Page 98 - DEUSA DAS LETRAS
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Dário Teixeira Cotrim (Org.)
o filho do fundador do Brejo das Almas se uniram pelos laços do
casamento, abençoados por Deus, pelos familiares e pelo Padre
Salu.
O tempo a passar, a passar...
Meu tio-avô compreendeu e aceitou o sacrifício: necessá-
rio deixar de vez a terra natal e transferir-se para Montes Claros:
a jovem esposa queria estudar, estudar, estudar. O brilho inteli-
gente no olhar pedia, queria, exigia mais luz.
De braços abertos foram recebidos pela cidade que a viu
nascer.
E o tempo a passar, a passar...
Ganhos e perdas, perdas e ganhos. Meu tio-avô registrou
numa página de sua história que “mais perdas do que ganhos”;
“mais dores que alegrias, mas, não importa: os dois, sempre jun-
tos”.
E assim foi, pela vida a fora.
O tempo a passar, a passar...
A ponte, testemunha do amor dos dois, deixou de existir
sobre as águas que não correm mais.
O coqueiro, que dançava ao ritmo dos ares expelidos pela
Serra do Catuni, seguiu o destino do companheiro de uma can-
tiga popular que fala de outro coqueiro: “coitado, de saudades,
já morreu”.
Um dia, a iniludível veio e levou também meu tio-avô.
A menina de quatorze anos, a esposa fiel, a intelectual
emotiva e racional chorou. E chorou muito a partida do eleito.
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