ocupando
a cadeira nº 1, que tem como patrono o Desembargador
Velloso, Fundador o Dr. Antônio Augusto Veloso e 1ª sucessora
a Irmã Maria de Lourdes.
Como membro da Diretoria, estreitei os meus laços de
amizade e admiração com Dona Yvonne, espelhando-me nela
como minha madrinha e referência nas artes das letras. Daí para
frente foram muitas as nossas reuniões, quase sempre em sua
casa, onde eu podia me deliciar com um cafezinho fresco acompanhado
de biscoitos e a presença constante de seu Olyntho ao
nosso lado.
Em crônica publicada em 2002, registrei: “Enquanto
aguardo, me vejo envolvida num bate papo tão agradável com o
senhor Olyntho, que nem vejo a hora passar. Falamos do tempo
que está quente, da instabilidade das chuvas, das coisas que
mudaram, como se fôssemos velhos amigos e confidentes... a
prosa estava tão boa que até me esqueci que estava em pleno
expediente de trabalho e que havia gente me esperando no escritório.
E assim ficamos conversando, até que dona Yvonne veio
juntar-se a nós e a conversa continuou cada vez melhor. Saí dali
com a impressão de que, por alguns instantes eu deixara de lado
de fora a correria, o calor, o medo da violência, os perigos da
rua, os problemas da vida. E respirei, ao lado daquele casal tão
agradável, um clima de paz, de tranquilidade, de sabedoria, de
carinhosa acolhida tão difícil de encontrar hoje em nossos dias.”
(20/03/2002)
Nossa amizade foi se fortalecendo cada vez mais. Eu a ajudava
nos trabalhos da Academia e ela revisava alguns de meus
livros e textos. Perto dela sempre me vi como na narrativa bíblica:
O gigante (ela) e Golias (eu), tão pequena diante da sua
grandeza.
Tempos depois, sendo homenageada pelas “Amigas da
Cultura”, coube a Dona Yvonne falar sobre mim, grande honra a mim concedida. Guardo com carinho o seu discurso, desta vez
escrito, fugindo à regra dos seus brilhantes improvisos.
No ano do seu centenário, uno-me a tantos que querem
homenageá-la, desejando do fundo do meu coração que ela continue
com muita saúde e sempre iluminada por Deus, que já
derramou tantas graças e bênçãos sobre sua intensa vida. Sou
muito grata a Deus por ter colocado Dona Yvonne em minha
vida e por ter podido beber dessa seiva prodigiosa de sabedoria
e luz.
Parabéns, Dona Yvonne!
LADY YVONNE
Felicidade Patrocínio
Montes Claros é uma cidade feliz, assim deduzo apesar
de reconhecer problemas que requerem atenção e
ação.
Não é porque nela nasci que nela permaneço. Ou melhor
dizendo, tendo dela partido por um momento efêmero, a ela retornei.
Os irmãos se foram há muito tempo, em busca de maior
conhecimento, de oportunidades de trabalho e de espaços mais
amplos para afirmação nas profissões escolhidas. Venceram! Eu permaneci! De alhures ficam a acenar-me, chamando-me para
fazer-lhes companhia. Não fui. Questão de opção. Na inumerável
lista dos motivos que me fixam aqui e me fazem encantada
no seio desta metrópole, estão alguns montes-clarenses especiais.
Dentre eles destaco a presença e a exuberância de uma pessoa
encantadora aqui residente: Dona Yvonne de Oliveira Silveira.
Sim, refiro-me à meiga mestra, à Presidente da Academia
Montesclarense de Letras, à oradora que, no auge dos seus 99
anos de idade, se impõe solenemente no centro de uma mesa
oficial de importantes eventos culturais ladeada por autoridades
municipais, estaduais e nacionais e, de maneira eloquente e firme,
derrama no ar palavras eruditas e belas.
Observo, nos seus discursos de improviso e nas suas preleções,
erudição, profundidade e coerência. Com propriedade,
tem citado filósofos contemporâneos.
Esta mulher, Yvonne de Oliveira Silveira, guerreira da literatura
e da cultura da região, cuja presença por si só enobrece
qualquer evento, é senhora de uma simpatia e uma generosidade
sem par. Percebe-se no seu rosto, não obstante o longo percurso
vivido, a vitória da beleza e da saúde sobre o tempo inexorável.
Elegante no vestir, no pentear e no se apresentar, esta lady, ilumina
a sociedade que frequenta.
Lembro-me com alegria e gratidão desta presença quando
presidi a Associação dos Artistas Plásticos de Montes Claros.
O nome de Dona Yvonne sempre encabeçava a lista dos convidados
para os eventos promovidos, aos quais ela pontualmente
comparecia. Só se dava início ao cerimonial após a sua chegada,
pois, com a sua presença o evento ganhava importância e elevava
o seu nível.
Há três anos criei o Clube de Leitura Ateliê/Galeria, onde
já foram realizadas mais de duas dezenas de reuniões literárias.
A todas elas a grande mestra compareceu. Com muita animação
sobe as escadas, participa das discussões e, ao final, sempre profere
uma conclusão enriquecedora. Agradeço a DEUS e a ela por
tanta contribuição!
Dona Yvonne foi a companheira amorosa e infalível do escritor
Olyntho da Silveira, que já partiu à margem dos cem anos
de vida, bem vividos num relacionamento harmonioso e cheio
de afinidades, uma vez que o mesmo também era intelectual e
escritor. Dele cuidou carinhosamente nas suas carências físicas e
afetivas finais. Esta união exemplifica para todos, o verdadeiro
companheirismo nascido na fertilidade do amor.
Poemas belos e bem cadenciados brotam do coração sensível
desta lady e figuram em paginas de livros. Em outros livros
mais confirma a sua verve literária, assim como nos artigos dos
jornais, que ainda está a produzir.
Como professora de Português da Unimontes, também se
tornou inesquecível. Honrou e ainda honra cargos importantes
como a presidência das “Amigas da Cultura” e de outras instituições
culturais. Do seu labor atual também faz parte a presidência
da Academia Montesclarense de Letras e a presidência honorária
da Academia Feminina de Letras de Montes Claros, além do cargo
que ocupa na diretoria do Elos Clube, que já a homenageou
solenemente.
O seu carisma reporta-me às grandes ladies da história.
Quanto a admiro!
Então me pergunto: que cidade não ficaria aprazível se habitada
por ela? Ao mesmo tempo constato o quanto nos torna maiores e melhores tê-la no seio da nossa sociedade! O fato de
ter esta lady entre os habitantes de Montes Claros é um dos motivos
que me enchem de orgulho desta cidade.
Por isso, sempre que a vejo, silenciosamente agradeço a
Deus pela sua vitalidade e, sempre que tenho oportunidade, eu
digo de viva voz:
PARABÉNS, Dona Yvonne!
Quando eu crescer, gostaria de ser como você!..
YVONNE SILVEIRA
UMA LIÇÃO DE VIDA ATÉ NOS SONHOS
Luiz Giovanni Santa Rosa
Em 12 de Junho de 2002, no Canal 20 de Televisão, no
meu programa “PROSA E CUIA” - Página “Uma lição de
vida”, prestei uma homenagem aos namorados, entrevistando
uma mulher norte-mineira, cuja cultura, valores morais e
espirituais antecedem-na no palco das apresentações e justificam
as mais calorosas homenagens. Essa mulher, cujo nome é revelado
ao longo desta narrativa, em cada momento da entrevista,
me surpreendia, hora narrando um fato, emitindo um parecer ou revelando um acontecimento que marcou a sua vida; porém
o que mais me tocou foi o seu relato sobre o seu romance com
o seu saudoso e único namorado. Esse namoro, que se estende
além da morte física, completa agora no coração da entrevistada,
oitenta e seis anos; aqui cabe parafrasear Camões: “Para tão
longo amor... tão curta vida”. Aquela entrevista, para mim sui
generis foi motivo de uma reflexão que me acompanhou no resto
daquele dia, além do que, à noite a entrevistada se fez presente
em meus sonhos. Sonhei que em Montes Claros realizava um
concurso alusivo a “conhecimentos gerais” e o tema sorteado
foi NAMORO, devendo ser observadas as seguintes particularidades:
Seriam feitas duas únicas perguntas; para as quais as
respostas deveriam ser obviamente certas e dadas de forma enigmática.
A primeira pergunta foi: “Qual o nome do homem mais
importante no planeta terra e que a historia não registra que o
mesmo teve uma namorada?
