Page 45 - DEUSA DAS LETRAS
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A Deusa das Letras
Anjos, Felicidade Tupinambá, tempo de suas amigas Walkiria
Teixeira, Zuleica, Luíza Froes, Dora dos Anjos, Idoleta e Maria
Maciel. Tempo de seu futuro namorado, noivo e marido Olyn-
tho Silveira. Tem duas origens interessantes: da família Peres, de
tradição montes-clarense e do sangue alemão do seu pai Antônio
Ferreira de Oliveira, lourão de olhos verdes, sobrenome brasi-
leiro, porque traduzido. Teve sete irmãos: Wilson, Lívio, Zilda,
José Laércio, João Hamilton, Paulo Nilson e Nilza. Muitos tios:
Alexina, Francisco, Levy, Iracy, Raul, Rubens, Zelândia e Zélia.
Francisco era o famoso Cica Peres. Raul, é o doutor Raul Peres,
agora chegando aos 104.
Foi criada pertinho do Largo de Cima, conhecedora per-
feita da Praça Doutor Carlos, ouvinte de todo o barulho de fe-
reiros e de animais amarrados em moirões e palmeiras. Foi sem-
pre uma alegria de menina que vivia entre canteiros de flores e
hortas de alface, brincadeiras de quintal e de rua, com estórias
dos mais velhos no escurecer da boquinha da noite, assentados
na calçada. O tempo corria lento, marcado pela posição do sol
e pelo sino do relógio da torre do mercado, um batido musical
para cada meia hora e tantas e tantas pancadas coerentes com o
número do mostrador; meio-dia e meia-noite, claro com doze
lindas sonoridades. O que não era poeira do chão, era boniteza
colorida dos pequis, dos cachos de banana, dos sacos de laranja,
dos bacuparis e das pitangas, das carnes penduradas e cheirosas
pingando gordura. Tudo, tudo entre a realidade e os sonhos.
Agora Dona Yvonne – assim eu a sempre tratei mesmo
como colega de faculdade - vive seu centenário e faz a vida se
transformar em obra de arte. Sempre parecendo que saiu do ba-
nho, cabelo arrumado, perfume de mãos que oferecem flores, seu
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