Page 21 - DEUSA DAS LETRAS
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A Deusa das Letras
mas acompanha os acontecimentos atuais, o tempo presente.
Gosta das notícias internacionais, e busca seus desdobramentos.
Depois vem a noite longa, mas dorme relativamente bem.
Tem muito cuidado para não cair. Alimenta-se pouco, e,
raramente tem distúrbios estomacais, especialmente quando
come fora de casa. Acredita que a memória antiga esteja em for-
ma devido a um remédio que toma há muitos anos para preservá
-la – Pharmaton -, porém gostaria de não se esquecer das coisas
do dia a dia. Para evitar maiores lapsos, conta o tempo sistema-
ticamente. Ao se levantar localiza-se na semana e no mês. A roti-
na de enveredar-se pelos livros garante uma espécie de exercício
cerebral. Usava um laptop, mas está desativado no momento,
sendo urgente consertá-lo. Tem um perfil no Facebook, mas vê a
internet como um perigo, vislumbrando o lado mau com muita
convicção.
A televisão é permissiva, a moral se degradou, ela lamenta.
Soube da existência de homossexualidade após estar casada, e
por acaso, quando um parente mostrou com ar de galhofa um
bilhete de um rapaz que queria ficar com ele. Estranha que hoje
uma criança de quatro anos saiba reconhecer um homossexual.
A liberalidade a assusta. A rua ao lado da sua casa, na esquina
no Bairro Vila Brasília era escura, e casais vinham namorar lá,
dentro dos carros. Uma vez, um casal foi visto nu pelo pessoal
da casa. O movimento era grande, num ir e vir constante, e não
havia constrangimento dos que estavam namorando, mesmo
quando pessoas chegavam à janela e olhavam para baixo para
intimidá-los. No outro dia, diziam, havia preservativos espalha-
dos. Atribui esse comportamento liberal a ascensão das classes
pobres, com pouca formação moral.
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