O único candidato a dar a resposta era natural da cidade
de Grão Mogol e de forma enigmática respondeu: o nome deste
homem está na minha profissão, que também é o meu nome. A
mesa julgadora, não obstante ser composta por sete confrades
do IHG de Montes Claros, não conseguindo decifrar a resposta
enigmática, pede ao candidato para esclarecê-la. Este ao entregaràquele conselho a sua carteira de identidade, informa: Eu
ganho a vida fazendo presépios, inclusive participei da armação
do presépio de Grão Mogol. Na cédula de identidade daquele
homem lia-se o seu nome, ARMANDO NASCIMENTO DE
JESUS. Nada a questionar, a história não afirma que Jesus teve
uma namorada. A segunda e última pergunta foi esta: Qual o
nome da mulher norte-mineira que teve o namoro mais longo?
Cinco homens aproximaram-se do júri e um deles disse àquele conselho: As nossas nacionalidades juntas formam o nome desta
mulher. Estavam diante do júri quatro romanos e um inglês, ou
seja: IV (quatro em algarismo romano) e ONE (um, em inglês);
juntos formam o nome (IVONE). Aplauso generalizado. No dia
seguinte, às sete horas, o meu telefone me acorda, era Dário
Cotrim me cobrando o meu depoimento que será usado pelo
IHG nas comemorações do centenário de Dona Ivone Silveira.
Aquele testemunho ainda não estava pronto; o que fazer? Uma
oportuna intuição veio me socorrer: Transcrever o que sonhei
seria o meu depoimento, visto que nem todos conseguem ser o
que Dona Yvonne é: UMA LIÇÃO DE VIDA ATÉ MESMO
EM NOSSO SONHO. Parabéns, musa centenária!
YVONNE SILVEIRA
UMA ETERNIDADE
Edson Andrade
Muitos têm a memória, mas poucos, como eu, o privilégio
de tê-la, em pleno Século XXI, de modernidades,
tecnologia e insensatez, como amiga, professora e confreira.
Fui seu aluno nos longínquos anos 68-70, na Escola Plínio
Ribeiro de tantas glórias e saudades. Ali, dentre inúmeros ensinamentos
e lições de vida honrada e digna, recebi o melhor e
maior elogio, como pretendente a escritor: a mestra, desconfiada de que não fora eu o autor de uma redação, atribuiu-me nota
sete e disparou: “da próxima vez, faça seu trabalho sozinho”. Era
integralmente meu o texto, daí minha revolta inicial pela injustiça.
E o orgulho do reconhecimento pela via inversa.
Yvonne de Oliveira Silveira, de família de intelectuais dos
rincões de Francisco Sá é uma dessas pessoas a marcar a vida e
a história de uma região. Professora renomada, criadora não solitária
da Fundação Universidade do Norte de Minas – FUNM
e da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras – FAFIL, tem seu
nome indelevelmente cravado nas glórias educacionais deste estado
e do nosso Brasil, pela sua militância inarredável nas hostes
dos que se perfilaram e ainda perfilam pela defesa da melhor
Educação Brasileira.
Como escritora, já nos legou livros memoráveis em prosa
e verso. Certamente, com sua inteligência, vivacidade, lucidez e
amor à vida, ainda nos reservará surpresas editoriais do conjunto
do seu enorme talento e conhecimento em literatura e língua
portuguesa.
Fui seu aluno, novamente, no curso de Letras da FAFIL,
a partir de 1975. Eu era ainda um menino imberbe, ingênuo e
idealista. Pobre e a caminho de um casamento precoce, vivi o
sonho de ser alguém na vida, eu, que já cometia meus poemas e
textos em prosa. Com Dona Yvonne, fortaleci minha voracidade
pela leitura de tudo e de todos os autores bons do meu país. E
cresci na volúpia do prazer literário.
Certo dia, em sala de aula – eu sempre chegava atrasado,
porque pedalava velha e inseparável bicicleta o dia inteiro – entusiasmado
além do meu normal, pois sempre tivera como minha
a característica da formalidade, eis que arrisco dizer a ela, à
mestra gloriosa que, “um dia, serei membro da Academia Montesclarense
de Letras.
A então professora de Literatura Portuguesa sorriu e desejou-
me sorte. Anos depois, precisamente em 1984 – a seu convite – tomei posse da Cadeira 36 daquela egrégia Academia. Era
a glória do menino órfão de pai e pobre de todas as providências
materiais.
O tempo passou e já não sou mais o mesmo sonhador.
Aprendi que a vida somente ensina caminhos para quem tem
pernas e força no caminhar. Aprendi, no exemplo da mestra maravilhosa,
que a dignidade e a honradez precisam ser binômio
natural no traçado sinuoso, fértil, mas finito de nossa quase improvável
existência.
Minha mãe, a primeira, partiu para a eternidade de minha
memória. Com ela, o aprendizado básico e necessário ao bom
conduzir-se com urbanidade e honradez. Além, é claro, do alimento
escasso e das noites insones, motivadas pela fome, forja
de minha têmpera e do orgulho de me ter tornado melhor.
Yvonne Silveira centenária: eis nossa homenagem. E que
ela nos brinde com aulas de saúde, lucidez, dignidade, amor à
vida e vaidade, pelos próximos cem. Qual Narciso a mirar sua
beleza nas águas plácidas e cristalinas, para se comprazer. E mais,
para se renovar a cada nova imagem refletida no firmamento do
seu amor ao belo e à convicção de que a silhueta poderá, um
dia, desaparecer, mas JAMAIS a gloriosa mensagem contida na
eternidade do que é digno, honrado, belo e bom.
TOQUEMOS OS SINOS
EM CELEBRAÇÃO DO CENTENÁRIO
DE YVONNE SILVEIRA
Dóris Araújo
“Toda a nossa vida é uma
primavera, porque temos em nós
a verdade que não envelhece
e essa verdade anima
toda a nossa caminhada.”
(Cirilo de Alexandria)
Yvonne Silveira, antes de tudo mestra... no sentido amplo
da palavra, que dos seus feitos não se vangloria, de cultura
inigualável, de plena sabedoria.
Minha professora na antiga Faculdade de Filosofia Ciências
e Letras –FAFIL / FUNM, atual UNIMONTES.
Foi ali, no interior daquele casarão, que tive a grata satisfação
e a honra de conhecê-la, em 1980... ano em que me ingressei
no curso de Letras daquela Faculdade, onde ela era professora
titular de Literatura Portuguesa e Teoria da Literatura.
A professora Yvonne Silveira sempre foi uma figura ímpar.
Sua energia e dinamismo nos impressionavam. Personalidade
marcante na vida de todos nós, seus alunos.
Nos fez empreender viagens magníficas pelo universo literário
dos grandes escritores e poetas.
Nossa grande incentivadora nas artes da declamação e da
escrita.
Por seu intermédio conheci o saudoso João Valle Maurício,
escritor e poeta, autor de vários livros de prosa e dos mais
belos poemas sobre Montes Claros, e pelo qual, eu, desde menina,
nutria profunda admiração e respeito.
Atendendo a seus convites, ainda na faculdade, apresentava-me nos mais importantes e significativos eventos culturais de
nossa cidade, muitos deles promovidos pela Academia Montesclarense
de Letras, da qual dona Yvonne era membro.
Ao longo do tempo, nosso vínculo de amizade foi crescendo, amadurecendo e consolidando– se.
Em 1989, nossa mestra maior, Yvonne Silveira, torna-se
Presidente da Academia Montesclarense de Letras, cargo assumido
com dedicação e compromisso.
Em 1996,com seu apoio, lancei o meu primeiro livro, “A
Dança das Palavras”, obra agraciada em 1997 com o “Prêmio Cultura”, do Jornal de Notícias, através da coluna da Jornalista
Márcia Sá, “Gente, Empresas e Negócios”.
Em seguida, também com seu aplauso, pleiteei, com sucesso,
uma cadeira na Academia Montesclarense de Letras, tornando-nos assim, além de amigas, confreiras.
Em 2002, a presidente da Academia Montesclarense de
Letras, Yvonne Silveira, ilustra mais uma vez a minha história,
prefaciando com beleza e generosidade o meu segundo livro,
intitulado “Canção do Amanhã”.
A professora Yvonne é mesmo uma pessoa extraordinária,
dotada de memória e cultura fabulosas. Referência máxima nos
meios intelectuais de nossa sociedade.
Sócia de várias entidades e instituições, como: Rotary Clube
Sul, Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, Academia
Municipalista de Letras, entre outras.
Fundadora da Associação ‘Amigas da Cultura’ e da Academia
Feminina de Letras de Montes Claros.
Continua como presidente da Academia Montesclarense
de Letras, onde atua com brilhantismo.
Recebeu inúmeros prêmios literários, homenagens e títulos,
por merecido reconhecimento ao seu valor e à sua infatigável
luta em prol da cultura.
Em 30 de dezembro, deste ano, a ilustre e querida mestra
completará cem anos! Uma vida longa e prodigiosa. Vida iluminada
e iluminadora.
A nossa notável professora, aos cem anos de idade (tomando
emprestadas as palavras de S. Catarina de Sena), “tem um
coração de criança e uma coragem indomável de viver.”
Esses cem anos reduziram a audição da nossa mestra; contudo,
não enfraqueceram sua fala, que conservou-se firme, clara,
ativa e vigorosa, com a sonoridade própria da voz da Yvonne de
antanho.
Esses cem anos não diminuíram o brilho dos seus olhos,
tornaram seu olhar mais aguçado pela luz das virtudes conquistadas;
não tiraram da dona Yvonne sua lucidez, ao contrário,
enriqueceram-na com experiências, vivências e conhecimentos,
avivando e tornando ainda mais prodigiosa sua memória.
Em absoluto, esses cem anos não fragilizaram o seu coração;
aprimoraram os seus sentimentos, conservando sua integridade
com a energia rejuvenescedora do amor.
Amor à cultura, aos amigos, à família, amor indestrutível
ao esposo Olyntho Silveira...
E amor a Deus, sobre todas as coisas.
Os cem anos de Yvonne Silveira, definitivamente, não significam
velhice. Eles significam fundamentalmente sabedoria
adquirida, virtude que atua como poderoso elixir de rejuvenescimento
do espírito.
Toquemos os sinos, todos os sinos... e celebremos o centenário
dessa nobre e admirável Mulher. Toquemos os sinos em
louvor...
INTELECTUAIS
POUCO ENVELHECEM
DONA YVONNE, MUITO MENOS...
Itamaury Teles
Na milenar cultura ocidental, longevos cidadãos são muito
respeitados como sábios conselheiros. Há séculos,
eles vêm desafiando a lógica e derrubando antigo mito
segundo o qual a perda da memória e da capacidade intelectual é
condição irreversível da idade. O segredo de tudo está na prática
diária da meditação, que exercita o hábito de pensar.
Embora se saiba de seus grandes benefícios, a meditação é
pouco difundida na cultura ocidental, inclusive no Brasil. Talvez por isso, os idosos aqui sejam tão desrespeitados e tratados como
um peso social e familiar, com raras e honrosas exceções.
Não obstante esta constatação, também por aqui há pessoas
que se mantêm ativas em seu meio, não dando importância
ao peso da idade. Normalmente são intelectuais, que se mantêm
rejuvenescidos por exercitarem algo similar à meditação oriental:
praticam constantemente o pensar. Para estes, lugar de velho
nem sempre é no asilo, mas na ativa participação social com o
produto de suas atividades intelectuais.
No campo das letras, em especial no comando de Academias,
podemos relacionar três exemplos emblemáticos de como
o exercício mental sistemático contribui para uma longevidade
saudável: Austregésilo de Athayde presidiu a Academia Brasileira
de Letras durante trinta e cinco anos, de 1958 até 1993,
quando morreu, aos 94 anos; Vivaldi Moreira só abandonou a
presidência da Academia Mineira de Letras morto, aos 88 anos,
tendo-a comandado de 1975 a 1997; e Yvonne de Oliveira Silveira,
já com 99 anos, que continua - por merecimento - firmeà frente da Academia Montesclarense de Letras, faz mais de 29
anos. Agora, por iniciativa do escritor Petrônio Braz, a ela será
também conferido o título de Presidente Vitalícia do sodalício.
O escritor Olyntho da Silveira, marido da Dona Yvonne,
que se encantou, lúcido, beirando os cem anos, é outro bom
exemplo. Lia e escrevia com regularidade. O mesmo ocorre com
a escritora Ruth Tupinambá Graça: aos 97 anos, lépida e participante
dos acontecimentos culturais, continua a nos brindar com
excelentes artigos memorialistas, que os enfeixa, de quando em
quando, em elogiados livros.
O advogado Sobral Pinto, destacável figura que se notabilizou
defendendo corajosamente os perseguidos políticos peladitadura militar instaurada em 1964, também morreu trabalhando
o seu intelecto, aos 98 anos – e tomando sua dose diária
de cachaça. Publicou livros, fez palestras, defendeu de forma intransigente
seus princípios e ideais e tornou-se profissional paradigma
para muitos advogados brasileiros.
O ex-presidente da República, Fernando Henrique Cardoso,
um intelectual que pediu para que seus escritos não fossem
considerados enquanto durassem seus oito anos de mandato,
saltita como jovem, do alto dos seus 82 anos recém completados,
brandindo estandarte e tecendo loa à descriminalização
da maconha. Até hoje, é ouvido por políticos e empresários em
palestras no Brasil e no exterior.
De acordo com estudos científicos no campo da Medicina,
o exercício regular do cérebro é prática eficaz para inibir o
envelhecimento intelectual, mantendo ativo o processo relativo
ao conhecimento, de forma ampla, envolvendo percepção, memória,
juízo e raciocínio.
A Organização Mundial de Saúde considera essencial para
um envelhecimento ativo, ao lado de uma alimentação saudável,
a prática regular de exercício físico e a estimulação cognitiva,
porquanto o cérebro, como qualquer músculo, necessita
ser exercitado. O gosto pela leitura de livros e jornais, a escrita
sistemática, as palavras cruzadas, a meditação, os exercícios de
matemática e de lógica, por exemplo, são atividades eficazes para
essa estimulação cerebral.
Em sentido oposto, pessoas com preguiça mental, que julgam
já terem cumprido o que lhes competia fazer nessa existência,
naturalmente tendem a envelhecer de forma mais célere
e, às vezes, precocemente. Distanciam-se da realidade e vão-setornando meras máquinas cujas engrenagens se deterioram pelo
não uso da sua capacidade cognitiva e criativa. É como se pedissem
para serem substituídas. Por absoluta obsolescência...
Dona Yvonne, ao contrário, sábia como é, não deixa a “peteca
cair”. Tem planos para o futuro, quer continuar fazendo palestras
sobre literatura em escolas, exigindo-me, sempre - como
secretário geral da Academia Montesclarense de Letras -, uma
nova edição da nossa revista... E para os acadêmicos que cobram
eleição no sodalício, que tão bem dirige, sentencia, com voz firme
de adolescente: - Podem convocar eleições. Serei candidata...
_______________
(*) Escritor, jornalista.
_______________
PELOS CAMINHOS DA VIDA!...
Maria do Carmo Veloso Durães
“Encontramos as pessoas por acaso, mas não é por
acaso que elas permanecem na nossa vida.”
Cresci escutando os meus pais falarem sobre a nossa família,
assim íamos conhecendo cada um, como se tivéssemos
com eles convivido. Lembro-me do tio Chico,
Francisco Durães Coutinho, irmão mais velho do meu avô, Cesário
Durães Coutinho (pai do meu pai, Cesário de Quadros
Durães), como se eu o tivesse conhecido e tido com ele uma ampla convivência. Na verdade, essa documentação oral sobre
família é tradição na nossa família e isso é bom, porque conhecemos
os nossos antepassados há várias gerações. Ainda criança,
quando eu saía pela cidade com o meu pai, ele me mostrava os
lugares onde morava a sua família, então eu sabia que a residência
do tio Chico era bem próxima à Praça Dr. Chaves (Praça da
Matriz) e a prima Regina, sua filha, morava na Praça Dr. Carlos
Versiani (Praça do Mercado), propriedade que ocupava todo o
quarteirão, entre a Praça Dr. Carlos e a Rua Padre Augusto. O
marido da prima Regina, Francisco Peres, possuía uma casa comercial
em frente à praça e, conforme a descrição do meu pai,
no restante do terreno ficava a residência deles, com um grande
quintal com muitas árvores.
Dona Yvonne de Oliveira Silveira entrou na nossa história,
quando minha irmã, aluna na Escola Normal (E. E. Prof. Plínio
Ribeiro), me contou que a sua professora de português era
nossa parenta, pois na primeira chamada, na sala de aula, ela se
identificou, dizendo a ela: “Somos parentes, pois eu também sou
Durães”. Eu não me lembro do meu pai ter citado o nome de
Dona Yvonne, mas ele falava sobre os avós, pais, tios e primos
dela. Como as pessoas vão perdendo e ganhando nomes de família
pelos caminhos da vida, não poderíamos nunca identificá-la
como parente, se o seu nome de família é “Oliveira”. Com o
tempo, descobrimos que ela era bisneta do tio Chico, de quem
o meu pai falava com tanto carinho, filha da prima Cândida
(China) e neta da prima Regina (Sinhá, Zizi), também nossas
conhecidas, pelas sábias palavras do meu pai. As famílias vão se
multiplicando e é sempre possível encontramos parentes entre
os nossos amigos, colegas, vizinhos, alunos, professores e até entre
os desconhecidos, que passam pela nossa vida.
A minha irmã sentia uma grande admiração por Dona
Yvonne que, além de excelente professora de português, era também
uma excelente poetisa. Um dia chega da escola, recitando,
com muita eloquência e entusiasmo, um comovente poema dela.
Fiquei muito impressionada, adorei aquela “Linda Mentira”! E
assim, pelas referências da minha irmã e pelos seus poemas, eu
fui conhecendo essa pessoa maravilhosa e logo me identifiquei
com ela, pois eu também gostava de escrever. Imitando os poetas
dos livros didáticos, eu ia fazendo os meus poeminhas infantojuvenis
e, aos quatorze anos, respondendo àquele poema tão declamado
pela minha irmã, escrevi um poema dedicado à prima
Yvonne, “Árvores da Vida”.
O tempo foi passando e eu comecei o curso superior na
FAFIL - Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, onde tive o
prazer de ter, como professora de Literatura Portuguesa, a querida
prima Yvonne. Assim passei a conhecê-la também como educadora,
uma grande Mestra, sempre amiga e pronta a orientar
voos intelectuais, pois prestigiava os seus discípulos, incentivando-os na busca do conhecimento. Ela ensinava com o mesmo
amor que percebíamos que ela tinha pela cultura. Ampliando a
nossa convivência, eu, ainda estudante, trabalhei em uma escola,
onde ela era sócia e professora e, dessa forma, os nossos caminhos
estavam sempre se cruzando.
Um dia mostrei a ela um meu poema e ela me pediu uma
cópia e, para minha surpresa e alegria, alguns dias depois vi esse
meu poema publicado na “Página Literária” do Diário de Montes
Claros, coordenada pelo Dr. João Valle Maurício, abrindo
caminho para outras publicações, também no Jornal de Montes
Claros, com a valiosa atenção e apoio de Dona Yvonne e do seu marido, Olyntho Silveira. Naquela época, participei dos festivais
de poemas “Fespoema” desse Jornal, o que possibilitou o meuencontro com outros jovens escritores, nascendo em Montes
Claros o movimento literário “Catibum”, do qual fui secretária.
A vida foi seguindo o seu curso e, assim que terminei a
faculdade, Letras Português / Francês, fui para Belo Horizonte,
onde ingressei na UFMG - Universidade Federal de Minas
Gerais, para fazer novamente um curso de Letras, desta vez,
Inglês e Teoria Literária, que a FAFIL ainda não oferecia aqui.
Assim perdi, temporariamente, o contato com Dona Yvonne,
mas sempre tinha notícias dela. Depois de alguns anos retorno a
Montes Claros, ingressando-me, como voluntária, em algumas
entidades sociais, mas um pouco distante da vida cultural da
cidade. Passado algum tempo, com o valioso apoio dos amigos,
Luís Carlos Novaes (meu ex-colega do Catibum) e Angelina
Antunes, começo publicar textos em prosa e verso no Jornal de
Notícias e, logo depois, também com o valioso apoio do amigo
Aroldo Pereira, começo participar do Psiu Poético, publicando,
posteriormente, minhas poesias em suas antologias poéticas, coordenadas
pelo amigo Jurandir Barbosa. Assim, aos poucos, fui
me entrosando com o meio cultural, mas, mesmo divulgando os
meus escritos, ainda não havia me aproximado das outras entidades
culturais da cidade. Um dia, numa agradável surpresa, recebo
o telefonema de Dona Yvonne, convidando-me a ingressar
na “Academia Feminina de Letras de Montes Claros”, que estava
sendo fundada por ela. Senti-me honrada com o seu convite e,
desde então, além de primas, amigas e colegas de magistério,
passamos a ser também confreiras.
Recomeçamos uma estreita convivência e, acompanhando
-a aos eventos culturais da cidade, descubro essa sua outra face: o seu amor à vida. Tenho aprendido muito com ela e, às vezes,
até brinco, citando o título do filme “Ensina-me viver”, pois é
contagiante essa sua alegria de viver! E parece que ela sempre
teve esse gosto pela vida, pois, conforme ela mesma já me revelou,
era uma criança travessa, que curtia bem a vida. Sempre
viveu com intensidade e teve uma infância feliz! Já me contou
que gostava de subir naquelas árvores, descritas pelo meu pai, no
grande quintal da casa dos seus avós, hoje centro comercial de
Montes Claros.
Há pessoas que passam pelo nosso caminho e marcam a
nossa vida! Dona Yvonne sempre esteve presente, mesmo quando,
temporariamente, nos distanciamos. Além dos eventos culturais,
tenho acompanhado outros momentos da sua vida e cada
vez mais cresce a minha admiração e amizade por ela. Às vezes
pessoas até me perguntam se ela é a minha mãe e ela, brincando,
já me disse para confirmar. Essa convivência com Dona Yvonneé sempre muito gratificante! Ela é otimista e vive intensamente
cada minuto com sabedoria! Sabe enxergar o lado bom da vida!
Dona Yvonne é uma sábia Mestra, também nessa maravilhosa
Arte de Viver!
YVONNE SILVEIRA
A JOVEM DE CEM ANOS
Maria de Lourdes Chaves
Jovem, conforme o dicionário Houaiss, “É aquele que apesar
da maturidade, conserva a vivacidade, a energia, a flexibilidade
e certa inocência que caracterizam os jovens”.
Além de merecedora de todas as homenagens que lhe são
prestadas por sua total dedicação à cultura, ela tem grande predileção
pela seresta. Na letra do Hino a Montes Claros, ela destaca
o seresteiro quando fala: “Tu és a cidade consagrada pela voz dos
teus bardos e cantores”. Já Clarice Sarmento, como autora da música do hino, ressalta a palavra “voz”, conferindo-lhe o ornamento
que exalta palavra e a destaca dos outros.
Yvonne é jovem porque seu espírito é tudo isso. Ela se arruma
como uma adolescente sem, chegar às raias do ridículo.
Comparece a todas as reuniões oficiais quando convidada.
Faz discursos. Ela está se tornando a oradora oficial dos eventos.
Em sua fala, discorre com propriedade, chegando num texto escorreito,
sobre qualquer assunto.
Parabéns Yvonne, parabéns Montes Claros por abrigá-la,
qual pássaro em suas douradas asas.
YVONNE SILVEIRA
UMA ESTRELA QUE BRILHA
Maria Ruth das Graças Veloso Pinto
Há quem diz, com boas pessoas muito se aprende, pois
elas despertam sonhos e deixam boas lembranças. E assim
acontece como, o que se diz a música: “Fica sempre!
Um pouco de perfume! Nas mãos que oferecem rosas! Nas
mãos que sabem ser generosas!”
Essas filosofias me transportam para a pessoa de Dona
Yvonne, pois ela é assim: generosa, e feita de pura simpatia.
Mas, a que mesmo compará-la? Um grande Jequitibá? Um
notável Cipreste? Uma atriz influente? Uma renomada cantora?
Bem se vê que é preciso conhecê-la, com mais, vigor.
É notório dizer que ela é feita de ideais, palavras, poesia,
conhecimentos, os quais são partilhados com todos. O brilho, a
energia, a fluência ao discursar dão à sábia mestra, Yvonne Silveira,
uma marca registrada de profissionalismo, e de competência,
exemplar. O que nos permite chamá-la carinhosamente de batalhadora
incansável, de valorosa guerreira! Seus ensinamentos,
suas reflexões, seus belos discursos, brindam-nos sempre com assuntos
diversos, e estes são por ela, cuidadosamente explorados.
Como aluna, amiga, confreira da Academia Montesclarense
de Letras, tenho com ela aprendido muito, pois os seus feitos
nos fazem entender e refletir sobre o bem viver adquirindo, conhecimentos
e valores, que nos levam a crescer de forma mais
consciente.
Creio que não só para mim, mas para tantos, um dos grandes
ensinamentos, que dela aprendemos, é que devemos estar
sempre no campo de batalha. Pois ela, apesar de tantos desafios,
nunca embainhou as armas. É altiva e vigorosa, frente a Academia
Montesclarense de Letras.
Tem assim revelado com atitudes e boas ideias, que o tempo
tem tempo, para ensinar ao tempo, o saber.
Como o saber se alegrar ao comemorar o seu centenário,
com poesia na mão, no bolso, na cabeça e no coração! Assim
como a primavera, num reino encantado, dando flores para o
outono. Miosótis, margaridas, dálias brancas, amarelas, vermelhas,
sem deixar de fora, as perfumadas rosas. Porém, o notável é ver e saber que ela vivencia essas emoções, e se prepara para
receber e acolher esse abraço carinhoso, daqueles que a homenageiam.
Portanto para quem não a conhece, Dona Yvonne, é essa
nobreza personificada. O amadurecimento dignifica o seu semblante.
Um sorriso meigo, um olhar sereno, emolduram- lhe o
rosto. E para realçar a beleza, tem os cabelos, levemente organizados
num distinto coque à francesa.
Muitos títulos poderiam ser dados a ela: escritora, professora,
mãe, esposa, amiga, conselheira, presidente da Academia
Montesclarense de Letras.
Sabemos ainda, que no processo educativo da vivência,
as palavras só têm sentido se acompanhadas de exemplos. E ao
olhar o ontem, e o hoje, de dona Yvonne, vemos e sentimos que
ela não levou e nem leva a vida, a toque de caixa, mas sim com
uma postura de digna filha de Deus! O seu papel de cidadã do
mundo é exercido por ela com maestria. E neste contexto de
estar presente como protagonista, abrindo caixas surpresas, ora
com palestras, ora com livros, ora com fecundas ideias, a levar
sonhos, que vão cativar ideais, vai indo a sonhadora Yvonne,
descendo e subindo degraus na escalada da vida, carregando no
dorso a vida bem vivida.
E é assim, que de quando em quando, nos momentos festivos,
um baú é aberto, e lá vem, história...
O trem da alegria chega junto, apitando, barulhando, cantando,
festejando e a magia surpreende a todos, com risos, sonhos
e liberdade. Vai assim manifestando a cultura, simples e
profunda ao mesmo tempo.
Lá vem a senhora, menina,
Lá vem a menina, senhora!
Com meigo sorriso,
Com um olhar, profundo!
Traz nas mãos abertas,
Uma caixa dourada,
Amarrada com fita,
Com laços de lado.
De longe, vem vindo, ela,
Como uma caixa surpresa,
Para mostrar a riqueza,
Que há dentro dela.
Assim é dona Yvonne,
Como uma história
De risos e dores. De amor e vida!
A se revelar, nos palcos da vida!
Parabéns, Dona Yvonne!
Por esta data, outonal
Alegres celebramos os seus cem anos,
Pois, você é impar, sem igual!
MÃE E MESTRA
Maria Ilca Terence de Noronha
Este ano de 2014 iniciou-se com as comemorações
do centenário de Dona Yvonne de Oliveira Silveira,
uma das grandes intelectuais de Montes Claros.
Falar de Dona Yvonne, é bailar com as palavras para reverenciá-la como merece. Casada com Olyntho Silveira, viveu quase
setenta e seis anos de feliz união até a sua morte em março de
2009. Por isso, vive até hoje, saudosa do seu eleito.
A sociedade montes-clarense presta com muito carinho,
júbilo e gratidão homenagens a esta grande dama, que muito
contribuiu e contribui para o desenvolvimento cultural e social
da nossa cidade e de toda Minas Gerais.
Foi professora efetiva de Português na escola estadual Professor
Plínio Ribeiro e na faculdade de Filosofia, Ciências e Letras,
hoje Unimontes, lecionou Teoria da Literatura e Literatura
Portuguesa.
Membro da Academia Montes-clarense de Letras, ocupa a
cadeira 16, cujo patrono é seu pai, Antônio Ferreira de Oliveira,
da qual é presidente há muitos anos. Fundou a Academia Feminina
de Letras de Montes Claros, sendo sua presidente de honra.
Membro da Academia Municipalista de Letras de Minas
Gerais e das Amigas da Cultura de Belo Horizonte, foi
uma das fundadoras das Amigas da Cultura de Montes Claros,
onde também é presidente de honra. E não termina por
aí, é também membro do Instituto Histórico e Geográfico
de Montes Claros e sócia do Elos Clube de Montes Claros.
Recebeu inúmeras e merecidas homenagens ao longo de seu
portentoso sucesso como amante das artes e das letras:
- Medalha JK, governo do estado.
- Cidadã benemérita de Montes Claros, pela Câmara Municipal.
- Cidadã benemérita de Francisco Sá,título outorgado pela
Câmara Municipal.
- Medalha Lília Câmara, pela Sociedade Amigas da Cultura.
- Recebeu também homenagens dos Rotary Sul, Leste e de
Montes Claros.
- Troféu Yvonne Silveira, instituído pela Academia Feminina
de Letras de Montes Claros.
- Medalha de Honra do Elos Internacional.
- Medalha de Homenagem pelos cento e cinquenta anos
de Montes Claros.
- Caneta de ouro pela Academia Montesclarense de Letras.
- Homenageada também foi pela Universidade Estadual
(Unimontes).
Dona Yvonne, sempre em busca de conhecimentos, procura
informar-se do no tempo, que também é o seu. Nesse âmbito
da sua intelectualidade, ainda escreve poesias, crônicas, sonetos,
memórias e vários livros. Entre as obras publicadas se destacam:
Montes Claros e Brejo das Almas, em parceria com seu amado
Olyntho Silveira e “Cantar de Amiga”, no qual muito me
surpreendeu e envaideceu com o lindo poema “Mãe e Mestra”.
Obrigada Dona Yvonne, parabéns pelo seu centenário!
____________________
Acadêmica da Academia Feminina de Letras de Montes Claros. Cadeira 39, tendo como
patrona, Júlia dos Anjos Siqueira. Fundadora da cadeira, Maria Celestina Ferreira, minha
patrona, da qual sinto muito orgulho!”
___________________
O VALOR DA PALAVRA
Zoraide Guerra David
Refletindo sobre a importância da palavra - marco indelével
- a Academia Montesclarense de Letras reveste-se de
sabedoria ao homenagear Yvonne de Oliveira Silveira, a
Presidente, comemorando seu centenário de vida, através de
uma Antologia.
O Gênesis, cap. 1, informa-nos a criação do Universo,
usando a expressão: “Deus disse”, repetidas vezes. A palavra do
Criador gera, transforma, define. Evidencia a responsabilidade
conferida ao ser humano, permitindo-lhe expressar-se pela palavra. Falada ou escrita, ela enseja-nos manifestar nossos sentimentos
e ideias no processo da comunicação social.
Esta Antologia contém homenagem digna e justa à escritora
Yvonne. Os participantes louvam sua inteligência, fé, amor,
coragem, perseverança, dentre outros dons, como causa de tão
amplo relacionamento social e armas defensivas contra comodismo
e depressão.
Seu livro Cantar de Amiga, avaliza essas considerações,
porque enquanto pela amizade ela forma seu patrimônio vivencial,
pela palavra, externa sua cultura, calor humano, gratidão.
Lega aos leitores depoimentos poéticos que se perpetuam e podem
ser utilizados como fontes de pesquisa histórica.
A educação e cultura constituem elementos formadores,
de um rico currículo. Seus pronunciamentos são admiráveis,
regados a conhecimento e lucidez. Professora e escritora, tem
ocupado vários cargos, recebendo títulos e homenagens. Suas
crônicas e poesias são veículos que transportam o leitor ao domínio
da ternura, harmonia e paz!
Dentre minhas obras literárias, o prefácio de Três Vezes
Poesia - em parceria com Patrício Guerra - meu pai e Zoraya
Guerra David - minha filha; o posfácio de Patrício Guerra:
Vida e Obra, e, a apresentações de Deixa a Luz do Céu Entrar
na sessão de seu lançamento, confirmam sua versatilidade, traduzida
num só vocábulo: talento.
A poesia de Patrício Guerra - sócio correspondente da Academia
Montesclarense de Letras, saudando os sócios efetivos na
década de sessenta, atesta nossas colocações:
SAUDAÇÃO A MONTES CLAROS
Quizera da inspiração
Um dos lampejos mais raros
E repleto de emoção
Para saudar Montes Claros
............................................
Imploro neste momento
Que a musa não me abandone
Para louvar o talento
Da bondosa D.Yvonne
Mortugaba_BA 18/10/1969
Nossa convivência na E. E. Prof. Plínio Ribeiro, FAFIL,
reuniões da AML, IHGMC e visitas amigas recíprocas, inspiraram-nos presentes poéticos.
Em CANTAR DE AMIGA, à pagina 165 seu poema
AMOR E FÉ é um brinde à minha alma! E, ao ensejo da comemoração
dos seus 99 anos, durante a confraternização da AML,
dediquei-lhe este acróstico:
Yvonne é singular!
Valoriza Montes Claros
Oralmente ou na grafia.
Nosso reconhecimento!
Nesta data confirmamos:
Ela é “mulher-poesia!”
O valor da palavra é inegável, pois como veículo de comunicação
humana, registra momentos e pessoas que com gratidão
e justiça, eternizamos.
A FILHA DO FARMACÊUTICO
Karla Celene Campos
O vento que sopra por lá me conta histórias. Das antigasé que gosto mais. Histórias antigas ficam encantadas.
Encantadas, tornam-se eternas - o tempo não as desfaz.
Todos os ventos sabem histórias.
O vento do Brejo das Almas sabe histórias do Brejo das
Almas. Foi ele que me contou a história do meu tio-avô.
Por certo tempo, meu tio-avô - um dos filhos do fundador
do lugar - foi morar em São Paulo. Ao retornar à terra natal, a
filha do farmacêutico já morava lá.
A garota - vinda com a família das promissoras terras dos
Montes Claros - tinha, então, 14 anos da mais pura mocidade.
E um brilho inteligente no olhar.
O coração do meu tio-avô decretou na hora: apaixonado!
Para ela escreveu sublimes poemas de amor. Versos retirados
das entranhas, lapidados com suor.
Não foi difícil à filha do farmacêutico corresponder aos
sentimentos do jovem enamorado. Com jeitinho, se desviou do
rumo traçado pelos pais: os estudos em Montes Claros, privilégio
das moças educadas de então, para ficar por lá. Assim, fez
opção pela terra do eleito, terra primitiva, tão docemente atrasada
quando comparada à promissora cidade onde nascera.
Primitiva, sim, mas ali estava aquele que seu coração escolhera.
Além disso, havia na primitiva cidade um vento viandante
que encantava todas as coisas: fazia subir em redemoinhos
a poeira das ruas; despejava assobios nas águas cristalinas que
passavam sob a ponte da estrada; propiciava bailados a um imponente
coqueiro, altaneiro dentre a vegetação rasteira. E sabia
contar histórias.
A filha do farmacêutico, também artista como o eleito,
com tintas coloridas transferiu para uma tela a beleza do coqueiro.
Com ritmos e palavras, cantou a ponte, testemunha de
encontros e murmúrios. E entendeu a linguagem do vento.
O tempo, que não para de passar, trouxe o dia 20 de junho
de 1933 para coroar o encantamento: a filha do farmacêutico e o filho do fundador do Brejo das Almas se uniram pelos laços do
casamento, abençoados por Deus, pelos familiares e pelo Padre
Salu.
O tempo a passar, a passar...
Meu tio-avô compreendeu e aceitou o sacrifício: necessário
deixar de vez a terra natal e transferir-se para Montes Claros:
a jovem esposa queria estudar, estudar, estudar. O brilho inteligente
no olhar pedia, queria, exigia mais luz.
De braços abertos foram recebidos pela cidade que a viu
nascer.
E o tempo a passar, a passar...
Ganhos e perdas, perdas e ganhos. Meu tio-avô registrou
numa página de sua história que “mais perdas do que ganhos”;
“mais dores que alegrias, mas, não importa: os dois, sempre juntos”.
E assim foi, pela vida a fora.
O tempo a passar, a passar...
A ponte, testemunha do amor dos dois, deixou de existir
sobre as águas que não correm mais.
O coqueiro, que dançava ao ritmo dos ares expelidos pela
Serra do Catuni, seguiu o destino do companheiro de uma cantiga
popular que fala de outro coqueiro: “coitado, de saudades,
já morreu”.
Um dia, a iniludível veio e levou também meu tio-avô.
A menina de quatorze anos, a esposa fiel, a intelectual
emotiva e racional chorou. E chorou muito a partida do eleito.
O tempo, porém, precisa passar. E passa.
E passa muito depressa. E passou muito depressa.
Tão depressa, que a menina de quatorze anos pela qual
meu tio-avô se apaixonou... agora completa cem anos!
E o vento está doido para ir contar ao meu tio-avô que a
doce centenária continua a mesma menina de quatorze anos, a
mesma esposa fiel.
E traz o mesmo brilho de Vida no olhar.
UMA GRANDE MULHER
Maria Luiza Silveira Teles
Era uma menina bela e inteligente, que nasceu filha de um
poeta e queria alçar altos voos. Nasceu na terra das serenatas
e das artes.
Logo, porém, seu pai mudou-se para uma pequena cidade
onde ela, adolescente, flor em seus quinze anos, se apaixonaria
pelo mais garboso e inteligente rapaz da cidade, filho do Cel.
Jacintho Alves da Silveira, homem importante, fundador do pequeno
município.
Aquele amor duraria toda uma vida. Chegaram a viver juntos
mais do que as Bodas de Diamante. Ela esperava tanto que
ele completasse os seus cem anos! Entretanto, um mal repentino
e súbito levou seu companheiro, nas vésperas do centenário.
Ela murchou sem aquela magnífica fonte onde se dessedentava...
Chorou, por muito tempo, as lágrimas mais sentidas,
pela saudade do seu grande amor...
Mas, mulher inteligente e forte não pode deixar se abater
por muito tempo. Ela sabia que toda uma comunidade precisava
de sua luz. E, assim, floresceu de novo e, para a alegria de todos
que a amam, voltou a brilhar, espalhando sua luz por toda a
cidade que, hoje, agradecida, festeja o seu próprio centenário.
É difícil falar de uma mulher tão completa. Educadora,
pintora, poetisa, historiadora, dona de um imenso cabedal de
conhecimentos. Uma mulher que deu sua vida para fomentar a
cultura de sua terra natal e que educou gerações e gerações.
Missão cumprida! A nós cabe agradecer a Deus por estar
ainda entre nós essa magnífica criatura.
Lembro-me dela, lá pelos meus cinco para seis anos, quando,
pela primeira vez, fui à terra de meu pai visitar sua família.
Era a minha tia mais bonita, alegre, inteligente e pintora. Sim,
foi esse talento com o qual tive o primeiro contato. E me encantei!
Mas, ela era também aquela tia que procurava nos agradar
com guloseimas maravilhosas que só vim conhecer naquela terra.
Tanto na fazenda, como em sua casa na cidade, eu adorava
brincar, sentindo-me livre e solta naquele chão abençoado.
Logo, porém, com tristeza, tive que voltar para a capital,
onde residíamos.
Com meus dezesseis anos, no entanto, voltei para o norte
de Minas e encontrei já aqui os meus queridos tios Olyntho e
Yvonne…
Ela não se contentara em viver em Francisco Sá. Embora
lá fosse professora e exercia a sua arte de pintar e poetar, aquela
era uma cidade pequena para o que almejava.
Ela queria fazer mais cursos e conhecer o mundo. E meu
tio, como um bom companheiro, quis contribuir para a realização
dos sonhos de sua mulher, trazendo-a para cá e abandonando
suas lidas como fazendeiro, amante da terra.
Aqui, ela estudou e, como sonhava, saiu daqui para fazer
cursos em outras paragens e viajou para além-mar.
Repartiu conosco todo o seu potencial, toda a sua bagagem,
não somente de conhecimentos, mas de amor.
Eu sinto orgulho de tê-la como minha tia e de saber que
corre em minhas veias o mesmo sangue de nossos ancestrais, os
Utsch.
Minha querida tia Yvonne, receba as homenagens, que
tanto merece, do nosso Instituto Histórico e Geográfico e de
toda Montes Claros. Receba, também, o grande amor dessa sua
sobrinha, prima e admiradora.
Que seu nome jamais seja esquecido pelas próximas gerações!
A DAMA DA LITERATURA
Gal Bernardo
Dona Yvonne, considerada a nossa “dama da literatura”,
começou a trabalhar cedo, desde mocinha exercendo
seu papel de educadora, esposa, dona de casa, poetisa e
escritora - seu papel fundamental. Agora, quando ela está completando
cem anos, temos muito o quê comemorar, principalmente
pelo privilégio de conviver com uma pessoa tão especial,
tão amiga e atenciosa.
Analisando o perfil desta pessoa repleta de qualidades,
eu diria, sem medo de errar, que a sua principal característica é mesmo a de Escritora. Sim, os escritores são destemidos, sonhadores,
atrevidos, sensíveis, inovadores, revolucionários... sempre
utilizam a escrita para colocar suas idéias. Dona Yvonne sempre
foi tudo isso! E olha que, há cem anos as coisas eram bem diferentes
para as mulheres. Daí, dá para imaginar o que ela passou,
enfrentou e lutou para chegar aonde chegou. Uma guerreira!
Difícil escrever sobre uma mulher assim, em poucas linhas.
Uma história de coragem, de menina que queria muito mais do
que apenas esperar sentada um bom casamento, uma bela casa e
muitos filhos. Queria muito mais... liberdade, novos horizontes,
ser feliz, amar, conquistar o mundo com suas palavras, transformar
mentes e culturas.
Sua missão deu bons resultados, dona Yvonne da Silveira!
Um século de vivência, de um tempo em que as mulheres não
eram reconhecidas intelectualmente. Um século vencendo paradigmas.
Só tenho a desejar que sua vida continue assim tão bela,
minha amiga. Que você continue entre nós por muitos e muitos
anos e que possamos aprender a viver do seu jeito diferente de
enfrentar a vida: brindando todos os dias o por do sol, a beleza
da lua, o colorido das flores, enfim, é desse jeito romântico e
encantador que se conquista longevidade e disposição para uma
vida imortal. Parabéns! Continue desbravando as letras em textos
para que outras mulheres também criem coragem para seguir
adiante... e fazer a diferença!
CEM ANOS DE EXISTÊNCIA
É UM PRESENTE DE DEUS!
Ariadna Muniz
É um prazer imensurável ser partícipe dessa linda homenagem
a essa grande diva da Literatura, Dona Yvonne Silveira,
professora aposentada na Faculdade de Filosofia, Ciências
e Letras do Norte de Minas - cujo título “Professora”, muito
a envaidece. Revisitando a História, li uma frase em que D. Pedro
II sintetiza a importância da arte de ensinar: “Se não fosse
imperador, gostaria de ser professor. Não conheço missão maior
e mais nobre que a de dirigir as inteligências jovens e preparar os homens do futuro”. Por isso, ao longo dessa homenagem hei
de referir a Dona Yvonne, como professora. Homenagem esta a
qual dedico a todos grandes homens e mulheres que abraçam o
magistério com amor e afinco e são responsáveis pela formação
de todas as outras profissões.
Detentora de uma extensa bibliografia com atividades ligadas
diretas ou indiretamente às letras, a Professora Yvonne,é Presidente da Academia Montesclarense de Letras por vários
mandatos, membro do Instituto Histórico e Geográfico de
Montes Claros, pertencente à Academia Municipalista de Letras
de Minas Gerais, jornalista, cronista, poetisa, historiada, memorialista
e escritora. Suas crônicas sempre povoaram a minha infância
e adolescência. Hoje tenho o prazer de ler suas histórias
em jornais, livros e agora também através da internet.
Além dos inumeráveis atributos intelectuais ela é uma
mulher de uma simplicidade e riqueza sem fim. Simples na delicadeza,
no trato, no carinho; rica em cultura, em obras, em
conhecimento e ensinamento. Tão bom tê-la entre nós, identificada
nesse interior do Brasil. Orgulho de Montes Claros,
considerada nossa “pérola”, “joia rara do sertão” ou a “Diva dos
Gerais.” As suas palavras são tecidas fio a fio, e entrelaçadas na
escrita, ficam cada vez mais bonitas, mais fáceis de compreensão
aos nossos olhos. Tocam nosso coração ao remexer lá no fundo
de nossas memórias. Os seus versos, suas crônicas, tem o dom de
nos envolver, e com elas, esquecemo-nos do mundo. Revestimonos
de um passado de nostalgia, e também de muitas alegrias.
Seus contos agem como um bálsamo, um alento, um conforto,
um carinho, e, numa fração de segundo nos vemos com dez,
quinze anos, correndo pelas ruas de Montes Claros, livres, felizes,
plenos de inocência. É isso que a literatura nos faz, a imersão para o etéreo e o soerguimento para o mundo real. E sempre
emergimos mais fortes, mais leves, mais revigorados e com mais
conhecimento.
Para mim, a Professora Dona Yvonne, é uma das pessoas
mais importantes do meu estado e do meu Brasil. Feliz é a cidade
que tem essa filha do coração como sendo de suas entranhas,
uma mulher muito especial! Tão viva e tão bela! Felizes somos
nós que temos oportunidade de escrever sobre essa grande diva
da Literatura. Mesmo sem chances de corresponder ao intelecto
da grande mestra, tive essa atitude corajosa em arriscar a falar o
quanto ela é importante, para mim, para meus familiares, para
todos os montes-clarenses. A força de suas realizações e a magia
de sua obra poética alcança a admiração não só dos literatos,
mas o apreço de pessoas simples, que como eu também lêem e se
vêem retratadas em seus textos.
Destemida, atual, contemporânea, a Professora Dona
Yvonne Silveira, defende ideias avançadas, invariavelmente comprometidas
com a luta por uma sociedade mais fraterna e menos
desigual. Postando-se ao lado dos mais fracos, ela se vê impelida
a batalhar por justiça, sobretudo em nome das mulheres. Dona
Yvonne é uma mulher universal e a partir de sua experiência
local compõe a sua arte, da janela da sua casa, das ruas, dos sobrados,
dos casos, da sua experiência, de outras vivências. Como
espectadora ela, observa, indaga, e reflete. E lá de Francisco Sá,
ou daqui de Montes Claros, sua cidade natal, a grande mestra,
Yvonne Silveira fala ao coração das pessoas. Ela alcança com a
sua literatura, sem sequer sair do sertão, o mundo inteiro.
Destaco aqui não apenas o talento literário desta professora,
mas, sobretudo sua fibra. Como disse o escritor Euclides da
Cunha “O sertanejo, é antes de tudo um forte” e a Professora Yvonne, como fiel representante do sertão, não se curva diante
das dificuldades da vida, procurando guiar-se pelo otimismo e
pela coragem. Para ela não há tempo perdido. Uma frase de outra
grande poetisa, Cora Coralina, define exatamente esse aproveitamento
do tempo, esse viver intenso e produtivo da Professora
Yvonne Silveira “Tempo perdido falam os insensatos. Não
há tempo perdido. Todo tempo é tempo de semear “.
A Professora Dona Yvonne está semeando e colhendo tudo
de bom que plantou nessas terras dessas Minas Gerais. Certamente,
quem a encontra, sabe que a cada dia ela renasce no
tempo, ainda que os documentos estejam prestes a declará-la
centenária. A grande mestra vive com muito dinamismo, e, continua
reconectando fios de amizades antigas, mergulhando em
histórias perdidas no tempo, falando fatos contemporâneos, fazendo
novos amigos, preservando a memória, escrevendo com a
maestria de sempre, seja em qualquer gênero literário, sempre se
superando, e nos encantando.
Salve Mestra Dona Yvonne Silveira! Cem anos se passaram
sem ela perceber, pois foram bem vividos, com sabedoria, inteligência,
vivacidade, alegria e simpatia. Professora Dona Yvonne
Silveira, receba o meu abraço afetuoso. cem anos de existênciaé um presente de Deus! Receba essa dádiva como um grande
tesouro. Muitas bênçãos de paz, saúde e prosperidade renasça
a cada dia em sua vida! Receba o meu carinho e a minha eterna
admiração!
DONA YVONNE
Clarice Sarmento
Escrever ou falar sobre Dona Yvonne não é uma tarefa fácil,
já que, pelo menos durante setenta anos, muitos o fizeram,
o que torna a originalidade difícil de ser encontrada.
Muito precoce em sua visibilidade como intelectual, ainda
adolescente já era professora no antigo Brejo das Almas, onde
o pai era farmacêutico.
É uma destas pessoas que se distinguem das demais, que
tem luz própria e ilumina o cenário no qual esta inserida. Inteligência brilhante e inquieta, com o dom da oratória, seu espírito
de liderança e pioneirismo poderia tê-la levado a um cenário
menos provinciano, quiçá à política, já que sua capacidade a
habilita a uma distinção em nível nacional, provando que a cultura
floresce também longe dos grandes centros, mesmo numa
pequena cidade do sertão.
Deixou marcas nas atividades às quais se dedicou, sempre
interessada em todas as manifestações culturais, experimentando
um pouco de tudo. Em sua ânsia do saber, aventurou-se na pintura
e na música, desfrutando os prazeres culturais, ampliando
horizontes, num contínuo aperfeiçoamento em diversos cursos,
leituras e estudos. Como cantora, organizou um coral na Igreja
de Francisco Sá e, já aqui em Montes Claros, foi estudar canto
no Conservatório Lorenzo Fernandez. Entretanto, como leitora
voraz, fixou-se na literatura.
Embora nossas famílias fossem amigas (Seu Olyntho era
amigo e companheiro de meu pai), só comecei a conhecê-la no
auge de sua efervescência cultural, como colega do curso de História
das Artes, ministrado no Conservatório Lorenzo Fernândez
pelo Maestro Magnani, que vinha de Belo Horizonte naquele
tempo, os estudos mais especializados eram feitos fora ou
os professores de centros maiores eram trazidos para ministrá-los
aqui, em cursos intensivos. Como aluna brilhante, foi escolhida
para substituir o maestro em novas turmas, quando de sua volta á capital.
Também fui sua contemporânea na Escola Normal como
colega de magistério. Ela como professora de Português e Literatura,
eu como professora de Educação Artística. Aos poucos
fui tomando conhecimento da grandeza de sua cultura e da força emergente de seu caráter, que justificam a unanimidade no
reconhecimento de sua liderança nos meios culturais de nossa
cidade.
Timoneira da caravana do saber, buscando sempre um
tempo mais fecundo de realizações na grandeza do conhecimento
através da cultura e idealismo, na luta pela qualidade do
ensino, soube procurar criar espaços para o bem, confiando na
realização do sonho de um mundo melhor, mais humano e mais
feliz.
Neste seu centenário, minha amizade e admiração.
Salve, Dona Yvonne! A senhora também é norte estrela.
YVONNE SILVEIRA
ESCRITORA INSÍGNIA DA
LITERATURA DE MONTES CLAROS
Terezinha Teixeira Santos
Sinto-me honrada em participar desta antologia, somando
as minhas simples palavras às homenagens dedicadas à
ilustre confreira e amiga YVONNE DE OLIVEIRA SILVEIRA,
quando comemoramos com júbilo o seu aniversário de
cem anos de vida.
Mulher que desde cedo vem pontuando os caminhos da
sua vida com fé, humildade, trabalho e sobretudo amor ao próximo.
A grandiosidade da sua idade representa a sua fortaleza, a sua generosidade, a força e a coragem da Mulher que venceu
preconceitos alcançando inúmeras honrarias, provas incontestáveis
das suas ricas qualidades. A grandeza e a magnitude dos
seus méritos enobrecem a sociedade em que vive, e a aniversariante
faz jus às homenagens já recebidas e as outras que virão. É notória a forma brilhante, calorosa, reconhecida e carinhosa
como a sociedade montesclarense comemora os cem anos, de
Dona Yvonne. Mulher laureada pelos amigos e premiada por
Deus com os louros da idade, que é a maior graça permitida ao
ser humano no percurso da sua trajetória biológica.
No constante processo de viver e viver servindo, no desejo
de ser cidadã produtiva, Dona Yvonne sempre revelou espírito
de luta, de determinação e de uma imensurável capacidade de
desafiar as intempéries do próprio tempo. Que seus exemplos
sirvam para nortear as veredas da honradez, da responsabilidade,
do caráter, da ética e da moral deste mundo hodierno em
que vivemos.
Dona Yvonne, mulher a quem Deus confiou uma vida
ornada com dotes de virtudes, nos primórdios da sua mocidade
debruçou-se sobre a educação, mergulha no mundo das letras
espargindo a luz de uma primorosa literatura. A sua inteligência
rara abrilhanta a Academia Montesclarense de Letras, o Instituto
Histórico e Geográfico de Montes Claros, A Academia Feminina
de Letras e tantos outros recantos das letras. No universo dos
intelectuais ela compõe a galeria dos imortais.
Excelente professora e educadora, procurando unir sempre
a luz do seu espírito culto com o calor do seu bondoso coração.
Será sempre uma estrela a espargir a luz do saber.
Que a soma da sua idade fortifique sua fé e conserve a
vontade de viver.
Parabéns, D. Yvonne,
Que Deus a abençoe.
Ser amiga de D. Yvonne é ser agraciada por Deus, é beber
na fonte da sabedoria, viver com a delicadeza e a candura. É
beber chá com biscoitos recheados de literatura.
A PACIENTE
DONA YVONNE SILVEIRA
Edwirges Teixeira de Freitas
A centenária Professora Ivone Silveira, também foi minha
cliente para suas necessidades odontológicas. Dentre
tantas outras personalidades de Montes Claros, atendidas
por mim, nestes 72 anos dedicados a Odontologia, primeiramente
como protética e depois como Cirurgiã Dentista
formada aos 49 anos de idade. Não poderia deixar de prestar
minhas habilidades e dons que Deus abençoou-me para atender
tantos clientes, que por ironia do destino, perdera seus dentes e consequentemente a mastigação e o sorriso, que reflete um dos
principais prazeres da vida. Principalmente quando o ser humano,
avança no tempo, e este inexorável tempo premia a poucos
com a beleza da experiência, a idade “Ouro”, apesar do corpo
não mais acompanhar o ritmo da cabeça. E então, necessitamos
da saúde bucal, para o prazer de deliciar uma comida gostosa e
saborosa, de beber desde da água para nos hidratar e matar nossa
sede, também as mais variadas bebidas para serem degustadas e
com o sabor do paladar, podermos mergulhar no tempo e recordar
através deste instinto, de tantos momentos ao longo da
vida, que nos faz recordar desde da nossa infância, adolescência,
adulto e até então.
Sendo que dar o sorriso a esta personalidade mulher, Professora
Yvonne Silveira, é uma missão muito gratificante.
Ela ligou-me para marcar um horário, sendo que estava
necessitando de restabelecer a mastigação e o sorriso naturalmente.
Então, no dia e hora marcada lá estava Dona Yvonne
Silveira, com sua simplicidade e educação que lhe é peculiar.
Ali na cadeira de dentista, que sempre falo que é um divã,
onde os pacientes contam suas histórias, onde relatam fatos tanto
da cidade, como da família e seus problemas pessoais. Estava
ali na minha frente, esta ilustre dama, que, primeiramente relatou
o fato que a trouxe a minha clinica, e que necessitava de
meus cuidados para o tratamento devido.
Assim procedi, realizando as sessões necessárias para realizar
o tratamento e ter a grata satisfação de melhorar seu sorriso e
mastigação tão essencial também para a fala, onde expressamos
nossos pensamentos, e que para ela fora tão usado ao longo de sua existência. Como seus belos discursos, suas maravilhosas e
enriquecedoras aulas na sua maestria como professora, que ajudara
a formar tantas pessoas tão importantes ou menos importantes,
mas, sob seu crivo tornara pessoas melhores, como seres
humanos.
Então aqui apresento esta minha simples homenagem, e
minha grata satisfação em ter sido útil algum dia para uma mulher
tão respeitada e um ser humano ímpar como a Senhora.
Que Deus e Nossa Senhora Imaculada Conceição, abençoa a
Senhora Dona Yvonne Silveira e todos os seus entes queridos.
Parabéns pelo seu aniversário, de chegar aos cem anos, com esta
lucidez e saúde. Realmente, sua vida foi abençoada por Deus.
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Cirurgiã Dentista. Membro Instituto Geográfico e Histórico de Montes Claros/MG.
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YVONNE DE
OLIVEIRA SILVEIRA
A acadêmica Yvonne de Oliveira Silveira nasceu na cidade
de Montes Claros - Minas Gerais, no dia 30 de dezembro
de 1914. Filha do farmacêutico Antônio Ferreira de Oliveira
e de dona Cândida Peres de Oliveira. Casou com o saudoso
poeta e historiador Olyntho Alves da Silveira. Escreveu vários
livros. Em parceria com o marido ela escreveu o livro “Brejos das
Almas - crônicas históricas”. Em parceria com a confreira Zezé
Colares ela escreveu dois livros: “Montes Claros de Ontem e de
Hoje” e “Folclore para Crianças”. Além dessas parcerias a professora
Yvonne Silveira ainda escreveu outros dois livros: “Cantar
de Amiga” e “Montes Claros - Crônicas”, este que foi organizado
por Osmar Pereira Oliva.
É impossível anotar aqui todas as suas atividades de educadora.
Escreveu e publicou suas crônicas em vários jornais da cidade.
Ainda hoje publica no Jornal de Notícias, no Suplemento
Mulher. São mais de duas dezenas de cargos honoríficos. Está à
frente da Academia Montesclarense de Letras há 29 anos como
presidente da entidade. Foi a fundadora da Academia Feminina
de Letras de Montes Claros e participa do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, ocupando a Cadeira N. 5, que
tem como patrono o seu ilustre pai Antônio Ferreira de Oliveira.
Professora Emérita de Universidade Estadual de Montes Claros
- Unimontes e Cidadã Benemérita de Montes Claros, título conferido
pela Câmara Municipal, em 1985.
Não vamos prolongar sobre as suas atividades, tendo em
vista que os artigos aqui publicados já trazem essas e outras informações
de importância fundamental para a história e a literatura.
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